Judith

Capítulo 4 – A pontinha do iceberg


Oliver Queen

O barulho de um despertador soa fortemente no meu ouvido, fazendo com que eu acorde de imediato. O susto faz com que Felicity também desperte na mesma intensidade. Nos olhamos por breves segundos até que com um pulo do sofá ela se afasta, eu continuo um pouco sonolento, então não me importo com o que aconteceu aqui, o que aconteceu durante essa noite, enfim, o único motivo que fez com que eu e Felicity dormíssemos no mesmo espaço, tão próximos.

Próximos de verdade.

Mas podem crer, eu não gostaria que fosse assim.

Preferia estar no meu quarto bagunçado, com os meus lençóis manchados e travesseiro conhecido. Sozinho, que seja, mas sem passar por toda essa avalanche de uma vez só. Estar praticamente abraçado a Felicity é um daqueles acontecimentos atípicos e, bom, estamos vivendo um desses acontecimentos.

— É... — ela murmura.

— Eu vou fazer o café. — ainda grogue, esfrego meus olhos com as almofadas das mãos e passando pelos corredores que me levam até a cozinha gigante de Caitlin, deparo-me com os diversos porta-retratos que me geram um revirar no estômago. Porque como uma bofetada consigo me lembrar de tudo que aconteceu na noite passada e não, não era um pesadelo. Ninguém precisa me beliscar para me mostrar que é uma realidade, simplesmente porque lá fora o dia nublado e chuvoso me diz isso.

— Não vi a hora passar, acabei pegando no sono. — ela belisca o lábio inferior.

— Relaxa, eu não vou contar a ninguém que passamos a noite juntos. — sussurro com uma piscadela no final. Eu sei que não é momento para piadas, mas é que tudo que falo à Felicity é como se eu quisesse provoca-la mesmo quando não quero. Parece que é a força do hábito.

Ela revira os olhos.

— Será que até em um momento como esse você não consegue se controlar?

— Qual é Felicity, foi só uma brincadeirinha.

— Uma brincadeira? Acha que você tem o direito de brincar depois da morte dos nossos melhores amigos?

— Não jogue sujo! Dizendo assim parece que não me importo!

— E você se importa?

Felicity grita comigo, mas logo após sua pergunta ela balbucia quebrando o olhar quando encontra o meu desacreditado.

Suspiro frustrado.

— Você quer o seu expresso com ou sem açúcar?

— Desculpa.

— Acho que você não me deve desculpas, sempre é a voz da razão do mesmo jeito. Não é Felicity? Não é você que manda aqui? Que manda em todos ao seu redor?

Agora é ela quem dá um passo para trás, seu dedo indicador me faz um alvo, a ruguinha conhecida se forma entre as sobrancelhas e em três, dois, um, o ataque começa.

— O que você quer dizer com isso?

— Agora vai se fazer de desentendida?

Olhem o tamanho da merda que está prestes a acontecer aqui.

Até a noite passada estávamos segurando as mãos um do outro, nos abraçamos e até pegamos no sono juntos e agora simplesmente estamos quase pegando panelas para travar uma batalha.

— Você diz tudo com tanta certeza. Há pouco foi capaz de dizer que não me importo com a morte do meu melhor amigo!

— Eu pedi desculpa.

— Que se dane.

Dou as costas à Felicity e isso a deixa tão louca que ela corre atrás de mim me enchendo com suas frases moralistas de uma boa cidadã americana. Eu odeio quando ela começa com esses papos de mulheres que estão disputando a Paz mundial onde eu me torno o cuzão da história. Na verdade, se eu pudesse listar os poderes de Felicity, esse seria um dos primeiros da lista.

— Aonde você vai?

— Respirar um pouco de ar ou você também vai querer controlar isso?

— Você é um verdadeiro idiota.

— Agora eu vou pedir chá com biscoitos para ouvir as novidades, porque disso eu já estou cansado de ouvir de você.

Ao colocar a mão na maçaneta e abri-la, esbarro com um corpo pequeno que se assusta com o impacto. Ele está vestindo um terno escuro e nos observando com atenção.

— Casa dos Allen’s? — o baixinho grisalho pergunta à medida que endireita a gravata de bolinhas brancas e pretas.

— Sim. — Felicity responde em um tom irritado.

— É Natal? Porque você parece um daqueles ajudantes do Papai Noel.

Eu não estou brincando, o cara é baixinho, tem cabelos grisalhos e usa óculos fundo de garrafa. Se ele não for um ajudante do Papai Noel que recebe as cartinhas das crianças, ele é um Umpa-lumpa fugitivo da incrível fábrica de chocolate.

Felicity bufa. — Desculpe, não ligue para as atrocidades que saem da boca desse homem, ele costuma ser um otário vinte e quatro horas por dia.

Eu apenas faço um sinal negativo com a cabeça.

O baixinho torce um pouco o pequeno bigode, mas decide ignorar meu comentário.

Qual é o erro aqui? Onde está o senso de humor?

— Eu sou o Andrew Johnson, advogado de Caitlin e Barry Allen.

Meus pêlos arrepiam.

Cacete.

— Eu tinha me esquecido completamente. — Felicity murmura.

— Temos muito o que conversar! — o baixinho nos responde já passando pela porta sem ser convidado para entrar. Que carinha abusado, daqui a pouco estará querendo que eu e Felicity o sirva café com aqueles biscoitinhos de leite que derretem na boca.

Isso não me cheira bem.

Nem um pouco.

~~~

— Eu sei que é um momento difícil pra vocês, todos nós sofremos um impacto muito grande quando descobrimos sobre a morte de Barry e Caitlin. — o baixinho responde com o bigode manchado com o expresso que preparei. Como eu havia dito, aqueles biscoitinhos de leite que estavam encima da geladeira não vão sair ilesos, porque o gnomo de gravata está acabando com eles.

Nós estamos todos sentados envolta da mesa de madeira da cozinha, ouvindo com cautela todas as palavras difíceis que saem da boca do Sr. Johnson.

— Está tudo tão recente. — Felicity suspira longamente.

— Será que poderíamos ir direto ao assunto?

Murmuro inquieto.

— Então, presumo que vocês devem ter várias perguntas.

— Bom, é... — início algum tipo de resposta, mas sou cortado por Felicity.

— Judith! Por hora, é com ela que estamos preocupados! O que vai acontecer com ela? — ela me olha incerta, eu apenas a deixo continuar.

— Sim, Judith é uma das causas mais importantes que me trouxe aqui. Ela está no Conselho Tutelar de Starling City e eu já preparei a transferência dela. Então, primeiro ela precisa ser trazida para cá. — o baixinho continua. Ele fala tão rápido que eu gostaria de pegar uma caneta e um bloquinho de notas para não perder nenhuma informação.

— Entendi... E quem faz isso? — pergunto.

O Sr. Johnson faz uma cara de quem não está entendendo. — Hmm... Caitlin e Barry falaram com vocês sobre o acordo tutelar?

Felicity e eu nos olhamos rapidamente e respondemos em sincronia: — Não.

— De acordo com eles, caso acontecesse qualquer coisa que os impedissem de cuidar da menina Judith, eles teriam que nomear os responsáveis por ela. — o Sr. Johnson afrouxa um pouco o nó da garganta e continua. — Barry e Caitlin nomearam vocês dois.

Uma gargalhada surge do fundo da minha garganta.

Felicity me direciona aquele olhar matador dela, me dando um leve beslicão por de baixo da mesa.

Um grunhido baixo sai pela minha boca. CARAMBA! Isso doeu.

Me reporto. — Me desculpa, você pode nos explicar melhor isso?

— O senhor está brincando! Caitlin e Barry nos escolheram? Nós dois? — a pergunta de Felicity sai em um misto de ironia mesclada à preocupação.

— Eu sei que não é como queriam formar uma família...

— Tem algum mal entendido! — Felicity responde tão rápido que atropela as próprias palavras. — Nós não somos casados. Na verdade, não existe qualquer possibilidade de que um dia isso possa acontecer!

— Pela primeira vez no dia vou ser obrigado a concordar com Felicity! Não existe realmente nenhuma possibilidade de estarmos juntos. Tão impossível quanto dois mais dois ser cinco!

— Até que você não é tão burro assim. — ela responde sarcasticamente.

— Obrigado.

— Eu sei que isso é um incômodo, eu tentei convencer a eles de outras opções, mas o casal foi irredutível! — o baixinho tenta apaziguar a situação.

— Opções! Eu trabalho com opções. — pego um copo de água repleto sobre a mesa e em apenas uma golada acabo com ele. Ela desce rápido, gelando meus neurônios que devem estar se chocando um no outro como muriçocas tontas.

— Vocês podem recusar. — eu e Felicity nos olhamos no mesmo instante. O advogado continua. — Porque isso é importante, é uma criança, um compromisso! Vocês querem alguns minutos para pensar?

Paralelos

Felicity

— Meu Deus... — desço as escadas não deixando os meus olhos fugirem dos degraus um só segundo. As minhas mãos passeiam pelos cabelos soltos me fazendo finalmente olhar para o céu, o dia é de um nublado conhecido, o frio é seco de arrepiar. — Não é possível, isso com certeza não é possível! Não pode ser, é isso, tudo um pesadelo e eu vou acordar em alguns segundos... Porcaria, isso não é a droga de um pesadelo. — me sento nos degraus apoiando a cabeça nos joelhos por um rápido momento. Eu só preciso parar e pensar um pouco antes de dizer qualquer coisa que decida o meu futuro e, principalmente, o futuro de uma criança.

Oliver

— Merda. Merda. Merda. — corro em direção a um arbusto de flores, me ajoelho por ali e toda aquela água que engoli volta com tudo pela minha garganta. Pronto, vomitei, eu sou realmente um babaca. Deixo que meu corpo escorregue pela grama e deito com o abdômen para cima que infla rapidamente, mas só assim que consigo me sentir um pouco melhor. — Cuidar de uma criança? Céus, eu mal consigo cuidar de mim! — murmuro baixinho como se estivesse conversando com o meu eu interior. Uma sensação estranha está causando um formigamento nos meus calcanhares. Seria isso um infarto? — Eu não posso morrer! — levanto de imediato da grama e começo a fazer alguns polichinelos. Dizem que ajudam caso você esteja passando por alguma situação de perigo, mas as batidas do meu coração estão tão rápidas que o melhor que faço é parar para respirar um pouco, apoiando meu corpo sobre os joelhos. — Eu estou muito fudido.

Oliver Queen

Voltamos.

Felicity se senta ao meu lado.

Pigarreio. — Você disse que tínhamos opções... Que poderíamos recusar.

— Sim, nesse caso Judith ficaria com os pais de Caitlin. Porém, se eles recusarem a tutela ela será encaminhada a um abrigo para crianças órfãs.

— Não! — Felicity grita.

— Isso não vai acontecer. Está fora de cogitação. — minha voz sai tão alta quanto a de Felicity.

— Só um instante. — a loira ergue aquele dedinho indicador. — E caso só um de nós sozinho decidir honrar essa escolha? A escolha da Caitlin e de Barry!

— Ou se nós dois honrássemos essa escolha? Hipoteticamente. Claro.

— O combinado é que vocês dois assumam a guarda de Judith, caso não aconteça não tem outra saída. E se vocês dois decidirem assumir o que Caitlin e Barry pediram, Judith ficará com os dois temporariamente até que aconteça uma audiência passando a guarda para vocês permanentemente.

Uhum... — murmuro.

— Agora, sobre as despesas, os bens deles cobrirão apenas a hipoteca, mas é só isso, Barry era um pequeno corretor de imóveis e Caitlin ainda estava prestes a assumir o cargo de sócia da empresa Smoak Technologies. Mas não vamos nos precipitar, é melhor nos concentrarmos em Judith.

— Tá legal. — Felicity concorda.

— Claro. — respondo logo em seguida.

— Eu sugiro que vocês dois se mudem para cá por enquanto.

Agora é Felicity que gargalha.

— Espera aí, você está propondo que nós, eu e ele, os dois, moremos juntos?

— Sim, pela Judith, por enquanto. Até decidirmos qual será o verdadeiro destino da pequena Allen, é o melhor para ela! — o advogado termina.

— Meu Deus... — sussurro.

— Posso contar com vocês? — ele volta a perguntar, agora arrumando a papelada sobre a mesa e guardando na sua maleta de couro. O Sr, Johnson se levanta direcionando a mão para um aperto, assim como se fecha um grande negócio. — Vou tratar de acelerar a documentação de Judith passando a tutela para vocês.

Meu estômago revira.

Terminantemente eu não nasci para isso.

— E quando podemos vê-la? — Felicity pergunta curiosa.

— Bom... — o baixinho olha o relógio no pulso. — O Conselho Tutelar de Starling City estará entregando a menininha para vocês daqui a alguns minutos.

O que eu estou fazendo da minha vida?

Meu subconsciente começar com as perturbações.

O advogado continua. — Qualquer coisa é só entrar em contato comigo, estarei a disposição.

Ele volta a endireitar o nó da gravata, pega alguns biscoitos de leite e guarda no bolso do paletó. Tudo bem, isso me soou um pouco nojento, se soou para mim, nesse exato momento Felicity deve estar querendo se degolar. Mas ela não fala nada, está ainda sentada na mesa com a cabeça abaixada confortada pelos braços, já eu trato de levar o Umpa-lumpa até a porta e me despedir.

Porque como diria aquele filme péssimo de terror: Que os jogos comecem.

~~~

Felicity Smoak

A campainha não demora muito a tocar depois que o Sr. Johnson se despede.

Eu apenas faço um sinal positivo para que Oliver jogado sobre o sofá com uma feição não muito saudável atenda a porta. E assim que ela se abre encontramos a nossa Judith em um sono pesado dentro de um bebê conforto, ela parece um anjinho em meio ao caos. Tudo pode estar caindo ao nosso redor como um castelo de cartas, mas a nossa pequena está ali dormindo profundamente como se não estivesse acontecendo absolutamente nada.

Oliver a pega com cuidado logo após assinar um documento.

— Agora é assim? Entregam bebês como se estivessem entregando uma pizza? — ele resmunga me entregando Judith.

— Não fale alto, você quer acordar ela?

— Eu quem quero acordar. Acordar desse pesadelo! — Oliver sussurra ironicamente. Ele está com a mesma cara desde que o advogado de Caitlin e Barry foi embora. Não que eu tenha aceitado essa ideia com tanta facilidade, mas o que poderíamos fazer? Deixar Judith largada às traças? Os pais de Caitlin nunca se importaram com a menina e não vai ser agora que isso mudará. Estou tão assustada quanto Oliver, não sei o que vai ser de nós daqui em diante, mas dessa vez não tínhamos outra saída, Judith agora é uma das nossas responsabilidades, ela precisa de nós como nunca.

— Você pode melhorar o tom? — o repreendo à medida que tiro Judith de dentro do bebê conforto a colocando deitada confortavelmente em um pequeno berço de rodinhas na sala.

— Melhorar o tom? Você acha que eles pensaram nisso direito? Caitlin comentou alguma coisa com você? Porque nunca me disseram nada!

— Não!

— Isso não é o tipo de coisa que se esquece de falar! Felicity, poderia me passar o sal, por favor? Ah, falando nisso, se eu morrer vou deixar minha filha com vocês! — ele faz uma voz de deboche que odeio. — Funciona assim?

— Não, não funciona assim Oliver! Caitlin fazia um plano e nós dois fazemos parte disso tudo.

Ele gargalha. — Que maravilha! Então trocar fraudas nojentas, ficar noites sem dormir e jogar caça-palavras às sextas-feiras faz parte do plano?

— Quer saber? Você não é obrigado a ficar aqui, eu posso muito bem dar conta de tudo sozinha! — meus nervos já estão à flor da pele, não vou conseguir ficar nem mais um segundo partilhando do mesmo ambiente que Oliver e seu egoísmo. Batendo meus pés em direção até a porta, abro a mesma para que ele saia, mas o imbecil continua parado como uma estátua. — Você pode ir embora!

— Você está me expulsando?

— Você que quer ir! É você que não está disposto a cumprir o pedido dos nossos melhores amigos. — minha voz embarga somente em pensar em tudo que aconteceu, mas respiro fundo prendendo na garganta toda a vontade que tenho de deixar que as lágrimas desçam de novo pelos meus olhos. — Parece que você não é mais o mesmo homem de ontem à noite, então eu prefiro ficar sozinha.

— Felicity...

— Oliver, você só tem duas opções... Ou você fica e segura essa barra comigo ou vai embora. — friso a porta aberta.

Mas antes que ele possa dizer alguma coisa um choro manhoso nos quebra.

Lá está Judith anunciando que acordou.

Oliver que está mais perto do pequeno berço de rodinhas a pega no colo, mas a garotinha aumenta o agudo chorando com mais intensidade. Agora ela parece aqueles mini tomatinhos de tão vermelha.

— Hey, princesinha o dindo está aqui! — ele balança Judith com cuidado, mas a baixinha não diminui a choradeira.

— O que você acha que pode ser?

— Eu não sei! — Oliver continua a balançando freneticamente, mas nada adianta.

— Será que é a frauda?

— Com certeza não é a frauda, essa menina parece uma bomba estragada quando está com a frauda suja!

Meu desespero aumenta, porque Judith está quase explodindo de tanto chorar.

— Pode ser a chupeta! — Oliver corre com a pequena no colo, alcançando uma das três chupetas, Judith a pega e diminui um pouquinho o choro. Meu pulmão se enche de ar momentaneamente, mas o alívio não dura mais que alguns segundos, porque Judith a cospe longe e volta a chorar, nos levando à estaca zero.

— Ah não... — murmuro frustrada.

— Vamos cantar para ela, talvez seja isso! — Judith é colocada em uma daquelas mesinhas onde se serve a comida, ela ainda está destruindo todas as cordas vocais em um choro sem fim.

Oliver e eu nos olhamos, ambos com as mãos pregadas na cintura.

— Ela gosta de 5 patinhos! — pigarreio tentando o meu melhor tom. — Cinco patinhos foram nadar além das montanhas para brincar...

— Cinco patinhos? Qual é! É mais fácil cantar Ariana Grande, nenéns adoram o mundo do pop. — dou uma cotovelada para que Oliver comece a cantar, antes que eu enlouqueça. A sua voz não parece nem um pouco animada. — A mamãe gritou quá quá quá quá, mas só quatro patinhos voltaram de lá.

Estamos ridículos.

Judith não está ao menos prestando atenção nesse show de horrores.

— Chega! — grito com Oliver que se assusta.

— O que foi dessa vez?

— Não está funcionando.

Bufo.

— Fome, isso só pode ser fome! — ele tenta abrir um dos armários. — Que merda é essa? Quem inventou essas travas?

— São travas de segurança, você só precisa apertar o botão ao lado. — eu gostaria de rir agora, porque nosso projeto para evitar acidentes com bebês nunca deu tão certo. E sim, essas travas foram criadas por mim, teve um dedinho de Curtis, mas o mérito é todo da Smoak Technologies.

Ele aperta o botão e as portas abrem automaticamente.

— Isso é uma bruxaria?

— Não, só tecnologia avançada mesmo! — dou de ombros.

Oliver começa a procurar por algo comestível enquanto eu faço o mesmo do outro lado, como nós mulheres somos bem mais ágeis do que os homens, consigo encontrar um portal. Não é como o caminho para Nárnia, mas acabo de encontrar onde ficam as papinhas de Judith e com a ajuda do bom Deus, esse choro que está quase nos levando a loucura vai acabar.

— Achei! — abro a papinha e a cheiro. Não é como perninhas de siri, mas tem um cheiro agradável de legumes.

— Você não vai dar esse negócio verde para ela vai? — Oliver fez uma cara de nojo.

— São legumes! É saudável!

Ele continua com uma cara horrível.

Me sento de frente para a cadeirinha, puxo o pequeno paninho que está embaixo dela e o coloco ao redor do pequeno pescoço de Judith. Por um momento ela para de chorar curiosa com o que tenho nas mãos, me fazendo abrir um sorriso confortante.

Encho a colher com a papinha de legumes e faço um aviãozinho, só que nada é fácil, principalmente quando queremos alimentar um bebê. Judith não ajuda, ela nem se quer abre a boca, então eu tento a segunda vez, a terceira vez e na quarta vez ela até aceita a colher, mas antes que eu possa comemorar, Judith cospe a papinha verde bem no meu rosto, arrancando uma gargalha de Oliver.

Inferno.

Eu vou mata-lo.

— Você realmente é boa nisso! — ele é sarcástico.

— Cala a boca!

Judith volta a chorar.

Alto.

Eu vou ter meus tímpanos estourados.

Oliver encontra um saco com salgadinhos, ele o abre e joga na mesinha os espalhando. Como em um passe de mágica oferecido pelos anjos a menina para de chorar e começa a comer os salgadinhos como uma verdadeira mocinha.

Suspiro intensamente com o rosto todo sujo de verde. Devo estar parecendo a Fiona.

— Acha mesmo que vamos conseguir cuidar dela? — Oliver pergunta cansado.

— Precisamos conhecê-la, é só isso.

— Conhecer um bebê da noite para o dia? Felicity, isso não é como ler um manual de instruções.

— Nada é fácil, Oliver! Mas não temos saída, só precisamos de organização, sei lá, talvez algumas regras.

— Regras?

O imbecil me olha confuso.

— Sim. — miro em um gigante quadro de madeira pendurado ao lado da geladeira, ele está limpo e é espaçoso. — Eu consegui educar Bumblebee com boas regras.

— Bumblebee?

— É o meu robô.

Tudo bem que não foi tão difícil com Bumblebee como parece que vai ser com Judith, afinal eu só precisei modificar o sistema operacional dele com tudo o que eu queria. Mas crianças só precisam ser domesticadas, não é? Como um cãozinho que adotamos. Essa comparação não me parece muito justa, mas se pensarmos com carinho, para que o nosso bichinho faça as necessidades nos lugares certos e todo o resto eles precisam de, digamos, regras!

— Você está mesmo comparando Judith a uma porcaria de robô? — Oliver meneia a cabeça.

Reviro os olhos.

— Ah, e o brilhante Senhor Queen tem uma ideia melhor?

— Não... — ele murmura.

— Então é melhor que você me ajude aqui!

O quadro é um pouco pesado, então com ajuda dos músculos de Oliver conseguimos coloca-lo em um lugar que não pareça perigoso para Judith. Bom, quando eu penso em regras isso está mais direcionado para nós do que para a nossa pequena. Se nós dois queremos que essa loucura dê certo precisamos estar presentes na vida de Judith assim como Caitlin e Barry eram.

Saber da comida preferida.

Dos melhores horários de sono.

Quantas vezes no dia faz cocô e xixi.

Tudo que um bebê está acostumado a fazer.

— Seu silêncio é assustador. — Oliver está sentado no banquinho em frente ao balcão com Judith nos braços que continua comendo os salgadinhos com toda a vontade do mundo. Eu sei que esses produtos industrializados são umas bombas calóricas – uma das regras vai ser mudar isso -, mas por enquanto contanto que ela permaneça quietinha, não vou me importar muito com isso.

— Podemos começar?

— Você está levando isso muito a sério!

— Por incrível que pareça a vida não é uma brincadeirinha, Oliver! — respiro fundo, porque daqui em diante as coisas vão ser bem difíceis, principalmente em relação a nossa convivência. Afinal, não é de um dia para o outro que você tem que deixar toda a sua vida para trás, sua casa com um jardim fantástico, um trabalho que demanda vinte e quatro horas de pura dedicação e, claro, o pouco tempo que sobra para fazer as unhas. Agora Judith é a prioridade e vamos ter que colocar todos os nossos interesses na rotina dela mesmo que isso seja um pouco impossível.

— Tá bom vai. Qual a primeira regra, professora Felicity? — de novo, aquele ar de deboche. A primeira regra poderia ser Extinguir o deboche de Oliver Queen, mas acredito que ele não sabe nem o significado da palavra extinguir.

— A gente tem que organizar os nossos dias.

— Como assim organizar?

Faço uma cara de pensativa. Porque incrivelmente estou tendo que pensar. Se a questão fosse um cálculo de algoritmos eu teria a resposta em milésimos de segundos, mas agora pensando em Judith, o buraco é bem mais embaixo. Se eu quiser manter essa ideia de regras pacificamente, tenho que gastar um pouco os meus neurônios.

— Podemos intercalar os dias com a Judith, eu fico com ela segunda, quarta, sexta e você terça, quinta, sábado. No domingo revezamos.

Oliver torce o nariz.

É claro que não seria fácil assim.

— Quinta tem jogo de beisebol, não vai rolar! E você não vai ficar com o final de semana livre enquanto eu limpo fraldinhas de bebê, Felicity.

Homens, por que vocês existem?

E por que eu gosto tanto?

Seria tudo tão mais fácil se só existissem mulheres ou se eu gostasse pelo menos um pouquinho da fruta.

— Oliver, os meus finais de semana são sagrados! Eu preciso de um spa, fazer as unhas, me depilar, fazer tratamento para retirar as olheiras...

Sou interrompida.

— Já disse, eu não vou ficar limpando fraldinhas de bebê enquanto você faz programas de Barbie.

Rosno internamente.

Eu trabalho o dia todo nas Smoak Technologies tentando criar algo que faça sentido para o mundo dos negócios, o meu final de semana não é como um programa de Barbie, eu apenas preciso me livrar de tudo que me faz ter rugas durante a semana. Nada se compara a Oliver que definitivamente finge que trabalha com Robert para dizer que faz alguma coisa da vida.

Mas esse final prefiro guardar para mim.

— Tudo bem. — suspiro.

O que adianta? Se eu não ceder, isso não vai acontecer da parte dele.

— Assim fácil? — Oliver desconfia.

— Claro que não.

É óbvio que não vai ser fácil assim.

— Eu sabia que tinha algo errado.

— Vamos intercalar os dias! Segunda, quarta, sexta você fica responsável pela Judith, enquanto eu fico na terça, quinta e sábado! Domingo revezamos.

O idiota parece estudar a ideia, mas como resposta ele me dá um bater de ombros.

Eu tenho que manter a calma.

Isso, eu só preciso manter a calma.

Continuo. — Fechado?

— Não tenho outra saída. — ele responde mau humorado.

— Nada de mexer nas minhas coisas, seja nas minhas roupas, na minha comida e no meu carro! O que é meu é meu e o que é seu é seu.

Respiro aliviada.

Precisamos manter essa distancia, não somos nada um do outro, não tem porque dividirmos o que é nosso.

— Certo.

Oliver é incisivo.

— Você conhece protetor de copos?

— Conheço... — a feição confusa aparece novamente.

— Você vai passar a usa-lo, não é só uma regra, é uma ordem.

Os olhos dele arregalam. — Repito. Você está levando essa história muito a sério!

— Tudo relacionado a Judith, tudo mesmo, vai ser resolvido pelos nossos dias com ela! Se ela acordar de madrugada em uma segunda-feira não adianta vir me chamar, porque eu não vou acordar nem que um meteoro caia na Terra.

— Felicity!

— Nem que um meteoro caia na Terra, Oliver.

O idiota bufa.

— Isso não vai dar certo. — ele murmura baixinho.

— Ah, e quanto às mulheres que você ilude... Nada de trazer elas para cá!

Agora eu mexi em uma ferida de Oliver, porque ele quase pula com essa regra.

— Pera lá, isso é injusto!

— Injusto é você transformar essa casa em um hotel. Acha mesmo que eu vou ser obrigada a tomar café da manhã com uma estranha na minha própria casa? Jamais.

— Por que só você está criando essas merdas de regras?

Ele pergunta puto da vida.

— Outra regra, sem palavrões! Não quero que a primeira palavra de Judith seja um palavrão por sua causa.

Oliver está borbulhando como um cão com raiva.

— Você vai me enlouquecer!

— Sabe aquele seu amigo?

— Que amigo?

— O Dean. Dean Winchester. — sinto náuseas. Sim, meu estômago costuma reclamar quando penso nos amigos de Oliver. Esse é um dos que considero tão babaca quanto o próprio Queen, na verdade, Barry era um dos amigos que salvava. Eu conseguia conversar com ele sobre qualquer assunto do universo, tudo fluía magicamente e está ai a resposta de Caitlin e ele fazer um belo casal. Agora os outros amigos de Oliver, tudo o que conseguimos fazer é respirar no mesmo espaço, porque o restante envolve beisebol, mulheres e cerveja gelada.

— O que tem ele?

— Sei lá, leve essas mulheres para casa dele. Vocês não são amigos? Se virem.

— Eu já disse que não te suporto?

— Não precisa dizer, é recíproco.

Faço o sorrisinho de anjo que sei que odeia.

— Acabaram as regras? Porque isso é fascismo.

Minha vontade de bater nele nunca foi tão forte.

— Fascismo? Você nem sabe o que isso significa Oliver.

Ele meneia a cabeça me ignorando.

Como sempre.

— Já acabou, Jéssica?

Agora sou eu quem ignora a piadinha.

— Qualquer coisa que acontecer com Judith você vai me ligar, certo? Eu quero saber de tudo.

— Tudo bem, mamãe. — novamente o sarcasmo.

— Acho que por enquanto é só isso.

— Eu não vou ter direito a criar nenhuma regra? — ele pergunta impaciente.

— Tudo bem vai!

— Dean vai sempre poder vir aqui nos meus dias com a Judith, precisamos desse momento ou eu vou pirar!

— Tá bom.

Suspiro longamente.

— É sério?

— Sim.

— Mas você odeia ele.

— Contato que ele não fique com aquelas piadinhas sacanas, tudo bem. É só isso?

Pergunto a última vez. É como o padre pergunta à igreja: Fale agora ou se cale para sempre.

— Não tenho chances quando tudo que eu gostaria de fazer você colocou como uma regra para não se fazer. — ele é irônico. Como consegue fazer isso o tempo todo? Deveria ter um botão de ligar e desligar.

— Que cheiro é esse?

Parece que uma bomba de merda explodiu aqui dentro.

O cheiro é de um animal morto.

— Esse é o cheiro de quem deve ter sujado a fralda inteira. — Oliver afasta Judith do seu corpo a mantendo bem distante. Realmente, o fedor está empesteando toda a casa, é horrível.

— Você precisa dar um jeito nisso. — tampo minhas narinas e minha voz sai fanha.

— Nada disso, eu não vou tocar nessa bomba fedorenta.

Oliver está afastando Judith do seu corpo com todo o cuidado como se estivesse carregando uma dinamite prestes a explodir.

— E você acha mesmo que eu vou tocar minhas lindas mãos com as unhas feitas nesse monte de cocô?

É real, essas unhas precisam sobreviver até que eu consiga correr para minha manicure. Então, por enquanto, nada de trocar fraldas ou lavar a louça.

— Vamos ter que fazer juntos, porque não tem chance de eu trocar uma fralda sozinho! Eu nunca fiz isso.

Volto a suspirar.

Por que homens têm que ser tão dependentes? Caramba, não sabe trocar uma fralda? É só assistir a um desses tutoriais no Youtube, não deve ser tão difícil.

— Eu te ajudo, vai.

Começo a empurrar Oliver para as escadas, ele continua mantendo Judith e seu cheiro insuportável bem longe. A menininha está brincando com os dedinhos enquanto nos observa, ela pode até não entender nada, mas com certeza se divertiria com o nosso pânico caso entendesse.

Oliver coloca Judith deitada sobre um pequeno espaço dedicado ao que me parece trocar as fraldas. E há tudo que precisamos aqui, talquinhos, pomadas, óleos, lenço e loção. Agora a pergunta de um milhão de dólares é: por onde começamos? Não tem nenhuma fichinha por aqui com os passos que devemos seguir para trocar fraldas. Quando isso acontecia e eu estava por perto era sempre Caitlin ou a babá que fazia. Tudo bem teve uma vez que eu fiz, mas a fralda não ficou nem cinco minutos em Judith e até hoje não sei onde errei.

— O que eu faço? — Oliver sussurra.

— Se eu soubesse não estaria aqui parada feito uma estatua!

— Acho que precisamos tirar isso aqui e passar o lenço. — ele começa a abrir a fralda e de forma impressionante os meus olhos começam a arder. E não, isso não é drama.

— Fique a vontade.

Oliver retira a fralda e a embala de uma forma estranha, mas como sou leiga no assunto, não reparo muito.

Judith só está nos olhando sem nos dar nenhuma dica.

— Isso é radioativo, cuidado. — ele brinca enquanto arremessa a fralda suja de forma certeira na lixeirinha rosa. — Agora é com você!

Ele suspende Judith que levanta os braços para mim.

Sorrindo.

O mais lindo que já vi.

— Por que ela precisa sorrir assim?

— Porque ela é a nossa garota. — Oliver dá de ombros.

— O que vou fazer agora?

— Sei lá! Passar alguma coisa que tire toda essa lambança!

O sorriso no rostinho de Judith desaparece e agora ela está fazendo aquela carinha de pensativa. Suas mãos seguram nos meus pulsos com força e rapidamente Oliver solta um: Ah não.

E isso nunca significa algo bom.

— O que foi? O que foi? — pergunto assustada.

— Essa cara é de cocô. Mais cocô!

— Como assim? Existe cara de cocô?

É claro que existe, porque Judith está fazendo isso com toda a vontade.

E sabem aquele chão limpinho e cheiroso? Foi embora.

— Vamos para o banheiro! Rápido! — Oliver coloca a s mãos nos meus ombros e começa a traçar o caminho até o banheiro. E como João e Maria, Judith está marcando o caminho com cocô e eu prefiro a história real. Com os doces.

— Merda! — murmuro.

— Olha as regras! — Oliver ironiza.

Odeio quando ele usa minhas próprias regras contra eu mesma.

— Você é um saco!

Oliver apenas me manda àquela piscadela ridícula me empurrando até a banheira de Caitlin que tem o modelo antigo. Eu adoro a ideia, aqui o chuveiro é embutido encima da banheira, então precisamos entrar nela se quisermos usar o chuveiro ou apenas o chuveirinho, um pouco confuso, eu sei.

— Adoro seus elogios.

Apenas eu entro na banheira também mantendo Judith distante, não estou a fim de sujar minha roupa de cocô. Já Oliver se mantém do lado de fora com o chuveirinho, ele o liga e certifica que a temperatura está ambiente, não quero que a pequena pegue algum tipo de resfriado por conta da ignorância dos seus novos... Tutores?

— Vai logo caramba! — o apresso.

E o jato morno me acerta. Literalmente me acerta. Em cheio.

Meus olhos se espremem e a fumacinha começa a sair dos meus ouvidos.

— Isso não foi intencional. — ele responde rapidamente.

— Você é um idiota! — grito com ele, Judith se assusta e o choro vem logo em seguida, também com toda a força.

Deus.

Isso é uma espécie de castigo? Por que se for, eu não mereço.

— Olha o que você fez! — Oliver me reprime.

— Ah você me molha praticamente toda e a culpa é minha?

— Para de assustar ela.

O imbecil entra na banheira junto comigo fazendo palhaçadas para que Judith tente se acalmar, mas é claro que não está dando certo. Estamos dentro de um cubículo quente, a única molhada aqui sou eu e os meus pés porque o inteligentíssimo Oliver deixou a porcaria do chuveirinho ligado e a banheira está se tornando um poço de Lázaro.

— Você faz tudo errado! — sussurro.

— Eu estava tentando limpar ela, ok? Não tive a intenção de molhar você. — ele sussurra também.

— Agora pegue esse chuveirinho e limpe ela. Logo. Antes que eu acabe com você.

Sorrio forçado enquanto sussurro.

Oliver se abaixa para pegar o chuveirinho, só que um patinho de plástico de Judith no fundo da banheira o faz escorregar e como ironia do destino ele cai de bunda no registro do chuveiro o ligando, agora a água está caindo sobre a gente sem pena.

Os dois molhados.

Uma água morna que poderia se relaxante se não fosse o caos.

Mas antes que eu exploda com o idiota ainda sem reação me olhando como uma inteirinha, Judith sentindo a água morna cessa o choro. Ela simplesmente para de chorar.

— Eu vou desligar isso. — Oliver se levanta com cuidado, mas eu o impeço.

— Não, não faz isso! Ela está gostando...

Graças aos céus ela parou de chorar.

Eu ouvi um Aleluia?

Uma risada escapa de Oliver.

— Do que você está rindo?

— Você está ensopada!

— Não me diga?

Ironizo.

— Quer uma regra boa? Eliminar patinhos plásticos da banheira. Isso evitaria acidentes como esse!

Eu não consigo deixar de achar graça.

Odeio quando isso acontece.

Oliver continua. — Isso foi uma risada? Felicity Smoak riu?

— Não. Foi apenas um reflexo.

Oliver ainda está rindo enquanto a água cai encima da gente, ele fica impecável de baixo da água. As gotículas ficam presas nos fios curtos da barba e depois escorrem pelos lábios carnudos, eu não deveria prestar atenção nesses mínimos detalhes, mas é como se eu não conseguisse não me apegar a eles. Meu instinto me traindo. De novo.

O polegar úmido toca minha bochecha que ruboriza sem que eu ao menos consiga pensar e há o arrepio, aquele arrepio, isso é uma maldição. Eu gostaria de conseguir controlar meu corpo assim como consigo controlar meu cérebro. Mas então, a almofada do polegar escorrega para os fios molhados do meu cabelo os colocando atrás da orelha à medida que eu tento disfarçar que nosso olhar não esteja tão conectado, isso é a merda de um erro bem grande.

O silêncio é quebrado.

— Tá aí.

— O que?

— Uma outra regra...

— Que regra?

— Rir. Você fica linda quando ri.