A cafeteira apitou, indicando que o café estava pronto. Regina serviu-se de uma xícara do líquido preto, sem açúcar, e sentou-se atrás de sua escrivaninha novamente. Sua sala era decorada com tons escuros acinzentados o que, junto com os móveis de estilo antiquado, passavam o tom de seriedade. As cortinas pesadas estavam fechadas, como sempre, e não permitiam que fosse possível ver o céu lá fora. Regina olhou por cima do óculos, para o relógio, e constatou que faltavam apenas cinco minutos para as seis da tarde. A mulher apoiou as costas no encosto da poltrona e bebeu seu café, aguardando.

Quatro minutos.

A professora olhou para a pilha de trabalhos que levaria para casa para serem corrigidos e suspirou.

Três minutos.

Parecia que seriam os únicos a serem recebidos naquele dia.

Dois minutos.

Regina repousou sua xícara e recolheu os trabalhos para guardá-los em sua pasta.

Um minuto.

Ela fechou o zíper da pasta e se levantou.

Seis horas da tarde.

Regina saiu de sua sala carregando consigo sua pasta e sua xícara, trancou a porta ao sair e deixou a louça suja na copa para ser lavada. Saiu do prédio do departamento de direito xingando mentalmente a audácia de Emma Swan - mais do que isso, a burrice da garota - de receber uma segunda chance de Regina Mills e desperdiçá-la assim.

A professora já estava no estacionamento procurando a chave de seu carro quando ouviu passos pesados contra o concreto. Virou-se assustada, sabendo bem das probabilidades estatísticas, mas encontrou uma loira desgrenhada correndo em sua direção.

Regina revirou os olhos e continuou procurando sua chave.

Regina! Regina... - Emma chamou e repetiu ao se aproximar. A estudante parou, ofegante, e apoiou-se no carro para retomar o ar. - Eu fui até sua sala, mas você... O zelador disse que você tinha acabado de sair.

A professora a olhou de cima a baixo. Swan estava vestindo uma calça cinza de moletom, chinelos de dedos e uma blusa branca dois tamanhos maiores do que o apropriado para a mulher. Os cabelos loiros estavam visivelmente enosados, presos em um coque alto feito de qualquer jeito. Seu rosto estava levemente inchado e Emma tinha fortes olheiras. Isso não tirava a beleza de Swan, mas Regina sabia que a loira definitivamente já teve dias melhores.

— Meu dia de trabalho acabou, Swan. Você perdeu o prazo.

— Você disse que eu poderia entregar até o dia de hoje, não até às seis!

— Meu dia como professora só conta dentro das minhas horas de trabalho dentro da universidade. Você deveria ter se programado, Emma.

Mas eu me programei!— Emma abriu a mochila e retirou os papéis levemente amassados. - Eu me programei! Eu trabalhei pra caralho pra esse artigo acontecer como você queria, você não pode só não aceitar!

— Senhorita Swan...

— Só lê. - Emma deu um passo à frente, quase encurralando Regina contra o carro. - Se não for exatamente o que você queria você finge que nunca recebeu. Me roda, foda-se, eu não me importo, mas eu preciso que você leia esse trabalho.

Emma tinha o calor no olhar de quem estava ardendo de raiva, mas Regina notou as sobrancelhas arqueadas com a simplicidade de um pedido desesperado. A morena pegou os papéis das mãos da loira e deu um passo à frente, preenchendo o mínimo espaço que havia antes entre elas.

— Eu vou te colocar no teu lugar, Swan.

A loira arregalou os olhos e seu rosto avermelhou-se.

— Eu disse que você pode me rodar.

— Seria o menor dos seus problemas.

Regina abriu a porta do carro, entrou e disparou cantando pneu. Emma cambaleou um passo para trás, então sentou-se no meio fio e deixou o choro escapar.

A loira arrastou-se de volta para casa. Ela havia virado a noite concluindo aquele trabalho desgraçado e havia saído da cama apenas para entregá-lo. Sua cabeça doía e seu corpo parecia estar amarrado em correntes terrivelmente pesadas. Quando se jogou na cama o alívio tomou conta, mas apenas por um breve momento, pois seu celular começou a tocar de novo. Desde a última briga com Hook ele não parava de telefonar por um instante sequer. Emma só queria que ele a deixasse em paz, ainda mais agora que ela arruinara todas as suas chances com a professora que mais facilmente consegue os editais de bolsas no departamento. A loira estava fadada a trabalhar em bares até o final da sua graduação. Talvez para sempre, pois quem conseguiria emprego na sua área após brigar com Regina Mills? Emma estava fodida e quando pensava em Killiam só conseguia culpá-lo por isso. Se não tivesse passado um dia inteiro dormindo e uma noite toda brigando, talvez ainda tivesse alguma chance. Depois que ele chamou suas prioridades de mesquinhas a coisa escalou e saiu totalmente de controle. Mesmo após ele ir embora ainda era difícil se concentrar. Mas Emma estudou tanto as anotações de Regina, tentou tanto, que aquele desgraçado daquele artigo tornou-se mais uma questão de honra do que outra coisa. Ela precisava conseguir. Agora estava feito. Emma fechou os olhos e se permitiu adormecer.

Quando a próxima segunda feira chegou, Emma havia reencontrado um pouco da sua dignidade perdida, ainda que não tudo. Em retrospecto, talvez não devesse ter refeito o trabalho, muito menos confrontado Regina. Era só queimar pontes a toa. Emma iria apenas voltar à sua rotina conhecida. Ela havia marcado um café com Killiam naquela tarde para resolver as coisas entre eles e seguir a vida. A loira tentou fingir naturalidade durante a aula de Regina, mas toda vez que o olhar da morena cruzava com o dela o coração de Emma parecia tropeçar nas próprias batidas. Quando acabou a aula e todos saíram da sala a estudante foi até a mesa da professora pronta para pedir desculpas, mas mal pôde abrir a boca.

— Senhorita Swan, qual a sua disponibilidade semanal?

— Para cuidar do Henry?

Regina a encarou por cima do óculos e revirou os olhos, decepcionada.

— Para participar do programa de iniciação científica. Eu tenho uma bolsa para semestre que vem, mas preciso começar agora. - disse Regina. Emma piscou incrédula - Qual a sua disponibilidade?

— Eu tenho... Aulas todas as manhãs... E trabalho à noite...

Regina já estava de pé, com a pasta na mão.

— Então agora estará ocupada à tarde também. Sexta às 16h pontualmente preciso de você na minha sala para a orientação. - A professora já ia saíndo.

— Pera, você quer trabalhar comigo? - Emma cobriu o sorriso incrédulo com as mãos. - Meu deus, muito obrigada, muito obrigada!

Regina parou no batente da porta da sala, virou-se e sorriu.

— Ah, você acha que eu estou te fazendo um favor. - Regina riu e balançou a cabeça. - Eu vou tornar sua vida miserável nesse período, senhorita Swan. Você cê vai dormir e acordar e a única coisa na qual você vai conseguir pensar será eu.

Essa frase continuou flutuando a cabeça de Emma o dia inteiro. No café, Emma já estava esperando Killiam há 20 minutos, mas nem se deu conta por estar distraída com os próprios pensamentos. A loira só percebeu que Hook estava sentado à sua frente quando o cheiro de cigarro invadiu-lhe as narinas. Ele pegou sua mão e riu.

— Senti sua falta, princesa. Quase pensei que você não ia me chamar mais.

— Você não vai pedir desculpas?

— É claro que sim, mas você nem me deu tempo! - Ele bufou e se inclinou para a frente. - Porque me chamou de volta?

Emma encarou-o por um momento, buscando uma resposta. Talvez ela também não soubesse porque o chamou. Killiam riu.

— É tão difícil assim dizer que sentiu minha falta também?

— Ok, tudo bem. Eu senti sua falta. - não era mentira.

— Você trabalha hoje no bar?

— Não, eu tiro folga segunda.

— Está fazendo algo agora?

Emma encolheu os ombros.

— Tô falando com você.

Killiam sorriu de canto.

— A gente pode conversar no seu apartamento?

— Killiam, a gente precisa de fato conversar às vezes.

— Mas a gente vai! Eu prometo, só é bom ter privacidade.

Mas quando eles chegaram no apartamento de Emma foi uma questão de pouco tempo até Hook estar com o rosto enfiado no pescoço da loira. Emma revirou os olhos, desapontada pela esquiva constante de conversas sérias para sexo. Ela mentalmente pôs um alfinete para retornar nesse assunto depois. Decidiu aproveitar naquele momento o que Killiam tivesse para lhe oferecer e o levou para o quarto.

Naquela noite, Emma não pregou os olhos. Hook pegara no sono há muito tempo e a mulher, com a cabeça deitada em seu peito, remoía as conversas que tivera com Regina Mills. Os olhos castanhos intensos e a voz grave persistiam em retornar à sua memória e lhe causavam arrepios toda vez que acontecia.

"Você cê vai dormir e acordar e a única coisa na qual você vai conseguir pensar será eu."

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.