Infinite Arms

Uma única regra


– Está calada, amor. - Alan falou enquanto dirigia o carro.

– Estou cansada… - disse olhando pela janela. Não fazia ideia de onde estava porque não fiz questão de pensar em outra coisa a não ser no que Fabrizio tinha dito. E no que iria falar.

Tive vontade de pedir para parar o carro e dar meia volta, podendo assim falar com ele. Mas não o fiz. Não o fiz naquela tarde como não fiz na próxima semana. Já tinham se passado cinco dias da nossa chegada da Itália e nem sinal de Fabrizio. Estava convencida de que tudo havia voltado ao normal, o casamento aconteceria em uma semana e tudo não havia passado de um engano. Acho que aquilo era normal. Eu era uma noiva e provavelmente estava insegura e nervosa com o casamento. Já o lado de Fabrizio, ele provavelmente havia falado aquilo sem significado algum, pois não me procurara mais, mas no fundo aquilo me deixava triste.

No meu escritório, sentada na minha cadeira pela primeira vez desde a viagem por causa de uma folga concedida por James, pensei em procurar por Fabrizio. Não sabia exatamente o que falar, mas sentia que precisava vê-lo, nem que fosse com aquele odiado clima estranho.

Levantei-me da cadeira e segui até a porta de vidro. Abri-a, mas escutei meu telefone tocando. Tive que voltar e atendê-lo.

– Allie, compareça em minha sala, por favor. - era James.

Suspirei nervosa e aliviada ao mesmo tempo.

– Estou indo.

Passei pelas outras salas esperando ver Fabrizio mesmo sabendo que seu departamento não ficava naquele andar.

– James, quer falar comigo?

Ele assentiu e eu entrei.

– Sim. Sente-se. - apontou para a cadeira. Entrei e sentei. - Vocês foram incríveis na viagem. Foi meio que uma prova de resistência, não é? - sorriu. James e seu jeito aventureiro...

– É, acho que sim.

– Acho que vocês conseguiram exatamente o que precisávamos. Algo simples e belo.

– Mas ainda nem vimos a obra.

James levantou a sobrancelha como uma criança faria depois de aprontar algo.

– Aronne já mandou? Vocês já viram? - perguntei com o coração acelerado.

– Sim.

– Quero ver. Onde está?

– Calma, moça. - ele riu. - Vocês vão ver. Não hoje. Amanhã na exposição.

– Vocês? Fabrizio também não viu?

– Não, mas não foi por isso que te chamei até aqui. Tenho algo para você.

James levantou e andou até uma estante cheia de livros. Pegou um pacote contendo dois envelopes de aparência amarelada.

– Aqui está o seu. Deve ser importante, o próprio Aronne ligou para conferir se haviam mesmo chegado, mas deixou claro que deve seguir uma única regra. Só poderá abri-lo depois da exposição.

Ouvi atentamente e demorei um pouco a criar coragem para pegá-lo da mão de James. Não fazia ideia do que se tratava e tive vontade de abrir naquele segundo, mas regras eram regras e eu devia muito a Aronne por ter salvado o meu emprego. O mínimo que eu poderia fazer era esperar.

– Está dispensada. Se quiser ir para casa, também está liberada. Amanhã será um dia e tanto.

– Obrigada. Boa tarde, James. - disse saindo de sua sala sem prestar atenção em mais nada a não ser naquele envelope. Li meu nome escrito com uma letra incrivelmente bonita que só poderia ser de Aronne, respirei fundo e voltei para a minha sala.

*

Não seria novidade se eu dissesse que acabei não procurando Fabrizio. Minha vontade de vê-lo era proporcional ao meu medo de encará-lo. Não que eu fosse medrosa, mas sim, tinha o receio de sentir algo e sentimentos às vezes eram destrutivos.

Peguei minha bolsa e saí do museu. Era fim de tarde, então o céu havia tomado um tom alaranjado e cor-de-rosa me deixando completamente protegida.

Liguei o carro e saí dirigindo. Poderia ir para casa, mas não tinha a mínima vontade, então acabei parando em uma lanchonete vazia. Sentei e tomei um sorvete de creme. Estava quase indo embora quando meu celular tocou.

– Allie! - ouvi a voz sempre animada de Lucy.

– Lucy! Bom falar com você.

– Bom falar com você também. Estamos em Nova Iorque. Tudo de pé para a exposição amanhã, certo? - havia telefonado chamando ela e Jake há alguns dias.

– Certo! - pela primeira vez no dia, me senti bem. Lucy e sua felicidade constante proporcionavam isso nas pessoas.

– E Fabrizio? Estará lá?

Engasguei.

– É... espero que sim... bom... eu acho.

– Acha?

– Lucy, tem algo que eu preciso te contar. Você é a única amiga que eu tenho e não posso te esconder isso. Fabrizio e eu... não somos namorados.

Demorei alguns minutos para convencê-la de que não estava brincando. A voz de Jake do outro lado da linha parecia igualmente espantada. Expliquei sobre o trabalho e como havíamos ficado amigos nos últimos dias.

– Sério? - ela parecia chateada.

– Sério. - afirmei.

– Mas vocês pareciam tão... - não terminou a frase e temi que o fizesse.

*

Dirigi até a rua do prédio onde morava. Liguei o rádio e ouvi Here With Me tocando.

Don't want your memories in my head, no. I want you here with me.

Absorvi cada uma daquelas palavras e senti um certo arrepio. Não saberia descrever exatamente o que aconteceu, mas virei a esquina e dirigi até o museu. A verdade é que eu o queria comigo. Não sabia como, porque ou quais consequências isso teria, mas minha vontade era de conversar com Fabrizio e deixar todo o resto para trás. Precisava resolver aquilo e não deixaria para depois.

Abri a porta do carro e subi os elevadores rápido demais. As pessoas me olhavam correr pelos corredores e eu sentia uma felicidade e adrenalina que jamais havia sentido.

– Carl! - gritei o moço moreno e alto que ficava no mesmo departamento de Fabrizio. - Onde está Fabrizio?

– Acho que na sala dele. É a segunda desse corredor. – saí correndo quase sem escutar.

– Obrigada!

Parei em frente a sua sala. Respirei pensando no que falaria e só assim vi que realmente não havia preparado nada. Abri a porta, mas deparei-me com a sala vazia.

– Sinto muito, Allie. – ouvi Amanda falar atrás de mim. – Fabrizio acabou de ir embora.

– Tudo bem. Falo com ele amanhã. – falei decepcionada.

Amanda se afastou e todos no corredor haviam voltado a fazer o que estavam fazendo antes de eu aparecer. Entrei rapidamente em sua sala e olhei sua mesa um pouco bagunçada. Um livro sobre a segunda guerra mundial estava marcado na metade. Peguei-o temendo que alguém me encontrasse ali.

Abri o livro lentamente, mas parei ao ver que o marcador havia caído no chão. Quando agachei para pegá-lo percebi que não se tratava de um marcador e sim de uma foto.

Virei a foto e senti minha respiração acelerar.