Into my home
Maldição
Pela forma como Regina estava dirigindo, a única coisa que a impedia de atropelar alguém era a sorte de ninguém ter se metido em seu caminho. Ela estacionou de qualquer jeito com os pneus cantando em frente à escola, bateu a porta do carro e saiu marchando em direção à secretaria. Quando a mulher de cabelos escuros e olhos flamejantes abriu as portas duplas de vidro, a pobre recepcionista encolheu-se.
— Quem saiu com o meu filho?— Gritou Regina.
— Senhora, ele saiu com uma mulher loira, achei que fosse mãe dele…
— É só isso que basta para raptar uma criança?!— A mãe furiosa se debruçou sobre o balcão, olhou para os olhos da funcionária e disse em um tom baixo e grave. - Me fala agora como foi que isso aconteceu ou eu corto a sua língua fora para garantir que você nunca mais vai ter a oportunidade de falar de novo.
— Ele- Ele teve febre. Aí eu perguntei o número da responsável pra buscar ele e ele chamou essa moça. Emma…
Regina arregalou os olhos e bateu no balcão, fazendo a mulher atrás dele se retrair ainda mais.
— Emma?!
Ela não pensou duas vezes antes de virar-se de costas e deixar o ambiente com o sobretudo voando atrás de si. Ao entrar no carro, Regina discou o número em seu celular com uma mão enquanto dirigia com a outra, confiando mais em seus instintos do que em seu juízo. A mulher jurou para si mesma que, assim que soubesse que Henry estava em segurança, iria transformar o coração de Emma Swan em pó.
— Olha! Olha! - Gritou Henry. - Ele tem uma manchinha de coração na testa!
O garoto estava cercado de filhotes de cachorrinhos que o cheiravam e tentavam brincar com os cadarços da criança. Emma ria observando o garoto tentando fazer carinho em todos ao mesmo tempo. Henry tinha amor demais para dar, tinha que ser esse o motivo da febre. Quando a babá recebera a ligação da escola a respeito do retorno da febre foi uma questão de minutos até ela estar lá. Não sabia que tipo de mãe senhora Mills era para mandar o menino para a escola daquele jeito, mas definitivamente não uma muito boa. Assim que Emma buscou Henry ela o levou para o melhor pediatra que conhecia - que não constatou nada de errado com o garoto. Pediu alguns exames de sangue, mas fora isso ele estava bem. Ao final da consulta o médico pediu para Henry esperar lá fora para que pudesse falar com Emma e suas palavras seguintes lhe cortaram o coração. “Parece que é de tristeza, senhora”. Emma não conseguiu levá-lo para casa sem antes passar no canil local para que o menino pudesse estar com os cachorrinhos dos quais tanto falava.
— Emma, é igual ao que eu desenhei! - Disse Henry pegando um filhote de dalmata no colo. - Eu posso adotar ele?
— Eu não posso deixar nada, cê sabe! - Emma encostou na grade atrás dela. - Além do mais, esses aí ficam enormes!
— Mas esse aqui é especial! Olha, tem até a pinta no olho igualzinho!
— Vem cá, rapaz, tá na tua hora já. - Emma foi até ele e bagunçou os cabelos castanhos do menino.
— Só mais quinze minutos?
— Só mais… - Ela puxou o celular para verificar a hora e seu sangue gelou. Três ligações perdidas de Regina. Merda. Seu celular estava no silencioso. - Nós temos que ir agora.
Assim que a loira garantiu que o garoto estava com o cinto de segurança, ela deu partida no carro e começou a dirigir. Emma conseguia sentir o olhar confuso e preocupado de Henry nela, então ofereceu seu melhor sorriso reconfortante.
— Está tudo bem. De verdade.
— Você é uma mentirosa muito ruim.
Emma riu de canto, mas não conseguia esconder o nervosismo. Passando pela longa estrada de asfalto cercada de pinheiros, a mulher não pôde evitar pensar no que aconteceria se simplesmente fosse embora com Henry, se pudesse fugir dos arrepios que Regina lhe causava. Contra a própria vontade, Emma virou a esquina e entrou no bairro nobre em que morava a professora. Em poucos minutos estava estacionando o carro em frente à grande casa branca de Regina. O carro da mulher já estava lá e um arrepio gelado desceu pela coluna de Emma. Henry bateu a porta do carro e veio segurar a mão da loira, quase como se a confortasse.
— Vamos lá, garoto.
Os dois atravessaram o grande jardim juntos, mas Emma mal tocou na porta antes que a mesma se abrisse em um movimento abrupto. Regina Mills surgiu em sua frente e se Emma não tivesse sido rápida o suficiente em sair do caminho teria sido atravessada pela mulher que foi ávida abraçar o filho.
— Henry!— Regina se afastou um pouco apenas para passar as mãos nos cabelos castanhos do menino e examiná-lo rapidamente. - Meu deus, Henry, você está bem? Onde você estava? Eu estava tão preocupada, meu príncipe… Vem, vamos entrar.
A morena começou a entrar, guiando consigo Henry, que olhou para Emma com olhar que Emma jurou ser tristeza. A loira deu um passo à frente para segui-los, mas foi interrompida pelos olhos flamejantes de Regina.
— Você nunca mais entra na minha casa e nunca mais toca um dedo no meu filho, entendeu?
Regina empurrou a porta para fechá-la, mas Emma segurou-a aberta com o braço.
— E você vai fazer o quê? Você vai prendê-lo sozinho dentro de casa de novo?
— Você não tente me dizer como criar meu filho.
— Alguém deveria, ou esse menino vai crescer sozinho e amargo como você.
— Chega! Você está demitida.
Emma riu em deboche.
— Eu imaginei que fosse o caso! - Ela se aproximou um passo e abaixou o tom de voz. - Mas não pense que eu vou deixar você destruir a vida do garoto.
Os olhos de Regina deixaram o tom flamejante e tornaram-se repentinamente gélidos. Ela avançou um passo e fechou a porta de casa atrás de si, ficando cara a cara com Swan. A respiração quente e rápida tocando sua pele de forma a anunciar o conflito.
— Saia da minha casa, senhorita Swan, antes que o instituto médico legal precise lhe retirar daqui. E se eu lhe ver olhando para Henry, eu juro, eu farei da sua vida um inferno.
— Eu não tenho medo de você.
— Então você é uma tola.
As duas se encararam por um instante e Emma pôde sentir o olhar petrificante de Regina Mills a atravessando. Aquele não era o momento. A loira piscou, como se quebrando o feitiço sob ela, e recuou um passo. Um acordo silencioso formou-se e as duas sabiam que não deveriam continuar a discussão. Sem amolecer a expressão raivosa, Emma virou-se e caminhou até o carro, sentindo o olhar de Regina fritando-lhe os órgãos.
Apenas quando estava dirigindo há três quarteirões do local que a loira permitiu-se xingar e socar o volante.
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