Incandescente

17. Monstro de olhos verdes.


Meu corpo doía por inteiro. Minhas pernas. Meus braços e até a raiz do meu cabelo. Enquanto me olhava no espelho havia manchas arroxeadas por todos os lados dos diversos chupões que Christopher deixou em meu corpo. E ainda assim eu estava rindo feito uma idiota. Apesar do impacto de não senti-lo na cama pela manhã, eu estava feliz. Nós dormimos abraçados, fizemos o melhor e mais incrível sexo com amor e eu sabia que ele deveria estar perturbado demais com o fato de ter gozado em mim. Mas estava tudo bem. Eu não me importava. Deveria, sou maluca! Como um filho iria resolver nossa situação?

― Felipa? ― Escuto passos pesados e fecho o roupão. O seu roupão. O cheiro gostoso de sua colônia masculina exala dele.

― No banheiro! ― Grito e ele aparece. Em sua mão há um copo de água.

― O café está na mesa. Você está bem? ― Uma ruga de preocupação se formou em sua testa e eu sorrio para ele. Ando devagar em sua direção, seguro seu rosto em minha mão e deixo que um selinho em seus lábios. Ele fica paralisado.

― Eu estou ótima! E você? Dormiu bem? ― Ele assente.

― Aqui. ― E me entrega um comprimido pequeno cor de rosa e depois o copo de água ― Pílula. Do dia seguinte. ― Respiro fundo e a saliva fica amarga em minha boca. Assinto e coloco o comprimido na boca jogando uma quantidade grande de água em seguida. Devolvo-lhe o copo ― Há outro que você precisará tomar daqui há doze horas.

― Tudo bem. Acho que isso resolve nossos problemas.

― Sim, resolve. Você não devia ter feito aquilo ontem. E eu deveria ter te impedido. Ambos fracos e desajuizados.

― Você fala como se eu fosse sua amante! ― Rebati baixo e ele ficou em silêncio ― Você não quer ter filhos? ― Mais silêncio.

― Não agora... Você ainda é muito jovem... E...

― E você se casou comigo ainda assim. ― Passo por ele e pela porta do banheiro. Ele está todo arrumado e perfumado para o trabalho, tenta esconder, mas dentro daqueles olhos eu posso perceber uma onda de felicidade.

― O comprimido está aqui. Tome, tudo bem? ― Faço que sim com a cabeça.

― De qualquer forma em doze horas você estará aqui; poderá ver com os próprios olhos eu o tomando ― Christopher respira fundo.

― Eu preciso ir, tenho uma reunião importante agora cedo. Desça e tome seu café da manhã, ouviu?

― Estou liberada do castigo? ― Rio. Estava cansada de ficar presa no quarto. Queria as vantagens de ser a senhora Molina.

― Na verdade não. Quando eu voltar nós vamos conversar sobre a sua dancinha com Diego Santibñes. Ou você achou que iria me comprar com sexo? ― Nos encaramos por alguns segundos ― Desça e tome café. Ouviu bem?

E se foi. Sem beijo de despedida. Quem era eu para achar que alguma coisa mudaria? Uma tola.

― Eu não sei George. As mudanças que eu quero fazer na casa podem deixar Christopher insatisfeito. Aliás, essa é a casa com quem ele viveu com os pais. ― George pigarreia e me encara, algo está errado ― Alguma coisa a ser mencionado?

― Acho que o Sr. Molina realmente não se importaria se mudasse algo, Lady. Tudo que ele quer é que se sinta em casa.

― Eu me sinto em casa! ― Digo e ele assente animado.

Estamos há um par de horas imaginando a decoração para o natal e onde possivelmente seria o melhor lugar para uma árvore viva em casa, enquanto ele fala eu não consigo direcionar meu olhar para nenhum lugar que não seja minha aliança. E o sorriso está gigantesco no rosto. Eu finalmente havia me tornado uma mulher completa e a madrugada de hoje e isso não me sai da cabeça. George precisa chamar minha atenção diversas vezes para que eu volte a dizer o que quero ou não para o Natal.

― Ficará tudo tão lindo! ― Ele diz animado e eu concordo. Encaro o relógio em meu pulso, marca nove da noite. Nada de Christopher.

― Alice? ― Grito por ela que logo aparece. A menina está habituada e eu habituada a ela, posso vê-la por todos os lados e sorrio feliz, porque ao menos Alva enviou um de seus anjos para me ajudar. ― Você ainda não conseguiu falar com meu marido? ― Ela nega.

― Caixa postal direto. E na empresa já não tem mais ninguém. ― A preocupação me assola e eu respiro fundo.

― Tudo bem, obrigada.

― A senhora deseja jantar agora? ― Está ficando tarde. Christopher deveria estar em casa por volta das seis no máximo.

― Vou esperar. Mais um pouco. Mas se quiser se recolher ou sair faça. Eu me viro sozinha, não se preocupe. ― Então ela sorri contente e pede licença para sair da sala.

Caminho até a parede de vidro e retiro o telefone sem fio dela. Disco o número da casa de Molly na esperança de Pablo ter notícias de Christopher.

― Hey, amiga! Já está com saudades? ― Minha língua coça para lhe contar sobre minha noite. Eu rio.

― Na verdade sim. Mas não foi por isso que liguei, por acaso Pablo está em casa?

― Sim. Aconteceu algo? ― A preocupo.

― Não. Relaxe. Pergunte se ele sabe do Chris. Estou preocupada. ― Um silêncio incômodo surge do outro lado da linha. Muitos minutos.

― Ele... Não falou com Christopher hoje... ― Molly está mentindo. Eu consigo captar o nervosismo em sua voz.

― Oh, não? ― Blefo ― Você acha que seria o caso de, sei lá, chamar a polícia?

― Felipa! Acho que não. Christopher vai aparecer em algum momento... Relaxa. ― Ela solta uma risada nervosa. Mais um indício de sua mentira.

― Ou... ― Não quero pensar nessa hipótese. Ela nem tinha passado por minha cabeça até agora ― Ou ele está com Nina. Certo? ― Mais silêncio.

― É uma hipótese. Eu sinto muito. ― Mais silêncio. Só percebo que estou chorando quando as lágrimas molham meu pescoço.

― Ele é um idiota! Depois de ontem... Depois de tudo. Estou cansada! ― Grito. Molly respira fundo.

― O que aconteceu ontem, Felipa?

― Pergunta ao seu marido, Molly. Ele com certeza sabe. Ele sabe tudo sobre a vida de Christopher. Eu me sinto tão... Idiota. Falamo-nos depois, desculpe o incomodo. ― E desligo sem esperar resposta.

Burra. Burra. Burra.

POV CHRISTOPHER.

Merda. O que eu fiz?

O dia do dia inteiro eu questionei isso, não consegui me concentrar em nada. Absolutamente nada. O que me rendeu pensamentos ridículos e imagens torturantes, como dela em cima de mim. Cavalgando. Linda... Gostosa. Completamente fodível até a última gota de energia. Ali, toda minha. E ao fechar meus olhos eu podia até senti-la em mim e isso me levou a primeira masturbação do dia. A segunda foi após uma reunião de quatro horas, onde fechei um contrato sem nem saber sobre o que se tratava, porque os gemidos dela estavam em minha mente. E a forma doce que ele me chamava de amor. Na terceira eu percebi que precisava ficar longe da empresa e do meu maldito banheiro privativo, porque eu estava começando a sentir a boca de veludo envolta a meu pau e chupando como se fizesse isso todo dia! Como ela conseguia? Fora perfeita. Perfeita. Nascera pronta para deixar qualquer homem louco e ela deixava.

E isso me levou a... Diego Santibñes. Filho de uma boa puta. Eu foderia com a mãe dele, se ela prestasse. E foderia com ele também, com a vida dele em particular. Mas ele é meio intocável no momento. E eu simplesmente me odeio por ter pensando em um só momento da noite de ontem que ela me trocaria por ele. Por aquele verme. Só se ela fosse burra, muito burra. Mas ela não é... E eu percebi outra coisa. Uma que fez tudo desmoronar de vez. Ela me ama. Ela simplesmente se apaixonou. E não hesitou em arrancar a merda da camisinha e pedir para eu foder ela! Eu nitidamente fodi pensando em fazer um filho. Uma linda garotinha de cabelos loiros e cacheados como de sua mãe. Com os olhos verdes e ingênuos, mais uma menininha para eu proteger de todos os homens do mundo. Eu imaginei isso. E quis. Quis até acordar e perceber o tamanho da insanidade... E depois. E quando ela descobrisse o motivo de estarmos realmente juntos? Ela iria embora. E levaria minha filha com ela. Eu não conseguia suportar perder algo que eu nem tinha! Melhor nem cogitar.

Marquei com Pablo no Vianna para um almoço tardio. Ele chegou com quase uma hora de atraso e isso me fez perder esse tempo com Nina no telefone.

― Só estou com muita saudade de você. Me entende? ― Ela riu daquele jeito safado ― E eu comprei um presentinho para nós... Você vai adorar. ― Não envolva sexo, por favor, não envolva sexo ― Envolve sexo quente do jeito que gostamos. ― Droga.

― Mais tarde nós estaremos juntos, você já expulsou suas amigas daí? ― Ela rir. Eu simplesmente não quero Olívia e Charlotte lá ouvindo tudo que fizermos.

― Já. Venha logo.

― Sim, em duas horas estarei aí com você.

― Cara! ― Diego me cumprimentou animado. Estava totalmente casual. Tirou o boné e os escuros óculos de sol do rosto e sentou-se a minha frente ― Hoje está calor!

― Nem tanto, Shepard. ― Rimos ― Melhor do mau humor?

― Sexo simplesmente resolve tudo irmão. ― Eu ri da ironia de sua frase.

― Resolve? Sexo simplesmente fode tudo! ― E então resumi a história para ele que pareceu não acreditar, riu e ficou sério diversas vezes perguntando insistentemente se era mesmo verdade.

― Cara! Você tem uma devassa em casa e não sabia? ― Concordo. Pablo gargalha.

― E para piorar Nina me liga. Quer que eu vá hoje.

― Você é doente se for. Felipa nunca vai te perdoar por isso. Cara. Ela ama você. Eu já sabia disso, mas agora até você percebeu. ― Ficamos em silêncio e eu encarei minha taça de vinho pela metade ― E sabe de uma coisa? Já faz tempo que eu venho tentando te dizer isso... Você mudou.

― O quê? ― Não entendi.

― Você mudou desde que casou com ela. Ainda tem a Nina, ok. Mas eu vejo que você se tornou um homem de família. Um homem que quer parar e ter filhos. Mas não tinha encontrado a mulher certa;

― Bah! Para com essa baboseira, Pablo! ― Grunhi e ele riu, deu de ombros. Louco.

― É sério. Eu vejo a forma que você olha para ela cara, você também está...

― Não. Nem termina. Você é maluco. Eu não estou e nem nunca estarei apaixonado por ela! Ela não é a mulher certa para mim!

― E o que você vai fazer então? Até onde eu sei a tradição da sua família é que não há divórcios. E ela é muito jovem para morrer. Vai ficar nessa putaria com Nina até quando?