Peter

Eu, Luc, Maia e Luana lutávamos juntos, como um quarteto fantástico. Minha ideia inicial era a de não machucar nenhum campista contrário às minhas vontades, mas isso já não era possível. Enquanto eu tentava destruir o acampamento, semideuses tentavam me impedir atirando flechas, desferindo golpes e usando o que mais tinham para me causar danos. Felizmente eu conseguia me defender bem, pelas minhas contas eu já havia matado cinco; os corpos se acumulavam no chão molhado, havia mortos de ambos os lados, campistas que queriam defender e campistas que queriam destruir.

Pequenas labaredas começavam a sair das janelas da Casa Grande, o pavilhão estava quase todo destruído, cavalos e pégasos galopavam na chuva para fora dos estábulos, ninfas se escondiam em suas árvores e eu já não avistava Quíron.

– Peter, me ajude aqui! – Luana gritou ao meu lado, estava deitada de barriga para cima e uma garota de cabelos loiros estava por cima dela com uma adaga em seu pescoço.

– Nem mais um passo – disse a garota com os olhos me encarando profundamente. Era uma filha de Hermes, que já estava no acampamento quando eu cheguei.

Olhei para o chão onde a sombra de uma árvore se estendia ao lado delas, me concentrei, minhas mãos apertaram o cabo de minha espada e uma corda sombria pulou e se enrolou nos braços da filha de Hermes, puxando-a para trás e tirando-a de cima de Luana que se levantava com fúria no olhar. Aproximei-me da menina, as sombras envolviam-na cobrindo olhos, boca e nariz, sufocando-a e tirando a vida de seu corpo. Ela berrou e seus olhos me encararam totalmente sem vida. Pisquei para Luana e corri para a Casa Grande.

Luc e Maia lutavam com dois filhos de Atena. Maia mirou no pé de um dos garotos e acertou uma flecha, Luc saltou e com um único golpe cravou sua espada nas costas do mesmo.

– Peter, cuidado! – gritou Maia.

Marc estava vindo em minha direção, preparando um golpe.

– Não achei que você teria a capacidade de nos trair – ele estava mancando e seu rosto estava arranhado.

– As pessoas precisam parar de achar coisas – preparei uma defesa e fitei seus olhos.

E então ela apareceu. Primeiro pensei que estava acompanhando Marc, mas com um único movimento, sua espada cortou o pescoço do garoto. A cabeça rolou junto com o corpo.

– Boa noite, honey – disse Ana.

Encarei-a incrédulo.

– ANA! – corri em sua direção e a beijei. – Você... você... – as palavras não saíam de minha boca, era totalmente impossível dizer qualquer coisa naquele momento.

– Senti sua falta, meu querido – seus cabelos grudavam no rosto molhado da chuva que caía pesadamente, seus olhos estavam assustados, mas não mais que os meus.

– Eu também senti a sua – apertei a mão dela com força para demonstrar proteção e beijei sua testa. – Fique perto de mim. – Ela assentiu com a cabeça e eu avancei contra um filho de Apolo.

Ares já não se encontrava em nosso meio, ele não havia ficado muito tempo, apenas fez sua aparição para destruir a Casa Grande e convocar guerreiros esqueletos. Todo o seu chalé estava comigo, todas as crias do deus estavam a meu favor.

Após eu desviar de uma flecha, invoquei sombras para agarrarem as pernas do garoto que a havia atirado, mas ele mirou para mim e outra flecha foi atirada, cravando-se em meu antebraço. Urrei de dor e a arranquei, minha visão ficou turva, ouvi outro grito e o menino caiu de joelhos, uma lança atravessava seu corpo. Ao longe, vi uma filha de Ares que acenava para mim e tentei agradecê-la, mas eu não conseguia dizer uma palavra sequer.


*****

Quando acordei, Maia estava ao meu lado, eu não sabia onde estava e nem quanto tempo havia se passado, mas pude ouvir sons de luta, o bronze das lâminas gregas batendo contra placas de peito.


– Está tudo bem, ainda estamos vencendo, você vai ganhar essa guerra porque eu confio em ti – disse Maia.


Eu apenas assenti e me levantei totalmente vitalizado, Maia deveria ter me curado, e fez isso muito bem, eu era capaz de enfrentar 10 homens de uma só vez. Voltamos à batalha, Maia correu para um lado e pude avistá-la golpeando minha irmã Cass. Uma espada cortou o ar à minha direita, me virei instantaneamente com um giro completo e um movimento único, que cortou o abdômen de um menino desconhecido. Neste mesmo momento Luc apareceu com uma cara tremendamente assustada, as palavras estavam engasgadas em sua boca, mas pude decifrar. Marceline e companhia haviam chegado. Segui-o e me deparei com a minha irmã e dois corpos no chão, Cass e Maia, corpos sem vida, olhos abertos sem expressão alguma.

Eu não podia demonstrar fraqueza ou qualquer reação de compaixão naquele momento, apenas olhei por cima do corpo da minha amiga, jovem filha de Apolo e suspirei, o sangue fluiu mais rapidamente, encarei Marceline com meu olhar sanguinário.

– Você... – a frase não saiu completa.

– Ah, não fique triste, irmãozinho. Você é o próximo – respondeu sem muita reação.

Parti para cima dela com tudo o que eu tinha, nossas espadas se tocaram, eu senti uma grande dor na cicatriz em meu olho e percebi que ela também sentiu um incômodo. De alguma forma nossas cicatrizes tinham uma ligação e sentíamos a dor juntos. Nossos movimentos eram praticamente idênticos, mas ela estava com rancor demais, e filhos de Hades com rancor podem fazer coisas impossíveis. De repente eu já não me sentia tão vitalizado, e os corpos estendidos e ensanguentados de Maia e Cass ao meu lado não ajudavam em nada.