Jiban End

O projeto Jiban


— É um prazer finalmente conhecê-los pessoalmente. Naoto sempre fala de vocês. Eu sou Seichii Yanagida. – disse o homem, estendendo a mão para cumprimentá-los.

— O prazer é nosso. – respondeu Yoko, retribuindo o cumprimento. Seu colega fez o mesmo.

— Eu entendo que ele nunca tenha falado nada sobre mim, afinal nossa operação sempre foi extremamente secreta e agora vocês sabem o porquê. – continuou o homem.

— Eu ainda não consigo acreditar no que aconteceu. – disse Seichi, ainda em choque. – O tonto do Tamura é mesmo o Jiban?

— Sim, Sr. Muramatsu. – confirmou Yanagida, porém sem conseguir convencê-lo totalmente, mesmo diante de todas as provas.

— Eu sei que, como o senhor mesmo acabou de dizer, isso tudo devia ser um segredo, mas será que poderia nos contar ao menos alguma coisa, Sr. Yanagida? – pediu Yoko. – Já fazia algum tempo que eu desconfiava que o Naoto pudesse ser o Jiban, mas confesso que também estou atônita com a revelação.

— Bem, se o próprio Naoto decidiu revelar a verdade a vocês, é porque tem plena confiança, então não há motivos para continuar escondendo a história por trás do Projeto Jiban. – constatou Yanagida. – Mas antes, acho melhor cuidarmos desses machucados. Vocês não me parecem muito bem...

Havia acontecido tantas coisas naquela última hora, que os policiais até tinham se esquecido de seus ferimentos, mas agora que Yanagida os havia alertado desse detalhe, parecia que todos os golpes sofridos, tinham voltado a doer de uma só vez.

Apesar de tudo, os ferimentos deles não eram muito sérios, apenas a mão de Yoko exigia um pouco mais de atenção, porque o corte que ela havia sofrido durante o confronto com os soldados mascarados era um pouco extenso, mas não parecia ser profundo. Seichi e Yanagida a ajudaram com os primeiros socorros e pelo menos, o ferimento já estava limpo, desinfectado, enfaixado e não sangrava mais.

— Assim que a cirurgia acabar, peço para o Halley dar uma olhada melhor nessa mão. Talvez precise de alguns pontos. – observou Yanagida.

— Acho que não vai ser necessário. Já está bem melhor, obrigada. – agradeceu Yoko, ansiosa pelo que Yanagida tinha para lhes contar. – Será que podemos conversar um pouco agora sobre Jiban, Sr. Yanagida?

— Bom, acho que temos tempo até que a cirurgia seja finalizada. – concordou o homem, dando início a sua narrativa. – Para mim, tudo começou há cerca de dez anos, quando eu fui convidado a trabalhar em um grande projeto do Serviço Secreto do Setor de Segurança com o Dr. Kenzo Igarashi. Na época, a polícia já estava ciente da existência de uma organização criminosa chamada Biolon, que era diferente de tudo o que eles já tinham enfrentado e que começava a agir sorrateiramente por todo o Japão. Eles sabiam que a força policial comum não seria capaz combatê-los caso eles conseguissem se fortalecer, então o Dr. Igarashi e eu fomos chamados e começamos a trabalhar na criação de uma arma capaz de enfrentá-los de igual para igual e assim nasceu o Projeto Jiban.

“No entanto, tudo era muito complicado e colocar o projeto em prática era um sonho ainda distante. Houve muita tentativa e erro durante todos esses anos e já estávamos quase desistindo, porque parecia que tudo não passaria mesmo de ser apenas um sonho, mas tudo mudou pouco mais de seis meses atrás, quando conhecemos o policial Naoto Tamura (episódio 11).”

“Numa noite chuvosa, Igarashi e sua neta, Ayumi, foram atacados e perseguidos por um dos monstros de Biolon. Eles tentaram fugir, mas estavam encurralados, até que um policial em patrulha ouviu o pedido de socorro deles e foi em seu auxílio. Mesmo assustado ao ver aquela criatura monstruosa, o policial fez de tudo para protegê-los e, se não fosse por sua valentia, eles não teriam escapado.”

“O policial em questão era Naoto Tamura, que lutou bravamente, e numa decisão suprema para proteger a vida de dois desconhecidos, deu a sua própria em troca e morreu derrotando o monstro de Biolon. Quando cheguei ao local, encontrei Igarashi passando mal por causa de seu problema de coração, Ayumi assustada e Naoto morto ao lado do monstro.

— Espere aí. – interrompeu Seichi, sem entender nada. – Como assim? Ele morreu?

— Sim, Sr. Muramatsu. O policial Tamura perdeu a vida naquela noite, mas o Dr. Igarashi, em honra a sua valentia e abnegação, não podia deixar que tudo acabasse daquele jeito. Nós tínhamos o Projeto Jiban que poderia trazê-lo de volta, caso seu corpo fosse forte o suficiente para aguentar o procedimento e ele tivesse a força de vontade necessária para tanto. Igarashi estava muito mal e seu coração muito fraco, mas ele tinha visto algo de especial em Naoto e quis dar a ele uma chance de viver, mesmo que ele próprio não conseguisse, afinal ele tinha acabado de salvar o seu bem mais precioso, a pequena Ayumi. Então, ele decidiu realizar a cirurgia de transformação em Naoto ao invés de ir para o hospital para cuidar de si mesmo.”

“Confesso que não tinha a mesma confiança de Igarashi e não acreditei que o procedimento pudesse funcionar com uma pessoa já sem vida, mas não havia nada a perder, muito pelo contrário, então demos prosseguimento. A cirurgia foi difícil, mas acabou sendo um sucesso e Naoto renasceu como o Policial de Aço Jiban. Infelizmente, Igarashi morreu logo em seguida, deixando o segredo e a base de operações sob a minha supervisão e a de Ayumi.”

“Naoto despertou confuso, então expliquei a ele o que havia acontecido, assim como tudo o que aquilo implicaria em sua nova vida. Disse que daquele momento em diante, ele teria que lutar pelo bem de todos e combater Biolon sem descanso, mesmo que isso mudasse alguns aspectos de sua vida e ele precisasse manter tudo em segredo. Não sabíamos sequer se ele realmente continuaria vivo, afinal já havia morrido uma vez. Ele entendeu, agradeceu e aceitou todas as condições no mesmo instante. Ali eu percebi que Igarashi tinha razão e que jamais encontraríamos alguém mais qualificado do que aquele rapaz.”

“Ele poderia continuar com sua vida normalmente e com seu trabalho na polícia, mas passaria a ter uma jornada dupla. Como ele precisaria manter tudo em segredo, achamos melhor que ele pedisse transferência de delegacia para poder recomeçar do zero, com pessoas que não o conhecessem. Fazendo isso, ele poderia mudar um pouco sua real personalidade, disfarçar suas reais habilidades e capacidades, e esconder sua nova identidade sem gerar desconfiança dos colegas.”

— E assim eu ganhei um novo parceiro, competente, mas meio atrapalhado. Agora entendo... – disse Yoko. – É por isso que Jiban sempre estava por perto quando precisávamos de ajuda e Naoto sempre desaparecia nessas horas. E você achando que ele era um covarde. Que vergonha, Seichi!

— Mas como é que eu ia imaginar uma coisa dessas, Yoko? Quem no planeta imaginaria? – retrucou Seichi, tentando se defender.

— Daquele dia em diante, Naoto vem lutando contra Biolon e arriscando novamente sua vida diariamente, mas ele já provou que é forte e eu sei que ele não descansará enquanto não os derrotar por completo e enquanto não reencontrar Ayumi.

— Agora eu também entendo melhor a relação dele com a Ayumi... – continuou Yoko.

— Sim. Desde que os dois se conheceram, parece ter havido uma conexão quase que instantânea entre eles. Ao perder o avô, que confiava nela plenamente, mesmo ela sendo apenas uma criança, Ayumi encontrou em Naoto um irmão mais velho com quem podia manter a mesma cumplicidade, assim como o solitário Naoto encontrou na família Igarashi um lar. Embora o filho do Dr. Igarashi e a esposa não saibam nada sobre Jiban, eles acolheram Naoto como um membro da família.

— E por isso, para acabar com o sofrimento dessa família, nós também faremos de tudo para encontrar a Ayumi, não é, Seichi? – disse Yoko, decidida.

— Sim. Logo logo ela estará de volta, sã e salva com a família. Aqueles malditos do Biolon não perdem por esperar! – profetizou Seichi.

— Eu também espero, Sr. Muramatsu. – disse Yanagida. – E também agradeço muito a ajuda de vocês.

Depois de finalmente conhecerem a história secreta e fantástica do companheiro de trabalho, Yoko e Seichi permaneceram com Yanagida, à espera de notícias de Naoto, que só vieram por intermédio de Halley, após pouco mais de uma hora e meia de apreensão.

— E então, Halley, como ele está? – perguntou Yanagida, impaciente, assim que viu o pequenino robô entrando na sala.

— Apesar de o ferimento ter sido grave, nenhum órgão vital foi atingido. Podemos dizer que a cirurgia foi um sucesso, mas Naoto ainda não está fora de perigo.

Aquela não era exatamente a notícia que todos esperavam ouvir.

— E qual é o problema, Halley? – perguntou novamente Yanagida.

— É que como ele perdeu muito sangue, precisará de uma transfusão o mais rápido possível, mas não temos sangue disponível no momento e precisaremos encontrar doadores. – revelou o robozinho.

— Se o problema é esse, então não precisa mais se preocupar, Halley. – disse Yoko, na mesma hora. – Meu sangue é O negativo. Eu sou doadora universal e faço questão de doar para o Naoto. – prontificou-se a policial, animada por poder ajudar o parceiro de alguma forma mais concreta.

— Mas a senhorita também perdeu sangue hoje, não acho prudente... – reprovou o robozinho.

— Não tem problema, Halley, eu estou bem. O sangue que eu perdi hoje foi apenas uma gota se compararmos ao quanto Naoto perdeu. – disse ela, amenizando a situação.

— Então está bem. Vamos lá, Srta. Yoko. – concordou Halley, já retornando à sala de cirurgia, mas dessa vez, acompanhado da policial.