Aleck estava sentado em sua mesa, com seu sorriso desprezível e costumeiro, balançando sua cabeça de um lado para o outro num certo ritmo. Sua sala era iluminada apenas pela luz solar que entrava pela janela atrás de suas costas. Sua mesa estava impecavelmente arrumada ao contrário dos sofás que preenchiam a sala. Num destes sofás, estava sentado um homem careca em posição fetal com uma espada em seus braços:

—Ele está atrasado...ele está realmente atrasado... -Repetia aquele homem de forma doentia.

—Acalme-se, Shizu... -Ordenou Aleck. -Você é realmente impaciente...

—Não posso fazer nada sobre isso... -Respondeu ele. -Está fora do meu controle...Está fora de mim...

A porta abriu-se lentamente e um homem mostrou-se:

—Desculpa pelo atraso... -Disse ele entrando meio envergonhado. -Eles realmente estão preocupados com o rumo dessa guerra...

Aleck continuava balançando sua cabeça de um lado para o outro enquanto Shizu observava o homem que havia entrado no quarto atentamente:

—Pelo seu olhar eu posso ver que você não vai me perdoar...

—Não, Caleb...Eu não irei mesmo... -Respondeu Shizu. -Nenhum segundo.

—Bom, quanto tempo eu perdi? -Perguntou Caleb aceitando seu destino.

—33 anos.

—Isso é simplesmente absurdo! -Reclamou Caleb. -Nesse ritmo eu morrerei em alguns dias!

—Esse foi o nosso acordo...Você quer eu quebra-lo? Eu não me importo de te matar agora...

—Você é tão insensível... -Suspirou Caleb se sentando no outro sofá.

—Eu simplesmente odeio pessoas que me fazem perder tempo...

—Bom...vamos ao que importa? -Interrompeu Aleck. -Como está a situação?

—Aquele time suicida que você enviou está mostrando alguns resultados mas parece que eles morrerão em breve. -Respondeu Caleb. -Eles mataram alguns soldados inimigos e em breve serão emboscados por um exército inimigo. É impossível que eles sobrevivam.

—Que pena, eu esperava mais do trunfo de Blut. -Suspirou Aleck. -Mas isso só significa que as cartas estão todas em minhas mãos...

—Sobre a filha do líder dos Intocáveis, acho que o nome dela era Lizzy. -Continuou Caleb. -Ela está mostrando alguns resultados promissores, fazendo discursos encorajadores e coisas do género. Ela até possui alguma habilidade e por isso consegue ser convincente. E acima de tudo, ninguém sabe que foi você que a colocou ali. Qual é a sua intenção com isso tudo?

—Meu caro, Caleb. -Sorriu Aleck. -A resposta dessa pergunta custa a sua vida, sua curiosidade é tão grande assim?

Shizu foi lentamente sacando sua espada:

—Parece tentador mas eu recuso. -Respondeu Caleb. -Seguindo em frente com o que foi discutido na reunião, nossos exércitos ainda não tiveram contacto com o inimigo mas a vantagem é claramente nossa. A única coisa preocupante são os Pecados. Eles não fizeram nenhum movimento ainda.

—Esplêndido. Blut deverá começar a agir em breve tentando conseguir um pouco de glória para seu grupo. -Comentou Aleck. -A situação está tão de acordo com meus planos que eu me sinto entediado...

—Já agora, porque eu tenho que ir nas reuniões no seu lugar? -Perguntou Caleb.

—O rei desse país não é nenhum tolo. As pessoas que frequentam essas reuniões não são necessariamente dotadas dos maiores intelectos. Eu poderia facilmente transforma-los em minhas marionetes se eu participasse nessas reuniões. -Respondeu Aleck. -Para evitar que isso aconteça, ou melhor, para adiar esse acontecimento, eu sou proibido de ir. Mas a minha presença é desnecessária, eles são estúpidos ao ponto de você conseguir manipula-los.

Caleb deixou alguns papéis na mesa de Aleck e dirigiu-se a saída:

—Eu não sei se gostaria saber o que este homem está planejando... -Pensou ele se retirando.

—Obrigado pelo seu trabalho...Caleb... -Sorriu Aleck.

Enquanto Aleck calmamente selecionava as cartas que usaria na próxima rodada, Lizzy tinha que passar confiança a milhares de pessoas sem sequer confiar em si mesmo. Ela e Sasesu corriam fervorosamente de um lugar para o outro:

—Temos quinze minutos para descansar...e depois eu tenho que fazer outro discurso... -Suspirou ela visualmente cansada.

—Você vai acabar ficando rouca desse jeito. -Reclamou Sasesu entediado. -Você está bem?

—Fisicamente, sim. -Respondeu ela. -Mentalmente, nenhum pouco. Me sinto muito falsa comigo mesmo...sinto como se estivesse fingindo ser alguém que não sou...Mas acho que para alguém como eu, essa é a única forma de ajudar...

Sasesu colocou suas mãos nas bochechas dela e apertou-as carinhosamente:

—Sorria! -Exclamou ele. -É sempre melhor fazer algo do que não fazer nada! Enquanto você estiver tentando, tudo estará bem! Agora vamos, temos trabalho a fazer!

Os dois apoiaram-se um no outro e seguiram em frente para a próxima tarefa.

Blut escutava os gritos dos soldados entusiasmados a distância enquanto atirava dardos em um alvo:

—Aquele desgraçado...ele roubou o Kurokawa na frente dos meus olhos e eu não consegui fazer nada... -Reclamava ele.

—Quando você vai parar de reclamar? -Disse Micky apoiando-se nele novamente. -Você podia descontrair comigo mas prefere ficar jogando esse jogo estúpido...

Marwolaeth bateu seu pé no chão com força o suficiente para tremer os objetos a sua volta e quase derrubar o alvo de Blut:

—Vocês dois podiam fazer o favor de calar a boca? -Perguntou ela irritada. -Isso está sendo igualmente entediante para todos nós e hoje é um dia que eu estou particularmente estressada...

Micky resolveu provocar Marwolaeth:

—Só porque o seu namoradinho não está aqui, isso não significa que você tenha que descontar sua frustração em nós...

Marwolaeth levantou-se sacando seu machado:

—Eu vou te picotar, sua...

—Acalmem-se... -Ordenou Blut. -Eu também estou frustrado mas é assim que as coisas são. O nosso lado até podia ter iniciado a guerra mas ter uma grande quantidade de soldados dizimados pelos Pecados é possibilidade preocupante. Por isso, nós estamos dividindo nosso exército em menores grupos e os espalhando em vários pontos estratégicos. Essa guerra só vai ter início quando Kepler atacar ou quando tivermos nossos exércitos muito bem posicionados.

O silêncio instalou-se novamente naquele lugar. Mas mesmo sem a guerra ter começado, a pressão sobre os guerreiros era bem grande. O medo de nunca saber como será o dia de amanhã dominava todos, Lizzy e seus discursos apenas suavizavam isso. Mas o mesmo se aplicava ao inimigo. E enquanto todos aproveitavam seus últimos momentos de paz, Kurokawa sentia em sua pele o terror chamado guerra...