Caminhei pela floresta umas centenas de vezes gastando cada passo meu, observando cada árvore esquelética e cada pássaro que se punha a cantar, até fazendo aquele lugar parecer agradável. Pensei no futuro. Nas pessoas passando pela arena, que iria virar um ponto turístico, e vendo os passos da Garota Lobo, a coitada que foi enganada pelo amor mas se esforçou muito para vencer os jogos.

Meus passos se arrastavam quando eu escutei um zunido bem ao lado de meu ouvido. Uma shuriken se fixou na árvore ao meu lado. Minha cabeça se revirou e eu observei o garoto do distrito 5.

–Me desculpa. -

A estrela de metal girou no ar e rasgou minha bochecha. Eu retirei a zarabatana da bainha tamborilei meus dedos. Assoprei. O dardo atravessou o peito do garoto e manchou sua roupa de sangue. Eu corri para ele a tempo de ver seu corpo tombar, eu sabia que ele não poderia me fazer mal.

Eu me ajoelhei ao seu lado e olhei seus olhos castanhos claros. Seu rosto era claro e arredondado, preenchido de sardas.

Ele virou a cara para mim.

-Você é bonita, como Adam disse.

Ele percebeu a perplexidade em meus olhos e explicou com mais algumas palavras.

-Ele pediu para eu te matar, e assim ele não me mataria. - ele soltou um sorrisinho enquanto sangue escorria por sua boca. Ele tossiu e sangue espirrou de sua boca.

-Boa noite. - ele disse. - Feche meus olhos quando eu morrer. Ok?

-Ok. - respondi, como se fosse algo normal.

Seu peito foi parando e eu fiquei ali a seu lado, me sentindo uma mensageira entre a morte e vida. Me sentindo a ponte que as ligava. Eu vi a vida, eu vi a morte. Eu vi. É assim que as crianças crescem, vendo o que não deveriam ou escutando palavras podres feito veneno. Mas eu já cresci a muito tempo.

Fechei os olhos como prometi e me levantei. Todos ali eram vítimas do mesmo jogo, mas Adam tinha feito de mais.

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-Mate-a logo. - Leia chutou a barriga da menininha. A garota magrela de óculos verdes e cabelos morenos gemeu. As bombas que ela tinha jogando em Zeileen, Renata e a Menina Lobo tinham acabado e ela estava sem nenhuma proteção ou ajuda.

-Quer morrer como? - falou Adam, mas ele não conseguia dirigir os olhos ao corpo dela. A menina apenas encolheu o peito e começou a chorar.

-Vamos acabar logo com isso. - comentou Annie. - Pegue aquela faca que essa vez é minha.

Leia pegou uma faca afiada e a entregou para Annie, que antes de perfurar o pescoço de sua vítima, levou à lâmina a ponta dos dedos e sentiu o frio. Frio como seu coração.