Infinite Arms

Como se fosse apenas um fim de semana fora


– Alan? Cheguei! – gritei ao abrir a porta de seu apartamento.

Não ouvi resposta, por isso saí andando por entre os cômodos a procura de algum sinal seu. Abri a porta do quarto e observei sua cama completamente bagunçada. Quando ia bater na porta do banheiro, ouvi o chuveiro ligar e resolvi esperá-lo sair para contar sobre a viagem para Itália.

Peguei uma mala preta de cima do guarda-roupa e abri o armário. Tirei minhas melhores roupas e coloquei-as com cuidado na mala. Peguei maquiagem, escovas, brincos, pulseiras e tudo que me deixava elegante para exposição de obras. Precisava conseguir aquelas pinturas, custasse o que custasse.

– Amor? – ouvi a voz de Alan assim que abriu a porta. Um vapor quente invadiu o quarto juntamente com o cheiro de seu creme de barbear. – Chegou cedo! – sua voz tinha uma pontada de espanto.

– Sobre isso que precisamos conversar. – sentei na cama depois de beijá-lo. – Tenho que ir pra Itália amanhã. É uma viagem de trabalho e preciso fazer isso. Temos que ir em busca de obras de um italiano, e eu sei, vai ser difícil, mas...

– Temos?

– Eu e Fabrizio. Ele trabalha pro museu e James nos chamou. – pisquei os olhos lentamente, esperando que ele dissesse algo que me fizesse desistir da viagem.

Observei-o pensar um pouco, mas logo um sorriso leve formou no seu rosto.

– Acho que tudo o que eu tenho que te dizer é boa viagem. – sorriu e eu fiz o mesmo. – Sei o que o seu trabalho significa pra você, então espero que dê tudo certo.

Abri os braços deixando que me abraçasse. Era bom o fato de não ter reclamado sobre a viagem, mas sentia que ele podia ser um pouco mais ciumento ou quem sabe, demonstrar algo sobre eu ter que ficar alguns dias fora e em outro país. Mas ele apenas concordou e agiu como se fosse apenas um fim de semana fora.

– Queria ficar com você, mas um cliente está me esperando. Me desculpa.

Olhei para as malas e depois pra ele.

– Eu te espero então. - forcei um sorriso.

– Tudo bem. Volto em minutos.

Fiquei vendo enquanto ele saía pela porta de seu quarto e comecei a pensar sobre os motivos que me levaram a trazer algumas roupas para seu apartamento e só assim vi que começamos as coisas cedo demais, mas depois do casamento tudo ficaria bem e pensava que estava fazendo a coisa certa.

Minha mala estava quase cheia quando ele entrou de novo pela porta.

– Que bom que você chegou. - falei.

– E trouxe seu sorvete preferido. - sorriu apontando para o pote de sorvete de passas ao rum.

Segui pela cozinha atrás de Alan e sentei-me na mesa redonda de vidro. Não sei estava com muita fome ou se o sorvete estava muito bom, mas apenas comi duas taças cheias enquanto ouvia meu noivo falar sobre economia, política e algumas coisas que eu não entendia. Ele mostrava o mesmo entusiasmo que eu quando falava em arte, livros e até mesmo física.

Concordei com a cabeça quando ele disse que aquele emprego era tudo pra ele, mesmo achando que “tudo” era uma palavra muito forte. Quando terminei o sorvete, olhei para Alan e tentei falar sobre meu trabalho.

– A exposição vai ser incrível também. Estamos esperando ela por muito tempo...

– Bobby ainda não ligou. – falou sem prestar atenção nas minhas palavras.

– Estou falando com você. – balancei as mãos perto do seu rosto, enquanto soltava um riso abafado.

– Me desculpe. – tocou minha mão. – O que dizia?

– A exposição... Vai ser incrível. – sorri. – Você vai, não é?

Percebi sua expressão mudar.

– Eu queria te contar isso... Tenho uma viagem importante marcada para o dia da exposição. Desculpe-me mesmo, mas...

– Tudo bem, eu entendo. – disse com a voz triste. Eu entendia, mas mesmo assim não escondia minha decepção. E além disso, o fato de Alan viver sempre se desculpando tornava as coisas mais difíceis.

– Mas vou tentar o máximo para poder ir. Só não te garanto ainda.

– Não se preocupe.

– Fico feliz por entender. – levantou-se e beijou minha testa, deixando-me sozinha na cozinha.

Respirei fundo novamente e logo estava calma. Afinal, não valia a pena me estressar naquele momento.

*

Mais tarde, pedi para que Alan me levasse para meu apartamento onde eu pegaria algumas outras roupas e ouvi-o rir e dizer que mulheres são complicadas e eu já havia pegado roupa demais. Ri e mandei-o calar a boca, mas mesmo assim ele disse que eu não iria morar na Itália para levar tanta roupa.

No caminho olhei para o céu negro e procurei pela lua e pelas estrelas como costumava fazer desde pequena, mas notei que as nuvens cobriam qualquer luz vinda do céu. No mesmo instante senti um vento frio e logo depois, como imaginei, os pingos grossos de água começaram a cair no teto do carro, fazendo um barulho tranquilizante.

Alan dirigia lentamente pela rua e o vidro molhado não possibilitava nossa visão. Eram dez horas da noite quando cheguei a meu apartamento.

– Quer que eu te espere para voltarmos juntos? Durma lá em casa hoje... – Alan disse.

– Não posso. Ainda tenho que arrumar muitas coisas. – falei enquanto colocava um vestido de renda vermelho escuro dentro da mala. – Preciso saber o que preciso ainda pra amanhã, mas nos veremos antes de eu ir, não é?

Observei Alan passar a mão no cabelo e fazer uma cara preocupada. Algo naquele movimento me fez saber a resposta de imediato.

– A resposta é “não”? – tentei rir, mas voltei a atenção no que estava colocando na mala. Os trovões distantes soavam como música no meu quarto e por um momento desejei estar deitada, relaxada e prestes a dormir, mas ainda tinha muito o que fazer naquela noite.

– Tenho uma reunião. Importa-se se eu não for?

– Se isso não for te deixar com mais saudade. – brinquei.

– Claro que vai. – passou o braço pelo meu pescoço e beijou minha testa. – Vou sentir sua falta, mas sei que é por uma boa causa.

– É, é sim. Mas acho que agora você deveria ir antes que a chuva piore. Já está tarde e pode ser perigoso dirigir.

– Então te vejo em breve? – fiz que sim com a cabeça. – Me mande mensagem falando sobre quantos dias irá ficar quando descobrir.

– Acho que é indeterminado.

Alan fez uma cara engraçada, como se estivesse triste.

– Realmente vou sentir sua falta, então volte logo. – me beijou. – E boa viagem.

– Obrigada. – sorri e ele fez o mesmo.

Fiquei ali, na frente da cama vendo seus movimentos enquanto abria a porta e saía. Por alguns minutos fiquei apenas parada ouvindo a chuva e tentando não pensar em mais nada, mas a realidade ainda me chamava. Tinha que checar o e-mail, procurar mais roupas, colocar músicas no meu celular e procurar algo sobre Aronne, mesmo sabendo que seria improvável achar.

Liguei o computador e li as poucas informações que havia no meu e-mail. Tudo o que sabia era que cedo estaria no aeroporto.