Minha primeira aula não foi muito turbulenta, era a aula de poções, e eu
seguira Tom até a sala, já que a maioria de nossas aulas seriam iguais, com
exceção de uma. Os professores decidiram que, para eu me sentir mais integrada,
nós dois deveríamos ficar em dupla. A ideia não pareceu agradá-lo nem um pouco,
mas também não fez objeções. Como já estava familiarizada com todas aquelas
poções, decidi que, para as horas passarem mais rápido, meu objetivo seria irritá-
lo e observar suas reações.
Em um determinado momento em que ele se distraiu anotando alguma
coisa em seu livro, joguei uma única folha de sálvia dentro do pequeno caldeirão.
A poção, de vermelha, passou a ficar rosa escuro, e aquilo parecia prestes a
explodir, então me afastei um pouco e tentei me manter séria, mas quando ele viu
o caldeirão e olhou para mim, não consegui conter um meio sorriso. Ele também
se afastou, e pude notar seu olhar para a poção. De repente, Boom, toda a sala foi
coberta por uma fina nuvem com cheiro de sálvia. O professor nos olhou
assustado, então resolvi me pronunciar:
— Culpa minha, professor, acrescentei uma folha de sálvia à mistura sem
perceber! Desculpe-me por isso, e não se preocupe, essa pequena fumaça, serve
para fazer mandrágoras dormirem, é muito útil para evitar seus gritos!
— Muito boa análise, Srta. Blanche, apenas tome mais cuidado da próxima
vez, sua explosão pode gerar vítimas!
— Não vítimas maiores ou mais perigosas que uma fada mordente.
Todos na sala riram, menos Tom, que ainda tentava processar o que tinha
acontecido. Mas logo que entendeu, ele sorriu de canto para mim. Quando a aula
acabou, me guiou até a próxima sala. Nossas aulas foram cheias de brincadeiras
até a hora do almoço.
Ele me convidou a ficar com ele e os amigos, o que aceitei prontamente, já
que ainda não tinha feito amigos ali, não estava em posição de negar. Assim que
nos sentamos, Malfoy se dirigiu a mim com um sorriso malicioso.
— Então, Sophie, ouvi dizer que você explodiu uma poção e superou Tom
por ter lembrado de uma mistura, é verdade?
— Bom, eu realmente explodi uma poção na sala, pensei que iria matar o
professor de susto, mas se superei o Sr. Riddle é difícil saber, ainda é muito cedo
para tal veredicto — falei com ar brincalhão, e todos pareceram estar surpresos
com aquilo, eles ainda não tinham entendido que eu realmente gostava de ser a
melhor. Por isso, jurei mentalmente que iria provar aquilo a eles, adorava ser
desafiada.
— E o fato de sua explosão poder fazer mandrágoras dormirem?
— Bom, isso qualquer um deveria saber.
Os três pareceram confusos, então olhei surpresa para Tom, que sorriu e
deu de ombros, mas logo se disponibilizou a explicar.

— O que ela quis dizer foi que a sálvia, mais especificamente sua fumaça,
acalma as mandrágoras e, em grande quantidade, pode fazê-las dormir. Isso é
algo que não está em livros, só pode ser descoberto na própria prática, mas muitos
bruxos de grande poder sabem — ele explicou e acabou fazendo com que seus
amigos parecessem desmerecidos. Me senti mal com aquilo, então resolvi
emendar:
— Sálvia também pode acalmar dragões. Quando são muito agressivos,
usamos sua fumaça para deixá-los mais suscetíveis a aproximações para ganhar
sua confiança ou dar de comer a eles.
Eles pareceram entender bem o que eu quis dizer, mas o primeiro a olhar
para mim e sorrir solidário pela minha consideração foi Abraxas. Aquilo me
pareceu estranho, pude olhar dentro de seus olhos nesse meio tempo, e eles me
pareceram... vazios, sem nenhum tipo de alegria. Fitei-o continuamente por algum
tempo depois que esse desviou o olhar, e até seus gestos pareceram forçados.
Pouco depois, Tom pediu licença e se retirou. Assim que o vi desaparecer
pela porta, me inclinei mais para frente.
— Abraxas... Vocês têm vaga no time de Quadribol?
— Apanhador e artilheiro, por quê?
— Quero entrar! Como apanhadora. O que preciso fazer?
— Tem certeza? A posição de apanhador é perigosa...
— É claro que tenho! Por que não teria?
— Bom... Nosso último apanhador... Ele...
— Fala de uma vez, Malfoy!
— Ele foi transferido para Saint Mungus. O último jogo fugiu do seu
controle, e ele acabou caindo da vassoura, de uma altura de uns trinta pés.
— Ah, faça-me o favor! Já tive o prazer de voar sobre as nuvens, não tenho
medo de altura.
— Ele sorriu divertido, e pude ver um pequeno lampejo de alegria em seus
olhos, o que me deixou feliz.
Minhas próximas aulas pareceram passar mais devagar do que uma lesma
cruzando um jardim. Eu estava ansiosa, o teste ocuparia toda a última aula, e eu
teria que me acalmar durante período, se não não daria nada certo. Eu precisava
me tranquilizar, exatamente como domar um dragão. A vassoura era como o seu
lombo, a sensação de voar era a mesma.
Algumas horas depois, eu e mais seis alunos estávamos com uniformes
sem cores, Malfoy decidiu que fariam um jogo teste conosco. Para meu azar e
tristeza, Andrômeda faria parte do time, e ela não estava nem um pouco feliz de
me ver ali. Jurava que ela poderia me matar apenas com o olhar.
Foi dado o sinal, levantamos vôo, mas o tempo não estava bom, ventava
demais e muito forte, provavelmente uma nevasca aconteceria logo, logo. Por

causa da força do vento, alguns dos outros alunos perderam o equilíbrio e quase
caíram. Pra mim, por conta do costume com os dragões, aquele vento não estava
incomodando em nada, então os ajudei a se firmarem e os ensinei a ficar a favor
das correntes de ar.
Fechei meus olhos, me concentrei na sensação do vento em meu cabelo,
apertei o cabo da vassoura e foquei no som das batidas do meu coração. O
silêncio era tanto que aquele mínimo ruído chegava com facilidade aos meus
ouvidos.
Senti o vento ficar mais gelado, logo iria nevar. Dragões de fogo
detestavam a neve, era fria demais para eles. A imagem de um deles veio a minha
cabeça, e eu sorri, lembrei-me de como ele derretia a neve facilmente com o calor
de seu bafo de enxofre.
Logo o jogo começou, eu e Andrômeda seríamos as apanhadoras, então
subimos bem mais que os outros jogadores. A neve começara a cair e grudava em
meu cabelo, deixando-o branco, enquanto se camuflava nos cabelos loiros de
Andrômeda. O frio já começava a congelar meu rosto, mas tentei ignorar, o
gramado lá em baixo já começava a ficar branco.
Logo vi o Pomo de Ouro voando um pouco abaixo dos outros jogadores.
Andrômeda também o vira, e mais do que depressa nós duas fomos em direção a
ele, dando ao mesmo tempo, de encontro com uma parede. Em seguida
começamos uma disputa, ela quase me jogou de novo contra a parede diversas
vezes, tanto que em uma delas eu tive de subir novamente.
Aproveitei o tempo que tive longe da garota e da disputa para bolar um
pequeno plano. Tive de prestar atenção, visualizei onde o Pomo iria passar e
quantos segundos teria para fazer o que pensei. Posicionei-me onde eu acreditava
ser o lugar certo e, no segundo que calculei, mergulhei no ar, como os dragões
faziam para capturar suas presas.
Para agarrar o Pomo, tive de largar as duas mãos ,e feito isso, acabei me
chocando com Andrômeda, que caiu de costas no chão enquanto eu fui
arremessada para longe, rolando sobre a grama coberta de neve até parar de
encontro com a parede do lado oposto e batendo com o ombro esquerdo nela.
Pude sentir ele se deslocar, mas tive de controlar a dor, porque assim que abri os
olhos, Abraxas já estava do meu lado.
Todo o meu corpo doía, mas o ombro latejava muito mais forte, como se
estivessem enfiando facas no local.
— Sophie, você está bem?
Os olhos dele tinham medo e preocupação. Preferi não falar nada, apenas
sorri e me sentei. Estendi, então, o Pomo de Ouro para ele, que sorriu aliviado e
me ajudou a ficar de pé. Com uma felicidade abobada, ele anunciou em alta voz:
— Dêem as boas vindas a Sophie Blanche, nossa nova Apanhadora! E a
Charles Adler, o novo artilheiro!
Todos aplaudiram, então eu vi Charles. Ele tinha mudado, por isso não o
reconhecera antes, estava mais alto e bem mais musculoso. Ele sorriu para mim e
se aproximou, Abraxas ainda estava por perto e pareceu arrumar a postura

quando o outro chegou. Charles me abraçou apertado, e eu tive de morder o lábio
inferior para não gritar de dor quando meu ombro foi esmagado por suas mãos
enormes.
Dei tapinhas em seu braço, e ele me largou.
— Se a sua intenção era me sufocar, você conseguiu! — falei tentando
controlar a dor intensa que estava sentindo. Pude notar o olhar de Abraxas sobre
mim. Ele tinha percebido. Droga!
— Você continua muito bonita, Sophie!
— Já se conhecem?
— Já sim, cresci com Charles. Minha família e a dele são amigas desde
sempre — disse controlando a voz para não demonstrar que queria chorar de dor.
— Interessante... Sophie, pode me acompanhar até a enfermaria? De
repente me deu tontura...
Entendi o recado, fiz quem sim com a cabeça e o segui, dando tchau para
Charles com a mão.
Pouco tempo depois, eu estava sentada em uma das camas da enfermaria,
seminua da cintura para cima, com apenas meu sutiã de renda preta protegendo
os seios de serem vistos por Abraxas.
Ele estava passando uma pomada gelada em meu ombro, que também
formigava. Mas seus dedos eram quentes, e ele espalhava a pomada
delicadamente para não me machucar mais.
— Obrigada...
— Não deveria mentir quando se machuca. Poderia ter sido pior!
Concordei com a cabeça e sorri para ele, apesar de estar corada com a
minha situação.
— Mas não tem de que. Só não faça mais isso, certo? Se se machucar, não
importa se for fora do campo ou não, me procure, está bem?
— Continuei sorrindo, e mais uma vez concordei com a cabeça. Ele
pareceu aliviado e se sentou a minha frente, me observando colocar a blusa
novamente e me fazendo, por consequência, ficar ainda mais vermelha com
aquele olhar intenso.
— Ora, ora, o que houve aqui?
Era Riddle, aquela voz se tornara inconfundível. Agradeci por já estar
vestida. Abraxas olhou para ele e sorriu.
— Ela caiu no campo. E virou a nova apanhadora! — ele disse com um
certo orgulho na voz, o que fez com que eu me sentisse bem.
— Correção, eu me joguei. Foi proposital.

— Se você está dizendo, quem sou eu para discutir? — respondeu, caindo
na risada por causa do meu comentário. Tom pareceu surpreso com aquilo, mas
olhou para mim e deu de ombros.
Você está bem?
Estou sim. Não foi nada de mais e, como deu bem pra notar, eu estava em
boas mãos!
— O que veio fazer aqui, Tom? Não se sente bem?
— Na verdade, eu vim trazer Andrômeda até aqui, ela estava reclamando
de dor nas costas quando a encontrei no corredor. Ela falou o caminho todo que
Sophie a tinha empurrado com toda força e ela tinha caído. Isso é verdade?
— Bom, eu realmente me choquei com ela quando fui agarrar o Pomo, mas
não, não a empurrei. Eu apenas calculei errado meu impacto com ela, deveria ter
mergulhado alguns segundos antes. Se por algum motivo eu a machuquei, foi sem
intenção de fazê-lo.
Ele fez que sim com um movimento de cabeça e saiu, mas sua cara não
pareceu muito agradável, agora restava saber se era comigo ou com Andrômeda.
Mais tarde fomos jantar, e eu me sentei perto de Tom, o observando por
uns instantes e recebendo como resposta um meio sorriso, o qual eu retribui
instantaneamente.
O resto da noite foi tranquilo, meu ombro parara de doer e, ao final do
jantar, fui para a comunal, subindo as escadas devagar, já que não queria cair
duas vezes em um único dia. Entrei no meu dormitório e peguei algumas coisas
para tomar um banho. Saí e fui até o banheiro, onde fiquei por um bom tempo
debaixo do chuveiro quente, deixando a água correr por todo o meu corpo. Eu
precisava daquele momento relaxante, todos os meus músculos agradeceram por
aquilo.
Na volta para o dormitório, sem querer esbarrei em alguém. Quando me
levantei, enxerguei um par de olhos verdes profundos. Era Tom.
— Desculpe-me, eu estava distraída!
— Tudo bem, eu também estava...
Ele parou e me olhou de cima a baixo, foi então que eu me lembrei de que
estava usando um conjunto de pijama preto composto por uma blusa de alcinha e
um short curto, mostrando demais minhas pernas. Eu corei rapidamente com o
olhar dele, mas tentei me manter calma.
— Você está bem?
— O que?
— Você está bem? Não está mais com dor?
— Ah! Não, a pomada que Malfoy passou no meu ombro cortou a dor
depois de um tempo.
— Isso é bom, pelo menos está bem...

— Sophie! Como você está? — uma voz soou bruscamente perto de nós.
— Estou bem, Charles. Obrigada por perguntar!
Tom fechou a cara quando viu Charles, então me fitou novamente com o
olhar frio.
— Boa noite, Sophie. Deveria dormir, pode ajudar a se recuperar, além de
que realmente já está tarde.
— Está bem, então. Boa noite, Tom. Boa noite, Charles.
Dei tchau para os dois com a mão e subi as escadas. Um pouco antes de
perdê-los de vista, me virei e vi Tom falar alguma coisa a Charles, então continuei
a subir. Entrei e deitei-me, pegando no sono logo em seguida.