"Preciso de você até mais tarde hoje. 22h."

Emma encarou a mensagem de texto na tela de seu celular e respirou fundo, frustrada. Seus planos acabaram de ir por água abaixo. Uma mão áspera envolveu seu abdômen e lhe puxou de volta para deitar na cama.

— O que era? - Perguntou Hook.

— Regina quer que eu trabalhe horas extras hoje. - Emma se afastou um pouco para encará-lo - Não vou poder ir hoje. Sinto muito.

— Você não pode negar? - Ele estava visivelmente frustrado, era a segunda vez que ela desmarcava com ele e com os amigos.

— Se eu faço isso ela contrata outra babá. Você sabe que eu preciso do dinheiro. - Emma sentou-se na cama novamente e passou a mão pelos cabelos desgrenhados. - Logo eu vou conseguir uma bolsa e não vou mais precisar trabalhar para a bruxa da Regina. Até lá, minha sexta à noite é toda dela.

— Isso se você não pegar uma bolsa com a Regina.

— Cala a boca! - Emma jogou um travesseiro em Hook. - Eu vou pegar a bolsa com o projeto do David. Tenho certeza que vão abrir processo seletivo e se abrirem é minha.

— Espero que esteja certa, querida. Se não…

Emma revirou os olhos e foi se arrumar.

Para ser sincera, cuidar de Henry estava longe de ser o pior trabalho que já havia pego. O menino era a criança mais doce que ela já conhecera, era realmente agradável estar lá e, além disso, era uma boa casa com uma boa estrutura para que Emma fizesse seus trabalhos da faculdade enquanto cuidava de Henry. Isso tudo sem considerar que a mãe do garoto pagava bem. Acontece que Emma simplesmente não suportava a cara arrogante de Regina nem a voz condescendente. Até por mensagem de texto era possível ouvir aquela voz.

Já eram 8:26 da manhã quando Emma entrou na sala de aula, seis minutos atrasada. A aluna entrou se encolhendo com as folhas de xerox quase escapando das mãos no meio da pressa, torcendo para não ser notada, mas sabia que era tarde demais. Sentiu o olhar de Regina Mills por cima dos óculos de grau quadrados fixar-se nela através da sala e soube que, mais uma vez, receberia meia presença naquela manhã. Foi o caso de outros dois estudantes coitados que tiveram o azar de perder aqueles minutos preciosos da aula de Regina. Emma instantaneamente afundou na cadeira e mordeu o interior da bochecha. Quando se inscreveu para a disciplina de direito da criança e do adolescente não fazia ideia que sua chefe seria também sua professora. Tudo bem, sabia que a mulher era professora do curso de direito, mas de todas as disciplinas possíveis, quem imaginaria que aquela mulher de coração de pedra lecionaria justo essa? Nos últimos dois meses Regina Mills passara a ser a maior dor de cabeça de Emma.

Quando a aula finalmente acabou, a moça misturou-se entre os outros estudantes para ir embora.

— Senhorita Swan? - Mas é claro que nada passava despercebido à professora Mills.

Emma parou e foi até a mesa em que Regina estava sentada, o tempo para os demais estudantes saírem da sala e deixarem as duas a sós.

— Sim?

— Espero que você não se atrase para buscar meu filho na escola como se atrasou para a minha aula.

A voz da mulher era grave e intensa, como quem deixa a entender um tom de ameaça. Como quem avisa que uma falha a mais e você terá seu coração arrancado do peito. Emma pôs as mãos nos bolsos e encolheu os ombros.

— Não vou me atrasar. - Garantiu. - Eu só me atrasei hoje por que ontem tive um trabalho e…

— Senhorita Swan, eu não me importo. Minha aula começa às oito e vinte da manhã em ponto e quando eu começo você precisa estar aqui se quiser ser uma assistente social de respeito. Qualquer atraso é inaceitável. Da mesma forma, meu filho sairá da escola três horas em ponto e eu não o quero esperando sozinho na rua. É bom que a senhorita esteja lá a partir das duas e cinquenta.

Emma sentiu o rosto esquentar corado e precisou segurar o ímpeto de responder à grosseria. O fim da fala da professora e chefe deixava no ar um “ou então…” cujo complemento não queria descobrir o que seria.

— Estarei lá. Mais alguma coisa?

— Só isso. - respondeu, fechando o zíper de sua pasta. - Tenha um bom dia, senhorita Swan.

Regina foi embora com seus passos marcados pelo estalar dos saltos stilettos contra o piso de tacos de madeira da universidade e deixou Emma para trás com um grande nó de tensão nos ombros.

Olhou o relógio: meio-dia. Tudo bem, daria certo, ela estaria lá a tempo. Mais uma vez, Emma não teria tempo para sentar e almoçar como deveria, pois precisava passar no banco naquele pequeno intervalo de tempo. Comprou um hambúrguer ali perto e foi enfrentar a fila nossa de cada dia. Sua mente estava cheia de palavrões, mas, é claro, havia mais uma penca de gente que assim como ela só tinha aquele tempo para resolver suas pendências. Quando chegou ao caixa eletrônico precisou conter a vontade de chutar o aparelho. Pagar todas as contas naquele momento a deixaria totalmente zerada para o mês e ela sequer havia feito as compras do mercado. Passou os olhos pelos boletos e escolheu os que tinham os menores juros para deixar para depois.

Enfiando os boletos na mochila, Emma saiu correndo do banco para a biblioteca, onde havia combinado com algumas colegas de concluir um trabalho da faculdade. Estava quase chegando lá quando sentiu uma mão agarrar-lhe o corpo e algo gelado tocar seu abdômen. Sem pensar duas vezes ela uniu as mãos e deu a cotovelada mais forte que conseguia no sujeito atrás de si, desvencilhando-se. Ao virar encontrou, com o corpo dobrado para a frente, Hook reclamando de dor.

— Qual o seu problema? - Gritou Emma.

— Qual o meu problema? - Ele respondeu, com o sotaque britânico intensificado pela dor. - Eu fui te abraçar, qual o seu problema?

— Eu não te vi, você me agarrou do nada, a prótese gelada da mão encostou em mim e eu pensei… - Ela passou as mãos pelos cabelos loiros. - Porra, Hook, hoje não. Eu não tenho tempo pra isso.

— Espera. - Ele se endireitou e riu. - Eu não ganho nem um beijo?

Emma revirou os olhos e lhe deu um rápido selinho.

— Eu tô atrasada.

Mesmo com toda a correria Emma conseguiu estar na escola a tempo. O sinal bateu e foi uma questão de minutos até o garotinho de cabelos castanhos vir correndo para os seus braços. A mulher abraçou Henry de volta e o levantou alguns centímetros do chão, fazendo o menino rir.

— Como você tá pesado! Cresceu mais um metro de ontem pra hoje, foi? - Brincou.

— Tô quase da tua altura! - Ele respondeu, se desvencilhando do abraço comparando o tamanho dos dois com os olhos, então indicou o intervalo com as mãos. - Falta só um pedaço assim.

Emma riu e segurou a mão de Henry para que caminhassem até a casa de Regina. Ele contava animado do dia na escola, das brincadeiras e das atividades que havia feito naquela manhã, sobre o almoço esquisito que fora servido e das pirraças que os colegas aprontaram. Emma abriu a porta da casa e Henry saiu correndo para a sala, já abrindo o zíper da mochila.

— Ei, ei ei! - Emma gritou. - Os sapatos! Você tem que tirar…

Então balançou a cabeça, vencida. Henry estava tirando uma série de papéis de sua pasta colorida e os colocando no tapete da sala. Emma tirou os sapatos e deixou a jaqueta vermelha no gancho da porta, então aproximou-se para observar. Tratavam-se de desenhos infantis, mais especificamente cinco, dentre os quais três pareciam ser figuras femininas.

— O que é isso?

— A professora pediu pra levar amanhã desenhos das pessoas da nossa família, a gente começou hoje. Vem ver! - Henry chamou. Emma sentou-se no chão ao lado do menino e pegou um dos desenhos, uma pessoa pintada de cor cinza, com um vestido preto e cabelo grande no que parecia ser um coque no alto da cabeça. - Essa é a minha vó. A professora disse que era pra colocar família de sangue, família que cuida da gente, família que a gente ama, todo mundo. A vó eu não vejo muito, mas é de sangue, então botei também. Olha, essa aqui é você!

Ele a entregou o desenho de uma pessoa sorridente pintada em azul, com riscos amarelos representando os cabelos loiros e Emma riu do tronco pintado em vermelho, provavelmente representando a jaqueta que ela sempre usava. Com as sobrancelhas erguidas em surpresa, ela perguntou.

— Por que estou com a sua família, Henry?

— Você cuida de mim, ué. Gostou?

— Muito! Acho que estou mais bonita no seu desenho do que na vida real. Você acha que devo botar de foto de perfil no facebook?

Ele riu e entregou o desenho da terceira figura feminina. Uma pessoa com um sorriso grande em vermelho, cabelo curto preto, roupas em traços quadrados azul- escuro e vários corações vermelhos em volta.

— Essa é a minha mãe. Você acha que ela vai gostar?

— Ela vai amar! Quem é esse aqui? - Emma pegou o último desenho. Parecia um cachorro pintado com giz de cera cinza para os contornos e com manchas pretas como um dálmata.

— É o meu bichinho de estimação.

Emma franziu as sobrancelhas.

— Você tem um bichinho de estimação?

— Ainda não. - Ele respondeu, pegando o desenho de volta e o encarando numa falsa melancolia infantil. - Mas eu vou ter, se você convencer a minha mãe.

Emma riu alto e começou a fazer cócegas em Henry.

— Então é por isso que você fica me bajulando, é? Quer um cachorrinho e fica me bajulando com desenho bonito! - Ela parou e Henry continuou gargalhando. Ela sorria de orelha a orelha também, então deu um tapinha no próprio joelho e levantou-se. - Eu não posso me meter nessas coisas com a sua mãe ou ela me mata, mas o que eu posso fazer é um lanche pra gente, pode ser?

O menino suspirou de forma dramática.

— Pode…

Como sempre, Henry não dava muito trabalho. Emma passou a tarde lendo os textos da faculdade enquanto o menino fazia as tarefas e depois brincava no quintal. Como combinado, às 19h Emma descongelou o jantar e serviu. Henry costumava ter um grande apetite, mas naquela noite ficou mexendo as almôndegas no prato para lá e para cá sem comer muito.

— Ei, o que foi? Tá gostoso. Eu não sou nenhuma rainha má, juro que não botei veneno nas almôndegas.

Ele riu.

— Tinha que ser na maçã.

— Você é chatinho demais com fruta, nunca ia dar certo. - Emma bagunçou os cabelos do menino, então tocou suas bochechas com as costas dos dedos. - Você está quente. Tá com frio? - Ele fez que sim com a cabeça. - Vamos, come só mais um pouquinho e nós vamos dar um jeito nessa febre. Só mais essa almôndega.

Ele concordou. Após o jantar a mulher o mandou para o banho e deu um antifebril para o menino, que em minutos estava com os olhos pesados de sono, mas que se recusava a dormir sem antes ouvir uma história. Emma leu um pouco do livro de contos para Henry até ouvir a respiração pesada de uma criança que já adormecera. Checou mais uma vez a temperatura do menino e respirou mais tranquila. A febre já estava cedendo. Ela passou as próximas horas ali, acariciando os cabelos do garoto. O tempo passou voando e Emma só se deu conta que já era tarde quando ouviu as chaves na porta do andar de baixo.

— Henry! - Gritou Regina lá de baixo. - Sua mãe chegou!

O garoto se mexeu e resmungou, como se quisesse acordar, mas manteve-se em sono profundo. Emma deslizou devagar para fora da cama e foi ao encontro da mulher.

— Henry está dormindo já. - Disse em tom suave, colocando as mãos nos bolsos.

— Já? - Regina deixou os ombros caírem e olhou em volta levemente transtornada. - Eu esperava ao menos colocá-lo para dormir. Você leu para ele?

— Li sim, ele pediu. Escuta, ele ficou um pouco febril hoje no jantar. Ele tomou um banho e eu dei um antitérmico e a febre cedeu, mas acho que vale a pena ficar de olho nele essa noite.

Regina encarava Emma com as sobrancelhas franzidas e os lábios pressionados um contra o outro, ouvindo atentamente, como faz em sala de aula, então deu um passo à frente.

— O que você deu a ele?

— Ah, o nome do remédio…

— Não, antes. -Regina cortou e deu mais um passo, o tom ameaçador se intensificando. - O que você fez para deixá-lo doente?

Emma ergueu as sobrancelhas e deu um passo para trás.

— Nada, eu fiz tudo dentro do combinado!

— Henry tem uma saúde frágil, se eu descobrir um doce fora das instruções…

— Regina. - Emma respirou fundo e sustentou o olhar de volta para a morena. Dessa vez ela que deu o passo à frente. - Crianças ficam doentes o tempo inteiro. É só uma febre. Eu fiz tudo certo, ele vai ficar bem, é só ficar de olho nele. Boa noite.

A loira passou pela chefe e caminhou diretamente em direção à porta, determinada a sair dali o quanto antes.

— Senhorita Swan.

Emma deteve-se.

— O quê? Estou demitida?

Ela pôde sentir Regina estudar sua expressão por um momento, então a morena enfiou a mão na bolsa para retirar um envelope branco e estender para a loira.

— Seu pagamento de hoje, hora extra inclusa. Não se atrase amanhã.

Emma pegou o envelope a contragosto e foi embora tentando acalmar os nervos.



Regina estava tensa como de costume, mas hoje, além disso, estava exausta. Não dormira nada, a preocupação lhe mantivera acordada a noite toda verificando a temperatura de Henry. Perto das três da manhã a temperatura subiu um pouco, mas logo abaixou. Isso não a impediu de ficar o tempo inteiro morrendo de medo durante sua vigília noturna. Agora Henry estava ainda lá em cima se arrumando enquanto a mãe fazia ovos e torradas para o café da manhã. Ela checou o relógio.

— Henry, querido, venha comer!

Nenhuma resposta. Regina foi até o pé da escada e gritou novamente.

— Henry, vamos!

Dessa vez ela pôde escutar o som das portas do armário se fechando e os passos do garoto vindo. Henry apareceu no topo da escada sorridente com sua mochila quase maior do que o corpo e veio descendo.

— Já vou! Já vou!

Eles foram juntos até a cozinha e começaram a se servir do café da manhã. Henry comeu logo três torradas acompanhadas de goles de suco de laranja.

— Como você está se sentindo, querido? Certeza que não quer ficar em casa hoje?

— Eu tô bem, já disse! Ó. - Ele pegou a mão da mãe e colocou-a na própria testa, que estava em uma temperatura normal. - Viu? Não precisa se preocupar, mãe.

O garoto plantou um beijo em sua bochecha e Regina sentiu um pouco da sua tensão aliviar. Ele estava bem. Ficaria tudo bem.

— Ok, então vai escovar os dentes que o ônibus da escola logo chega!

Ele saiu correndo escada acima para o banheiro e Regina ficou olhando seu reflexo no café preto. Devia um pedido de desculpas à senhorita Swan. A forma como falara com a garota havia sido inapropriada e desproporcional, mas apenas a ideia de Henry ficar doente era suficiente para fazer Regina estremecer.

Henry desceu correndo as escadas gritando que estava pronto, então Regina deu-lhe um beijo na testa morna da corrida e assistiu do batente da porta o garoto entrar no ônibus da escola. A mulher suspirou e voltou para arrumar-se para o trabalho.

Parte da diversão de lecionar na universidade, Regina precisava admitir, era transitar pelos corredores. A professora Regina Mills sentia os olhares de medo e admiração que recebia ao passar, percebia a forma como as conversas se silenciavam quando ela chegava e como os burburinhos começavam quando ela ia embora, tanto de estudantes quanto dos demais docentes. É claro que no início uma pequena parcela lá no fundo - muito lá no fundo - se entristecia pelo distanciamento que existia entre ela e a comunidade acadêmica, mas com o tempo Regina passou a entender tal tratamento como uma dádiva. Melhor dizendo, um poder. Observava alguns de seus colegas muito queridos pelo departamento e pelos estudantes se tornarem ímãs de estagiários perdidos, orientadores de pesquisas sem qualquer cabimento, serem jogados para as disciplinas que ninguém quer lecionar ou facilmente desconsiderados para as posições mais disputadas. Regina, felizmente, não possuía esse problema. Lecionava apenas o que queria, quando queria, da forma como desejar. Trabalhava apenas com os melhores e ninguém se atrevia a fazê-la perder tempo. Já havia tempos que a coordenação desistira de obrigá-la a comparecer às reuniões de departamento. O que poderiam fazer? Mandar embora um dos maiores nomes da universidade?

Naquela tarde, entretanto, quando a coordenadora Snow Mary Margaret iniciou sua saudação como sempre agradecendo a presença de todos e desejando uma agradabilíssima reunião, foi interrompida pela voz feminina grave que vinha do fundo da sala e fez todos os pescoços virarem.

— Snow, eu não tenho muito tempo, então vou direto ao ponto. - Disse Regina, levantando-se e indo até a mesa da coordenação. - Preciso acrescentar com urgência um ponto de pauta: a minha liberação semana que vem para um congresso de três dias na capital, quarta, quinta e sexta, e o financiamento de metade da minha viagem e estadia lá. Avião e hotel cinco estrelas, nada menos do que isso.

Regina Mills entregou uma pasta para Snow, que a encarava incrédula, então voltou a sentar-se com as pernas cruzadas aguardando a resposta.

— Regina, isso é impossível…

— Ora, Snow, você por acaso esqueceu como se coordena uma reunião? Primeiro inclua como ponto de pauta, depois discutimos se é possível ou não.

Foi possível ouvir uma risada baixa vinda do canto da sala. Era Mel, com seu terno de risca de giz, que já sabia de toda a situação já esquematizada. Snow respirou fundo e colocou as duas mãos delicadamente sob a pasta entregue.

— Muito bem. Todos a favor da inclusão da pauta sugerida pela professora Mills?

As mãos se ergueram no ar e Regina esboçou um sorriso contido.

— Agora você pode iniciar sua argumentação, Snow.

— Regina, nós não temos espaço no orçamento para isso.

— Ah, temos. Eu fiz ao departamento a gentileza de revisar os projetos de pesquisa e extensão aprovados na última reunião e na pasta que lhe entreguei constam todos os projetos que contém irregularidades legais e/ou éticas. - Regina explicava com a voz que usava no tribunal quando estava prestes a ganhar um caso, gesticulando cada pausa no discurso. - Como você verá na terceira página, por exemplo, o projeto de pesquisa do professor David não teria como ser aprovado. - Regina sentiu a inquietação se formando na sala, assim como a indignação no rosto de Snow, o que por si só já a divertia. - Passou com certeza num lapso de juízo do departamento. Por sorte, com o orçamento que seria dedicado a esse projeto apenas já é possível viabilizar minha ida ao congresso.

— Professora Mills, o projeto já foi aprovado…

— E é por isso que estou dando entrada com recurso.

— Regina, isso é absurdo!— Disse David, já na ponta da cadeira com o rosto vermelho. - Você só aparece quando é do seu interesse e ainda vem se meter no trabalho dos outros! Passa por cima de todo mundo!

— Vamos nos acalmar… - Tentou Snow.

— É David, vamos nos acalmar. - Regina provocou. - E muito pelo contrário, eu não quero futuros conflitos legais com a nossa universidade! O congresso, por outro lado, só tem vantagens para todos nós. Vamos, coloque para votação.

— Isso sequer deveria ser considerado!

— Que anti democrático, David. Vamos, Snow, você conhece as regras. Eis minha proposta: retirar a aprovação para o projeto de pesquisa proposto pelo professor David Nolan, posta a existência de inconformidades legais, e redirecionar os fundos para o financiamento da divulgação científica da professora Regina Mills no congresso jurídico nacional que ocorrerá semana que vem. Vamos, é só colocar em ata e votar.

A coordenadora franziu as sobrancelhas e passou os olhos mais uma vez pelo documento à sua frente, procurando irregularidades, então bufou e fechou a pasta.

— Em regime de votação, todos a favor da proposta levantem as mãos.

As mãos dos colegas se ergueram e Regina observou a raiva se formando no rosto de David.

— Todos contrários à proposta.

Davis e Snow foram os únicos a erguerem as mãos.

— Abstenções? - Ninguém. - Encerrado o regime de votação, proposta aprovada.

Regina sorriu para os colegas e se retirou da sala de reuniões tendo, como sempre, o que queria em mãos. A reunião havia durado menos do que esperava, então se viu com alguns minutos livres e Henry foi a primeira coisa que lhe veio à cabeça. Puxou o celular da bolsa e discou o número da escola. Demorou algumas chamadas até atenderem.

— Aqui é a mãe de Henry Mills, do quinto ano A. Ele teve um pouco de febre essa noite, preciso que você verifique como ele está, para garantir.

— Você disse que é mãe de Henry Mills?

— Isso. - A linha ficou em silêncio por um momento. - Alô?

— Aqui diz que Henry foi para casa às onze e vinte e seis com a mãe.