A chuva caía sem trégua. O vento balançava as árvores e os raios cortavam o céu. Regina se encontrava nos braços de Robin, o olhar perdido, a ponta do nariz vermelha. O choro não balançava mais seu corpo, mas a tristeza ainda estava presente nos belos traços da morena. Robin a beijava na bochecha, no pescoço, cheirava-lhe os cabelos e de tempos em tempos a puxava mais para si, apenas para ela ter a certeza de que não estava sozinha. A tristeza que habitava nela, habitava nele também.

— É apenas a terceira vez que tentamos, meu amor. Você ouviu a Dra. Addison, talvez se tentarmos outro tratamento... – Robin disse, quebrando o silêncio que dominava o quarto.

— É a terceira vez, Robin. Terceira. – Regina repetiu a fala dele, a voz falhando.

— Não podemos desistir, Regina. Você sabe disso, e você nunca foi de desistir. Nós vamos conseguir. – ele falou, virando-a para que olhasse em seus olhos. A morena negou com a cabeça, as lágrimas agora voltando a deslizar pelo belo rosto.

— Cada vez que nós tentamos e a resposta é negativa eu acho que não vou aguentar, Robin. Estamos há 10 anos juntos, e nossos planos seguiram como planejamos, então por que agora tudo tem que ruir? – ela falou, a voz cada vez mais falha. – Eu só quero ser mãe... Eu só quero dar isso a você... O filho que tanto queríamos, lembra? Que sempre imaginamos, juntos.

— Regina...

— E-eu sinto tanto. – interrompeu ela, e Robin desejou que pudesse tirar toda essa dor dela. Ele não se importaria de ter que conviver com isso parar ter o seu belo par de olhos castanhos brilhando para ele de novo. Robin não conseguia vê-la sofrer. Para ele era um tormento, ainda maior que o temporal que caía sobre Nova Iorque naquele dia.

— Regina, olha pra mim. – Robin pediu, e as íris castanhas se encontraram com as azuis. – Eu não quero jamais que você volte a falar uma coisa dessas, Regina. Não quero que você volte a se desculpar por isso. Já passamos por tantas coisas, e vamos continuar a fazer isso. Juntos. Se você quiser tentar mais uma vez, nós tentaremos. Se você achar que está na hora de darmos um tempo, então daremos. Talvez vá acontecer quando deva acontecer. Talvez o filho que tanto queremos esteja em algum lugar agora, esperando que a gente o busque. Com filho ou sem filho, é você quem eu quero. Portanto, a decisão que você tomar, eu te apoiarei. Não se culpe por algo que não está sob seu controle. Estamos nessa juntos, lembra? – ele terminou de falar, quase sem fôlego. Regina olhava para ele, e apesar de todas as lágrimas e tristeza, no fundo havia um olhar de adoração, de agradecimento. Robin era seu anjo da guarda, e esteve com ela todas às vezes em que o maldito teste tinha dado negativo, todos esses meses. Aliás, ele estava sempre ao seu lado. Sem saber o que responder para ele, ela apenas engoliu o nó que se formava em sua garganta, pegou o rosto dele entre as mãos e o beijou.

— Obrigada. – ela sussurrou, quando o beijo chegou ao fim. – Eu amo você.

— Não mais do que eu amo você, minha vida. – ele respondeu, puxando-a para seus braços.

O loiro voltou a passar as mãos pelas costas da morena, que agora tinha a cabeça encaixada no vão do pescoço de Robin. Ele nem soube dizer em que momento os dois caíram no sono.

***

Dois anos. Esse era o total de tempo que Regina e Robin vinham tentando ter um filho. Há 10 anos juntos, eles não tinham pressa no início, ocupados com a paixão que sentiam um pelo outro e pelos passos profissionais que estavam seguindo. Entretanto, mesmo sem querer, no terceiro ano de casamento, Regina descobriu que carregava um pedaço de Robin dentro de si. A hora certa, entretanto, não parecia ser aquela, já que na sexta semana, Regina teve um aborto espontâneo.

Quando estabilizaram sua vida financeira e aproveitaram sua vida a dois o bastante, a vontade de tentar de novo um fruto daquele amor se fez presente no coração de ambos. Tentaram inúmeras vezes, parando de usar proteção e Regina vetando o anticoncepcional, contudo, passaram-se meses sem obterem resultados, e acabaram tendo que procurar um médico.

Uma tonelada de exames depois, e nenhum problema com os dois fora achado. Então tentaram de novo, mas o teste nenhuma vez apontou um resultado positivo.

Cansados, mas sem querer desistir, fizeram um tratamento. Motivo pelo qual chegaram a conclusão, meses depois do resultado negativo, que talvez o melhor a fazer seria adotar. Talvez houvesse uma criança, em algum lugar, que era para ser deles. Alguém que não seria gerada pelos dois, mas que conquistaria o coração do casal completamente.

***

Regina subia os degraus da entrada do orfanato, segurando fortemente a mão de Robin. Os dois estavam ansiosos. Depois de fazer doações e visitas para alguns orfanatos, aquele era o último ao qual eles estavam indo. New York Grace. Era um orfanato humilde e parecia bastante confortável. Pelo menos, fora a primeira coisa que Regina pensou quando entrou.

As crianças mexiam com ela. Em todos os orfanatos, ela queria poder fazer uma coisa boa por cada um deles, e embora tivesse ficado encantada, ela ainda não havia sentindo a sensação. A sensação que ela estava esperando sentir. Que ela sabia que iria sentir quando encontrasse a sua filha, ou filho.

Olhando ao redor, a morena percebeu que o lugar estava um pouco frio demais. Não tanto, como estava na rua, mas ainda sim, estava frio. Ela se enganchou no braço de Robin, e o loiro depositou um leve beijo no topo da cabeça dela. Os dois estavam agasalhados, e quando uma senhorinha veio até eles, com um enorme sorriso doce no rosto, Regina se sentiu levemente acolhida.

— Boa tarde! – cumprimentou a senhora. – Vocês devem ser Robin e Regina Locksley. E sou a diretora Elizabeth, muito prazer. Mas podem me chamar apenas de Elizabeth. – sorriu, apertando a mão de ambos. A senhora era baixinha, os cabelos grisalhos. Os olhos eram claros, e ela cheirava a vovó. Esse pensamento fez o sorriso de Regina se alargar ainda mais.

— Olá, Elizabeth. – Regina e Robin disseram juntos.

— Presumo que queiram ver as crianças... Me acompanham até o refeitório? Está na hora do lanche da tarde, e bem, elas vão adorar ter visitas. – ela disse, já saindo em direção ao corredor. Robin olhou para Regina, que sorriu para ele, e juntos, seguiram a adorável senhora.

Passaram por duas portas, e logo entraram em um amplo cômodo, com uma grande mesa no centro e outras espalhadas pelo aposento. Uma janela enorme dava vista para o jardim, agora coberto pela neve. A mesa que Regina presumia ser a principal estava lotada, com crianças de várias idades, conversando e rindo alto. As outras mesas estavam cheias também, mas Regina percebeu que eram mais grupinhos, mais reservadas.

As crianças pararam a conversa quando notaram a diretora com o casal, e agora os Locksley eram olhados com curiosidade. Depois das apresentações, mesmo que timidamente, as conversas voltaram a ecoar pelo cômodo, mas agora, Robin e Regina estavam no meio delas. A mesa principal se tornara pequena, e todas as crianças queriam conversar com as visitas.

Eles ficavam admirados que Robin era um policial, e queriam saber de toda a sua rotina na delegacia. Regina sorria, e as meninas menores não deixavam de querer disputar o colo dela. Ela contava que escrevia, escrevia história para crianças, e todos ficaram curiosos, querendo que ela as lesse para eles.

Quando Regina levantou os olhos para cima, dando uma pequena olhada pelo lugar, percebeu que tinham alguns adolescentes que nem tentaram se aproximar, e continuaram a tomar o lanche normalmente. Talvez, ela pensou, eles não tinham mais nenhuma esperança de serem adotados. E foi, no canto, numa mesa perto da janela, que a morena percebeu um garoto, que não devia ter mais que 7 anos.

Pedindo licença para as crianças com as quais ela estava conversando, a morena seguiu até o menino. E quanto mais se aproximava, mais ela conseguia perceber que ele fungava e virava a cabeça para o lado com frequência. Quando ele percebeu que ela estava chegando perto, abaixou a cabeça.

— Olá. – ela falou, quando chegou perto da mesa.

— Oi. – o garoto respondeu, num sussurro. Mesmo com a cabeça baixa, as fungadas e viradas de cabeça ainda continuavam, e desde que ela parara ali, aconteciam com mais frequência.

— Qual é o seu nome? – Regina perguntou, puxando a cadeira que ficava na frente do garoto e sentando-se.

— R-rol-land. – ele respondeu, entre fungadas e viradas de cabeça.

— Você está resfriado, Roland? – Regina perguntou, achando que a única explicação plausível para o comportamento do garoto fosse aquela.

— Não. – Roland respondeu, e o silêncio se instalou entre eles. Regina pensou que talvez ele não quisesse a presença dela ali, pelo menos era o que parecia. Entretanto, havia algo nele que a intrigava. E Roland era tão fofo, os cachos castanhos e os olhos da mesma cor o faziam parecer ainda mais adorável.

— Você não quer um pouco de chocolate quente? – Regina perguntou a ele, depois de dar uma breve olhada na mesa e ver que ele não estava comendo nada.

— Não. Eu vou comer depois. – ele disse, ainda sem encará-la. Regina levantou a sobrancelha, dando uma olhada para a mesa principal. Robin estava contando alguma de suas histórias policiais para as crianças, e quando ela voltou o olhar para Roland, percebeu que ele encarava Robin e as crianças também. As fungadas e as viradas de cabeça continuaram, sem trégua.

— Por que você não vai comigo até lá? Assim pode ouvir as histórias também, e tomar um chocolate quente, está delicioso. – Regina tentou, e o garoto mordeu os lábios, e muito devagar, começou a levantar a cabeça.

— Algumas crianças não gostam que eu fique perto delas. Por isso eu não vou ir, mas você pode voltar para lá. – ele respondeu, simplesmente. Os olhos castanhos dele se encontraram com os castanhos de Regina, e ela sentiu.

Ela sentiu o que vinha buscando sentir em todas essas idas aos orfanatos.

Regina sorriu para o garoto, que em resposta fungou e virou a cabeça pro lado. Depois disso, ela levantou e saiu, em direção a mesa principal.

***

Roland viu a morena seguir até a diretora e pedir algo para ela, e depois observou quando Elizabeth voltou da cozinha com uma bandeja e entregou a Regina, que voltou em direção a ele.

Ela depositou a bandeja na mesa, e Roland observou que haviam sanduíches e dois copos de chocolate quente. A barriga dele roncou, e Regina deixou um sorriso escapar.

— Eu sabia que você estava com fome. – ela falou para ele, que fungou e virou a cabeça pro lado. – Eu acho que não me apresentei... Eu sou Regina.

— Eu só es-stava com um pouquinho de fome. – ele disse de novo, não sabendo muito bem o que responder.

— Viu? Nem doeu pra concordar comigo. – ela disse, sorrindo, e viu quando ele reprimiu um sorriso, que quase lhe tomou os lábios. Num relance, Regina percebeu que ele tinha covinhas. A morena colocou um sanduíche na frente dele, e um copo de chocolate quente.

— Obrigada. – Roland agradeceu, seguido de uma fungada.

— Então me conte, Roland, o que você gosta de fazer? – Regina perguntou, quando o garoto estava na metade do sanduíche.

— Desenhar e jogar bola. – ele respondeu. – E você?

— Eu? Hmm, eu gosto de escrever... – ela respondeu. – E cozinhar, quando não coloco fogo na casa. – sorriu para ele, e pela primeira vez, ele sorriu de volta. O coração de Regina derreteu. O sorriso dele era banguela, e as covinhas ficaram a mostra. Tão iguais as de Robin.

— Pe-elo menos você cozinha bem? – Roland perguntou a ela, e lá estavam as fungadas e viradas de cabeça de novo.

— Claro que sim! – ela respondeu para ele, e sem nenhum motivo, Roland riu. – Ei! Eu estou falando sério! – constatou.

— Eu tenho que fingir que acredito? – o menino perguntou a ela, rindo.

— Eu vou chamar o meu marido aqui, aí ele vai te falar que eu sou ótima na cozinha. – Regina respondeu para ele, mas Roland riu ainda mais, e disse que não precisava. Que daquela vez, ele acreditaria nela.

A cada conversa, a cada risada, a cada fungada e virada de cabeça, Regina sentia seu coração se derreter pelo garoto. E ele se soltava mais a cada minuto, se mostrando uma criança maravilhosa.

Entretanto, quando Robin se aproximou dos dois Regina percebeu que Roland se retraiu de novo. Ele tinha medo de alguma coisa, como se pensasse que ninguém poderia gostar dele. Robin sentou-se na cadeira ao lado de Regina, depositando um beijo na bochecha de Regina e cumprimentando Roland.

— E aí, parceiro? – Robin disse.

— Oi. – Roland respondeu apenas. Regina sorriu pro garoto, e depois olhou para Robin, com aquele sorriso elusivo que só ela sabia dar. Os olhos brilhavam, e o loiro entendeu o que aquilo significava.

— Acabaram as histórias? – a morena perguntou a Robin, que deu uma risada.

— Eu prometi que contaria o resto outro dia. Elizabeth está chamando-os agora. Temos que ir. – ele disse, e a morena fez um biquinho.

— Mas já? – eles ouviram Roland perguntar, baixinho. A morena sorriu para ele, e Robin também.

— Pois é, carinha. Eu nem consegui contar uma história para você. – Robin disse, e o menino olhou para ele, mas logo deu uma fungada e duas viradas de cabeça seguidas. Robin buscou os olhos de Regina brevemente, mas logo voltou a encarar o menino.

— Não tem problema. – Roland respondeu apenas, abaixando a cabeça.

— Você quer indo na frente? – Regina perguntou. – Eu vou já já. – disse. Robin concordou, se despediu de Roland e seguiu até a mesa principal.

— Da próxima vez que eu vier, quero que você desenhe junto comigo. – Regina disse, e Roland olhou para ela.

— Você vai volta-ar? – perguntou, fungando.

— Claro que vou! – ela respondeu.

— Então eu vou deixar preparado as folhas e os lápis. – Roland disse.

— Então, está combinado! – ela sorriu para ele. – Foi um prazer conhecer você, Roland. Até mais. – se despediu.

— Tchau, Regina. – Roland a respondeu. A morena sorriu para ele, e virou-se, seguindo na direção de Robin. Antes que se afastasse muito, Roland a chamou. – Regina?

— Oi, querido? – ela se virou de volta para ele.

— Eu tenho síndrome... – ele falou, mas uma fungada e uma virada de cabeça o impediram. – Síndrome de Tourette.

***

O engarrafamento que Regina e Robin pegaram a caminho de casa não estava nos planos. Quando o trânsito parou de vez , Robin se inclinou sobre o banco e roubou um beijo de Regina, que sorriu de leve para ele.

— Será que a pessoinha que domina os seus pensamentos tem lindos cachinhos castanhos? – o loiro perguntou, fazendo a morena rir. Regina estava perdida em seus próprios pensamentos desde que eles entraram dentro do carro.

— Desculpe, meu amor. Eu estou completamente encantada por ele. – ela respondeu.

— Eu falei com a Elizabeth, sobre qual seria o melhor dia para voltarmos. Ela disse que seria bom se fossemos duas ou três vezes por semana. – Robin falou, e Regina olhou para ele sorrindo. Pegando a mão do loiro e colocando-a sobre sua perna.

— Vamos escolher os dias conforme sua agenda, huh?

— Por mim tudo bem. – ele respondeu, roubando mais um beijo dela.

— Eu estava pensando... eles pareceram gostar da ideia de eu levar algumas histórias. Acho que vou doá-las. Todas que eu já publiquei. – Regina comentou, enquanto brincava com a mão de Robin.

— Eu acho muito legal fazer isso, meu amor. Quando eu conversei com Elizabeth, perguntei se eles estavam precisando de algo, ela não quis pedir nada. Não por enquanto, ela falou. – Robin respondeu.

— Talvez alguns aquecedores, você não acha? Eu achei tão frio lá dentro. – Regina olhou para ele.

— Podemos providenciar isso então. Será que ela não vai ficar ofendida? – ele perguntou, e a fila de carros à frente deles finalmente começou a andar, lentamente. Robin acariciou a coxa de Regina e levou a mão a marcha do carro.

— Acho que não, só estamos querendo ajudar. – Regina respondeu, e eles entraram em um silêncio confortável.

— Robin? – Regina chamou, após longos minutos em silêncio.

— Sim? – Robin respondeu, desviando os olhos rapidamente da estrada.

— Ele tem síndrome de tourette. – falou.

— Ele quem?

— Roland.

***

No final da tarde de quinta-feira, quando Regina entrou no orfanato, a primeira coisa que notou fora que o lugar estava mais quentinho. Com as mãos entrelaçadas ao braço de Robin, tudo o que ela conseguia pensar era em finalmente ver Roland e também contar histórias para todas aquelas crianças.

Como da última vez que ela esteve ali, Elizabeth veio recebê-los, mas desta vez os levou até uma sala grande, onde as crianças estavam sentadas em sofás e puffs. Assim que viram o casal, a alegria tomou conta dos pequenos. Os olhos de Regina buscaram a sala em busca de alguns cachinhos, e sentiu alívio ao vê-lo num canto, junto com uma menininha. Os dois folheavam um livro juntos.

Não eram todos que o evitam, no final das contas. As fungadas e viradas de cabeça estavam lá, e quando ele viu Regina parada na porta, deu um grande sorriso. A morena então o chamou, e timidamente Roland seguiu até ela, enquanto a menina que estava com ele continuou lendo o livro.

— Oi querido! – Regina falou, sorrindo.

— Oi Regina. – Roland respondeu.

— Preparado para desenhar comigo? – Regina perguntou e viu os olhos do menino brilharem.

— A gente vai fazer desenhos agora? – ele perguntou, faceiro.

— Uhum, porque depois eu pedi para Elizabeth para contar algumas histórias para vocês, então ainda temos um tempo. – ela explicou.

— Eu vou ir pegar as coisas. – Roland disse, sem nem dar tempo de Regina falar mais nada. Ele saiu correndo pela porta, fazendo a morena rir.

Ela viu que Robin já havia se misturado com algumas crianças, e que outro casal chegou para fazer uma visita no orfanato. Isso fez com que as crianças prendessem a atenção nos novos visitantes. Robin levantou-se de onde estava e foi até Regina. No mesmo instante, Roland entrou com um caderno de desenho e um estojo na mão. O menino seguiu até Regina, pegando ela pela mão, e chamando até mesmo Robin. Os três seguiram para a sala que Regina reconheceu sendo o refeitório.

Os três se sentaram na mesa do fundo, a mesma a qual Regina viu Roland na primeira vez.

— Elizabeth não vai achar ruim virmos para cá, Roland? – Regina perguntou.

— No-ope, ela sabe que eu ia desenhar com você. – Roland explicou, e deu algumas fungadas. – Com vocês, que-ero dizer. – sorriu para Robin.

— Hum, ok. – Regina sorriu para ele, o garoto sorrindo de volta e virando a cabeça duas vezes seguidas pro lado.

— Então, já quero deixar claro que eu sou péssimo em desenhar. – Robin disse, atraindo a atenção de Roland.

— Eu posso ajudar você, Robin. – o menino falou, abrindo o estojo e tirando todos os lápis que tinha dentro. Ele deu uma folha a Regina, outra a Robin e outra separou para ele. Os três começaram a desenhar, e mesmo com Roland tímido no começo, isso fez com que ele se soltasse. Não só com Regina, mas com Robin também.

E logo a sala fora tomada por gargalhadas de Regina e Roland, ao verem o desenho de palitos de Robin.

Ele realmente não era nada bom em desenhar.

Mais tarde, algumas crianças estavam sentadas na sala de estar, em puffs, sofás, e até mesmo no chão. Todas em roda de Regina, que contava uma de suas histórias. Roland se encontrava no lado de Robin, e o menino prestava total atenção no que a morena falava.

Quando chegou a hora de ir embora, foram ouvidas reclamações de todos os lados. Robin e Regina se despediram de todos, e ambos ficaram surpresos quando Roland disse que queria ir com eles até a porta do orfanato. Elizabeth que sempre os acompanhava, sorriu.

Regina e Roland iam na frente, enquanto Robin ficara para trás com Elizabeth, ouvindo inúmeros agradecimentos por causa dos livros e dos aquecedores. Na frente, Roland ia contando animado que sua professora o considerava o melhor desenhista da turma. Os tiques continuaram sem trégua durante todo o tempo que Regina e Robin tinham estado ali, e na hora das histórias, o garoto recebia diversos olhares bravos em direção a ele. Regina sentia o coração apertar todas às vezes. Mas ele parecia não ligar. Não quando Regina estava perto dele, pelo menos. Quando eles chegaram perto da porta e pararam, Regina viu que ele ficou triste de repente.

— O que foi, Roland? – ela perguntou, se abaixando para ficar na altura dele.

— Eu não queria que você fosse embora. – disse, timidamente, fazendo Regina sorrir.

— Eu volto logo, você vai ver. Talvez não amanhã, mas sábado. E se a neve der uma trégua, Robin disse que vai jogar bola com você. Então você não tem que ficar triste por causa disso, logo nos veremos de novo. – ela falou, pegando o rostinho dele entre as mãos.

— Regina... eu posso te dar um abraço? – Roland perguntou, e os olhos da morena marejaram.

— Claro que pode, Roland. Vem cá, querido. – ela disse, abrindo os braços. Timidamente o garoto a abraçou, e Regina sentiu as mãozinhas apertando as costas delas. A morena acariciou as costas de Roland, e quando o abraço chegou ao fim, depositou um beijo na bochecha dele. O menino fungou e virou a cabeça para o lado. Os dois riram.

— Até mais, Regina. – ele falou, sorrindo, e depois fungou mais uma vez.

Robin havia observado a cena de longe, e seu coração pareceu explodir quando Regina abraçou Roland. Ele sabia que o coração de Regina já havia escolhido, e embora ele não fosse tão apegado ainda a Roland quanto Regina era, o dele também já tinha feito a escolha.

— Vocês o querem? – Elizabeth perguntou, o tirando de seus pensamentos.

— Regina o adorou, Elizabeth. E eu também. Ainda não decidimos nada, é apenas a segunda vez que estamos aqui, mas eu acho que o abraço dos dois responde a sua pergunta, não é? – Robin respondeu a senhora, que sorriu em direção a ele, afirmando com a cabeça.

— Desde que ele chegou, há meses atrás, eu nunca o vira assim com outra pessoa. Ele realmente gostou de vocês, senhor Locksley. – Elizabeth disse.

— E nós gostamos dele também. – Robin respondeu. – É um menino incrível.

— Sim, ele é. – a senhora respondeu, e os dois sorriram quando Roland virou a cabeça para o lado, fungando e fazendo Regina sorrir.

***

Seis semanas. Faziam exatamente seis semanas que Robin e Regina iam ao orfanato, e nesse tempo todo a aproximação de Roland com o casal foi inevitável. As crianças já sabiam quem seria o escolhido dos dois, e o próprio Roland não podia deixar de ficar imensamente feliz quando ele ouvia as fofocas correndo pelo orfanato. No entanto, nenhuma conversa havia sido feita sobre isso, nem com Elizabeth, e muito menos com o garoto. Por isso, sempre que via Regina e Robin irem embora, Roland sentia um medo de nunca mais vê-los se apossar de seu pequeno corpinho. Afinal, ele não conseguia entender como um casal como Robin e Regina, que podiam ter qualquer filho que quisessem, optarem por adotar alguém como ele. Que não conseguia controlar os espamos que seu corpo dava. Que atrapalhava a concentração dos outros e nem comer em silêncio conseguia.

Apesar de todas essas inseguranças, tudo o que Roland estava vivendo com aquelas duas pessoas nas últimas semanas o fazia se lembrar que ainda podia se sentir amado, que ainda podia ter a chance de ter um lar. Mesmo que ele tivesse uma pequena desconfiança de Robin no início, logo ele soube que o homem não iria jamais fazer mal a ele, muito pelo contrário. Robin teve toda a paciência do mundo com o menino, e não demorou para conquistar a confiança do mesmo. E em meio as partidas de futebol, desenhos de palito, horas do conto, eles acabaram criando um laço muito forte.

Quanto a Regina, Roland não tinha dúvidas de que, se fosse para ter uma figura materna em sua vida, era ela que ele queria que ocupasse esse lugar. Ela o entendia, e foi assim desde o primeiro momento. Foi a primeira pessoa, depois de Marian, a enxergá-lo além da síndrome. Até mesmo a Elizabeth, com toda a sua gentileza e bondade, não conseguiu esconder a reação quando o viu. Mas Regina, ela não desistiu dele. E Roland achava que talvez ela não fosse desistir.

Em uma quarta à noite, quando Robin entrou em seu apartamento, encontrou a esposa enrolada em uma manta, deitada no sofá, com o olhar perdido. A TV estava ligada, mas Regina não prestava nenhuma atenção naquilo. Robin se aproximou dela, mas nem isso serviu para Regina acordar de seus pensamentos. Havia uma xícara de chá cheia e fria na mesinha de centro, e com isso Robin constatou que ela estava ali assim há horas.

— Regina? – ele perguntou, balançando-a de leve quando sentou-se ao lado dela.

— O-oi! – Regina falou, sorrindo para ele. – Desculpe, nem vi você chegar.

— Em que mundo você estava? – Robin perguntou, depois de dar-lhe um rápido beijo.

— E-eu estava... pensando. – ela começou, limpando a garganta. – Eu o quero, Robin. Roland. Eu o quero. Tenho medo de, se perdemos mais tempo, alguém vai ir lá e tirá-lo de nós. Não podemos perdê-lo também, depois de tudo que já passamos, depois de tudo que ele passou. Então, se você tiver certeza que o quer também, então por favor, vamos fazer isso de uma vez.

— Regina... – ele falou, sorrindo para ela. – Eu não tenho dúvidas de que ele é a criança perfeita para nós. Eu só quero que você tenha certeza.

— Eu tenho. Eu o quero. – ela o interrompeu.

— Então vamos adotá-lo. – disse, convicto. Regina abriu um dos mais lindos sorrisos que Robin já tinha visto no rosto dela, e ele a puxou para os seus braços.

***

Na sexta feira, depois de passarem a quinta feira comunicando a decisão que tomaram a Elizabeth, Robin e Regina estavam ansiosos para encontrar Roland para contar a novidade. Assim que pisaram no orfanato, algumas crianças vieram recebê-los, e depois os dois seguiram a procura de Roland. A preocupação os tomou quando não encontraram nem na sala de estar, nem no refeitório, ou na biblioteca. Geralmente ele estava sempre ali. Foi quando a diretora veio na direção deles sorrindo.

— Olá, queridos. – ela cumprimentou, e o casal cumprimentou de volta, mas o olhar de preocupação tomava Regina, e a diretora percebeu. – Ele está no dormitório. Hoje não é um bom dia, nem mesmo falando sobre a visita de vocês ele se animou. Estou com esperança que você, Regina, consiga fazê-lo falar o que está acontecendo. – disse.

— Você pode nos levar até lá, diretora? – Regina perguntou, apertando ainda mais a mão de Robin.

— Claro. Sigam-me. – disse, e o casal a seguiu até um cômodo com várias fileiras de camas. Roland se encontrava deitado em uma delas, folheando um livro. Regina e Robin nunca haviam estado ali, e a cada cama que passavam, viam coisas que pertenciam a cada criança que vivia ali. Bonecas, ursos de pelúcia, carrinhos, lápis, desenhos, roupas. Era como se cada um tivesse seu próprio espaço, num só lugar. E não deixava de ser assim. Quando chegaram a de Roland, o garoto desviou o olhar do livro que estava lendo e fungou, virando a cabeça para o lado duas vezes seguidas. A diretora saiu, deixando o casal sozinho com Roland.

— Oi, querido. – Regina disse, sorrindo e se sentando na beirada da cama de Roland. Ela depositou um suave beijo na testa dele. Robin fez o mesmo. – O que aconteceu? Achamos que encontraríamos você lá na sala, esperando pela gente.

— Eu não queria ficar na sala hoje. – ele respondeu apenas, voltando a atenção para o livro.

— Hum, ok. Eu e Regina temos uma notícia para te dar. – Robin falou, mas o garoto não tirou os olhos do livro. – Roland?

— Não quero conversar hoje, por favor, vão embora. – pediu, baixinho. Regina olhou para Robin. A morena então se deitou ao lado de Roland, contrariando todas as expectativas do menino.

— Eu não vou embora. E nem Robin. – Regina falou. – Você pode escolher, se quiser nos contar o que está acontecendo, se não quiser. Não vamos forçá-lo a nada. Mas não vamos deixar de aproveitar o tempo que temos com você. Certo, Robin? – ela terminou de falar, e percebeu que os olhos do menino se encheram de lágrimas.

— Muito certo. – Robin respondeu, chegando mais perto de Roland e da esposa. Depois de um silêncio que durou minutos, Roland largou o livro de qualquer jeito na cama, se aconchegando a Regina. Logo o choro pode ser ouvido, um choro que angustiou os dois adultos, que queriam tirar a dor que o menino estava sentindo.

— Chore, querido. Seja o que for, coloque tudo para fora, huh? Nós estamos aqui, e não vamos sair do seu lado. – Regina falou, enquanto acariciava os cabelos de Roland e lhe beijava a testa. Os tiques estavam ali, presentes, junto ao choro.

— Ho-oje era aniversário da minha mãe. – Roland falou, depois de alguns minutos. – Todos os anos, nós comíamos pizza. Porque sempre foi só eu e ela, e agora, sou só eu. – completou ele, a voz embargada e os tiques quebrando o coração do casal ali presente.

— Roland, não é só você. Nós estamos aqui, e sei que de algum jeito, ela também está. – Robin falou, deitando-se espremido ao lado das duas pessoas que agora ele considerava a sua família.

— Ela pode não estar mais aqui pessoalmente, mas tenho certeza que ela mora em um lugar muito importante, bem aqui... – Regina começou, tocando com a ponta do dedo o coração dele. – E Marian cuida de você, protege você. Ela ama você, Roland, não iria querer ver você triste assim. Não se lembre dela e fique triste. Se lembre dela e fique feliz. – Regina terminou, e o garotinho se abraçou a ela.

— Você acha mesmo? – Roland perguntou, depois de algum tempo absorvendo as palavras de Regina.

— É claro, meu amor. – a morena respondeu, sorrindo para ele. Roland sorriu de volta.

— Eu amo Marian, e eu amo você, Regina. – Roland disse, e Robin queria poder ter parado tudo naquele momento, ter capturado o brilho no olhar de Regina ao ouvir aquelas palavras. A forma como a morena sorriu para o garoto e beijou cada pedacinho do rosto dele. A forma como de choro, Roland passou para o riso. Robin quis guardar pra sempre aquele momento, aquele pequeno momento de duas pessoas que em breve, se tornariam mãe e filho.

— Eu também amo você, querido. – ela falou, depois que Roland parou de rir, os rastros das lágrimas a única prova de que a tristeza havia habitado o garotinho.

Naquela noite, misteriosamente, com a permissão da diretora, o jantar foi pizza. Para todas as crianças, mas principalmente, para o lindo menino que sentava dessa vez na mesa principal, rodeado das duas pessoas que horas depois, ele descobriria que se tornariam os seus pais.

***

No sábado, a notícia de que os Locksley adotariam Roland já corria pelo orfanato. As crianças, em sua maioria, estavam felizes por ele. E o próprio Roland não conseguia conter a felicidade, jamais esqueceria Marian, mas estava tão contente por finalmente ter um lar e pessoas que se importavam com ele de novo.

Estava ansioso para a visita de Robin e Regina naquele dia, pintando um desenho para dar de presente para eles, quando um garoto mais velho se aproximou e se sentou na mesa, com um copo de suco. Ele não disse nada por algum tempo, e depois que tomou um gole de suco, perguntou:

— O que você fez para eles te quererem?

— Quê? – Roland perguntou, confuso.

— Com todas essas crianças normais, por que eles foram querem justo uma criatura que não consegue nem se controlar? Você os chantageou? – perguntou de novo, encarando Roland, que sentiu os olhos marejarem, mas que não deixou nenhuma lágrima cair.

— Eles me qui-iseram porque gosta-aram de mim. Você não sabe de na-ada! – falou, bravo. Os tiques sempre ficavam piores quando Roland ficava bravo.

— Olha para isso, você não consegue nem se defender porque começa a fungar como um bebê chorão. Vamos ver se isso é mesmo verdade, quando eles desistirem de você. – disse, e saiu, deixando Roland ali, parado, pensando nas palavras do garoto.

Será mesmo? Que Robin e Regina desistiriam dele? Que o achavam inútil por não conseguir controlar os tiques? Será que seriam capaz de levá-lo para casa, só para devolvê-lo ao orfanato depois?

Antes que todas essas perguntas tomassem conta da cabeça do menino, uma figura morena entrou na sala, chamando o nome dele.

— Roland! – Regina chamou, tirando o menino dos seus pensamentos.

— Oi, Regina. – ele disse, forçando um sorriso. Ela notou as trilhas das lágrimas no rosto de Roland, e se aproximou rapidamente, se ajoelhando perto dele. – Cadê o Robin?

— O Robin teve que ir resolver uma emergência no trabalho, ele vem depois. O que houve, meu amor? – perguntou.

— Nada, por quê? – Roland forçou um sorriso, não querendo aborrecê-la.

— Porque esses olhinhos vermelhos denunciam que alguma coisa aconteceu. Você sabe que pode me contar qualquer coisa, não sabe? – ela perguntou.

— Sei... – ele disse. – Posso fazer uma pergunta? – pediu.

— Claro, pode fazer quantas perguntas quiser, Roland. – ela disse, tirando alguns cachos que caíam sobre os olhos do menino, sorriu quando ele virava a cabeça para o lado e os cachos caíam de novo sobre os olhos. Depois de fungar, Roland começou a falar.

— Vocês não vão me devolver pro orfanato caso não gostem de mim, não é? Por causa da síndrome... – perguntou, baixinho, e Regina abriu a boca para responder, sem achar uma resposta para tamanha barbaridade.

— Por Deus, Roland, claro que não! – ela falou, depois que se recuperou do choque. – De onde você tirou isso, querido?

— E-eu... algumas crianças andam falando isso por aí... – confessou, porque o menino fora o primeiro de quem tinha ouvido aquilo diretamente, mas ele sabia que as crianças maiores pensavam o mesmo.

— Querido, sua síndrome não é nada comparada ao grande coração que você tem. Roland, você é educado, inteligente, cheio de luz e energia. Você é incrível, do jeitinho que você é. Sabe o que me chamou atenção em você na primeira vez que eu te vi? – Regina perguntou, e Roland negou com a cabeça. - As fungadas. Eu amo ouvir suas fungadas, querido. Tenho vontade de lhe abraçar sempre que as ouço. Não sei mais o que faria sem elas. Você é maravilhoso. É especial, mas não por causa da Tourette, querido, e sim por quem você é. A Tourette apenas te completa, e eu e Robin a aceitamos junto com você. Não iremos devolvê-lo, Roland. Não iremos deixar você jamais. – terminou, e Roland se jogou nos braços dela, quase a derrubando. Os dois caíram numa gargalhada gostosa.

Regina não via a hora da gargalhada de Roland preencher o espaço vazio de sua casa.

***

As pequenas mãozinhas seguravam a mão de Robin e a de Regina. O sorriso de Roland era de orelha a orelha, e o de seus novos pais também. O espelho do elevador mostrava a pequena e nova família, e a felicidade inundava aqueles poucos metros quadrados. Quando as portas metálicas abriram, os três seguiram até a porta do apartamento, e assim que entraram, os olhinhos da criança brilharam em expectativa de seu novo lar.

O processo de adoção levou um pouco mais de 1 mês, visto que Robin e Regina estavam na fila há meses. A parte mais difícil, fora passar pela assistente social, que tocou muito no ponto de Roland ter Tourette. Como se isso fosse um problema horrível, Regina quis falar todo o tempo para a mulher, mas se conteve. Alguns dias depois disso, o juiz havia aprovado a adoção, e Regina ainda conseguia lembrar a felicidade de Roland ao saber que iria para casa com eles.

Agora o garotinho estava ali, parado um pouco a frente deles, olhando para todos os detalhes, como se quisesse decorar logo onde tudo ficava. Ele se apavorou com o tamanho da TV, e também fez um comentário de como o sofá deveria ser macio. Robin disse que eles poderiam tentar pular em cima para testar, mas Regina deu um leve beliscão nas costelas do marido, fazendo Roland rir e Robin retirar o que tinha dito.

— Você quer ver seu quarto? – Robin perguntou, e Roland o encarou com os olhinhos brilhando, o sorriso de covinhas aparecendo no rosto.

Igual a Robin, Regina pensou.

— Eu tenho um só pra mim? – Roland perguntou.

— Claro que tem, vamos ver. – Regina sorriu para ele, e Robin tomou a frente, pegando Roland pela mão e o levando para o corredor onde ficava os quartos.

Regina observou o seu filho adentrar ainda mais o lugar que agora era realmente um lar, e deixou uma lágrima cair assim que ouviu do corredor as fungadas e risadas de Robin e Roland.

— Regina, você não vai vir? – ouviu o seu filho a chamar, e limpando as lágrimas, seguiu até a sua nova vida.

Que com certeza, reservava muitos tiques de amor.

***

Alguns anos depois...

A TV podia ser ouvida da cozinha. Regina terminava de montar a lasanha, e antes que a colocasse no forno, pode ouvir Gazelle, de Zootopia, começar a cantar Try Everything. E logo, junto ao som, ela conseguia ouvir as risadas na sala. Aquele som que sempre aquecia seu coração.

Ao ir até o batente da porta da cozinha, a morena pode ver o marido sentado em um sofá, prestando atenção em Roland, que estava de frente para o outro sofá, enquanto cantarolava a musica junto com o filme e tinha os tiques, que provocavam gargalhadas na bebê sentada em cima do sofá. Olívia ria de Roland, e depois olhava para o pai, rindo também. Quando percebeu que a mãe os observava, os olhinhos castanhos da menina encontrando com os castanhos de Regina, Olívia esticou os bracinhos, e Regina seguiu até os filhos. Pegou a menina no colo, apenas para enchê-la de beijos, e depois fez o mesmo com Roland.

— Chega, mamãe! – Roland pediu, sem fôlego de tanto rir.

— E eu, não ganho nenhum beijo? – Robin reclamou do outro sofá.

— Talvez mais tarde... – Regina piscou para ele, fazendo-o rir. Levantando-se do sofá em que estava, Robin seguiu até a sua pequena família, que havia aumentado alguns meses atrás, com a chegada de Olívia.

Agora, além das fungadas de Roland, eles tinham a casa preenchida também pelas risadas e choro da bebê.

Haviam finalmente conseguido tudo o que haviam imaginado, tudo que queriam.

Uma família.