3 - Damn! No!

Estava sentada na cadeira puída e desbotada da diretoria. Não disse uma palavra desde que cheguei e assim que entrei passei a ser ignorada pela superiora. Comecei então a prestar atenção nos objetos sem graça que povoavam as prateleiras para ver se ela me notava conforme o tempo ia passando. Tudo se resumia a livros grossos e cheios de poeira, enciclopédias e pequenas estátuas em tom escuro de alguma coisa que não conseguia identificar. Talvez fossem pessoas retorcidas ou deformadas, com algum tipo de dor. Meneio a cabeça e volto-me para frente, sacando de vez que ela não seria a pessoa a dar a primeira palavra. Tento pensar em algo que não soasse agressivo ao ponto de causar uma expulsão. Tudo o que menos preciso agora é voltar para casa e encarar o rosto do Edgar. Também conhecido como meu pai.

—Eu posso jurar que dessa vez, hoje... – acrescento cuidadosamente essa ultima parte – eu ainda não fiz nada de errado.

Que eu me lembre, é claro.

—Ainda? – e o jeito que ela falou quase soou como um desafio. Engoli em seco esperando a continuação – Bom, de qualquer forma esse não é o assunto que te traz aqui.

—Hãm, não? – não posso deixar de soltar um suspiro aliviado.

—Você sabe muito bem que suas notas não são as melhores.

Paro um pouco para pensar. Tudo bem, minha nota mais alta foi nove e meio em teatro, que sempre foi minha matéria preferida. Digamos que não tenho me esforçado muito em tentar fazer as atividades nas outras aulas. Estreito os olhos um pouco, tentando entender onde a Senhora Connie queria chegar.

—Certo, e...? – meu tão não podia ser mais inofensivo.

—Reforço. Todo dia às quatro horas na sala de apoio do primeiro andar. O Sr. Knight aceitou ajudá-la nas matérias com as notas mais baixas.

O tom de voz era tão suave que me pareceu que ela tinha errado a frase. Apesar de me olhar por cima dos oculozinhos de meia lua, ainda continuava a digitar alguma coisa no computador velho e ensebado em cima de sua mesa. Senti meu queixo cair com a descrença em sua afirmação. Me pego titubeando as palavras de um modo quase receoso, maldizendo a minha mania de achar que nunca vou reprovar um ano.

—O-O que? Reforço? Mas a gente ainda nem passou do segundo bimestre direito!

—E desde quando isso é algum motivo para deixar de reforçar as aulas?

—Isso é injusto! Não sou só eu que estou indo mal! Muitas pessoas aqui tiram notas bem mais baixas que as minhas!

—Não me importa. Desde o final do ano passado e o começo deste ano você caiu muito em rendimento escolar. Só em apenas três semanas de aula levou duas advertências e foi parar na sala de detenção pelo menos umas quatro vezes. – Cobriu a boca com uma das mãos fechadas em punho e tossiu levemente, voltando os olhos para a tela. – Você começa com as aulas amanhã. Não se esqueça. Deixamos passar a sua fase estranha, mas se desperdiçar essa oportunidade, eu terei que contatar seu pai.

Embasbacada. Não, era uma palavra inexpressiva de mais para relatar o quão... Quão... O quão quão eu estava. Fui dispensada com um pequeno gesticular de mãos, e saio dali mais indignada que cego lendo a revista Veja. Não era esse o ano que o horóscopo prometia ser deleitoso? Como vou me deleitar com um nerd metido a sabe tudo na minha cola, tirando todas as tardes dos meus dias? Por Deus, preciso achar uma saída agora. Minha luz no fim do túnel podia aparecer agora, já.