In Real Life

Mr. Perfection


4 - Mr. Perfection


A noite passada não foi uma das melhores da minha vida. Não diria nem que dormi. A preocupação com o destino da minha vida que parecia estar cinqüenta milhões de vezes pior que... Certo, o uso de hipérbole nessa frase foi bem grande, só não posso evitar exageros agora. É difícil saber que você vai perder a tarde bebendo com as suas garotas para revisar uma matéria que é mais chata que chá das cinco com as avós dos seus tios de terceiro grau. Eu sei, aqui se faz, aqui se paga, só não sabia que o uso de um tipo de “agiota” era permitido em faculdade. Qual é? Nem é para tanto. Minhas notas são estão tão ruins assim e o preço que vou pagar é bem mais caro do que deveria ser. Se me dessem um voto de confiança talvez eu pudesse reverter essa situação sozinha. Eu sou capaz de fazer isso. Totalmente, só preciso me focar em não dar bola para a diversão que me espera assim que atravessar a porta do quarto e pegar os livros para ler a matéria.


Mackenzie 07/04, 04h08min.

—Está atrasada.


Ele nem se dignou a levantar os olhos do livro que estava lendo para me olhar, somente cuspiu palavras cheias de mal humor. Admito que não corri para chegar aqui, mas não me atrasei tanto tempo assim. Aliás, não passou nem de dez minutinhos. E mesmo assim o senhor perfeito reclamou. Revirei os olhos quase cedendo a vontade de dar a volta e pular o muro para fugir desse maldito martírio. Agüente, são somente mais algumas semanas, quem sabe depois das férias do meio de ano a Diretora muda de idéia. Trinco a mandíbula e jogo a bolsa em cima de uma carteira qualquer.


—Droga. – murmuro esquecendo-me que o garoto possuía uma boa audição


—Devonne, preste bem atenção. – dessa vez seus olhos azuis se vidram em mim, desafiadores. Apenas ergo as sobrancelhas.


—Hm.


—Está me vendo aqui? Pois é, eu aceitei te dar essas aulas por que não vou negar um pedido particular da Senhora Finnegan, no entanto minha paciência tem limite. Não é só você que tem uma vida social. Eu poderia muito bem estar fazendo qualquer coisa mais interessante que ficar aqui trancado com uma garota insurgente que não quer entender a matéria por mais interessante que ela seja.


Em algum momento entre o meio e o fim de sua sentença eu comecei a ficar indignada, e isso devia estar estampado em meu rosto, com letras garrafais, por que ele nem fez menção se parar seu discursozinho. Que atividades ele teria para fazer à uma hora dessas, afinal? Jogar xadrez no clube dos nerds anônimos? Se matar para escrever um trabalho com data de entrega para o próximo mês? Estudar a matéria do ultimo bimestre?


—Você não é...


—Ainda não terminei. Prosseguindo, eu estou aqui de boa vontade. Acho que tudo vai se tornar bem mais agradável se você pelo menos tentar colaborar. Eu posso perfeitamente sair por aquela porta e fingir que você não existe, e me perdoe, mas quem vai quebrar a cara nos testes será unicamente você.


Agora quem tinha o cenho franzido era ele. Que garoto mais prepotente, falando como se eu fosse a criatura mais ignorante da terra. Meu orgulho estava beirando a decadência, mas não mostrei nem uma parcela do quanto estava abalada com suas palavras. Cruzo os braços, vestindo minha melhor expressão de impaciência.


—Terminou?


—Você entendeu?


—Impecavelmente, Senhor Perfeito.


—Ótimo. Fico satisfeito. Abra seu livro de História, de acordo com o seu boletim... – ele tira um papel do bolso e desliza lentamente os olhos por debaixo do óculos – ...essa é a matéria que você tem mais dificuldade.


Solto um muxoxo insatisfeito. Não basta ser um reforço em plena tarde, tem que ser um pé no saco também.


—Não podíamos começar com uma matéria mais fácil?


—Não, você não está em posição de julgar se o assunto que vamos estudar é fácil ou difícil. Você nem tentou entender o que a professora fala na sala, estou correto?


—Uma menos cansativa então? – solto entre os dentes, ignorando sua ultima pergunta ao me sentir mais estressada que o normal.


—Não.


—Você acha realmente que pode mandar em mim?


Ele solta um riso que margeava a satisfação e diversão. Eu vou mostrar pra ele o que é satisfação quando arrancar seus dois dentes da frente com um alicate. Talvez de brinde quebre algumas costelas. Minha mão pode ser bem pesada quando quero, mas esses pensamentos e ganas não saíram do plano das idéias, e tudo o que fiz foi apertar a caneta que estava segurando e me afundar na carteira.


—Enquanto você está dentro dessa sala, sou seu professor, portanto a resposta para a sua pergunta é sim.


Arg! Loiro irritante.