“Poderia não custar nada/E poderia custar bastante/Mas... Por que não?”

Why not – Hilary Duff

Beto abriu os olhos lentamente e olhou para o relógio. Piscou algumas vezes para assimilar que era hora de se levantar. Havia dormido tarde na noite anterior, Érica insistiu em conversar com ele sobre sua a infância e ele tinha que se esforçar para não falar demais sobre um certo alguém. Ele não pretendia ficar com Érica, independentemente de Clarita gostar dele ou não ele tinha consciência de que o que fazia com ela era errado. Mas sabia também que não deveria abandoná-la justo agora quando ela precisava do apoio de alguém na nova fase de sua carreira.

Definitivamente ele estava em um labirinto.

Levantou-se e foi ao banheiro, precisava de um banho para organizar as ideias e decidir quais passos dar. Quando finalmente saiu do banheiro encontrou a irmã esperando por ele sentada na beirada da cama.

— Carol? — ele disse confuso. — Bom dia.

— Bom dia — ela respondeu, sorridente como sempre. — Érica está na sala, acho que ela está esperando por você.

— É eu combinei com ela que iria levá-la até o Café para o seu primeiro dia no trabalho — ele explicou.

— Então se apresse, pois ela está muito ansiosa.

— Até imagino — ele disse cansado.

Saiu do quarto e seguiu até a cozinha, tomou seu café e foi ao encontro de Érica que o recebeu com um beijo rápido.

— Está pronta? — perguntou ele, após se separarem.

— Não — ela disse, rindo nervosa. — Mas você vai estar lá, então tudo bem.

— Não é como se você pudesse ser demitida ou algo assim...

— Eu sei que não é meu trabalho de verdade, mas mesmo assim eu quero fazer isso direito.

— Você vai não se preocupe — ele disse, sorrindo.

Beto pegou Érica pela mão e saiu com ela até a garagem, onde a guiou até o Volkswagen Up da irmã. Carol havia lhe emprestado seu carro para levar Érica, pois sabia que poderia ser perigoso colocar a garota em uma moto no estado em que ela se encontrava. Deu partida no carro e saiu pelas ruas de São Paulo. Logo chegaram ao Café, onde Maria Cecília os esperava animada.

— Bom dia! — ela disse animada.

— Bom dia — o casal respondeu, utilizando o mesmo tom.

— Então Érica, pronta para começar?

— Claro!

— Então vamos entrando para eu poder te apresentar para o pessoal.

“O pessoal”, Beto pensou, “Clarita faz parte do pessoal”. Isso seria ruim, muito ruim. Principalmente se as duas se tornassem amigas. Como ele iria lidar com essa situação?

— x —

Clarita viu Maria Cecília surgir pela porta principal do Café acompanhada por um casal, mal pode acreditar no que via: Beto de mãos dadas com Érica. O que será que eles faziam ali? Afinal, já havia se passado uma semana desde que eles chegaram, e nenhum dos dois sequer tinha pisado no Café até aquele momento.

Ouviu Maria Cecília a chamar e se juntou aos outros funcionários que, assim como ela, não estavam entendendo o que estava acontecendo.

— Bom pessoal, bom dia — ela disse.

— Bom dia — responderam.

— Esta aqui é a Érica — ela disse apontando para a garota.

Clarita achou desnecessário, afinal quem não conhecia Érica Melo e todo o bla bla bla que as revistas diziam sobre ela.

— Ela vai trabalhar com a gente por um tempo...

Foi aí que tudo fez sentido, como ela poderia ter se esquecido da conversa que ouvira, sem querer, entre Júnior e Maria Cecília, eles falavam justamente sobre isso.

Alguns murmúrios surgiram entre os funcionários do Café, todos ficaram chocados e Letícia aproveitou o momento, para cochichar para Clarita:

— Como assim? O que essa fresca aí vai fazer aqui?

— Eu não sei — Clarita sussurrou de volta. — Mas espero não ter que ficar responsável por ela.

— Muito menos eu — Lê respondeu no mesmo tom, voltando a prestar atenção em Maria Cecília.

— Para que esse aprendizado seja possível eu espero contar com a ajuda de vocês — a mulher dizia, fazendo gestos com a mão.

Os funcionários concordaram silenciosamente.

— Bom, então eu vou deixar você conhecendo o pessoal — Maria Cecília olhou para Érica. — Qualquer coisa me chame.

— Claro, muito obrigada.

Assim que a chefe sumiu do campo de visão um silêncio se instaurou entre os funcionários. Eles não sabiam como agir, não sabiam se deveriam tratar Érica como uma colega de trabalho ou como uma estrela internacional. Clarita notou que ninguém ia se manifestar e percebeu que seria ela a responsável por tentar integrar Érica na equipe.

Pensou algumas vezes no que ia dizer, até que por fim se dirigiu a garota.

— Bom, Érica, eu sou a Clara, mas todos me chamam de Clarita, seja bem-vinda a equipe — ela disse com um sorriso sincero.

Érica a encarou por alguns instantes e depois retribuiu o sorriso.

— Obrigada — foi o que ela conseguiu dizer.

— Bom vou te apresentar o pessoal — Clarita chamou a atenção dos colegas. — Essa é a Letícia, ou a Lê simplesmente — ela apontou para a ruiva ao seu lado, que estendeu a mão para Érica que apertou prontamente.

— Seja bem-vinda — Lê disse amigavelmente. — É um prazer conhece-la.

— O prazer é meu — Érica respondeu.

— Esse aqui do meu lado — Clarita apontou para o rapaz de óculos — é o Tobias, ele é o confeiteiro do Café, todos esses doces são criações dele.

— Muito prazer — ele disse imitando o gesto de Letícia, que foi correspondido por Érica.

— Ao lado do Tobias está o Francis — Clarita mostrou o rapaz alto que sorriu para Érica — o nosso barista.

Clarita terminou de apresentar o pessoal à Érica que tentava memorizar os nomes rapidamente, assim que a apresentação terminou cada funcionário seguiu para um lado, deixando Clarita responsável por apresentar o resto do Café para a garota.

— Acho que serei sua guia hoje — Clarita brincou olhando para Érica que sorriu.

— Vejo que está em boas mãos — Beto se aproximou das duas. Até aquele momento ele estivera sentado em uma das mesas apenas observando a situação.

— Olá Beto — Clarita se dirigiu ao rapaz sem muita animação, por um momento havia se esquecido dele e isso fez com que ela chegasse a simpatizar com Érica.

— Como vai nanica?

— Bem, muito bem. E você?

— Bem também.

— Bom vou deixar vocês a sós, — ela disse ao casal — assim que voltar eu lhe mostro o local onde você vai trabalhar.

— Tudo bem — Érica disse, e Clarita se virou para ir atender uma mesa.

Assim que terminou de anotar o pedido, Clarita foi até o balcão repassá-lo para Francis e Tobias. Letícia, que chegou alguns segundos depois, chamou-a para conversar.

— Pelo visto você vai ficar responsável pela nova “garçonete” — Lê debochou da circunstância.

— Não mesmo — Clarita negou rapidamente.

— Espero que não, de verdade, mas a Maria Cecília vai...

Lê não pode terminar a frase, pois Tobias logo chegou avisando que Maria Cecília queria falar com Clarita. A garota prontamente pegou o elevador e foi até o segundo andar, onde Maria Cecília a esperava em sua sala.

— O Tobias disse que você queria falar comigo — Clarita disse, assim que entrou na sala.

— Queria sim, sente-se — a mulher indicou uma cadeira a sua frente.

Clarita se sentou ainda sem entender o que estava acontecendo. Será que ela seria mandada embora?

— Bom Clarita como você deve imaginar eu vou precisar de alguém para ajudar a Érica a se adaptar aos horários e a tudo o que envolve o Café — Maria Cecília disse, sob o olhar atento da loira. — E eu gostaria de saber se posso contar com você.

Clarita ficou pálida, tudo o que ela menos queria era ter que ser responsável por Érica. Ela mal dava conta do próprio trabalho, mal tinha se acostumado com o funcionamento do lugar e agora teria que ensinar algo que nem ela mesmo sabia para alguém que sabia menos que ela. Isso era injusto. Por que não pedir a Letícia ou a qualquer outra garçonete? Por que ela? Por que?