Jiban End

Jiban em perigo!


— Jiban, Jiban! – chamou Yoko, enquanto sustentava a cabeça do policial de aço em seu colo. Ele não respondeu.

Seichi tentou parar o sangramento com as mãos, mas era impossível com aquela armadura.

— Nós precisamos tirar a armadura para tentar parar o sangramento! – disse Seichi desesperado, ao ver seu herói desfalecido e se esvaindo em sangue ali na sua frente. – Se não estancarmos o sangue, acho que não vai dar nem tempo de chamarmos uma ambulância!

— Lezon está vindo. – disse a moto, com sua voz robótica. – Vamos levá-lo à base. Aguente firme, Jiban.

— Mas nós precisamos socorrer ele agora, Bican! – disse Yoko, igualmente desesperada. – Como podemos tirar o traje?

— Nós não podemos. É possível a retirada do traje de combate sem a autorização de Jiban apenas em nossa base. Fora dela, somente ele tem o controle. Ele foi projetado dessa maneira para que ninguém pudesse retirá-lo contra a sua vontade.

— Mas assim ele vai morrer! Jiban, acorde! – suplicou a policial, enquanto tocava o capacete de Jiban, querendo, na verdade, desesperadamente alcançar o rosto da pessoa dentro dele. Só ficou mais tranquila, quando finalmente conseguiu alguma reação.

— Yoko... onde está a Madogarbo? – perguntou ele com dificuldade. – Você está bem?

— Bican conseguiu se livrar dela, pelo menos por enquanto. Eu estou bem, mas você precisa de ajuda. O Lezon já está chegando para levá-lo à base, mas temos estancar esse sangramento o mais rápido possível. Tire o traje, por favor. Confie na gente.

— Não... posso. Eu... prometi. – disse ele, quase sem forças.

— Não seja teimoso, Jiban. – repreendeu também Seichi, ainda com as mãos sobre seu abdômen, tentando, sem muito sucesso, conter a hemorragia.

— Por favor! – suplicou ela. Os olhos vermelhos acesos do policial, assim como várias outras pequenas luzes em seu traje, piscavam indicando falha das funções, o que deixou ela ainda mais assustada e inconformada. Não era justo que ele morresse apenas em nome de um segredo. Então, decidida a salvar sua vida a qualquer custo, ela respirou fundo e resolveu usar sua última cartada, mesmo não tendo certeza do que estava prestes a dizer. Ela não queria, mas era preciso. Agora era tudo ou nada.

— Tire o traje, por favor... Naoto. – suplicou ela com os olhos marejados.

Sem dizer nada, Jiban virou um pouco a cabeça e olhou para ela e ela então teve certeza. Seichi não entendeu nada e achou que a colega estivesse tendo algum colapso nervoso.

— Do que você está falando, mulher? Por que chamou ele de Naoto? Para variar, aquele palerma nunca está por perto quando precisamos dele!

— Não diga isso, Seichi. Ele sempre esteve aqui do nosso lado, não é, Naoto?

Nesse instante, o corpo de Jiban emanou uma luz muito brilhante por alguns segundos, que ofuscou os dois policiais e fez com que eles precisassem fechar os olhos. Quando os reabriram, viram o parceiro desacordado e sangrando sob suas mãos. Seichi ficou tão surpreso que não sabia como reagir e tirou suas mãos de cima do colega. Yoko sorriu, ao mesmo tempo que chorava. Ela já desconfiava que o parceiro pudesse ser Jiban há algum tempo, mas não tinha certeza. Ficou muito feliz por ele mesmo ter decidido revelar a verdade, pouco antes de perder a consciência por completo.

— Continua estancando o sangue, Seichi! – precisou ordenar Yoko, forçando com que o superior se refizesse do choque mais rapidamente.

— M-mas como é que pode ser isso? – perguntava ele, incrédulo e atônito. – Isso não pode ser verdade. Isso é um sonho muito doido que eu estou tendo. É isso. É um sonho e eu vou acordar agora. – disse ele e em seguida beliscou o próprio rosto tentando acordar do sonho que achava que estava tendo, mas não surtiu efeito, então beliscou novamente e teve certeza de que não era um sonho e que o parceiro do qual ele vivia reclamando era o herói que ele tanto admirava e que agora estava morrendo bem ali na sua frente.

Ele precisou de mais alguns instantes para assimilar a revelação, mas logo já estava pronto para agir.

— Não se atreva a morrer, Naoto! Não, senhor. Não, comigo aqui! Eu não vou deixar que isso aconteça ou então eu não me chamo Seichi Muramatsu! – disse ele, decidido, enquanto tirava o paletó e arrancava as mangas com algum esforço. – O senhor vai viver e me contar tintim por tintim que história é essa de você ser o Jiban e ter me enganado esse tempo todo.

Yoko sorriu ao ver a atitude de Seichi, que estava usando as mangas do paletó para estancar o sangue. Ele havia colocado uma delas dobrada sob o corpo do rapaz para obstruir o ferimento de saída da espada de Madogarbo e a outra ele estava pressionando sobre seu abdômen para estancar o ferimento de entrada.

— É isso mesmo, Seichi. Não vamos deixar ele morrer. A ajuda já está a caminho. – apoiou Yoko, tentando se manter otimista.

— Sim, mas a senhorita também vai me explicar como é que sabia disso e não me contou. – dispersou Seichi de sua determinação por alguns instantes para puxar a orelha da moça.

— Depois nós conversamos. Agora nós precisamos ajudá-lo. – desconversou Yoko.

Assim que disse isso, Lezon finalmente chegou em alta velocidade e com as sirenes ligadas. Freou bruscamente, dando uma leve derrapada, e parou ao lado dos policiais.

— Coloquem ele aqui, por favor. – pediu o carro, com sua voz metálica. O veículo abriu imediatamente as portas e os policiais o obedeceram, colocando Naoto deitado no banco de trás. Eles estavam preocupados por deixá-lo sozinho naquele momento, mas Lezon não pretendia abandonar a dupla de policiais. – Entrem. Venham conosco.

Sem pensar duas vezes os policiais obedeceram novamente. Yoko sentou-se no banco de trás, junto com Naoto e continuou sustentando sua cabeça em seu colo e também continuou pressionando os ferimentos da melhor forma que conseguia. Seichi se sentou na frente, no banco do motorista, e até fez menção de dirigir o super carro de Jiban, mas assim que colocou as mãos no volante, ele girou sozinho e acelerou rumo à base.

Assim que o veículo começou a andar, o sistema de segurança foi ativado. As portas travaram automaticamente e os vidros se tornaram completamente negros, impedindo que Seichi e Yoko tivessem qualquer visão do mundo exterior.

— Peço desculpas, mas isto é para a própria segurança de vocês. – disse o carro aos dois ocupantes não convencionais. – Naoto decidiu mostrar a verdade a vocês e por isso eu os estou levando para a base, mas é mais seguro que mantenhamos o caminho em segredo, para que vocês não consigam voltar aqui, caso o Biolon os obrigue.

— Tem toda razão, Lezon. – concordou Yoko.

— A pulsação do Naoto está muito fraca. – comunicou-se o carro com a base, após fazer uma leitura completa dos sinais vitais do policial. – Halley, deixe tudo preparado para a cirurgia. Chegaremos em dez minutos.

— Já está tudo preparado.— respondeu o robozinho esperto, do outro lado da linha.

Yoko e Seichi apenas se entreolhavam impacientes até que finalmente o carro parou. As portas do veículo se abriram novamente e eles viram que estavam em uma espécie de galpão bem iluminado e uma maca os aguardava.

Eles também viram o já conhecido robozinho Halley junto de um homem que eles não sabiam quem era, mas que foi imediatamente na direção deles.

— Por favor, me ajudem a colocá-lo na maca. – pediu o homem.

— Mas é claro. – respondeu Seichi já fora do carro, enquanto Yoko o ajudava, ainda do lado de dentro.

Com algum esforço eles o colocaram na maca e o homem, assim como o robozinho, saíram em disparada por um corredor. Os dois policiais, sem saber muito bem o que fazer, os seguiram e logo se viram dentro de um centro cirúrgico de última geração comandado apenas por máquinas.

Seichi teve a leve impressão de já ter estado naquele lugar antes. Pensou que pudesse ser coisa da sua imaginação, mas não era. Ele realmente tinha sido levado para lá por Jiban há algum tempo, após ter levado um tiro na perna, mas ele estava tão sedado na ocasião, que para ele, tudo tinha parecido mais um sonho do que qualquer outra coisa (episódio 24).

— Agora saiam todos, porque precisamos começar a cirurgia imediatamente. – disse Halley, já expulsando a todos da sala.

— Está certo, Halley. Contamos com vocês. – disse o homem, saindo e levando Yoko e Seichi consigo. Ele os levou à sala de comando, porque os três precisavam ter uma longa conversa.