Incandescente

18. Algum tempo depois...


Três meses depois.

POV em terceira pessoa.

Sua barriga estava redonda e seu corpo inteirinho inchado. Frankie estava passando por um inferno, como ela mesma gosta de dizer. Enquanto andava devagar pelo caminho já conhecido, pensava mentalmente se o que pensava em fazer seria a melhor solução enfim. O rosto conhecido apareceu em seus pensamentos, o sorriso que agora ela queria para si. Imaginou-se com a sorte de Felipa, sua melhor amiga, que acordava e dormia todo dia com seu marido. Se não fosse por suas escolhas errôneas talvez pudesse até estar no lugar da mesma. Enfim ela deixou os pensamentos de lado e aumentou o passo, ele estava esperando por ela e era o único a apoia-la da forma que ela verdadeiramente precisava. Só não queria que isso acabasse quando seu bebê nascesse... Ah, seu bebê... Frankie suspirou ao pensar no que faria com um bebê “deformado”. Para ela seria o pior dos castigos do mundo e agora vivia com raiva de Deus por isso, quando, no entanto a culpa não era de ninguém mais se não sua.

― Você demorou. ― Quando ela contornou o galpão abandonado pode ouvir sua voz. Respirou fundo sentindo a palpitação, no começo não era nada mais que mais uma das suas tramas, mas então se apegou. Ele estendeu uma mão amiga e uma luz no fim do túnel. Quando a pressão em sua casa era grande, ela recorria a ele. Quando a dor era insuportável, era com ele que chorava, então quando pensava em se ver longe dele... O desespero crescia loucamente.

― Fica difícil andar rápido com essa barriga aqui, saiba disso... ― Ela riu e foi acolhida nos braços dele. O cheiro do perfume amadeirado deixava-a em frenesi.

― Você está imensa, Frankie! ― Brincou, ela socou seu ombro o afastando. ― Faltam apenas um mês. Está nervosa? ― Ela assentiu com rapidez ― Vai ficar tudo bem, ok? Não fica assim cabeça oca.

Para ele, ela era apenas uma menina perdida. Não podia negar ajuda, era tão generoso o quanto podia. Criou um laço afetivo muito grande, como se fosse sua irmã mais nova que nunca teria.

― Sua mulher não encrencou por você está aqui? ― Ele negou.

― Ela saiu com uma amiga.

― Felipa?

― É... Vocês ainda não estão 100%? ― Frankie respirou fundo. Odiava que Felipa estivesse em condições melhores que a dela, e agora com outras amigas, deixando-a de lado.

― Ela não pode fazer nada por mim. O marido dela me odeia. ― Os dois respiraram fundo. No fundo ele concordava com Christopher.

― Você vai ficar legal, você sabe disso. Sua família está mais conformada?

― Deus do céu, Shepard. Minha mãe me odeia! Meu pai nem olha na minha cara. Minha vida se tornou um inferno e assim que essa criança nascer eles vão me colocar para fora, você sabe disso.

― Não diz isso, Fran! Eles não podem...

― Eles vão Pablo! Por que você não confia em mim? ― Pablo respirou fundo contrariado. Sentia um ódio profundo pelos pais da menina em seus braços, queria cuidar dela. Mas não sabia como.

― Caso isso aconteça... Eu vou te amparar.

― Rá rá! ― Gargalhou ela ― Na sua casa? Conta outra!

― Não, sabe que na minha casa não dá. Ninguém pode saber que somos amigos, você entende isso, não entende? ― Pablo a afastou de seu corpo e encarou seus olhos cabisbaixo, ela concordou ― Eu posso alugar um apartamento para você. Do jeito que quiser... Acho que as visitas ficariam até mais fáceis, não?

― Esse galpão fede. ― Os dois riram em uma perfeita sincronia ― E eu odeio andar de ônibus até aqui.

― Me perdoe. Estava preocupado com você, precisava te ver. A cada dia que passa está mais perto de Nick nascer.

Frankie respirou fundo... Nick... O nome passeou por sua mente. Pablo havia se apegado tanto ao seu menino que não estranhou quando ele deu um palpite de nome e ela concordou... Nicolas era um nome forte... Nicolas Shepard, disse para si mesma mentalmente. Como morria de inveja de Molly. E como agradecia que naquele dia em que amiga lhe deixou só na confeitaria ele apareceu em seguida a consolando. Conheceu um lado mais terno e sensível de Frankie. Os olhares perturbadores da moça já não incomodavam, agora eram íntimos, faziam piadas internas e tinham sua própria conversa pelo olhar.

Frankie chorou.

Chorou por estar malditamente emocional e odiava isso. Mas, chorou também por tê-lo. Ele a ampararia; estava tão envolvido em sua teia que mal reparara que estava cavando sua própria cova.

― Obrigada... Obrigada por tudo. ― Ele voltou a abraça-la e dessa vez mais fortes, ambos riram quando ele deixou que sua mão caísse na barriga de Frankie e o pequeno Nick chutou com força ― Ai Deus... Lá vem ele... ― Reclamou ela.

― Por favor, ele ama fazer festa para mim... ― Pablo era todo eufórico. No fundo sabia que havia se aproximado dela pelo sonho de ver seu bebê ― Hey Nick, é o tio Pablo aqui. Chute mais uma vez garotão! ― E Nick obedeceu, os dois riram, Frankie por estar encantada com a cena e Pablo por ter uma influencia tão grande no bebezinho ainda na barriga ― Perturbe sua mamãe garotão. Ela é azeda assim, mas o ama muito. E eu também. Nós nunca vamos te deixar. Eu prometo Nick ― Frankie chorou e xingou, Pablo deu um beijo leve e rápido se pondo de pé e secando a lágrima fujona da menina.

― Você não pode prometer essas coisas a ele.

― Posso sim.

― Não pode e sabe disso ― Os dois ficaram em silencio ― Se Molly descobrir você nunca mais nos verá e eu entendo. Então não prometa essas coisas como se fosse o pai dele. Se não ela pode começar a pensar que é. ― Pablo refletiu. Perguntou-se se estava mesmo agindo como um pai.

― Minha esposa me conhece. ― Disse confiante, uma falsa confiança, porque na verdade ele conhecia sua esposa e sabia que ela não entenderia tão facilmente ― Eu a amo. Ela sabe. E amo Nick, você compreende?

― Tudo bem ― Francine bufou ― Você ama Nick. Tudo bem. Explique isso para ela então!

xXx

Em outro canto isolado da cidade estava Olívia, ela tomava um cappuccino sentada no banco do jardim de Nina. Olhava o horizonte e o precipício no fim da estrada de areia. Imaginava como seria morrer de fato, pois já se sentia morta há algum tempo. Ao seu lado tinha uma revista dessas de fofoca que gostava de ler na adolescência, lembrou-se do quanto gostava de saber da vida dos famosos, principalmente de seus ídolos, mas agora, já adulta, não gostou do casal aos beijos que encontrou na capa. Era impossível ver o rosto da mulher que Christopher beijava, mas ela sabia que era Nina. Apesar de agora estar loira e com os cabelos parecidos com os de Felipa, ela reconheceria a amante em qualquer lugar. E agora sentia uma fúria crescente no intimo. O que Nina estava fazendo com ela era desumano. Por alguns instantes se colocou no lugar de Felipa, essa estava sofrendo em triplo. O marido transformando a vida dela em um verdadeiro inferno tudo por algum motivo oculto que Nina se recusa a dizer.

Olívia deixou os últimos pensamentos de lado quando o lugar ao seu lado fora preenchido, o corpo inerte de Nina sentou-se no espaço vazio. Ela abraçou os braços e tentou se aquecer. Corria entre elas um vento forte e frio, o céu estava negro apontando em alguns focos da montanha indícios de chuva.

― Você vai me ignorar até quando? ― Questionou ela. Estava aborrecida pelo comportamento de Olívia. No começo negava a todo custo o relacionamento entre as duas, mas agora era como um vício. Como a heroína, quanto mais tinha, mais queria.

― Até esquecer o quanto você é vadia ― Nina riu exasperada.

― Está frio aqui fora, lá dentro há uma cama quente e grande suficiente para dois.

― A cama que você deita com ele?

― Tem a sua também ― Nina rebateu. Olívia deu de ombros.

― Eu vou embora hoje... Vou para minha casa Nina. Ligue para Charlotte, quem sabe ela não tem algum indício homossexual? Eu cansei de ser seu brinquedinho.

― Você nunca foi meu brinquedinho, Olívia! ― Gritou ela para Olívia, que agora já estava de pé correndo para a casa. Um trovão estourou no céu fazendo Nina correr atrás dela. ― Você que sempre brincou comigo. Me atormentou, e agora está indo embora?

― Isso.

― Você não pode ir! ― Gritou novamente e segurou o braço de Olívia ― Liv, você não pode ir...

― E você não pode me impedir. ― Com nojo ela tirou as mãos de Nina de seus braços e correu para as escadas.

Nina andou de um lado para o outro transtornado, e então fez a última coisa que veio em sua mente ― Liv ― Chamou por Olívia, que já do alto da escada olhou para ela. Nina desfez-se da calça legging e sua calcinha. Do casaco fino e sutiã. Olívia olhou sem entender nada, as duas tinham a respiração desregulada.

― O que você está fazendo?

― Sinto sua falta... ― Grunhiu Nina em resposta ― Venha. Faça-me sua... Eu quero tanto sentir você. ― Esse era o jogo de Olívia e isso a deixou irada. Ninguém a controlava dessa forma, nem mesmo Nina. Ela não gostava de se sentir um passarinho acuado. Em três meses ela conviveu com uma Nina eufórica por estar recebendo mais do que atenção especial de seu amante, recebeu indiferença. Recebeu também noites e noites inteirinhas em claro por ouvir a vadia da mulher que amava gemer e gritar como uma cadela enquanto era fodida por um cretino.

― Você não tem valor ― Olívia deixou que todo o nojo transpassasse por sua garganta ― Você foi ao fundo do poço. Esse homem é a sua ruína, Vermont. E eu avisei a você. Sempre avisei. ― E assim deu as costas.

A respiração de Nina acelerou, não conseguiu aceitar a rejeição. Atirou o vaso de cristal contra a parede espalhando água e flores por todos os lados. Malditas flores. Christopher havia as enviado horas antes com um exemplar de uma revista chinfrim, deu o azar de a encomenda ser recebida por Olívia que leu com toda a ironia o cartão.

Meu amor. Nossa vingança está atingindo seu ápice. Obrigado por me ajudar a acabar com os Sullivan. Você é a mulher certa para mim. Até mais tarde. ― A voz era amargurada e Nina odiou as palavras ― Acha que ele se esqueceu de dizer “eu te amo” não é? ― Foi à última coisa que Olívia murmurou antes de sumir de sua visão e ignorá-la por horas. E agora isso. Não podia suportar a rejeição, nem o abandono.