Infinite Arms

Nem tudo vai dar certo


- Como algo em ruínas pode ser tão incrível? - falei sentindo o vento bater nos meus cabelos do alto do Coliseu.

Fabrizio ficou em silêncio do meu lado e tive vontade de ler sua mente para saber em que estava pensando.

Andei cuidadosamente por lá e tentei imaginar gladiadores e romanos daquela época naquele lugar, mas o pensamento era tão distante que me deixava tonta. Sorri sozinha com a sensação de estar naquele lugar e pensei em Alan e no que deveria estar fazendo naquele momento. Quando voltasse, iria planejar uma viagem daquelas, mas algo me dizia que ele preferia praia ou algo do tipo.

Ficamos por mais alguns minutos ali e Fabrizio parecia não ter necessidade de falar muito.

Já fora do Coliseu, tentava respirar normalmente, mas estava um pouco cansada. Andamos de volta para o hotel e paramos para comprar sorvete. Logo estava na hora de arrumar para a festa.

*

- James alugou um carro para irmos na festa. Acabei de ler no e-mail. - Fabrizio falou enrolado em uma toalha. Estava parado na porta do banheiro e seus cabelos escuros estavam molhados e bagunçados.

Fiquei um pouco desconcertada com o que via.

- Acha que vai dar tudo certo com Aronne? - andei para perto do guarda-roupa.

- Levando em conta que sou um bom profissional.

Encarei-o e ele deu um sorriso convencido, voltando para dentro do banheiro.

Ainda estava procurando meu vestido quando Fabrizio apareceu de camisa social branca e calça social.

- Ainda de short e blusa?

- Estou confusa. - olhei os vestidos. - Pode virar para lá? - apontei no lado contrário.

- Não pode ir no banheiro?

- Depois de você ter molhado ele todo? Não.

Fabrizio se rendeu e virou. Tirei minha roupa me certificando de que ele não iria olhar e minutos depois coloquei meu vestido preto. Ele era feito de dois tecidos. O primeiro era de um vestido até no meio da minha coxa justo no corpo. O segundo era preto com transparência e ia até os meus pés. Sua alça era simples e o decote elegante.

Olhei no espelho e fiquei satisfeita com o que vi. Nunca havia usado aquele vestido e sabia que havia deixado-o para a ocasião certa.

Passei a mão em meus cabelos e vi se minha maquiagem não precisava de retoque.

Coloquei minha sandália alta e também preta e percebi que estava realmente pronta.

- Posso me virar? Preciso pegar meu terno e... - Fabrizio se virou ao ouvir meu "pode".

Esperei que ele terminasse a frase, mas ficou completamente imóvel. Sua boca se fechou lentamente e os olhos dele se encontraram com os meus. Senti minha pele ficar quente e percebi que Alan não me olhava daquele jeito há muito tempo.

- Você está linda. - as palavras finalmente saíram da sua boca.

Falei um "obrigada" abafado e logo em seguida sorri. Vendo que ainda me olhava, desviei o olhar para a janela. O céu tomava um tom laranjado e mesmo a festa sendo às vinte horas, precisávamos sair logo porque o lugar era fora de Roma, mas na verdade, continuava pensando em Fabrizio ali parado.

Finalmente andou até a cama e pegou seu terno, colocando-o. Passou a mão no cabelo, colocando-o no lugar, mas não exatamente arrumado.

- Hora de ir. - sorriu olhando pra trás.

Concordei com a cabeça.

*

Dentro do Impala, senti o cheiro dos nossos perfumes se misturarem e demorei um tempo para cair a ficha de onde estávamos indo.

- Um Impala? - ri.

- Na verdade eu quem escolhi. - deu de ombros.

- A não ser que a gente encontre mulheres de branco na estrada, espíritos, demônios...

- Alguém andou vendo Supernatural demais na adolescência.

- The Road So Far. - falei com um tom de voz que fez Fabrizio rir.

Passamos alguns minutos dentro do carro e logo, sem o farol ligado, era difícil ver o que estava pela frente. Ainda tínhamos três horas e eu nem mesmo sabia para onde estávamos indo.

- É um casarão por aqui. - Fabrizio respondeu minha pergunta olhando para o GPS no celular.

- E a estrada está completamente vazia. - abri o vidro sentindo o vento. - Não teria a possibilidade de estarmos no lugar errado?

- Estamos no lugar certo. - falou olhando pra mim com uma certeza que acabou me convencendo.

Peguei minha bolsa preta que havia levado. Ela ficaria dentro do carro e o único motivo de estar ali era o fato de ter barrinhas de chocolate, maquiagem, meu celular e a toca de panda que Fabrizio havia me dado. Tentei pensar nos motivos que havia me levado a colocá-la ali, e apenas ignorei aquele fato.

*

- Temos uma hora. Acho que estamos quase lá. - Fabrizio falou sem tirar o olho da estrada.

Peguei meu batom vinho e retoquei a cor dos meus lábios.

- Acha que vai dar tudo certo? - perguntei com uma pontada de nervosismo.

Fabrizio olhou pra mim.

- Eu tenho certeza.

No mesmo instante, como por ironia do destino, o Impala começou a fazer um barulho estranho e engasgou, acabando por apagar no meio da estrada escura e vazia. Olhei para Fabrizio assustada. Não por causa da estrada e sim porque não poderíamos perder aquela festa por nada. Era nosso trabalho em jogo.

Fabrizio virava a chave sem parar, mas o carro parecia não dar partida.

- O que aconteceu? - perguntei.

- Não sei. - abriu a porta e saiu. O farol iluminava o lugar, mas a lua cheia também se encarregava disso. - Talvez falta de gasolina ou motor fundido.

Abri a porta do carro e saí. Tudo o que se ouvia era uma coruja cantando juntamente com um grilo.

- Acho que nem tudo vai dar certo. - falei brava, encostando no Impala e sentindo raiva dele ao mesmo tempo.