It's All About Timing

With you I'm home


Ainda era muito cedo, e em uma cidade pequena como Storybrooke, a essa hora da manhã ainda era possível ouvir o som dos pássaros nas árvores. Robin acordou e começou a tomar coragem para levantar-se da cama e deixar a linda mulher enrolada nos braços dele para trás.

Ela dormia tranquilamente, o peito subindo e descendo num ritmo leve. O arqueiro enterrou o rosto nos cabelos da mulher, que se aconchegou mais a ele. Sabendo que ele tinha mesmo que levantar, o homem contou até três e saiu da cama, tomando cuidado para não acordar Regina.

Depois de pronto, ele se ajoelhou ao lado da cama, plantando um beijo no rosto da morena, que abriu os olhos devagar, incomodada pela claridade.

— Aonde você está indo? – perguntou ela.

— Pro acampamento. Little John queria que eu chegasse lá cedo, e bem, quando ele diz cedo, é cedo. – ele sussurrou contrariado, fazendo Regina soltar uma leve risada. – Você pode voltar a dormir, porque está muito cedo. Eu vou acordar Roland para ele vir comigo. – ele avisou, se perdendo nos olhos castanhos da morena. Ela estava caindo de sono.

— Deixe-o aqui, está muito cedo. – ela pediu, levando a mão até a barba de Robin, fazendo um leve carinho. – Ele fica e toma café comigo e com Henry, assim eu os aproveito um pouquinho. Depois deixo os dois na escola.

— Tem certeza? – ele perguntou, tombando a cabeça contra a mão dela.

— Absoluta. – ela piscou e sorriu. Se aproximando dele, ela deixou um leve selinho em seus lábios. – Odeio quando você tem que sair cedo assim para ir ao acampamento.

— Ora, majestade, isso não aconteceria se você viesse morar na floresta comigo. – Robin zombou, e Regina revirou os olhos, fazendo-o rir.

— Sonhe, thief. – ela respondeu, fechando os olhos em seguida. Antes de sair do quarto, Robin depositou um pequeno beijo na testa dela, e Regina logo caiu no sono de novo, nem percebendo quando ele saiu do quarto.

Seguindo pelo corredor, Robin foi até o quarto do filho, e parou na porta, observando o menino dormir tranquilo em meio as cobertas. Depois de dar um pequeno beijo no garoto, o arqueiro saiu de casa seguindo para o acampamento.

Ele sabia que o motivo de Little John querer ele lá logo cedo se devia ao fato de Robin não viver mais no acampamento. Ele vivia mais na casa de Regina do que no lar dos homens alegres, e isso estava deixando os homens se perguntando qual seria a atitude tomada por Robin. Como eles poderiam ter um líder que nem se quer vivia com eles?

Acontece que assim como os homens alegres eram o seu lar, Regina também era. E ele se sentia ótimo ao lado dela, e Roland também. E mesmo que não estivessem morando oficialmente juntos, Robin sabia que podia considerar a casa da prefeita um lar.

Balançando a cabeça para afastar os pensamentos, Robin seguiu seu caminho.

*-*

Regina abriu a porta da mansão já idealizando o banho demorado que tomaria. Depois de passar metade da tarde procurando livros para Zelena nas coisas de Cora, a morena sentia como se todo o pó que estava naquelas caixas tivesse impregnado em seu corpo. E talvez isso realmente tivesse acontecido.

Porém, ao subir os degraus da entrada, a morena pode ver Robin e Roland muito concentrados na preparação do que Regina deduzia que fossem sanduíches. O loiro cortava os ingredientes enquanto o filho montava os sanduíches, e os dois conversavam alegremente enquanto praticavam a tarefa. A prefeita deu silenciosos passos até a porta da cozinha, se escorando no batente.

O primeiro a notar a sua presença fora Roland, que assim que colocou os olhos nela, desceu correndo da cadeira em que estava para ficar na altura do balcão, e foi apressadamente até Regina, que o pegou no colo.

— Gina! – ele exclamou, feliz.

— Oi, querido! – ela respondeu, plantando um beijo na cabeça dele enquanto caminhava com o menino nos braços em direção a Robin. – O que os meus meninos estão fazendo? – perguntou, enquanto colocava Roland sentado na cadeira em que estava antes.

— O jantar, Gina! Queríamos fazer uma surpresa... – Roland falou, voltando sua concentração aos sanduíches. Regina sorriu, beijando os cabelos dele e virando-se para Robin, que limpando as mãos em um pano, enlaçou a cintura dela e roubou-lhe um beijo, depois encostou a testa na dela e encarou os lindos e hipnotizantes olhos castanhos.

— Uma surpresa? – ela perguntou, levantando a sobrancelha.

— Uma surpresa. – o arqueiro confirmou. – O começo dela. – sussurrou a última parte em seu ouvido.

— Agora eu estou ansiosa. – Regina sussurrou de volta contra os lábios dele. – Vocês precisam de ajuda? – ela perguntou, voltando a atenção para Roland.

— Não, Gina. É um jantar de surpresa para você, então não precisamos de ajuda. – Roland disse, como se fosse óbvio.

— Ok! – ela disse, erguendo as mãos em sinal de rendição. – Vou subir e tomar um banho, depois desço para jantar, pode ser, querido?

— Assim, sim, Gina. – Roland respondeu, olhando para ela sorrindo.

Antes de sair da cozinha, a morena deu uma última olhada para Robin, que jogou uma piscadela para ela.

*-*

A primeira coisa que Robin notou quando acordou foi que Regina não estava na cama. Ligando o abajur e olhando para o relógio, ele viu que se passavam das duas horas da manhã. Passou os olhos pelo quarto e viu a luz do closet acessa, e foi aí que ele ouviu alguns sons esquisitos. Ele levantou-se e seguiu até o closet, e a cena que viu o fez estagnar. Regina estava escorada no roupeiro, lutando para respirar. A morena ofegava e os lábios estavam entreabertos. Robin levou segundos para chegar até ela, chamando seu nome.

— As-s-ma. – ela tentou falar, quando viu o olhar de desespero e confusão que tomava conta do rosto de Robin. Antes que ela conseguisse falar mais alguma coisa, foi acometida por uma crise de tosse que fez Robin se assustar, pegando ela gentilmente pelo cotovelo, fazendo-a sentar no chão.

— O que eu faço? – ele perguntou, tirando os cabelos do rosto dela e a inclinando para frente.

— E-eu tenho uma bom-binha. – Regina respondeu, com dificuldade, o que estava começando a preocupar. – Eu não consigo ach-ar ela. Ach-o que está dentro da cai-xa de remé-dios.

— Ok, ok, não se esforce tanto. Eu vou achá-la. – ele disse, inclinando ela um pouco mais para frente, achando que talvez assim seria mais fácil de respirar.

Correndo, o loiro foi até o banheiro, pegando a caixa de primeiros socorros, vasculhando-a e encontrando somente remédios e alguns curativos. Ele respirou fundo, porque precisava se acalmar. Ele nunca vira Regina daquela forma, e ele também não fazia a menor ideia do que era asma. Ele abriu as gavetas do armário, procurando desesperadamente alguma outra caixa de remédios. Foi somente quando abriu a última gaveta, que bem no fundo ele achou uma caixinha, abrindo-a e dando de cara com alguns remédios, curativos e uma outra coisa esquisita que ele rezou para ser a bombinha.

— Eu acho que eu achei. – ele falou, entrando no closet com a caixa nas mãos. Ele se ajoelhou ao lado da morena, colocando a caixa no chão e tirando o pequeno objeto lá de dentro. – É isso? Porque se não for, eu acho melhor levarmos você para o hospital.

— Na-da de hospital. – Ela disse rápido, e mesmo ofegante, soltou um riso. – Pode se acalmar, Ro-bin, is-sso não é o fim do mun-do.

— Regina, isso é a bombinha? – ele repetiu a pergunta, sério, colocando o objeto na frente dela, ignorando o comentário da morena. Como ela queria que ele ficasse calmo?

— Si-m. – ela respondeu, pegando a bombinha da mão dele. Examinando ela para ver se ainda continha o remédio, a morena levou a bombinha até a boca e respirou fundo. Depois tirou a bombinha e esperou alguns segundos, para depois voltar a fazer o mesmo processo. O loiro encarava a morena com atenção, a mão pousada na coxa da mesma, fazendo um leve carinho.

A situação fora tão assustadora para ele, que Robin estava pronto para pegar Regina nos braços e levá-la para o hospital. Felizmente, depois de alguns minutos a morena já parecia bem melhor que antes. Ela guardou a bombinha na caixa e sorriu para o loiro, que não sorriu de volta para ela.

— Desmanche essa cara de apavorado. Eu estou bem. – assegurou ela, levando a mão até o rosto dele, fazendo um leve carinho na barba por fazer.

— Você tem certeza? Não quer que eu a leve para o hospital? – perguntou, colocando a mão em cima da dela.

— Não, Robin, eu já estou melhor. – disse. – Mas eu adoraria que você me ajudasse a ir até a cama. – pediu, e Robin assentiu, levantando-se e ajudando Regina a levantar também. Ele passou os braços por debaixo das pernas dela e a pegou no colo. A morena pensou em protestar, mas cansada, apenas escorou a cabeça no peito do loiro, que em poucos passos os levou até a cama. Regina se aninhou no peito do loiro, e suspirou.

— Você vai me explicar o que foi aquilo? – Robin perguntou, depois de longos minutos em silêncio. O homem fazia leves carinhos nas costas de Regina, e a mulher estava quase se entregando ao sono.

— Eu sinto muito por nunca ter falado que eu tinha asma. – ela começou, levantando a cabeça para olhar nos olhos de Robin. – Eu sempre tive, desde pequena, e nessa época eu tinha crises seguidas. Eu lembro de algumas noites que meu pai tinha que ficar ao meu lado, me ajudando a respirar, e eu não o deixava ir embora porque eu tinha medo de ter uma crise do nada. Cora nunca fez nada. Conforme eu fui crescendo, as crises foram se tornando mais raras até que eu quase não tinha mais. Foi incrível quando eu cheguei em Storybrooke, com o avanço da medicina, e descobri essas bombinhas e inaladores. Eu tinha sempre à mão, mas minhas crises se tornaram muito raras mesmo, então eu resolvi guardar. Acho que a poeira dos livros hoje não me fez bem. – terminou, fazendo uma careta. Robin sorriu, depositando um leve beijo em sua testa.

— Eu fico feliz que você tinha o seu pai para lhe ajudar a passar por isso, é realmente assustador. – ele sussurrou a última parte.

— Eu sinto muito querido, não era minha intenção assustar você. – ela falou, se escorando no peito dele novamente.

— Por que você não me chamou, Regina? – ele perguntou, e Regina suspirou.

— Porque eu só iria pegar a bombinha e fazer em silêncio, sem ter que acordar você e te deixar preocupado desse jeito. Você está com a testa franzida de preocupação até agora, Robin, não queria assustá-lo. – ela confessou, com a cabeça baixa.

— Pois deveria ter me chamado, porque ter acordado sem você na cama e te encontrar naquele estado apenas agravou a situação. – ele disse, enterrando o nariz nos cabelos dela. – Se você tiver uma próxima crise, estarei preparado. Odeio pensar que posso perder você. – confidenciou, tão baixo que Regina achou que não havia escutado direito.

— Você não vai me perder, thief, foi uma crise de asma. – ela sorriu, olhando para ele e aproximando os seus rostos.

— Eu não sabia que era asma. – Robin respondeu, sério.

— Eu sei, meu amor. – ela riu com a fala dele. – Obrigado por estar sempre aqui por mim, Robin, você não sabe o quanto é importante. – disse, depositando um leve beijo nos lábios dele.

— Eu sempre vou estar aqui. – sussurrou, depois que encerraram o beijo. Regina deitou a cabeça no peito de Robin e o loiro a puxou mais para si.

— Como foi no acampamento hoje? - Regina perguntou.

— Mais um dia tendo que escutar brincadeiras sobre ter trocado eles para viver ao lado da prefeita. - Robin disse e Regina riu. - Mesmo que eu afirme que eu durmo aqui só às vezes, não sempre. E que não troquei eles.

— Você deveria mudar para cá mesmo, assim daria razão as brincadeiras. - ela disse, com uma voz brincalhona.

— Eu sempre soube que você tinha uma mente brilhante. - Robin brincou, dando um beijo nos cabelos dela.

— Na verdade, eu acho que você deveria mesmo vir morar comigo. - disse, baixinho. Robin procurou o olhar dela, surpreso. - É claro que eu vou entender se você não quiser, afinal, o acampamento é o seu lar. Eles são sua família. - completou ela, rapidamente.

— Regina... - ele tentou.

— E eu sei que você e Roland são acostumados a viver na floresta e eu não quero que vocês se sintam desconfortáveis... - ela parou de falar quando Robin colocou o indicador delicadamente sobre os lábios dela.

— Se é isso mesmo que você quer, que eu me mude para cá, você já sabe a minha resposta. Lar é onde o coração está, Regina, e o meu está com você. E o Roland, ele vai ficar eufórico com a ideia de morarmos aqui. Mas eu não quero e não vou fazer nada se você não tem certeza.

— Eu tenho certeza. Você já vive praticamente aqui, Robin. Eu só teria que aumentar o espaço para suas roupas no roupeiro e arrumar o quarto onde Roland dorme do jeitinho que ele quiser. - ela falou, e por um momento sua mente voou para longe, imaginando detalhes para o quarto de Roland, lembrando-se do quanto fora maravilhoso decorar o quarto de Henry quando ela o adotou. - Venha morar comigo. - pediu.

— Eu venho. - Robin concordou sorrindo. Regina sorriu também, se debruçando e colando os lábios no dele. - Mas você tem que falar com Henry, perguntar se está tudo bem eu e Roland nos mudarmos para cá.

— Ok. - ela concordou, sorrindo.

— Agora descanse, meu amor. Ainda não esqueci o que aconteceu.

— Eu estou bem, Robin... - ela constatou, bufando e deitando, se aninhando a ele. Robin sorriu, depositando um beijo na bochecha da amada, que fechou os olhos e logo dormiu, nos braços do homem que amava.

Depois daquela noite, a bombinha para a asma estava sempre na primeira gaveta da mesinha ao lado da cama. E, meses depois, quando Regina abriu a gaveta e a encontrou lá, as lágrimas foram inevitáveis, e ela se permitiu chorar, lembrando de como Robin cuidara dela naquela noite. E desejando que ela pudesse voltar no tempo. Que ela pudesse tê-lo de volta. Mas era tarde demais, ele estava morto. E ela, ela estava perdida.