Invisible Play - Game Over

A Calmaria Antes da Tempestade


Era um domingo, já passava das 23:00 e como tinha que ir para a escola estava tentando dormir. Mas como de costume, meu corpo resolvia contrariar minha mente e no final eu acabava ficando acordado até adormecer por cansaço.

Já estava quase na hora de isso acontecer quando ouço um grande barulho vindo do andar de baixo, algo que ultimamente não tem sido muito incomum. Eu iria deixar minha posição para reclamar com o sujeito mas eu sei que outra pessoa já iria fazer isso.

Desço as escadas e vejo Takeda discutindo com a figura cuja a aparição tem se tornado irritante:

–Ei, você sabe quantas vezes você destruiu a parede da minha sala? –Pergunta Takeda gritando. –Seis! Seis vezes! Numa semana! E toda vez você ainda faz questão de abrir um novo buraco na parede! Porque você não simplesmente entra pelo buraco que você tinha feito anteriormente? Isso não faz mais sentido?

–Primeiro de tudo, a parede é da minha sala, não da sua. Se você fica parasitando aqui em casa, comendo minha comida, bebendo minha bebida e usando tudo que é meu, isso não signifique que a casa passe a ser sua também. –Interrompi eu.

–Você fica quieto Kurokawa! –Respondeu Takeda. –Agora eu estou brigando com o Ike!

Ike saiu do meio dos destroços e respondeu:

–Cale boca! Eu destruo quantas paredes eu quiser! E em primeiro lugar, como você sabia que era eu?

–Ah, vamos contar nos dedos quantas pessoas invadem minha casa quebrando a parede, hmnn, zero!! Só você faz isso!!! –Gritou Takeda.

–Como eu disse antes, poderia parar de se referir a essa casa como sua, seu parasita. –Interrompo eu.

–Cale a boca!

Essa situação pode ter se tornado um pouco confusa, por isso começar a contar do início da segunda. Era um dia normal, até que ao voltarmos da escola, eu e o parasita, nos deparamos com a parede da MINHA casa destruída.

No começo pensamos que podia ter sido um acidente, o que era meio difícil, já que a rua que eu morava era quase isenta de transito ou pessoas. Mas mesmo assim não concluímos nada, apenas contratamos um pedreiro e pedimos para ele cuidar disso.

Mas no terça, a mesma coisa voltou a acontecer, já estávamos desconfiados mas decidimos apenas contratar de novo um pedreiro. Mas na quarta, isso voltou a acontecer, contratamos um pedreiro e na quinta, Takeda decidiu faltar a escola e ficar em casa.

Quando eu voltei da escola ele disse que o culpado era o Ike, ele tinha a intenção de atacar nossa sala e me derrotar. Só que como estávamos na escola naquele momento, ele achou que não estivéssemos em casa e decidiu voltar no outro dia.

Assim, ele abriu vários buracos na minha parede. Tanto que houveram alguns que ainda precisam ser fechados, minha casa não parece que vai durar muito tempo desse jeito. Depois de Takeda explicar para ele que naquele horário estávamos na escola, ele começou a atacar a noite.

Desde então eu sou obrigado a deixar minha quente e confortável para lutar com ele no meio da noite fria:
–Vamos acabar logo com isso, Ike. –Interrompi a discussão de Takeda e Ike. –Tente me acompanhar.

–Vamos então. –Respondeu ele. –Só que dessa vez eu quero que você lute sério! Acha que eu não percebi que você não estava lutando com tudo o que tem nas outras vezes?

Eu abaixei a cabeça e pensei por um momento, em seguida levantei a cabeça e respondi:
–Então vamos.

Takeda ficou apenas olhando sem falar nada enquanto eu e Ike íamos saindo de casa em direção a uma área mais afastada, chegando lá Ike sacou sua espada e eu a minha.

Ele projetou todo o seu ódio em mim e disparou numa velocidade furiosa, eu sussurrei algumas palavras e linhas brancas e pretas fluíram por minha pele.

Ike que corria em minha direção num instante foi arremessado longe com uma explosão negra e antes que pudesse tocar o chão, um raio branco passou a alguns centímetros de seus olhos:

–Só nesse segundo você teria morrido duas vezes. –Disse eu. –Você está buscando vingança ou apenas tentando se juntar aos seus amigos? Se realmente deseja vingança, fique mais forte e tente me entreter.

Ike apenas ficou no chão, estático, sem poder falar ou responder enquanto eu me retirava. Eu cheguei em casa e fui direto para o meu quarto. Takeda foi se dirigindo para onde Ike estava e encontrou ele deitado no chão:

–Ele é muito forte né? –Perguntou ele.

Mas Ike não respondeu nada:

–Ele pode parecer ser mau mas na verdade ele é uma pessoa incrível, só que se expressa de formas diferente do normal. –Continuou Takeda. –Eu não sei muito sobre ele mas ele é uma pessoa muito solitária, por isso ele não quer que você fique igual ele. Ele está tentando fazer você ficar mais forte com a vingança em mente, isso não é tal mal assim. Mas no fim você acabara se tornando uma pessoa vazia, uma pessoa que só vive com vingança em mente é muito solitária também. Por isso, venha conosco! Deve existir outra forma de resolver essa situação! –Falou Takeda estendendo sua mão.

–Eu não sei o que aconteceu naquele momento, eu apenas sei que eu me senti estranho. Desde que os outros morreram eu não pude sentir outro sentimento além de ódio, mas naquele momento, uma ligeira felicidade brotou em meu peito. –Pensou Ike. –E eu acabei por segurar aquela mão quente e gentil que me era oferecida.

Depois disso, Takeda levou Ike para a casa dele. No outro dia de manhã, Takeda levantou reclamando:

–Ei, Kurokawa porque você não me acordou? Agora nós estamos atrasados!

Quando ele entrou no meu quarto se deparou com uma cena que não acontecia com frequência, eu ainda estava deitado na minha cama e olhando para o teto:

–Você ainda está dormindo? Levanta logo!

–Takeda, compreenda, eu não sou um irresponsável igual a você. Se eu pudesse me levantar, eu me levantaria. –Respondi eu.

Takeda veio se aproximando e disse:
–Pare de brincadeira, vamos logo!

–Apenas toque no meu braço e confira. –Respondi eu.

Takeda tocou no meu braço ativando uma habilidade passiva dos Fighter (N/A: Provavelmente vocês já sabem mas eu ainda vou explicar, passiva é a habilidade que se ativa sozinha e ativa é a habilidade que você precisa ativar. É mais ou menos isso.) Check-up ligeiro. Uma habilidade que dá ao usuário uma leve noção da situação da área tocada:

–Nossa, seus músculos estão quase destruídos, é por isso que você não consegue se mover. –Disse Takeda. –Que droga você fez ontem?

–Abusei um pouco da minha força. –Respondi eu. –Mas isso não é motivo para você faltar, vai para a escola, eu tenho algumas habilidades passivas de regeneração. Eu vou me recuperar rápido.

Takeda foi para a escola decepcionado pensando que tinha perdido uma chance de faltar. O dia seguiu normalmente. Takeda chegou em casa e encontrou eu olhando alguns itens em meu inventario:

–Já está melhor? –Perguntou ele.

–Sim, acabei de perceber que tinha alguns itens no meu inventario e resolvi dar uma olhada.

Eu estava olhando no meu inventario e sem querer deixei cair uma espécie de poção, Takeda pegou e leu o que estava escrito:

– “Um dia perfeito com mulheres”, Kurokawa achei algo que irá te fazer popular com as mulheres! Eu vou tomar!

–Espere, pode ter alguns efeitos colaterais! –Exclamei eu.

Mas ele apenas bebeu sem hesitar:

–Ah, droga, você apenas bebeu. Me empreste o frasco, eu quero ver o que está escrito.

Takeda chegou perto de mim e nós dois começamos a ler o frasco:

–Blá blá blá, nada de interessante ou de importante. Disse eu.

–Viu? Não tinha nenhum efeito colateral.

–Espera, Takeda, não parece que aqui está meio sujo?

–É, parece.

Eu limpei a sujeira e acabei por descobrir uma letra que antes não podia ser vista:
–Takeda, isso pode ser um pouco problemático, não estava escrito “Um dia perfeito com mulheres” mas sim “Um dia perfeito como mulheres”.

–Isso quer dizer que…

Antes de terminar sua frase uma fumaça rosa começou a se espalhar pela casa e no momento que a fumaça abaixou, eu me deparei com algo ainda inédito:

–Takeda, sinto muito lhe informar, mas você tem peitos.

Takeda disparou a correr para o banheiro onde ficava o espelho e voltou chorando:

–Kurokawa!! Me ajude! Não estava lá! Ele não estava lá! Meu símbolo de masculinidade!

–Do que você está falando Takeda?

–O meu…

No mesmo momento Ike adentrou da casa pela porta, batendo-a com força suficiente para causar um barulho que encobria as palavras ditas por Takeda:

–Eu vim aqui para me desculpar com você Kurokawa! –Disse ele. –Eu fui muito rude nesses últimos dias…porque tem uma mulher aqui?

–Cale a boca! Eu não sou uma mulher! Eu sou o Takeda, um legitimo homem! –Gritou Takeda.

–Um homem…com peitos… -Ria eu.

Enquanto eu ria algo foi lançado dentro de minha boca:

–Ei, Takeda, não me diga que você…

–Sim, bem-vindo ao clube de homens com peitos! –Riu ele.

Antes que eu pudesse expressar minha indignação aquela aterrorizante fumaça rosa se formou e meu corpo sofreu algumas alterações:

–Ei, o que está acontecendo aqui? –Perguntou Takeda chorando. –Porque seus peitos são maiores que os meus?

–Você está preocupado com isso? Mas parando para pensar eles são até bem grandes em comparação com os seus. –Debochei eu.

–Não se ache superior! Uma mulher não é definida pelo tamanho de seus peitos!

–Estranho, eu pensava que você era um homem…-Provoquei novamente eu.

–Mas…mas…

Ao longe Ike observava a situação sem entender completamente, ele decidiu que naquela situação o melhor era simplesmente fechar a porta, ir embora, passar na farmácia e comprar alguns remédios. Porque aquela situação era insana demais para ser real.

No momento em que ele fechava a porta, eu percebi sua presença:

–Acha que vai conseguir correr, Ike? –Perguntei eu. –Você também vai virar mulher!

No momento em que eu iria começar a correr Takeda me segurou:

–Primeiro vamos trocar de roupa. –Disse ele.

Eu olhei para meu corpo e percebi que minha camisa estava totalmente colado em meu corpo e minha calça estava quase rasgando. Nós dois subimos e fomos para o quarto onde Lizzy ficava, lá tentamos vestir uma de seus roupas:

–Olha, serviu. –Disse Takeda.

–Em mim está ficando muito apertado…na área dos peitos. –Provoquei eu.

–Droga! Pare de exibir essas suas coisas gordas! –Reclamou Takeda. –Mas você vai vestir o que então?

–Espere só um pouco.

Eu peguei uma chave que ficava bem escondida em meu quarto e fui até um quarto da casa que nunca era visitado e sempre estava fechado. Entrei lá e peguei algumas roupas. E depois voltei para onde Takeda estava:

–Vamos então?

–Da onde você tirou essas roupas? –Perguntou Takeda. –Não me diga…que você é um super pervertido que coleciona roupas de mulheres roubadas? Minha imagem de você foi destruída Kurokawa, você me orgulha!

–Claro que não…espera, você disse que eu te orgulhava?

–Claro, se você não despertasse o seu instinto da perversão eu acabaria ficando preocupado com o seu futuro.

–Sabe, você tem alguns problemas…mentais…

Nós dois deixamos a conversa de lado e fomos atrás de Ike, como a nossa área de procura era muito grande decidimos nos separar e para cobrir mais terreno. Takeda foi em direção a escola de Ike e eu fui em direção ao shopping. Enquanto corria a procura de Ike acabei por chocar com um garoto pouco menor que eu.

Ele me ajudou a levantar e falou:
–Nossa, se você quer tanto assim ficar perto de mim não precisa fingir que bateu em mim assim, é só pedir que eu abro um espaço na minha lista para uma garota tão linda assim.

–É…não, você é estranho. –Respondi eu.

Ele deu uma pequena risada e respondeu:
–Não seja tal mal assim.

–Eu não estou sendo mal, estou sendo honesto. Você é estranho e pequeno.

Ele continuou olhando para mim até que lagrimas começaram a cair de seus olhos:

–Porque você é tão mal assim?

Eu fiquei meio sem jeito até que percebi uma coisa:

–Ei, você não é o Raizer? –Perguntei eu.

–Eu sou e você quem é? –Perguntou ele.

–Eu sou o Kurokawa, eu sei não parece. Mas você vai entender melhor depois de beber essa poção. –Disse eu enfiando o resto da poção que eu tinha em sua boca.

Não demorou para a fumaça rosa começar a aparecer e Raizer se espantar:

–Mas que droga você fez?

–Te transformei em mulher, você se sente irritado não? Então, agora vamos atrás de outros!

Eu, Raizer e Takeda continuamos transformando nossos conhecidos em mulheres até que a poção acabasse. Todos nós tínhamos aquele pensamento na cabeça:
–Mesmo que eu fique assim para sempre, eles também vão ficar.

Lá estávamos nós, eu, Raizer, Takeda, Sasu, Ike e vários outros marchando pela rua com roupas luxuosas. Alguns reclamaram no começo mais com o tempo acabaram por nos ajudar. Até que algo imprevisto aconteceu, nosso orgulho nos impediu de ver mas com o tempo os comentários foram se intensificando:

–Não sabia que iria ter uma parada gay aqui.

–É, eu também.

–Mas ainda são poucos.

Nesse momento eu pensei:

–Onde será que eles estão vendo essas pessoas.

Quando olhei para o meu corpo me deparei com a falta de algo, os meus peitos. Eu olhei para os outros e percebi a mesma coisa, nesse momento não éramos nada além de homens com roupas de mulheres. Marmanjos maquiados, pessoas sem dignidade, seres humanos com saias e pernas peludas.

Nesse momento eu não sabia se ria da situação dos outros se chorava porque eu também estava daquele jeito. Mas deixando isso de lado, quando percebi isso a única coisa que eu pude fazer foi correr para casa evitando o maior número de pessoas que eu consegui.

No outro dia ainda haviam relatos de pessoas que nos viram e todos os presentes choravam em suas casas. Foi um acontecimento que eu terei de apagar de minha memória, o mais rápido possível. Nós estávamos com vergonha demais para ir para escola por isso eu, Takeda e Ike ficamos conversando em casa.

Até que Ike citou algo que parecia ter uma certa importância:

–Eu tenho uma coisa para te dizer que eu não consegui dizer antes Kurokawa. Eu fiz uma grande pesquisa e descobri que na verdade o motorista do caminhão vermelho tinha sido identificado. Sabe qual era seu nome? Daten.