Emma esfregou o rosto mais uma vez e amarrou os cabelos em um rabo-de-cavalo enquanto tentava manter-se acordada. Seus olhos constantemente ameaçavam fechar com o peso de todas as noites de trabalho em claro. Desde que fora demitida, Emma passou a fazer bicos nos bares ao redor da universidade, geralmente como garçonete. Nas noites boas o dinheiro rendia, mas o serviço exigia demais de seu físico, além de ser muito instável. De qualquer forma, era o possível para o momento. Seu corpo a pedia desesperadamente uma noite de sono completa, pedido há muito tempo negligenciado, mas cochilar durante a aula de Regina seria suicídio. Sua cabeça pescou uma vez e Emma esperava que Mills não tivesse visto, mas a professora sempre notava. A loira desviou os olhos para a janela, envergonhada. Não conseguia parar de pensar em seu conflito com a morena.

Talvez a loira tivesse se passado um pouco, talvez fossem suas próprias questões com seu passado entrando no caminho. Ou talvez Emma só estivesse morrendo de medo de ter arruinado sua vida profissional e acadêmica naquela noite. De qualquer forma, estar naquela sala de aula nas manhãs de segunda-feira era absurdamente desconfortável. Felizmente a aula estava quase acabando, só faltava a devolutiva do segundo trabalho do semestre. Mills sentou-se à sua mesa e declarou que iria ler os nomes dos estudantes em voz alta e que o estudante chamado deveria pegar seu trabalho e sair da sala. Emma rezou para que a chamada fosse por ordem alfabética, para que pudesse ir embora logo. Regina colocou seu óculos de aro preto, ajeitou os papéis em suas mãos e seu o primeiro nome.

- Vitória Faratti.

Não seria ordem alfabética. O nome de Emma também não foi o segundo, nem o terceiro a ser chamado. Pouco a pouco a sala ia se esvaziando enquanto Emma aguardava impacientemente. Quando o último estudante foi embora, Regina finalmente ergueu os olhos e chamou.

-Emma Swan.

Algo em seu nome estar na boca de Regina fez o corpo de Emma se arrepiar. Contida, a loira levantou-se e foi até a mesa da professora pegar seu trabalho. Assim que olhou para o papel sentiu seu sangue ferver.

-Como assim você quer que eu refaça? Que palhaçada é essa?!

- Como é?

-Eu virei uma noite inteira fazendo esse trabalho, você tem a obrigação de aceitar! Nós tivemos nossos problemas, mas isso não é motivo pra ficar descontando em mim como estudante as raivas que você teve de mim como babá. Se você não soube crescer e lidar com as suas merdas da porta pra fora o problema é seu, mas eu me recuso a lidar com essa bosta! Eu tenho minhas contas pra pagar e meus créditos pra comprir, nem todo mundo tá com a vida fácil igual você não!

-Senhorita Swan. - Disse Regina em um tom grave, interrompendo Emma. - Eu fui informada de que a senhorita pretende se inscrever nos processos seletivos de diversas bolsas, incluindo a minha. Eu estou plenamente ciente do cargo que eu ocupo e das implicações éticas disso, por isso mesmo, por mais insubordinada que você seja, eu pude reconhecer o potencial acadêmico do seu trabalho e me interesso em você como candidata para a minha bolsa. Acontece que alterações precisam ser feitas, essa é a minha tarefa como professora. Exigir que você atinja seu potencial. E você poderia vir a ser uma grande pesquisadora ou profissional. Mas se você quiser continuar sendo medíocre, senhorita Swan, fique à vontade.

- Não foi o que eu quis dizer…

- A bolsa com o meu projeto tem a melhor remuneração e vai lhe abrir portas que você nunca nem imaginou. Você quer ou não?

- Eu achei que você não ia me querer. Pelo o que aconteceu...

Regina revirou os olhos.

- Swan, por favor. Quem não te quer é um tolo. - Emma piscou incrédula com as palavras da professora. - Você tem dois dias para refazer esse trabalho e deixá-lo na minha sala. Eu exijo pontualidade.

Regina então fechou sua pasta e se retirou na sala, deixando para trás Emma Swan completamente estarrecida, ouvindo o som do salto estralando da morena.



Emma chegou em casa com a cabeça já estourando. Segunda era seu único dia de folga, então era o dia em que ela ia cuidar da casa. Ao entrar no apartamento se deparou com uma pilha de louça suja na pia, diversas roupas espalhadas pelo sofá em que Hook estava deitado e algumas panelas que ficaram na mesa. A roupa que estava na máquina precisava ser estendida ainda e já estava começando a mofar lá dentro. Emma suspirou e planejou o resto de seu dia mentalmente. Iria tomar um banho, limpar a casa e refazer o trabalho da disciplina de Regina. Tudo daria certo.

Do sofá, Killian a chamou para deitar, mas teve como resposta apenas uma risada irônica. Emma foi direto para o chuveiro, deixar a água quente lavar a humilhação que foi aquela manhã. Ela precisava muito resolver sua questão com Regina, pois, de fato, ela era sua melhor possibilidade academicamente. Ok, não só. Emma virava uma pilha de nervos com a mulher, mas percebeu naquela tarde que também queria a aprovação dela. Talvez mais do que isso. Talvez.

Mas toda vez que Emma se lembrava de Henry lhe vinha a memória de estar sozinha na casa de uma família estranha, tentando descobrir onde ficava alguma comida que não precisasse ir no fogo. Nenhuma criança merece crescer sozinha.

Emma jogou água no rosto para espantar a lembrança.

Ao sair do banho, a mulher encontrou Killian no mesmo lugar.

-Você não tem nada pra fazer não?

- Não. Você deveria experimentar. - Ele riu e a puxou pelo braço para um abraço.

- Killian, eu tenho coisas pra fazer.

- Tudo bem, logo você vai.

Ele então a deitou em seu peito e começou a massagear sua cabeça. Emma fechou os olhos para aproveitar o toque e respirou fundo, permitindo o corpo relaxar.

Quando Emma abriu os olhos estava deitada sozinha no sofá, com um cobertor por cima de si. O apartamento estava todo escuro, com exceção de um abajur no quarto. Emma levantou-se ainda meio grogue e encontrou Hook fumando na janela.

-Acordou, princesa?

- Que horas são?

Ele olhou o celular.

-Nove e quarenta.

—Quê?0

- Nove e…

- Porra, eu tinha um milhão de coisas pra fazer!

- Você precisava descansar, princesa.

- Como eu vou descansar se a casa tá imunda, Killian? -Emma colocou as mãos nos cabelos - Eu ainda tenho esse trabalho pra refazer, não vai dar tempo!

- Não refaz.

Emma parou e o encarou por um segundo.

-Como assim?

- O trabalho já tá feito, não precisa re fazer.

- Cê não tá entendendo, eu preciso dessa bolsa. O trabalho no bar me cansa demais e vai ser bom pro meu currículo…

- Você tá com a cabeça em coisas muito mesquinhas. - Hook se aproximou e colocou uma mecha do cabelo de Emma para trás da orelha, mas levou um tapa na mão antes de concluir o ato. - Que isso?

- Você não chama as minhas coisas de mesquinhas, Killian.