Uma semana havia se passado desde que eu chegara a Hogwarts. Eu
estava indo incrivelmente bem com o conteúdo das aulas, de acordo com os
professores, o que não era de se admirar, porque eu já tinha estudado em
Beauxbatons boa parte do conteúdo, além dos estudos extras que fizera durante
as férias.
Durante a semana toda fiz questão de mostrar minha capacidade,
respondendo a perguntas antes do Sr. Inteligente Riddle e muitas vezes
entregando trabalhos melhores ou ao mesmo nível dos dele. Ele parecia um pouco
irritado quando eu fazia aquilo, mas logo relevava e seguia o seu caminho, o que
era bastante estranho para mim.
Quando já era sexta-feira, esbarrei com Malfoy no corredor inclinado sobre
uma garota, quase beijando-a. Porém, quando me viu, se afastou e sorriu,
caminhando em minha direção e fazendo a garota que ele cercava segundos antes
me olhar irritada.
— Blanche, que surpresa agradável. Achei que estivesse ocupada
brincando de gato e rato com o Tom — ele disse rindo de canto. Neguei com a
cabeça também rindo e fiz uma expressão entediada.
— É tão sem graça brincar disso com o Tom. — Fiz um bico só para fingir
mais ainda. Malfoy deu uma gargalhada alta a respeito do que eu dissera.
— Ah, Blanche, só você mesmo — ele respondeu, se aproximando e
acariciando meu queixo de leve. O olhei um pouco confusa, mas Malfoy apenas
me encarou diretamente nas íris em silencio, sem se afastar.
— Ah... Aí está você — uma voz grave ecoou do fim do corredor. Afastei-
me de Malfoy rapidamente e virei-me para encontrar Riddle caminhando a passos
rápidos em nossa direção.
— O que quer? — perguntei, cruzando os braços e o encarando com uma
expressão de poucos amigos, Riddle riu de canto e me analisou da cabeça aos
pés.
— O professor de poções solicita que você vá à sala dele imediatamente.—
respondeu de forma cordial, voltando sua atenção a Malfoy, que agora parecia
meio sem jeito. Concordei com a cabeça.
— Vejo vocês mais tarde então, rapazes. — Fiz um leve aceno de cabeça e
os deixei sozinhos no corredor.
A sala de poções ficava no andar superior ao que estávamos, então tive
que subir um lance de escadas que me fez ficar meio ofegante. Quando virei o
corredor, avistei Andrômeda caminhando sozinha por ele. Ela parecia entretida
enquanto lia alguma coisa em um pergaminho, e aquilo me deixou confusa, nunca
pensara em Andrômeda daquela forma. Quando ela finalmente notou minha
presença ali, ajeitou sua postura mostrando falsa superioridade e, então, deu um
sorriso de canto enquanto me encarava da cabeça aos pés.

— Blanche... Onde você compra suas roupas, mesmo? Talvez numa
daquelas lojinhas trouxas... Como se chama? Ah, sim, num brechó? — ela soltou
com um tom de voz fino, que tinha a capacidade de me irritar ao soar de uma
simples frase.
— Não sei... Ele era da sua mãe? Porque se for é bem provável... — eu
disse sorrindo. Andrômeda me olhou irritada e começou a vir em minha direção,
mas uma porta se abriu com tudo, impedindo-a, e o professor de poções apareceu
sorrindo para nós. Ou para mim, especificamente.
— Srta. Blanche... Sabia ter escutado sua voz. Vamos, entre — ele disse
gesticulando animado para dentro de sua sala. Concordei sorrindo e entrei
rapidamente, o ouvindo fechar a porta logo atrás.
— Fiz algo de errado, senhor? — perguntei rapidamente, preocupada por
uma de minhas brincadeiras nos últimos dias terem sido, talvez, ofensivas demais
ao mais velho.
— Oh, não, não! De jeito nenhum, senhorita. Sente-se. — Ele apontou para
uma cadeira. Agradeci com a cabeça e me sentei de frente para sua mesa, o
encarando.
— Aceita uma xícara de chá? Talvez biscoitos? — ele perguntou me
olhando nos olhos. Parecia em dúvida com algo, o que apenas me deixou mais
curiosa ainda.
— Ah, não, senhor. Obrigada — neguei gentilmente sorrindo.
— Sei que pode parecer estranho eu solicitar sua presença assim, Srta
Blanche — ele iniciou me analisando cuidadosamente. — Como a senhorita deve
saber, eu possuo um clube particular, denominado Clube do Slugh, apenas para
os meus melhores e mais íntimos alunos.
Passou a mão pelo cabelo e sorriu nervoso, se levantando num salto. —
Meu clube nunca teve nenhuma mulher. Não porque sou machista, por Merlin,
não. —Ele parecia preocupado, uma fina camada de suor formando-se em sua
testa. —Acontece que nunca tive o prazer de conhecer uma bruxa tão inteligente
que merecesse entrar nele. Contudo, senhorita, suas habilidades são incríveis.
Ele sorria orgulhoso. Tirou um lenço de seu bolso e secou o suor de sua
testa. — Eu gostaria que participasse, Srta. Blanche, seria uma honra tê-la
conosco.
Olhei para o professor Slughorn, meio surpresa, jamais pensara em fazer
parte de grupo algum, principalmente um de tamanho prestígio como aquele.
— Professor...
Eu estava meio indecisa, minha ideia inicial não era ficar muito tempo em
Hogwarts, apenas o necessário, talvez seis meses até completar meu intercâmbio
e então partir. Mas aquela parecia ser uma oportunidade única, e desperdiçá-la
seria um erro.
— Seria uma honra para mim, senhor — disse feliz. O professor de poções
abriu um enorme sorriso e concordou com a cabeça, animado.

— Excelente. Essa é minha garota! — ele bateu palmas, entusiasmado.
—Teremos um encontro esta noite no meu escritório às vinte horas. Vista-se
formalmente, senhorita — completou, apontando para a porta.
— Estarei aqui — respondi com um aceno de confirmação.
— Nos vemos mais tarde. E antes que eu me esqueça... — Slughorn me
encarou com seriedade no rosto. — Pude perceber que você tem andado próxima
de Tom ultimamente.
Olhei para o professor, confusa, arqueando uma sobrancelha.
— Desculpe, senhor, como? — perguntei como se não tivesse ouvido
direito o que ele dissera.
— Você conseguiu a atenção de Riddle com o pouco tempo que tem estado
por aqui conosco. Por favor, continue, senhorita. Creio que você possa ser uma
excelente companhia para ele.
Parecia haver algo mais por detrás daquilo, mas eu não fazia ideia e
poderia ser somente algo da minha cabeça. Concordei, me levantando e
caminhando até a porta.
— Tudo bem, professor. Até mais tarde.
— Até mais, senhorita.
A porta foi fechada logo atrás de mim, e eu me vi sozinha no corredor,
ainda em êxtase devido ao convite. Sorri animada e segui meu caminho de volta
para a comunal.
Passei as aulas completamente ansiosa, tanto que não consegui prestar
atenção direito. Riddle me olhava de forma curiosa, talvez sem entender o motivo
de eu estar tão inquieta em meu lugar e não ter erguido a mão em momento algum
durante as aulas.
Quando as aulas do dia chegaram ao fim, Riddle me cercou saindo pela
porta da sala de Defesa Contra as Artes das Trevas. Ele me empurrou contra a
parede e me manteve no lugar segurando meu ombro com força.
— O que está fazendo? — perguntei, um pouco irritada com o
comportamento do garoto.
— O que Slughorn queria com você? — questionou me encarando
fixamente.
— Nada de mais — menti, dando de ombros. Riddle me olhou por mais
alguns segundos e então me soltou.
— Tudo bem — sussurrou baixinho e deu as costas, retomando seu
caminho.
— Tom! — aquela voz fina e irritante de novo.
Revirei os olhos e segui a direção da qual a voz vinha. Andrômeda corria
em direção a Tom sorrindo, trazia consigo uma carta, provavelmente feita por ela
mesma, já que o envelope tinha alguns desenhos bobos de corações que

explodiam como fogos de artifício e soltavam faíscas coloridas antes de voltarem
ao normal.
Tom parou no meio do corredor e observou a loira se aproximar.
Andrômeda perdeu o equilíbrio e tentou se agarrar a ele para manter-se de pé,
contudo, o moreno deu um passo para o lado e a deixou cair de joelhos no chão.
Minha boca formou um "O" perfeito devido à surpresa.
Andrômeda sorriu, fingindo que nada havia acontecido, e ainda de joelhos
estendeu a carta para Tom, que a olhou com uma expressão estranha.
— É pra você, Tom.
Riddle encarou o envelope nas mãos da garota.
— O que é isso? —perguntou, pegando o papel de sua mão.
— Fiz pra você. — Andrômeda parecia envergonhada, suas bochechas
ganharam um tom rosado, e ela passou a mão pelo cabelo, colocando uma mecha
atrás de sua orelha. — Escrevi algo, que você deveria saber — sussurrou
cabisbaixa.
Riddle soltou um riso nasal e jogou a carta, com desprezo.
— Não, obrigado — sua voz era fria. Ele deixou-a lá, jogada no chão, e se
foi sem sequer olhar para trás. Andrômeda recolheu a carta e a rasgou com raiva.
— An-Andrômeda... — sussurrei me aproximando.
— Deixe-me em paz, Blanche.
Ela me olhou com raiva e jogou os pedaços que sobraram de sua carta no
ar. Esses se incendiaram, fazendo-me dar um passo para trás. Andrômeda se
levantou, só então percebi que seus olhos estavam cheios de lágrimas.
— Sinto muito — disse, sem nem saber o motivo. Ela deu um riso
anasalado e me olhou com deboche.
— Poupe-me — cuspiu a palavra e se foi também. Fiquei encarando os
pedaços de papel pegando fogo até que restassem somente suas cinzas.
Suspirei pesadamente e segui meu caminho para a comunal. Não estava
muito no clima então não fui jantar, simplesmente me joguei na cama e
provavelmente cochilei enquanto esperava o horário do clube. Acordei com a
porta sendo aberta e um grupo de garotas entrando aos risos no quarto, elas
pediram desculpas e voltaram a conversa quando me levantei.
Tomei um banho e vesti um dos meus vestidos menos chamativos. Ele era
azul escuro e ia até os joelhos, tinha um cinto preto na cintura que formava um
laço perfeito nas costas, seu corpete era justo e tinha algumas pedrinhas negras,
suas mangas iam até o ombro e caiam levemente por meus braços, deixando
parte da minha clavícula à mostra.
Eu não tinha o costume de usar maquiagem, mas achei que seria
interessante tentar. Passei uma leve sombra cinza escuro em meus olhos e optei
por um gloss labial com sabor de morango que deixava meus lábios levemente

rosados. Prendi meu cabelo em um coque frouxo, deixando alguns fios caídos.
Olhei-me no espelho brevemente. Mesmo arrumada daquela forma, eu parecia
pálida. Suspirei, levando minhas mãos às minhas bochechas, beliscando-as com
força. Observei enquanto elas ganhavam um tom rosado, sorri satisfeita e calcei
meus sapatos de saltinho baixo negro. Talvez eu estivesse exagerando, mas
nunca havia ido a uma daquelas reuniões e queria dar uma boa impressão.
Saí do dormitório meio atrasada e acabei esbarrando em Tom, que me
olhou irritado, mas logo suavizou a feição. Ele pareceu surpreso.
— Srta. Blanche — ele disse, acenando com um gesto de cabeça. Olhei-o
da inteiramente, vestia um smoking negro bem cuidado e sapatos lustrosos.
— Sr. Riddle. — Devolvi o aceno sem olhar diretamente em seu rosto.
Riddle sorriu.
— Então você foi aceita para o clube? — sua voz tinha um tom de
descrença. Encarei-o, irritada com sua forma de falar.
— Sim, tem algo contra isso, senhor? — perguntei, cruzando os braços.
— De modo algum, senhorita. Apenas estou surpreso, nunca pensei que a
veria deste jeito —sussurrou, analisando cada parte do meu vestuário. Franzi a
testa.
— Assim? Assim como, Sr Riddle?
Ele sorriu de canto.
— Você está bonita hoje, Sophie. Estamos atrasados. — Ele passou por
mim, saindo da comunal.
— Hoje? Só hoje? — disse a mim mesma, incrédula. Batendo os pés, deixei
a comunal da Sonserina para caminhar à sala pessoal de Slughorn seguindo Tom
a certa distância. Quando ele chegou à porta, parou e me encarou.
— Ora, ande logo, Sophie. Não temos a noite toda, e eu não mordo. — Um
sorriso brotou em seus lábios, exibindo uma fileira perfeita de dentes bem
cuidados. Ele deu três batidas na porta e aguardou enquanto alguém a abria.
— Boa noite — Riddle sussurrou, acenando com a cabeça para o rapaz
ruivo que abrira o lugar para ele. Colocou a mão em minhas costas e praticamente
me empurrou para dentro da sala.
Olhei ao redor rapidamente, vendo o local com alguns sofás, estantes, uma
lareira ao canto e um toca discos que tocava uma música suave a qual eu
conhecia. Uma enorme mesa estava posta em um canto para várias pessoas, que
já se encontravam sentadas ao seu redor conversando. Todos homens, com
exceção de mim.
Slughorn se levantou sorrindo e abriu os braços, vindo em nossa direção.
— Ah, aqui estão meus prodígios de ouro. — Envolveu Tom num abraço
apertado, que deixou o moreno meio sem jeito. — Estava começando a achar que
vocês não viriam.

Sorri meio sem graça quando o professor voltou sua atenção para mim.
— Oh, a senhoritaestá incrível — ele disse me encarando encantado.
Pegou minha mão e depositou um beijo nela, a acariciando em seguida.
— É um prazer tê-la em nossa escola, principalmente neste clube — ele
sorriu me olhando nos olhos, havia um certo brilho de doçura nesses. — Por favor,
sentem-se. Já íamos começar sem vocês — completou meio envergonhado e
voltou ao seu lugar enquanto eu e Tom caminhávamos até os dois lugares vagos
postos um ao lado do outro no canto direito da mesa.
Acomodei-me em silêncio. A maioria dos olhares ali nos encaravam, talvez
por eu ser a primeira mulher a participar daquele grupo ou pelo fato de Tom
parecer relaxado demais e lançar constantemente um olhar de deboche aos
demais na mesa.
Jantamos tranquilamente enquanto os alunos contavam alguma experiência
de suas férias. As poucas vezes em que Tom dizia algo era quando lhe
questionavam, caso contrário, ele se mantinha entretido com sua comida, e eu
achei sábio fazer o mesmo. Quando a sobremesa finalmente chegou, eu já me
sentia completamente satisfeita, mas ao ver que se tratava de sorvete, não pude
resistir. Acabei dando-lhe uma colherada grande e enchendo a boca.
— Então, Srta. Blanche... De onde vem? — Um dos rapazes sentado na
outra extremidade da mesa perguntou enquanto me encarava com um sorriso de
canto. Levei um tempo até conseguir terminar o sorvete em minha boca e, quando
o fiz, parecia que os demais haviam desistido da resposta.
— Sou da França. Estudei em Beauxbatons antes de vir para cá. Estou
apenas fazendo um intercâmbio temporário — disse, me encostando na cadeira,
sorridente.
— E o que seus pais fazem, senhorita? — foi a vez de um garoto loiro a
poucos metros perguntar. Todos na mesa olharam para ele, incrédulos.
— Cara, a família dela doma dragões... Todo mundo sabe disso — garoto
ao lado disse de forma brusca, revirando os olhos.
— Sim, minha família doma dragões. É algo perigoso, mas do qual a
gerações fazemos... Está no nosso sangue. Adoramos os dragões — respondi
com um sorriso de canto enquanto encarava meu sorvete, que agora derretia no
pote de vidro à minha frente.
— Sua família é pura? Quer dizer, o sangue de vocês é puro?
Olhei para o garoto responsável pela pergunta e o fuzilei com os olhos. Ele
abaixou a cabeça e voltou a comer seu sorvete.
— Sim, minha família tem o sangue puro a milhares de gerações — disse,
me levantando nada delicadamente.
— Acho que acabei por aqui, senhores. Tenham uma boa noite. — Não me
dei ao trabalho de esperar uma resposta ou algo assim, simplesmente saí da sala,
fechando a porta com força, e voltei ao meu dormitório, de onde eu não deveria ter
saído.