Infinite Arms

Fazem um casal bonito


Saí do banho quente com a pele vermelha. Coloquei calça e uma blusa simples preta. Fabrizio estava apoiado na janela observando lá fora. O vento balançava seus cabelos curtos e os deixava meio bagunçado, mesmo que fosse algo difícil de acontecer.

A cidade estava calma e tudo o que eu ouvia era alguém tocando piano em algum lugar. Me perguntei se era naquele hotel e acabei na conclusão de que piano tinha tudo a ver com o ambiente.

Ia falar com Fabrizio, mas ele parecia tão distante que eu não quis interromper aquele momento. Sem fazer barulho, caminhei até perto da estante e fiquei observando os livros. Passei a mão por eles esperando que saíssem poeira em meus dedos, mas não tinha nem sequer um pó. Suspirei e sorri. Li alguns títulos em italiano e como não dominava a língua procurei por outros em outras línguas.

Peguei um exemplar de P.S. Eu Te Amo e não hesitei ao sorrir. Aquele livro me lembrava a época da escola e eu conseguia sentir exatamente o que era amor quando lia aquelas inteligentes páginas.

Inclinei meu corpo para devolver o livro na estante.

- Suspirando com romances...- Fabrizio estava atrás de mim e ouvir sua voz me deu um susto tão grande que acabei deixando o livro cair no chão.

Abaixei e senti minha cabeça bater na de Fabrizio, que também se abaixava.

- Ai! - gritei colocando a mão onde havia batido. - Não se importa em me deixar em paz?

- Me desculpe. - ele parecia realmente arrependido. Seus olhos verdes me encaravam e assim como eu, estava com a mão na cabeça.

- Tudo bem. - me acalmei. - E sim, estava suspirando com um romance. - guardei o livro e virei as costas, andando até o sofá.

Fabrizio ficou em silêncio e isso estava começando a me incomodar.

Caminhei até o som e coloquei meu pen drive. Primeiramente pensei que Fabrizio iria criticar ou algo do tipo, mas ao contrário, batia sua perna no ritmo de Stop ThisTrain enquanto procurava um livro.

- Comprei doces mais cedo. Um tipo de sonho. - falou sentando-se do meu lado, o que me surpreendeu. Segurava o pacote e depois de olhar para suas mãos, olhou pra mim e me entregou. - Pegue um e me perdoe por ser rude. - sorriu. Fez uma cara engraçada.

- Então você bate a cabeça na minha e ainda tenta me engordar? - brinquei.

Fabrizio riu, o que me fez minha dor na cabeça aliviar.

- A propósito, minha cabeça está doendo.

- É, a minha também. - fez uma careta.

Dei uma mordida do sonho e senti o doce misturado com um leve sabor de creme. Era o sonho mais gostoso que havia comido e eu tentei me controlar para não comer outro.

Fabrizio me acompanhou e pegou um, o que fez eu pegar mais outro. Logo estávamos parecendo duas crianças atrás de doce.

- Estavam incríveis. - falei acabando de morder o último.

- É, eu sei.

- Agora eu te perdoo.

- Sabia que seria fácil. - riu.

Encarei-o outra vez e me levantei, mas senti sua mão suja de açúcar e doce de leite segurar meu braço.

- Quer ir dar uma volta antes da noite chegar?

Olhei para sua mão e depois para seu rosto. Vendo minha reação, acabou soltando meu braço.

- É, acho que sim. - afastei um pouco e olhei quase que sem querer para meu anel de noivado. Era exagerado e cheio de diamantes. - Afinal, não sabemos se isso termina essa noite.

- Até que não está sendo tão torturante ficar aqui com você. - disse me seguindo até o banheiro, onde lavei as mãos.

- Sei que você até sentiria minha falta.

- Fala isso porque sentiria a minha.

Revirei os olhos e saí do banheiro, esperando-o do lado de fora. Peguei meu celular de dentro da bolsa e esperei por mensagens ou e-mail de Alan. Tudo o que encontrei foi: "Se divirta em Roma. Logo nos veremos, beijos.", no final, assinava com um coração. Senti um certo vazio ao ler aquilo, mas Alan era daquele jeito e era o homem com quem eu ia me casar.

- Pronta? - perguntou ao sair do banheiro.

- Pronta.

*

Andávamos pelas ruas de Roma lentamente. Havia muitos turistas e estes tiravam fotos de tudo o que viam pela frente. Por um momento desejei fazer aquilo também, mas algo me impedia.

Olhei para Fabrizio. Ele usava uma blusa de linha azul escuro que o deixava bonito e além disso, andava sempre olhando pra frente, como se sentisse familiarizado com aquele lugar. E de fato estava.

Paramos em frente a uma fonte com alguns pombos brancos no chão, que voaram assim que chegamos perto. Do lado da fonte havia uma árvore bonita com flores vermelhas. Era o começo da primavera.

- O que acha da Itália? - perguntou.

- Incrível. - dei uma olhada no lugar. - Podemos visitar o Coliseu?

Fabrizio fez que sim com a cabeça.

Dei uma olhada na fonte que estava ali e senti um frio na barriga ao ver que a conhecia.

- Essa não é a fonte que aparece no filme Quando em Roma? - ri e Fabrizio fez o mesmo.

Estava prestes a dizer algo quando vi que ele tirava uma moeda de dentro da carteira. Sorriu pra mim e tacou-a de costas.

- Quem sabe funciona. - deu de ombros e eu vi que não estava falando sério.

- E quem sabe eu te torture pegando sua moeda e fazendo se apaixonar por mim?

- Me apaixonar por você? - parou de olhar pra mim e ficou observando as pessoas que por ali passavam. - Mais fácil você se apaixonar pelo meu jeito atraente. - riu.

Dei um murro leve em seu braço e me levantei. Observei um senhor de cabelos brancos passar na nossa frente com uma câmera polaroid, mas minha atenção foi de novo levada para Fabrizio que falava algo engraçado.

- Desculpe interromper. - ouvi o senhor falando com o típico sotaque e nós dois acabamos olhando para ele. - Tirei uma foto de vocês agora. - sorriu como se satisfeito por nenhum de nós dois ter percebido aquilo. - Fazem um casal bonito.

Senti minha garganta seca.

- Não somos um casal. Somos só amigos. - me surpreendi falando aquilo, afinal, nem amigo éramos.

- Me desculpe pelo engano. - ele continuava sorrindo de um jeito travesso. - Tomem a foto. Um presente.

Sorri e entreguei-o o dinheiro que havia no bolso como recompensa. Fabrizio fez o mesmo e o senhor saiu sorrindo de satisfação. Quando já não conseguia mais avistá-lo na rua, percebi que nenhum de nós havia dito algo.

Olhei a foto na minha mão e vi que realmente havia ficado bonita. Virei-a para Fabrizio e ele sorriu.

- Acho melhor irmos para o Coliseu. Logo temos que estar prontos. - falei antes que dissesse algo.