I – JEMMA

Isso é errado, a frase veio instantaneamente na mente de Jemma na voz de sua mãe.

Claro, a ideia por si só de falsificar a assinatura da mãe já é errada, mas Jemma já tem quase dezessete anos, está terminando seu doutorado em tempo recorde e ela quer entrar na academia da SHIELD, mas ela sabe muito bem qual será a resposta da mãe. Ela já imagina o sonoro “não” de Melinda.

Mas Jemma quer entrar na Academia e como diria sua avó “Quando uma May quer, ela consegue”, e por esse motivo ela se vê sendo obrigada a recorrer a irmã, que tem um dom natural para fazer coisas erradas.

—Preciso de sua ajuda. –Jemma diz, enquanto as duas estão na cozinha aguardando o micro-ondas sinalizar que a pipoca para o filme está pronta.

Instantaneamente Jemma vê a irmã lhe encarar e conter um sorriso exatamente igual a mãe faz, quando acha algo engraçado em um momento impróprio.

—Oh e para o que seria irmãzinha? Quer que eu altere suas notas da facul? Você sabe que vai ter um preço não é? Mamãe me deixou de castigo séculos porque eu mudei minhas notas de biologia. –Daisy diz fingindo desinteresse, mas Jemma conhece sua gêmea a tempo suficiente para saber que os olhos dela estão brilhando em expectativa.

Jemma então engole em seco, sabendo que a partir do momento em que dizer em voz alta não terá mais volta.

—Preciso que você falsifique a assinatura da mamãe. –Jemma diz rapidamente e aguarda a reação da irmã.

—Sério? –Daisy diz não escondendo sua decepção, não tardando também em acrescentar –Pensei que seria algo mais interessante.

Jemma bufa diante de sua ligeira irritação para com a irmã.

—Isso por si só já é errado Daisy. –Jemma chama a atenção da irmã, obtendo um simples dar de ombros desinteressado.

—Certo... mas para você está fazendo isso pelas costas é algo importante e que ela certamente não concorda, então o que é? Deixe-me adivinhar, uma expedição nos trópicos? –Daisy diz e em seguida o apito do micro-ondas é ouvido.

Enquanto Daisy pega o pacote de pipoca, Jemma vai até o armário pegar a vasilha de colocar a pipoca.

Assim, enquanto Daisy coloca a pipoca na vasilha que Jemma segura, a jovem bioquímica diz:

—É a minha emancipação, preciso dela para entrar na Academia da SHIELD.

Jemma vê a irmã encará-la sem nem mesmo piscar por um longo tempo, ela nunca dirá em voz alta, mas as vezes ela acha Daisy tão assustadora quanto sua mãe.

—Você quer entrar na SHIELD Jemma? Você se esqueceu do que aconteceu ao nosso pai? –Daisy diz perplexa.

Nesse ponto, Jemma vê múltiplas expressões passarem pelo rosto da irmã, tais como medo, ressentimento, traição e até mesmo preocupação.

—Papai foi um herói Daisy e a Academia é uma oportunidade única. –Jemma diz com os olhos brilhando e isso faz com que Daisy suspire derrotada, afinal de contas ela ama demais a irmã e por mais que odeie a SHIELD, ela faria de tudo por Jemma.

—Tudo bem, me entregue os papeis, que eu farei amanhã quando chegar da aula. –Daisy diz pegando a vasilha de pipoca e indo em direção a TV.

Franzindo o cenho Jemma segue a irmã, não evitando de perguntar:

—Por que você não pode fazer agora?

Daisy então se vira para encarar a irmã e Jemma a vê rolar os olhos antes de responder:

—É arte Jen, preciso de tempo, calma e perfeição e não correr o risco da mamãe chegar a qualquer momento e nos matar.

Jemma pondera, sabendo que realmente faz sentindo as palavras da irmã, afinal de contas se a mãe apenas sonhar no que ela está planejando...

—Isso é errado. –Jemma murmura para si mesma.

—Mas também é emocionante. –Daisy diz com um pequeno sorriso antes de dar play no filme.

II – DAISY

No dia seguinte, conforme havia combinado com a irmã, Daisy May Coulson estava falsificando perfeitamente a assinatura da mãe.

—Isso é errado, mas eu sou muito boa. –A adolescente de cabelos castanhos murmura para si mesma.

—Só espero que Jen consiga mentir, porque ela é uma péssima mentirosa. –Daisy sussurra para si mesma, pensando em quantas vezes Jemma as colocou em apuros por não conseguir mentir sobre a autoria de suas estripulias.

E assim, após terminar a última assinatura ela ouve uma batida suave na porta e rapidamente esconde os papeis, sabendo muito bem quem era.

—Querida? O que você está fazendo? –Melinda pergunta à filha ao colocar a cabeça dentro do quarto e ver Daisy na escrivaninha.

—Dever de casa. –Daisy diz dramaticamente.

—Vamos correr? –Melinda pergunta a filha, já que há muito tempo eles descobrira que Daisy apesar de ser bastante rabugenta é uma ótima parceira para exercícios.

—Quantos quilômetros? –Daisy perguntou com os olhos semicerrados.

—Cinco. –Melinda disse simplesmente.

—Da última vez que você disse isso, corremos dez. –Daisy disse fazendo careta.

—Talvez hoje podemos correr quinze. –Melinda sugeriu e viu a filha lhe olhar horrorizada.

—Mãe! –Daisy disse em um tom levemente repreendedor e então acrescentou –Faça bom proveito de sua corrida então.

Melinda conteve o sorriso e então adentrou o quarto que as filhas dividiam, com Daisy ainda sentada ela lhe abraçou por trás e disse:

—Vamos Daisy eu prometo que não vou exagerar.

—Você sempre diz isso. –Daisy diz fazendo um bico.

—Não seja molenga Daisy baby. –Melinda diz fazendo cocegas na filha.

As risadas da filha ecoam por toda a casa, até que derrotada a menina diz:

—Tá bom, mas se passar de cinco quilômetros eu volto para casa sozinha.

Melinda para de fazer cocegas na filha e enquanto se afasta ela diz:

—Você sempre diz isso.

Rolando os olhos Daisy se levanta e vai até o closet pegar suas roupas de corrida e o tênis, não demora vinte minutos e ambas estão saindo de casa em um visual praticamente idêntico: roupas pretas, tênis escuros e um rabo de cavalo.

Enquanto corre com a mãe, Daisy se vê realizando as mesmas checagens de perímetro que Melinda, ela não sabe exatamente quando começou, mas com o tempo ela começou a imitar os gestos da mãe e assim hoje ela pode facilmente identificar se está sendo seguida ou observada, ela tem certeza que vovó Lian ficaria orgulhosa.

E apesar de sempre dizer que odeia atividades físicas, Daisy sabe que é uma mentira que ninguém mais acredita, afinal de contas que tipo de pessoa sedentária acorda as cinco e meia da manhã para fazer Tai Chi, estar na equipe de natação da escola e ainda ter aulas de artes marciais três vezes por semana? Daisy começa a pensar que já se tornou errado dizer que é uma pessoa sedentária, talvez a afirmação se limita-se apenas a Jemma que se atém apenas ao Tai Chi, que é praticamente uma coisa de família.

—Você está muito mole hoje Daisy. –Melinda diz antes de aumentar a velocidade.

—Mãe... –Daisy se queixa antes de alcançar a mãe e quando o faz ela diz –Correr tão rápido assim, isso deveria ser errado.

Em resposta ela obtém um ligeiro sorriso da mãe.

III – MELINDA

Melinda May é uma agente da SHIELD e embora ela tenha feito coisas que não se orgulhe no passado, ela não escolheria outra vida, talvez ela faria outras escolhas, mas basicamente ela ainda ficaria deslumbrada demais com a diretora Carter e seu discurso feminista, ela entraria na Academia para o desgosto de sua mãe, ela faria amizade com aquele nerd idiota e casaria com ele alguns bons anos depois.

Melinda Qiaolian May é uma agente da SHIELD e isso não é errado, errado foi o que aconteceu em Bahrein, com Phil e com tantas outras pessoas inocentes.

E ela sabe que é uma boa agente, se ela não estivesse optado pela Administração ela seria uma maldita agente nível nove, afinal de contas ela até poderia ter sido uma vingadora. Assim, é inevitável que ela não bufe ao ver o documento que acabou por cair em suas mãos, chame de destino ou causalidade, mas a verdade é que ela só quis ser gentil com Becky e se ofereceu para ajuda-la enquanto ela teve que sair doida para o hospital em que seu filhinho de dois anos estava e como recompensa ela acaba de pegar os documentos da inscrição de seu bebê na SHIELD, com sua maldita assinatura, embora ela tenha certeza absoluta que não tenha assinado os malditos documentos.

Jemma está com sérios problemas, ela pensa.

Se Daisy tiver falsificado sua assinatura novamente... Melinda não quer nem começar a planejar o castigo...

No entanto, ela tem peixes maiores agora para fisgar e um deles está no último andar, sendo assim ela se levanta de sua cadeira e a passos largos ela vai atrás da única pessoa que teria a coragem de recrutar sua filha.

Enquanto caminha a passos largos, Melinda não perde os olhares curiosos dos outros agentes, principalmente os agentes seniores com quem cruza, ela não sabe o porquê, mas chuta que seu olhar assassino estaria no modo turbo.

Assim, sem cerimonias Melinda May praticamente invade o escritório do diretor Fury, assustando o mesmo, que estava tranquilamente jogando um joguinho no celular.

—Mas que diabos May! –Fury diz irritado.

—Você foi atrás da minha filha. –Melinda May disse em seu tom ameaçador habitual, se fosse qualquer outra pessoa teria se borrado de medo, mas não o diretor Fury, embora ele tenha que admitir que um certo arrepio percorreu seu corpo.

—Jemma é brilhante May. –Fury confessou o que havia notado há um bom tempo.

—E está fora dos limites Fury, minhas filhas não estão entrando na SHIELD, muito menos nessa idade. –Melinda disse incisivamente.

—Como eu disse May, Jemma é brilhante demais para o seu próprio bem. –Fury disse em seriedade, lembrando-se do projeto de conclusão de curso da garota.

Melinda o encara de olhos semicerrados, ela sabe o que Fury quer dizer com essa implicação.

—Você quer coloca-la sob vigilância. –May diz em um tom ligeiramente sombrio.

—Você sabe tão bem quanto eu o que acontece quando gênios são deixados à mercê de suas próprias ideias, constroem coisas loucas e são praticamente autodestrutivos. –Fury diz em um tom sombrio.

Melinda ainda está o fitando em silêncio.

—Jemma não é assim... Não quero minha filha nesse mundo Fury. –Melinda disse sinceramente.

—Dê a sua benção May é tudo o que ela precisa nesse momento. –Fury disse e viu Melinda travar a mandíbula, sendo inevitável que ele não cogite se deveria apertar o botão de emergências, afinal de contas ele estava diante da Cavalaria.

—Eu não posso perdê-la. –Melinda disse quase que em um sussurro, antes que pudesse se virar para retirar-se do maldito escritório do diretor.

—Você não vai. –Nick Fury a garantiu, fazendo com que mais uma vez ela se virasse para encará-lo.

—Não faça promessas que não pode cumprir Fury, isso é errado. –Melinda disse em um tom de amargura e o diretor da SHIELD sabia muito bem qual era o problema ali, Melinda o culpava pelo que havia acontecido a Coulson e por alguns minutos ele não pode evitar sentir um certo medo ao pensar no dia em que Melinda descobriria que o recrutamento de Jemma é apenas a ponta do iceberg.

IV – FURY

Fury já fez muitas coisas ao longo de sua vida, coisas boas e coisas não tão boas assim.

No entanto, ele sempre fez tudo isso em nome do bem maior, embora muitas dessas “coisas” pudessem ser erradas.

Sendo assim, não foi de fato surpreendente quando há seis meses ele chamou a agente Hill no seu escritório.

—O que você quer? –Maria Hill perguntou assim que adentrou o escritório do diretor, afinal de contas não é segredo para ninguém que Maria odeia conversa fiada.

—Quero tudo o que você puder encontrar sobre Jemma Coulson. –Fury pediu a sua agente de confiança, seu braço direito.

Instantaneamente ele viu Maria lhe fuzilar com o olhar e ele sabia muito bem o porquê: Maria não aprovou o projeto TAITI, ela não gostou de manter May no escuro, e não deixou que ele esquecesse isso um único momento.

Isso é errado. –Maria Hill disse seriamente.

No entanto, Nick Fury não seria o diretor da SHIELD se desse ouvidos aos outros constantemente, mesmo que seja o seu braço direito.

—Amigos, relacionamentos, projetos, até mesmo o que ela comeu no café da manhã. Eu quero absolutamente tudo agente Hill. –Fury disse ignorando as palavras de Maria.

O diretor da SHIELD então fingiu não ver o olhar penetrante de Maria, sabendo muito bem que ela não iria embora até ter uma explicação.

—Posso ao menos perguntar o motivo? –Maria perguntou sabendo que de uma maneira ou de outra, se o desejo de Fury era saber cada detalhe sobre a filha de Coulson, ele saberia.

—Pretendo coloca-la na academia no próximo semestre. –Nicholas Fury disse tranquilamente recebendo um olhar indignado de Hill.

—A menina mal saiu das fraudas Fury. –Maria disse não escondendo nenhum pouco sua indignação.

—Você consegue ou não investigar uma adolescente Hill? –Fury perguntou à Maria a fim de encerrar o assunto.

—Considere feito. –Maria diz antes de sair de seu escritório.

E assim, uma semana depois Fury está jogando aquele joguinho idiota do homem de ferro, o qual ele nega que tenha viciado, quando Maria Hill adentra seu escritório sem cerimônia.

—Feito. –Maria diz quando joga uma pasta em cima de sua mesa.

Fury pega o arquivo e começa a foliar.

—A menina só tem dezesseis anos, perdeu o pai há pouco tempo, você realmente acha que Melinda May vai autorizar essa sua loucura? –Maria pergunta curiosa.

É então que ele ergue o olhar dos documentos, a fim de encarar os olhos azuis de Maria.

—Isso minha querida Maria, é o teste dela. –Fury limita-se a dizer.

Franzindo o cenho Maria pergunta:

—Como você tem tanta certeza que vai recrutá-la?

Nick Fury não consegue conter a risada.

—Está no DNA dela Maria. –Fury aponta o óbvio e recebe um olhar não muito feliz em resposta.

—De qualquer forma desejo-lhe sorte, pois May vai chutar seu traseiro quando descobrir. –Maria diz antes de se levantar.

—Ela não faria. –Fury diz, embora essa hipótese passou em sua cabeça mais vezes do que ele gostaria.

—Você está criando a Cavalaria Júnior Fury, isso por si só é perigoso. –Maria Hill diz quase que sombriamente.

Fury então mostra desinteresse em suas palavras e é então que ela percebe.

—Você está criando o Coulson Júnior não é? –Maria aponta o que deveria ter desconfiado quando Fury a chamou em seu escritório há uma semana.

—Maria eu preciso trabalhar, se me der licença... –Fury limita-se a dizer e é o suficiente para Maria saber que ela estava certa.

Quando Maria finalmente sai de seu escritório, Fury tem paz para analisar os arquivos de Jemma.

Ele então começa por seu histórico escolar e acha que nunca viu tantos A+ em sua vida, seus trabalhos acadêmicos ele mal entende metade do que está escrito, mas sabe que são geniais, suas dissertações e seus estudos também não ficam para trás.

—Acho que você conseguiu superar sua família senhorita Coulson. –Fury murmurou antes de virar para uma fotografia em preto e branco.

Na fotografia, que ele não sabe como Maria conseguiu tirar sem que May possa ter visto, há Melinda e suas duas filhas em uma corrida, Jemma não tem a expressão mais feliz, por outro lado a expressão séria e quase mortal de May e Daisy é praticamente idêntica.

—Você será a nova Cavalaria Daisy. –Nick murmura quase que em um resmungo.

Assim, dando o momento de pesquisa por encerrado, Fury joga o arquivo no lixo e não demora em colocar fogo, afinal de contas isso é uma operação secreta.

Poucas semanas depois, Fury consegue tempo para ir ver a brilhante Jemma Coulson, sua emboscada acaba sendo na faculdade, aproveitando-se do infeliz infortúnio do professor orientador de Jemma que teve o pneu de seu carro esvaziado pela manhã e não conseguiu avisar à aluna que não haveria aula, muita “sorte” não é mesmo?

Fury no canto mais escuro da sala, observa a jovem deixar suas coisas em cima da mesa, colocar seu jaleco e retirar alguns objetos de sua bolsa, até que ela para de repente com um bisturi na mão e pergunta:

—Quem está aí? –Jemma pergunta com sua voz suave, mas Fury não perde o olhar analítico e o gesto defensivo, no fim das contas ele sabe que não será difícil moldá-la.

—Essas coisas podem machucar senhorita Coulson, sugiro que não as erga assim para velhos conhecidos. –Fury diz saindo da penumbra onde esteve nos últimos minutos e recebendo um olhar curioso da jovem.

—Diretor Fury? O que o senhor faz aqui? –Jemma pergunta não escondendo sua curiosidade.

—Apenas visitando, soube que o departamento de ciências daqui é fantástico. –Fury diz não muito interessado.

—É razoável. –Jemma diz dando de ombros.

—Você já ouviu falar do departamento de ciências da SHIELD senhorita Coulson? –Fury pergunta a jovem, já que havia percebido que o melhor jeito de induzi-la a entrar na SHIELD seria usando sua curiosidade, assim como havia feito com Coulson.

Em resposta Jemma fez que não.

—Nossos estudos em biotecnologia estão a frente de qualquer um. –Fury diz e instantaneamente vê os olhos da jovem brilharem como o de uma criança na manhã de Natal.

Ele então retirou os papeis de sua jaqueta e os entregou a jovem de olhos cor de mel.

—Há uma vaga para você assim que concluir o seu doutorado. –Fury disse, sabendo muito bem que a jovem o concluiria em algumas semanas.

Jemma pega os papeis ainda extasiadas e os lê rapidamente.

—Senhor... eu não acho que minha mãe vá autorizar. –Jemma diz e quando ergue o olhar ela percebe que o homem já está a meio caminho da porta.

—Senhorita Coulson, você está prestes a se tornar uma agente da SHIELD você vai dar um jeito. –Fury disse ao se virar e encarar os olhos brilhantes da jovem.

—Obrigada senhor. –Jemma diz simplesmente.

—Até breve Coulson. –Fury diz antes de se virar e ir embora, percebendo então que havia sentido falta de dizer isso.

Ele só espera que não esteja condenando a filha de Coulson a morte.

Fury sabe que em breve verá a jovem pelos corredores da Academia, ela é uma May-Coulson no fim das contas.

O diretor da SHIELD só espera estar tomando uma decisão correta.

E acima de tudo, ele espera que seja lá o que vier a acontecer, que isso não dê errado.

Por que no fim das contas ele sabe que os métodos não ortodoxos, como recrutar uma adolescente, isso sim é errado.

Mas essa é a SHIELD no fim das contas, quando é que recrutar russos desertores, playboys, soldados congelados e alienígenas para guerras apocalípticas foi certo?

V – MARIA

Maria Hill dedicou a sua vida a fazer o que é certo, crescendo em uma família como a sua no fim das contas era impossível que ela fizesse algo errado.

Na escola ela foi a melhor da turma.

Na faculdade ela se destacou tanto a ponto de chamar a atenção da SHIELD.

Na SHIELD ela contínua a traçar o caminho árduo até o topo.

Para Maria Hill o errado é simplesmente inadmissível, entretanto, ela se vê seguindo Jemma Coulson, sabendo muito bem que isso é errado.

No segundo dia ela já está entediada, para uma adolescente de dezesseis anos, Maria pensou que ela seria divertida, mas aparentemente ser um jovem gênio demandava muito trabalho árduo.

Assim, Maria observou de uma distância segura Jemma deixar a irmã na escola e ir para a faculdade, uma parte dela não deixou de se sentir melancólica ao ver a jovem senhorita Coulson dirigindo o infame automóvel de Phil Coulson.

Ela é filha do pai dela, foi o que Maria pensou.

E essa afirmação só se tornava mais clara a medida que Maria cavava os últimos dezesseis anos da vida de Jemma May Coulson.

Hill conheceu Coulson há bastante tempo, ela sabia que o homem era um maldito nerd e não deveria se surpreender ao descobrir que sua filha era não só uma nerd, mas sim um gênio.

Seu histórico escolar é impecável, suas idas as exposições do Capitão América são quase que frequentes, a cada minuto estudando Jemma Coulson, Maria tem a certeza que os genes Coulson são dominantes.

No quinto dia, Maria se vê fazendo malabarismo, enquanto segue May e as filhas em uma corrida, ela não deixa de pensar que se A Cavalaria ao menos sonhar no que ela esteja fazendo, as chances dela ficar inconsciente por alguns dias são altíssimas.

No entanto, para a sorte de Maria, May não a percebe e ela até mesmo consegue capturar uma imagem de Melinda correndo com as filhas. Não deixando de notar, que ao contrário de Jemma, Daisy favoreceu, e muito, a mãe.

Assim, enquanto faz as considerações finais sobre sua pesquisa, Maria Hill só consegue desejar que nada de ruim aconteça a jovem Jemma Coulson.

Isso é errado. –Maria Hill sussurra para a foto que capturou das mulheres May-Coulson, pensando não apenas no que Fury está planejando, mas também no fato que as três vivem na perfeita ignorância no que tange a Phil Coulson.

Depois de entregar seu dossiê a Fury, meses se passam até que Maria acaba por esbarrar com May saindo da sala de Fury e uma simples troca de olhares é o suficiente para ela saber que Melinda “A Cavalaria” May, descobriu o plano idiota de Fury. Maria não evita de se perguntar se seria errado torcer para que May impeça a filha de entrar na Academia.

Quando enfim adentra o escritório de Fury, Maria não deixa de soltar um suspiro decepcionado ao ver o diretor da agência ileso.

—Não faça essa cara Hill, sei que você está decepcionada por eu não estar hospitalizado. –Fury diz mal-humorado.

—Uma garota pode sonhar. –Maria diz simplesmente.

—Então a que devo o prazer de sua visita? –Fury pergunta desinteressado.

—É sobre o TAITI, ele acordou. –Maria disse.

—Bom... –Fury limita-se a dizer.

Maria o olha fixamente, não deixando de pensar em quantos planos mirabolantes Fury já está elaborando.

—Se era só isso, você pode ir... –Fury diz a tirando de seus pensamentos.

—Você vai dizer a May? –Maria não pode se conter, afinal de contas, desde o início ela sempre defendeu a ideia de que May deveria saber.

—Não... ainda não. –Fury diz enigmaticamente.

Maria dirige a Fury um último olhar antes de se levantar e sair, mas obviamente não sem dar a última palavra:

—Torça para que quando ela descobrir ela fique feliz demais e esqueça de nos chutar.

E assim Maria Hill simplesmente sai da sala do diretor.

Ela pensa que trazer os mortos de volta a vida é errado, mas no fim das contas é de Phil que eles estão falando.

Ela pensa que trazer uma criança para a SHIELD é errado, mas no fim das contas o melhor jeito de proteger alguém é ensinando-lhe a se defender. No fim das contas, eles estão falando da filha de May e Coulson.

Finalmente ela chega a uma conclusão: brincar de Deus não é errado, já não contar a família de Phil que ele está vivo, isso sim é errado.