It Will Rain

Capítulo 22


Meu Deus, quanto sangue, a Ash tava com dificuldade até pra respirar.

– Ash, eu preciso te levar pro Hospital, agora. – Apoiei seu braço no meu pescoço e o meu braço em volta da sua cintura. A coloquei no carro, entrei e acelerei. – Calma, já vamos chegar.

– Hoje eu acordei com um mal pressentimento. – Ela falou com um pouco de dificuldade.

– Não fala Ash. Eu sei que dói. – Estava apavorado, também conseguia sentir que alguma coisa ruim aconteceria.

– Foi por isso que saí com o Bryan. – Ela respirou fundo algumas vezes. – Eu queria só ficar em casa com você, queria que me dissesse que esse bolo na garganta não era nada, que estava tudo bem e ia continuar assim. Queria que me abraçasse e que me fizesse rir. Mas você não estava em casa.

– Mas agora eu estou aqui e eu to te dizendo que vai ficar tudo bem. – Eu não tinha tanta certeza assim, mas me agarrava a essas palavras como se elas fossem minha única chance de sobrevivência. – Já estamos chegando.

– Não Bruno, não vai ficar tudo bem.

Chegamos no hospital. Corri e peguei uma daquelas cadeiras de rodas que ficavam na porta. Ajudei a Ash a sentar nela e a levei para dentro. Enquanto esperava a enfermeira ir chamar a Kyla, me ajoelhei de frente pra ela.

– Ash, olha pra mim. Vai ficar tudo bem, eu prometo. – Meus olhos estavam marejados, dei um beijo rápido nela e sussurrei com a testa colada na dela. – Vai ficar tudo bem, tá? Acredite em mim. Eu te prometo, vai ficar tudo bem.

A Kyla apareceu bem rápido e levou a Ash, ela disse que eu não podia ir e que logo voltaria com noticias. Aquela sala me fazia ficar mais nervoso ainda. Resolvi ligar pra Amy, pro Phil e o Eric, pra avisar. Em menos de 15 minutos eles já tinham chegado, todos muito preocupados. Tentei explicar o que estava acontecendo, mas nem eu sabia, 10 minutos depois chegaram Kenji, Kameron e Ari.

A cada minuto que se passava eu me sentia pior, não conseguia ficar quieto e andava de um lado pro outro. De certa forma eu me sentia culpado pelo que estava acontecendo, seja lá o que fosse. Se acontecesse alguma coisa séria com a As ou com o bebê, eu não iria me perdoar, porque sabia que aquilo era culpa minha, eu deveria protegê-los e não fazer isso. O pior de tudo era que eu tinha tido tanta oportunidade, mas não disse, eu não disse pra Ash que a amava. E se eu nunca pudesse dizer isso olhando nos olhos dela? Se não pudesse mais ver aquela mulher perfeita sorrindo pra mim? Se não pudesse mais sentir o seu cheiro? Ou beija-la? Ouvir sua voz? Só a ideia disso fazia lagrimas se formarem. Não podia suportar a ideia de perdê-la, perder a mulher que eu amo.

E se eu nunca pudesse tocar violão pro Little Peter? Ensina-lo a jogar futebol? Como se trata uma mulher? E se eu não tivesse a chance de sair pra comprar presente de dia das mães com ele?

Eu não podia perdê-los.

– Bruno? – O Phil veio falar comigo e me abraçou, ele não era o tipo de amigo que abraça. Ele abraçava a Ash, mas eles eram mais como irmão do que como amigos.

– Phil, se alguma coisa acontecer, a culpa vai ser minha. – Não aguentei e deixei as lagrimas rolarem.

– Não vai ser culpa sua, nada vai acontecer, fica tranquilo.

Depois do que me pareceu uma eternidade a Kyla me chamou na sala dela, disse que precisava falar comigo.

– Kyla, pelo amor de Deus, me fala logo, tá tudo bem? O que aconteceu?

– Calma, tá? vamos por partes. A Ash ta bem agora, mas o bebe... – Ela fez uma pausa e me olhou nos olhos. – Bruno, eu sinto muito. – Depois olhou pra chão.

– VOCÊ TÁ ME DIZENDO QUE O MEU FILHO MORREU? – Não consegui acreditar, meu Little Peter, morto.

– Eu sinto muito, mas quando conseguimos tira-lo ele já estava morto. – Estava tão sem chão que nem conseguia encontrar lagrimas.

– Kyla, a culpa foi minha, não foi?

– Você quer mesmo saber? – Afirmei com a cabeça. – Indiretamente, sei que você e a Ash brigavam muito e você ainda fuma. Cigarro e estresse não combinam com uma gravidez.

– Ela já sabe?

– Não, ela teve uma complicação e também com a anestesia, bom, agora ela ta dormindo. Bruno, não precisa se preocupar com a Ash, ela ta bem, só precisa descansar.

– Posso vê-la?

– Pode, vem comigo. – A segui hospital adentro, passando pelo berçário, quando vi aqueles bebes senti um aperto no coração, o meu Little Peter podia estar ali, se eu fosse um idiota. Uma garotinha nos parou no meio do caminho. Perguntou a Kyla se a Ash estava bem e se virou pra mim:

– Você é o Bruno, não é? – De inicio achei que ela estivesse brava comigo, mas ela sorriu pra mim.

– Sou. E você é...? – Ah, ela era a garotinha de uma das fotos que estavam na parede do quarto da Ash, só não me lembrava do nome dela. Sabia que ela era paciente do hospital, ela tinha câncer. Ela podia até não ter cabelo, mas não fazia diferença porque ela era linda, olhos verdes, branquinha, linda.

– Eu sou a Alice, prazer em finalmente conhecê-lo Bruno. – Ela sorriu de novo, se virou e entrou em um quarto. A Kyla me levou até o quarto em que a Ash estava, era mais pro fim do corredor. Ela abriu a porta pra mim e saiu.

Quando entrei senti o mesmo aperto no coração que havia sentido quando passei pelo berçário. A Ash naquela cama, pálida, com uma agulha enorme no braço. Eu sei que não era uma cena tão feia assim, afinal podia ser pior, mas só de pensar que aquilo era culpa minha e ainda que eu tinha que contar pra ela sobre o Little Peter. Isso me rasgava por dentro, não tinha ideia de como contar pra ela, mas sabia que eu devia contar, sei que ela iria me culpar, mas dane-se, afinal eu era mesmo o culpado. Fui até a cama, segurei sua mão e encostei minha testa na sua.

– Eu não sei se pode me ouvir, mas me perdoa Ash, me perdoa meu amor.