No outro dia, Sasuke se levantou cedo, como de costume. Isso não queria dizer que ele estava exatamente descansado, mas não conseguia voltar a dormir depois de abrir os olhos. E, também, não poderia ficar na cama até tarde, por exemplo, por mais que naquele dia tivesse pensado muito a respeito.

Não fazia muito desde que dividira a cama com outra pessoa. Sai havia dormido com ele, do seu lado, mas cada um havia respeitado o espaço do outro; bem, pelo menos era assim que se lembrava, tanto que havia dormido muito bem. Dessa vez, ele se sentiu como se tivesse dividido a cama com Naruto; na verdade, era pior do que aquilo.

Por mais que o quarto do garoto já estivesse pronto o suficiente para que ele dormisse nele, o pequeno insistiu em dormir no de Sasuke. Dividiram a cama e ele se lembrou de como havia pensado que não seria tão ruim. Quão inocente ele foi. Além do pequeno Uchiha dormir como uma estrela, braços e pernas o mais aberto que ele parecia conseguir, ele teve pesadelos a noite toda. O mais velho não conseguia contar nos dedos a quantidade de vezes em que fora acordado de um cochilo por um grito de pânico.

Ele foi em direção a cozinha, enquanto o filho ainda dormia, aparentando tranquilidade enquanto roncava baixinho. Filho. Era uma palavra estranha para se pensar, mas ele teria que se acostumar se realmente estivesse disposto a adotar o garoto. Bom, ele estava. Não lhe restava mais dúvidas. Por mais que tivesse dormido pouco e enfrentado dificuldades para lhe dar banho e comida, ele não estava achando a experiência tão desagradável assim.

O cheiro de café parece ter despertado TenTen. Ela dormiu no quarto que haviam preparado, no fuuton que havia sido comprado no dia anterior para a criança. Gai e Lee tinham ido embora no fim do dia, depois do time entrar em acordo de que já estavam há muito tempo parados, sem treinar. O garoto era uma preocupação; na verdade, a preocupação maior era com os olhares curiosos das pessoas da vila assim que o vissem. Alguns dos mais velhos poderiam facilmente reconhecer o pequeno Sasuke e então não seria muito difícil eles ligarem aquilo a Orochimaru. Por enquanto, era melhor que ficassem escondidos, pelo menos até que o pequeno parecesse mais confortável com tudo.

Sendo assim, o time combinou de que fariam revezamento para treinar: Lee e Gai ficariam juntos, obviamente, era impossível que ficassem separados. Quando fosse a vez de Sasuke e TenTen, os outros dois cuidariam do pequeno, de forma que ele nunca precisasse sair da casa. Era um ótimo plano, mas temporário; não poderiam fazer aquilo para sempre.

O moreno estava fazendo o café quando a kunoichi entrou no recinto. Ela deu um grito de surpresa assim que ele se virou.

“O que aconteceu com você?” TenTen perguntou, um pouco assustada. Nunca havia visto o amigo daquele jeito, ele parecia tão… acabado era pouco para o que seus olhos viam. “Você passou a noite em claro?”

Sasuke bufou, deixando claro que seu humor não estava dos melhores.

“O que você acha?”

“Não acredito que estou tendo o vislumbre do velho Sasuke a essa hora da manhã.” Claro, o temperamento do companheiro de time não havia se alterado tanto baseado no que se lembrava dele quando ainda eram adolescentes, mas já fazia algum tempo desde que havia escutado aquela voz de deboche.

“Hunf, tanto faz.” Ele mal tinha paciência para uma conversa de manhã em condições normais, imagine naquela situação. Não que fosse uma grande coisa passar a noite em claro; fazia isso o tempo todo quando estavam em uma missão em que era necessário. Podia até dizer que lidava bem com isso. Mas aquele não era o caso. Em uma missão, ele sabia que passaria a noite acordado, então sua mente já estava preparada.

No entanto, na noite anterior, claro, o primeiro grito o assustou, ainda mais Sasuke que tinha um sono bem leve. Ele conseguiu acordar o menino, que também parecia ter sono leve, e acalmá-lo. Então, ele achou que poderia dormir novamente e que o episódio não se repetiria. Na quinta vez que acordou repentinamente, ele devia ter percebido que seria daquele jeito a noite toda e ficado acordado de uma vez. Mas ele foi teimoso. Ele continuou tentando dormir e esse foi o motivo de estar tão cansado. Os pequenos cochilos que deu foram piores do que se não tivesse fechado os olhos.

“Então… parece que você está tendo a experiência completa de ser pai.” TenTen apontou, com um sorriso doce. Sasuke, sendo pai, primeiro do que todos os seus outros amigos. Isso com certeza não era algo que ela havia imaginado.

“É, parece que sim.” Ele respondeu, vago, concentrado em fazer o café da manhã para eles. “Você conseguiu dormir?”

“Por que eu não teria conseguido?” O moreno parou tudo o que estava fazendo e a encarou com uma expressão de incredulidade, como se não acreditasse que ela estava perguntando aquilo.

“Você não ouviu os gritos?” Ela estava no quarto ao lado; como não havia ouvido a voz desesperada da criança? TenTen deu de ombros, bem, pelo menos de uma coisa ela poderia se gabar, assim que dormia, ainda mais considerando quão cansada estava, era difícil que algo a acordasse.

“Você sabe que eu não costumo acordar tão fácil.” A Mitsashi disse, com simplicidade. Ele continuou encarando-a, cético.

“Não é essa a questão. TenTen, a voz dele estava realmente alta.” Bem, o que mais ela poderia dizer que ele já não soubesse? Que dormia como se tivesse morrido? Ela realmente não estava indo dizer as palavras. Sasuke suspirou e voltou sua atenção ao que estava fazendo, tendo dificuldades em acreditar que os gritos do pequeno não haviam a acordado. Soava como um sonho.

Ela olhou em volta, percebendo que a criança parecia ainda estar dormindo.

“Ele ainda não falou?” Perguntou, cautelosa. Haviam se passado quase dois dias inteiros e ela ainda não havia ouvido uma palavra que fosse vinda da boca dele. Sasuke negou com a cabeça, dando um novo suspiro.

“Nada.” Ele aparentou preocupação. Algo no experimento podia ter dado errado e aquela parte não ter sido desenvolvida.

“Você não acha que…” TenTen começou, uma ideia começando a se formar em sua cabeça. Bom, considerando que não tinham nada em mente, qualquer coisa poderia ajudá-los. “Você lembra que o pai da Ino podia entrar nas mentes das pessoas e saber o que aconteceu?”

Sasuke negou; ele não fazia ideia. Não conhecia muito bem os Yamanaka e não era tão próximo de Ino. Também, esteve fora da Vila da Folha durante um longo tempo. Quando voltou, não era o tipo de informação que ele queria saber; e nem o tipo de informação que as pessoas estavam dando.

“Ele não morreu na guerra?”

“Bom, sim.” O Uchiha estava longe de saber aonde a amiga estava querendo chegar com aquele tipo de pensamento. “Talvez a Ino também saiba fazer aquilo?”

“Você quer dizer a Ino entrar na cabeça dele para saber o que aconteceu enquanto ele estava com Orochimaru?” Não sabia se era uma boa ideia. O garoto já não parecia traumatizado o suficiente?

"Foi só uma ideia. Acho que não custa tentar, já que ainda não temos nenhum plano."

Sasuke se sentia muito frustrado por ainda não ter bolado um plano. Claro, ele havia pensando em falar com Orochimaru, mas mandou isso para o fundo da sua mente assim que se lembrou de que detestava o antigo mestre com todas as suas forças. Então, não, falar com um dos sennins lendários não era uma opção. Talvez a ideia de TenTen não fosse tão absurda assim. De qualquer forma, não tinham muitas opções.

"Sasuke, se você quiser eu posso falar com ela. Com a Ino. Pra saber se esse negócio de entrar na mente é perigoso."

"Não..." Ele falou, com um tom de voz que parecia que a frase ainda não havia chegado ao fim. A morena esperou ouvir mais alguma coisa, mas ele só ficou encarando o nada, e isso a irritou. Paciência não era o seu forte.

"Não? Então… o que você tem em mente?"

“Não, TenTen, talvez seja uma boa ideia. Mas você não precisa ir falar com ela. Acho que devo ir eu mesmo.” A responsabilidade da criança era toda dele, afinal de contas. Como poderia simplesmente jogar isso para a amiga?

“Sim, mas…” Ela começou e Sasuke a olhou, enquanto terminava de pôr a mesa. A kunoichi parecia envergonhada, daquela forma que ele sabia que era difícil que ela ficasse, de modo que isso o deixou preocupado por um instante.

“O que há de errado?”

“Eu e a Ino somos mais amigas, acho que seria mais fácil se eu falasse com ela...” TenTen abaixou a cabeça, imaginando que estivesse ficando vermelha de vergonha. Ela era uma péssima mentirosa, sua expressão sempre a denunciava. Amigas era uma palavra forte demais para a relação que ela tinha com a Yamanaka. Elas se cumprimentavam por educação e era muito raro que conversassem a não ser que estivessem na presença de outras pessoas. Ela levantou os olhos quando não ouviu nenhuma resposta e pôde contemplar a expressão de impaciência do amigo, como se ele esperasse que ela chegasse a alguma conclusão. "Eu não sei se ela vai aceitar muito bem isso…"

"Acha que ela não vai querer falar com ele?" Sasuke não conhecia a loira muito bem, nem ao menos sabia o que iria falar quando estivesse cara a cara com ela. Mas ele não sentia medo. Ele havia feito uma escolha em relação à criança e se isso significasse que ele teria que enfrentar alguém para isso, bem, ele poderia fazer algo assim. Já havia fugido da vila, matado o irmão, lutado uma guerra… não poderia ser tão difícil assim, não é?

"Acho que ela não vai querer falar com você." Por mais que Ino fosse simpática, e claro que ela era na frente de todo mundo, ela também poderia ser bastante rancorosa. Se Sakura, que conhecia o moreno melhor, tinha tido dificuldades em aceitá-lo, imagine Ino. TenTen estava receosa que ela expulsasse Sasuke na base dos tapas.

O moreno levantou as sobrancelhas, aparentando estar surpreso com a fala. Ele quis rir, porque estava claro que seu time havia se esquecido de algumas das características da sua personalidade. Parece que eles simplesmente haviam esquecido que ele não se importava muito com as coisas no geral. Deu seu melhor olhar cético para ela. "Isso já foi um problema algum dia?"

TenTen ficou surpresa. Durante todo o tempo em que Sasuke estava morando na vila novamente, fora o dia em que ele ouviu palavras cruéis de Naruto na missão anterior, ela nunca o viu parecer chateado com o que as pessoas falavam dele, mesmo que ela tivesse certeza que ele estava ouvindo.

Não, é claro que nunca tinha sido um problema porque ele não se importava o suficiente com o que os outros estavam falando. Já admirava o companheiro, mas aquela atitude aumentou os pontos dele com ela. Ele nunca fugiria da responsabilidade, independente do que significasse enfrentar. Bom, nem tudo sobre o velho Sasuke era tão ruim assim.

“Tudo bem, você quem sabe. Eu acho que ela deve estar na floricultura a esta hora.” Ele não disse nada e saiu para o quarto. TenTen deu de ombros, começando a comer. Era engraçado como Sasuke fazia uma comida gostosa. Bem, ele passou um bom tempo da vida sozinho, tendo que cuidar de si mesmo, então meio que fazia sentido. Era bom que ele soubesse cozinhar, assim poderia alimentar o filho. Ela riu imaginando que se o Uchiha fosse como Naruto, eles estariam em apuros. A criança teria que comer rámen em todas as refeições; era a única coisa que o loiro sabia preparar.

A Mitsashi quase engasgou quando viu o moreno voltar a cozinha com sua vestimenta habitual, com a capa e tudo.

“Aonde você vai?” Ele a encarou como se ela estivesse fazendo uma pergunta muito estúpida.

“À floricultura. Conversar com a Ino.”

“Você não vai comer?”

“Você já não sabe que eu não costumo tomar café da manhã?” Ela soltou uma risadinha, envergonhada. Claro. Sua cabeça não parecia estar funcionando muito bem naquela manhã. “Vai ficar tudo bem se você ficar sozinha com ele?”

Sasuke fez um gesto de cabeça para o quarto. Ele havia trocado de roupa e parado para verificar se o menino estava bem. Ele ainda dormia, na mesma posição que estava quando ele tinha saído do quarto mais cedo. Parecia estar tudo bem e era um ótimo sinal que ele finalmente havia conseguido ingressar em um sono sem aqueles pesadelos que o acordaram a noite toda.

“Ah, claro.” A morena bufou, parecendo indignada que ele estivesse subestimando sua capacidade de cuidar de uma criança. “Nós vamos ficar bem, você não precisa se preocupar.”

Confiando que bem significaria que eles estariam em casa, longe da vista de todos e fazendo qualquer outra coisa, provavelmente no jardim, que já estava pronto, Sasuke saiu. Ele caminhou calmamente pela vila. A floricultura do clã Yamanaka não ficava longe de onde era sua casa, mas ele precisava caminhar cerca de cinco minutos.

Olhou ao redor, pensando no quanto sua vida havia mudado em uma quantidade de tempo tão pequena. De repente, ele tinha um filho, que, inclusive, ainda precisava de um nome. Uma criança que tinha dificuldade pra dormir e só Kami sabe o que havia passado nas mãos de Orochimaru. Que tinha medo de tomar banho, que ainda estava aprendendo a comer e que sempre ficava seguindo-o com os olhos, como se tivesse medo de que ele desaparecesse a qualquer momento. De repente, ele era pai. Pai.

Como TenTen disse, tendo as experiências completas: de cozinhar para alguém todos os dias, mesmo que ele mesmo não fosse comer; de acompanhar no banho; de se preocupar ao estarem separados; e, não podia esquecer, de acordar no meio da noite e não conseguir dormir direito. Ele riu, experimentando uma sensação totalmente nova. E boa, uma sensação boa. Esperava que, onde quer que estivessem, seus pais e Itachi pudessem se orgulhar dele.

Sasuke parou de andar, lendo para o letreiro e vendo o nome Yamanaka. O lugar parecia calmo e ele disse a si mesmo que aquilo era necessário. Independente de quanto ódio ele fosse receber de Ino, e lembrando o quando ela era enérgica ele com certeza iria acabar com ele. Lembrou a si mesmo de que estava fazendo aquilo por um bem maior e entrou a passos calmos.

A loira estava sozinha no recinto, de costas para ele, aguando as plantas. Ele fez um barulho com a garganta, chamando a atenção. O Uchiha viu a loira se virar com um sorriso, que morreu no momento em que ela percebeu quem era.

“Em que posso ajudá-lo?” Claro, o moreno sabia que aquilo ia ser difícil. Por que foi mesmo que ele não deixou TenTen fazer todo o trabalho? Ah, aquela merda de responsabilidade da qual ele tanto se orgulhava. Ele estava prestes a responder, quando ela, aparentando estar furiosa, largou o regador de qualquer jeito no chão e apontou o dedo para o seu peito. “Quero dizer, quem você acha que é para simplesmente aparecer aqui desse jeito?”

“Eu não estou aqui para brigar com você.” O moreno falou calmamente, o que só pareceu estressá-la ainda mais. Naquele momento, Sasuke se sentiu sortudo por ter sido realocado para o time de Gai. TenTen era uma mulher difícil, ele sabia bem, e por mais que ela tivesse ataques de raiva com frequência, ela sempre soubera ouvir. Não parecia que Ino estava indo fazer o mesmo.

“Então, para o que exatamente você está aqui? Se você tá achando que vai ser tão fácil ter o meu perdão…” Ele quis rir, porque não estava nem aí para o perdão dela. Ino poderia odiá-lo o quanto quisesse, desde que ela pudesse ajudar a criança.

“Ino, eu preciso da sua ajuda.” A loira pareceu chocada que justo aquelas palavras estivessem saindo da boca de ninguém menos que Sasuke Uchiha. Sasuke, que sempre fora o garoto mais popular da academia. Sasuke, que tinha boas notas e se achava superior a todos. Sasuke, que nunca, nunca pedia ajuda. Isso foi chocante o suficiente para deixá-la quieta por um instante. Um pequeno instante, no qual ela se lembrou do porque ela não gostava dele: ele deixou a vila e fez com que todos os seus amigos sofressem. E ele se divertiu com aquilo. Bufou, com raiva. Que se danasse se ele precisava de ajuda.

Ela estava prestes a começar a gritar todas as piores coisas que conseguia pensar para ele quando Sasuke olhou dentro de seus olhos e pronunciou as palavras que fizeram com que tudo mudasse.

“É o meu filho. Eu preciso de você para ajudá-la.”

Quando o moreno finalmente conseguiu acalmar a Yamanaka o suficiente para fazê-la escutar, ele não parou de falar, temendo que, se o fizesse, ela voltasse a ficar com raiva e viesse a atacá-lo de forma descontrolada. Contou a ela toda a história, de como o garoto havia parado em sua vida, sobre seu medo de tomar banho, sobre os pesadelos e os gritos da noite anterior. Contou também que havia sido ideia de TenTen ir até ela, imaginando que ela poderia ajudá-los entrando na mente da criança.

Ino ouviu tudo estupefata. Ela não tinha palavras para descrever aquela situação e, mesmo se tivesse, teria dificuldade em pronunciá-las. Então, ela deu toda a sua atenção ao Uchiha, surpreendendo-se com o motivo real pelo qual ele estava ali. TenTen havia contado sobre o dom de seu pai e acreditado que ela poderia fazer o mesmo. Claro, atualmente era a melhor ninja de seu clã, a mais habilidosa viva, e mentiria se dissesse que não havia tentado um par de vezes aquela coisa de entrar na mente das pessoas, que Inoichi fazia. Mas não poderia dizer que estava tendo sucesso em dominar aquela técnica.

Quando o Uchiha finalmente parou de falar, a loira o surpreendeu com um abraço. Ele ficou estático, pasmo, enquanto ela apertava os braços em torno dele, parecendo feliz. Abraçando-o daquele mesmo jeito que Gai, Lee e TenTen faziam, a ponto de deixá-lo bastante constrangido; não era segredo para ninguém que ele e contato físico com a maioria das pessoas não se davam muito bem.

“Ah, Sasuke-kun, você é um amor. Eu sabia que no fundo você era sensível.”

Um pigarro chamou a atenção de ambos, fazendo com que Ino o livrasse daquele abraço. Sasuke se virou, dando de cara com Sakura e Sai. Uma pontinha de medo tomou seu corpo. Ele não esperava encontrar o moreno tão cedo e muito menos ali. De repente, as palavras de TenTen ecoaram em sua mente, quando ela questionou se Sai não merecia saber sobre a criança. Sim, ele merecia, mas aquela era uma péssima hora. Sasuke contaria quando tudo estivesse resolvido.

“Sakura-chan, Sai-kun. Que bom ver vocês aqui! Vocês não vão acreditar no que o Sasuke-kun acabou de me contar…” Sasuke suspirou quando Ino começou a falar. Lembrou que ela era a namorada de Kiba. Para que ela pudesse suportar o Inuzuka minimamente, ela precisaria ser tão fofoqueira quanto ele. Ou talvez pior.

“Ino.” Ele a cortou, tendo dificuldade em não parecer ríspido. A kunoichi voltou seus olhos azuis para eles e percebeu o que estava deixando-o descontente.

“É segredo? Desculpe, não sabia.”

A último coisa que Sai esperava presenciar quando Sakura o chamou para acompanhá-la até a floricultura Yamanaka foi ver Sasuke e Ino se abraçando. Ele ficou feliz quando o Uchiha lhe deu o mínimo de satisfação ao sair no dia seguinte a terem dormido juntos. Imaginou que o outro fosse procurá-lo, ou algo assim, mas então ele havia ficado dois dias inteiros sumido. Sai tentou se convencer de que ele provavelmente estava muito ocupado com as missões, mas vê-lo ali, dentre todos os lugares, fez com que ele se questionasse se o ex-nukenin não estava apenas evitando-o. E aquilo doeu em seu peito.

O Shimura não havia esquecido que a conversa deles não havia tido fim. Ainda não haviam definido o que eram e isso o deixava bastante frustrado. Não queria cobrar nada, mas ele também não gostava daquela sensação de não saber como abordar Sasuke. E então ele de repente estava tendo segredos com Ino? Uma pessoa com quem ele nem mesmo falava? Sai tinha inúmeros motivos para estar bastante chateado e não fez questão de esconder sua expressão nada boa.

Sakura estava longe de entender tudo o que estava acontecendo ali (Sasuke e Ino se abraçando, desde quando ele se falavam?), mas havia uma coisa que ela entendia muito bem: que os dois morenos presentes estavam tendo algum tipo de relação que ela ainda não sabia definir e, pela expressão de seu companheiro de time, aquilo não estava indo muito bem. Ela se lembrou de Naruto fofocando em seu ouvido na festa de Kiba que Sasuke e Sai estavam se pegando na cozinha, o que a deixou bastante surpresa.

“Ei, Ino-porca, eu preciso de ajuda para escolher uma flores para o aniversário da minha mãe.” A kunoichi de cabelos róseos enganchou seu braço com o da amiga e puxou-a para longe dos homens. A loira pareceu confusa, mas deixou ser levada. Enquanto era arrastada, a Haruno a ouviu gritando algo como “Me espere, Sasuke-kun, assim que eu terminar eu vou com você sim.”. Sakura estava longe de entender o que significava, mas ela também não se importava muito. As fofoquinhas sempre a irritaram.

Sasuke suspirou, vendo as duas kunoichis se afastarem, deixando-o sozinho com Sai, que era tudo o que ele menos queria naquele momento. Olhou-o, tentando pensar em alguma solução para sair daquela situação. Pensou em ir embora, mas ainda teria que esperar Ino. Isso o deixou irritado.

“Ei.” Falou, só para quebrar aquele clima pesado que havia se instalado. Não havia como escapar daquilo, então lidaria da melhor forma possível. O outro demorou a responder, com uma expressão de chateação em seu rosto.

“Oi. Você sumiu.” O Uchiha quis dizer que não se verem por alguns dias não era exatamente o sinônimo de um sumiço, mas ficou quieto, lembrando-se de que ele prometeu que conversariam no dia seguinte a dormirem juntos, o que, infelizmente, não havia acontecido, já que Gai havia aparecido e, desde então, a situação havia se transformado na atual.

“Eu estive ocupado.” Sasuke respondeu, de forma evasiva e Sai não pôde acreditar que ele estava realmente dizendo aquilo. Ele estava tão ocupado que teve tempo de fazer uma visita para Ino? Conta outra. Ele deu um sorriso, apesar de não estar achando nada engraçado. Esperava que o outro pudesse sentir o deboche em seus atos.

“Sei…”

“Ouça, nós precisamos conversar.” O Uchiha estava dividido entre lembrar-se que se sentia bem quando estava com Sai e odiar-se por ter se permitido iniciar aquele relacionamento. Na maior parte das vezes era confuso e eles pareciam brigar na maior parte do tempo juntos. Normalmente, ele estaria com mais paciência, mas depois da péssima noite de sono que havia tido, ele não estava lidando muito bem com todo aquele estresse. Então o jeito desinteressado de Sai só o fez ficar mais irritado ainda.

“Pode falar. Estou ouvindo.”

“Não, Sai, não aqui e não agora. Olha só, para com isso, tá?” O mestre dos desenhos quase não acreditou nas palavras que saíram da boca dele, principalmente falando naquele tom que mostrava que ele estava longe de estar calmo. Sasuke estava com raiva? Com que direito?

“Parar com o quê?” Falou, um pouco mais alto.

Vendo que não chegariam a lugar nenhum daquele jeito, o moreno do Sharingan passou a mão pelos cabelos e fechou os olhos com força. Talvez ele devesse tirar um cochilo mais tarde. Com certeza isso melhoraria seu humor.

"Sai, eu realmente estou muito cansado e não estou com vontade de brigar com você. As coisas estão complicadas agora e eu quero lhe explicar, mas não aqui e não agora. Nós podemos nos encontrar depois?"

Aquilo fez com que o ex membro da extinta Raiz ficasse mais calmo. Ele assentiu com a cabeça, ouvindo a voz de Sakura e Ino ficarem mais próximas.

"Que tal amanhã?" Sasuke sugeriu, satisfeito que eles haviam parado de discutir.

"Amanhã tenho treinamento."

"Eu posso ir encontrá-lo quando acabar." Imaginar o Uchiha buscando-o no treino para uma espécie de encontro foi uma visão que gostou de ter. Concordou, já se sentindo ansioso. Achou engraçado como já não se sentia mais com tanta raiva. Ele nunca fora de deixar os sentimentos irem tão rápido, mas parece que em seu envolvimento amoroso essa regra não se aplicava.

"Vamos, Sasuke-kun, eu já estou pronta." Ino soltou de Sakura e enganchou seu braço com o de Sasuke. A kunoichi de cabelos róseos riu. Conhecia o suficiente da amiga para saber que, por mais que a Yamanaka estivesse saindo com Kiba, é claro que ela não ia perder a oportunidade de tirar uma casquinha de Sasuke, agora que ele, por algum motivo ainda desconhecido, havia permitido a aproximação dela.