Helo

Foi muito rápido, quando eu e Maia acabávamos com o ciclope cego, Peter e Marceline (arghh) cuidavam dos outros dois que estavam presos em meio a várias plantas e raízes de diversas espécies.

Então ouvi um grito e me virei; Matt tinha sido lançado no ar, de alguma forma atingido pelo último ciclope. Em meio à minha distração, o monstro ia em direção à Maia e Ana teve a idiotice de gritar:

– Maia, cuidado! - ela só teve tempo de pular, mas não rápido o bastante, o tacape que ele segurava passou raspando os cravos em sua perna, enquanto ela gritava em agonia.

Ele havia ido longe demais, eu fervilhava de ódio. Puxei uma flecha que teve destino ao seu pé, o que o distraiu tempo o suficiente para que Marceline abrisse uma fresta no chão que engoliu o monstro, com passagem só de ida para o Tártaro (pelo menos por enquanto).

Era gritaria para todos os lados, os campistas estavam muito agitados e eu... bem, me sentindo totalmente culpada. Corri até minha irmã Maia, que estava sentada pressionando as mãos em sua perna para estancar o sangue. Nem tive tempo de me preocupar, pois logo meu irmão Leo veio correndo com um kit de primeiros-socorros; lavei seu ferimento (era um corte bem feio) com néctar e pegava esparadrapo para enfaixar quando ouço Ariel gritar meu nome.

– Você vai ficar bem? - pergunto à Maia.

Ela assentiu, deixei-a aos cuidados de Leo enquanto corria em direção à aglomeração de pessoas perto do pinheiro de Thalia. Agora estava um silêncio mortal. Abri caminho em meio aos campistas, que estavam muito assustados por sinal, e o que vi me cortou o coração.

Me ajoelhei ao lado de Matt, que estava imóvel no chão, saía uma quantidade enorme de sangue de sua cabeça e ensopava o chão. Ele tinha pulso, mas a cada instante sua respiração ficava mais fraca. Sim, ele estava morrendo, e a culpa era toda minha.

AAAH, aquela garota! Se eu não tivesse caído nas provocações de Marceline, isso não estaria acontecendo, Matt não merecia aquilo. Ele nem sequer gostava de liderar, só ficara no comando a um pedido de Quíron e teria se saído muito bem, não fôssemos eu e a filhinha de Hades.

Olhei para ela com intenção de mandar um olhar do tipo “viu-só-o-que-você-fez?”, mas quando olhei em seus olhos não consegui, ela se sentia como eu.

– Néctar! – gritei.

– Helo, ele não pode tomar mais, já demos bastante e não adiantou. Se ele tomar mais néctar, será incinerado, e se não tomar... bem, ele morrerá.

– A culpa é toda sua! – gritavam os filhos de Deméter para Ana em meio às lágrimas, mas Peter os repreendeu.

Eu precisava pensar... e rápido, tem que ter outra maneira, tem que ter...

Então eu já sabia a resposta, era arriscado, mas eu precisava fazer isso. Um olhar de concordância passou entre mim e Marceline, ela era a única que conhecia meus poderes, depois daquela missão... eu passei a odiá-la com todas as minhas forças, mas antes disso, ela sabia.

E se eu tivesse que correr esse risco por alguém, que fosse por Matt. Ele merecia, sem aquele poder incrível dele com as plantas, nunca teríamos conseguido derrotar os ciclopes.

Coloquei minhas mãos sobre sua cabeça e me concentrei, só havia feito isso uma vez e não era uma situação grave, foi mais sem querer, mas agora... Meus olhos viraram, joguei a cabeça para trás e senti meu corpo queimar, sentia sua circulação e sua força vital formigando meus dedos. Minha visão ficou embaçada e meus joelhos fraquejaram, alguém me segurou nos braços antes de tudo ficar escuro.

***

Abri os olhos e dei de cara com os olhos verdes de John, meu amigo peixinho. Bom, o que dizer sobre ele? Aahn... tem cabelos pretos, é baixinho (embora seja maior que eu) e bem extrovertido. E claro, filho de Poseidon. Éramos amigos desde... bem, bastante tempo.

– Acordou, hein Bela Adormecida? - disse Marc se aproximando de minha cama, ele e suas piadas bobas.

– Me ame menos, Marc! – eu disse;

–Helo, é sério. Você nos deu um baita susto, ficamos preocupados – disse John, apesar de tudo ele também era sensível.

Antes que eu pudesse responder, Ariel chegou e começou a falar sem parar:

– Finalmente acordou. O que foi aquilo? Quíron e papai vieram te visitar mais cedo, disseram que por pouco você não passa dessa para uma melhor. Aquilo que você fez com o Matt... foi incrível, papai disse que devemos saber usar nossos dons e foi muito arriscado o que você fez, Helo, tem que parar de ser tão impulsiva, o que eu faria sem minha irmã? Céus, o chalé ia virar um caos. Você tem que comer um pouco de ambrosia, tivemos medo que não acordasse, você parece meio pálida...

– Ary, eu estou bem – a interrompi enquanto me segurava em John para me sentar. – Matt está bem? E Maia? Eu nunca me perdoaria se algo acontecesse com ela.

– Matt está ótimo, Maia está dormindo agora mas está bem, vai ter que continuar aqui na enfermaria por mais uns 3 dias até poder andar.

Ufa, um peso enorme foi tirado de minhas costas conforme ela falava.

– Ajudem-me a levantar – pedi.

– Não. Helo, você tem que ficar aqui por mais um tempo, ainda está fraca...

– Ary, aqui é tudo tão fechado... você sabe do que preciso.

Achei que ela fosse protestar, mas por fim, assentiu.

Me levantei, dei uma olhada em Maia que dormia profundamente, e junto com meus amigos, me dirigi para fora.

Ao passar pela porta, senti o sol bater em meu rosto e o vento em meus cabelos, e isso já bastou para que eu me sentisse melhor.

Fomos andando em direção à praia, onde eu poderia tomar sol e praticar um pouco com meu arco (isso sempre me deixava melhor), enquanto Marc contava como tinha “pegado” Cass, a filha de Hades, em como ela era gostosa e por fim, qual era a próxima de sua lista. Pensei em chamar-lhe a atenção, mas nunca funcionava, então o deixei tagarelando com John.

Estava aliviada, pois depois de tudo, ainda tinha conseguido me safar, sem nenhum sermão ou castigo, simplesmente iria curtir um dia de sol com meus melhores amigos, certo? Errado.

No meio do caminho, Alexandre, um novato filho de Hades, chegou:

– Quíron quer vê-la na Casa Grande imediatamente - disse ofegante pela longa corrida até aqui. Era bem alto e seu cabelo negro colava em sua testa.

Vish, lá vem...

– John, Marc... vocês vêm comigo? – perguntei mas fui interrompida.

– Espera, então você é o Marc? – perguntou ameaçadoramente Alexandre para John.

– Não, eu sou – percebi o divertimento nos olhos de Marc ,isso não ia acabar bem. – Algum problema?

– Sim, eu tenho um probleminha – disse Alexandre enquanto dava um murro na cara de Marc. – Essa é por Cass!

Pingava sangue de sua boca no chão, tudo acontecia muito rápido. Quando vi, John já segurava Marc, que começava a fumegar, e Cass saía se sabe lá da onde e segurava Alexandre. Ela tinha os olhos inchados e cheios de lágrimas.

– Não! – gritava ela desesperada. – Parem!

Ora, eu não tinha tempo para isso, se Quíron havia me chamado com tanta urgência... John parecia ter lido meus pensamentos e assentiu, me encorajando a ir, como se dissesse “Deixa que eu cuido disso” com o olhar.

Deixei que eles se entendessem e corri até a Casa Grande, cheguei mais rápido do que eu esperava.

Entrei já esperando um sermão infinito de como sou irresponsável e blá blá blá. Lá dentro estavam a nossa Oráculo Rachel, meu pai (sério? Ahh, piorou!), Quíron em sua cadeira de rodas olhando feio para mim, Marceline, Peter, Ana e Matt... é, estávamos ferrados.

– Estávamos aguardando a sua presença, senhorita – disse Quíron.