Imortal

You make me remember someone...


Não levou muito tempo até que mais pessoas além de Jake notassem a inteligência de Marceline. Mas se tinha algo que ela não sentia falta nas escolas, eram os bullies, os famosos valentões, pessoas que se aproveitam de sua força e influência sobre outros alunos para ter coisas como dever de casa e trabalhos feitos. Um garoto do primeiro ano, conhecido como “Lemon” era um desses. Era o pior, pra falar a verdade, mesmo sendo um novato. Não só obrigava outros estudantes a fazerem seus deveres, mas como roubava o dinheiro do almoço deles. Ai de quem se negasse a entregar. A privada do banheiro masculino já havia recebido várias visitas de alunos incapazes de se defender. E para sorte dele (ou não), o garoto tinha três aulas em comum com Marceline.

“...O trabalho deve ser manuscrito, feito com letra técnica e seguindo todas as normas da ABNT. Os detalhes estão aqui anotados na lousa.” O professor de história explicou aos alunos e se sentou em sua cadeira, distraindo-se com alguns papéis. “Ao terminarem de anotar, podem tirar dúvidas comigo e sair. Estão liberados por hoje”

“Huh… Redação sobre a história da independência do país? Nem fodendo vou fazer isso.” Lemon se levantou, olhou em volta na sala, como se procurasse sua presa. Olhou fixamente para Marceline e recordou-se que ela seria uma das mais inteligentes da sala, sem contar que não tinha cara de quem teria coragem de entrar numa briga. O garoto saiu da sala e ficou ao lado da porta com dois amigos, esperando a garota sair, o que não demorou muito. “Aí, o nerd!” Ele derrubou os livros dela no chão, tentando chamar a atenção “Soube que você tem boas notas… Que tal fazer essa bosta de trabalho pra mim? Quero um B+ no mínimo.” um ar de riso saiu em sua voz, ele estava se sentindo o máximo “Aproveita a sua falta de vida social e faz o dos meus amigos aqui também” Ele jogou um papel com o nome dos três em cima dos livros dela. Estava se sentindo tão superior, que não percebeu que a garota não estava com cara de cachorro assustado, como todas as outras vítimas do bully. Muito pelo contrário, ela não estava nem aí pra ele.

“Não me lembro de ter te dado permissão pra falar assim comigo.” Uma expressão vazia, nem uma emoção sequer se sentia naquele rosto. Olhou do garoto para os livros no chão e riu “Acho bom pegá-los, afinal, você mesmo derrubou. E queria agradecer por notar meu desempenho em aula, mas pelo que me parece, quem não tem vida social aqui, é você, afinal, pelo que bem posso ver, você sabe muito bem observar quem tem capacidade de fazer o que você não consegue.” e ela cruzou os braços, como um sinal de deboche.

“Tá me chamando de burro?!” Lemon já começava a ficar vermelho “INACEITÁVEL!!” fechou as mãos em punhos e preparou-se para acertar um soco no rosto de Marceline, mas ela era mais forte do que o rapaz poderia imaginar. A garota segurou o punho dele com força, e o virou para trás, até poder ser ouvido um estalo no mesmo, junto com um grito agudo de Lemon. Seus amigos logo perceberam que uma briga se iniciara, e partiram para cima dela, acertando um soco aqui e outro ali, mas apanhando mais do que batendo. Marcy derrubou os três garotos, sem muito esforço, mas o barulho que os gritos dos rapazes fizeram, foi o suficiente para alertar o professor que estava dentro da sala.

“Os quatro, diretoria, agora!” A garota revirou os olhos e começou a caminhar, mas o professor a parou “Ajude-os a levantar.”

“Mas professor, eles--”

“Sem mas! Vamos, vamos!”

Bufando, ela os ajudou a levantar e o professor os acompanhou até a diretora.

~*~

“Não estamos nem no terceiro mês e vocês três já apareceram aqui dezessete vezes!” A mulher já de idade falava com firmeza enquanto andava de um lado para o outro atrás de sua mesa “Mas por incrível que pareça, dessa vez vocês quem apanharam. Qual seu nome mocinha?” Ela olhou por cima dos óculos diretamente para a garota.

“Marceline Abadeer.” Ela disse em um tom baixo enquanto encarava algum objeto aleatório na sala

“Marceline Abadeer. Hum. Espero não vê-la por aqui novamente em situações como esta. Os três rapazes receberão uma suspensão, já a mocinha, tenho algo para aproveitar sua inteligência.”A mulher se sentou e empinou o nariz, observando o rosto de cada um

“Por favor diretora, eu não posso levar outra suspensão, meus pais vão me matar!” Um dos amigos de Lemon se pronunciou, com uma voz de choro mais notável do que ele provavelmente queria que estivesse.

“O problema é seu que decidiu andar com más companhias.” A diretora assinou três papéis com a advertência de suspensão “Ligarei para os pais dos três mais tarde. E se eu os vir na escola durante a próxima semana, podem acreditar que estarão mais do que encrencados. Estão dispensados.” Os três rapazes saíram da sala se arrastando e com uma cara de bunda enorme, mas antes de fechar a porta, Lemon olhou diretamente nos olhos de Marceline e sussurrou

“Vai ter volta.” e então saiu.

“Ok diretora, se eu não vou levar suspensão então…?” A garota encurvou o corpo para frente, apoiando o queixo na mesa da senhora mais velha (mas que na verdade não tinha nem um décimo da idade da garota)

“Bom. Aqui em nossa escola temos um programa que ajuda alunos com dificuldades nos estudos. Contratamos alguns tutores para ajudá-los a estudar em matérias que há algum tipo de dificuldade. Mas como posso notar que a senhorita tem um ótimo desempenho em todas as matérias, acho que posso colocá-la como tutora voluntária neste programa.” a diretora entrelaçou seus próprios dedos em cima da mesa e olhou com um sorriso para Marceline

“Espera… quê?! Está me dizendo que vou ter que ensinar alguns babacas continhas de matemática?!” A garota se levantou indignada “Mas nem que me paguem!” vim aqui para observar um todo, e não um só babaca que não entende uma matéria!

“Não é apenas matemática, senhorita Abadeer. Pode sem em qualquer matéria que o aluno apresente dificuldade.”

“E se eu recusar esse trabalho voluntário?”

“Três semanas de detenção” a diretora riu, sabia que iria conseguir o que queria.

“TRÊS?!?! Por que eu pego três semanas e aqueles babacas apenas uma de suspensão?” ela apontou para a porta, com indignação estampada no rosto

“Porque você é apenas uma, e bateu em três alunos.” A senhora estava se divertindo com a situação. Marceline se sentou de forma largada na cadeira e bufou

“Ok… Eu fico como tutora. Quem é o babaca que devo ensinar 2+2?”

“Vou checar minha lista, amanhã lhes apresentarei um ao outro.” A diretora riu vitoriosa “Você irá ajudar por um mês. Está dispensada.” Marceline levantou bufando, pegou uma bala de menta no pote de doces da diretora e saiu “Ei! Isso é meu!” as duas riram e logo o contato foi cortado quando a garota fechou a porta.

“Ok Marcy, apenas um mês. Você consegue.” Absorta em seus próprios pensamentos e falando consigo mesma, ela nem percebeu por onde caminhava e acabou dando de cara com uma garota, derrubando no chão tudo que ela segurava “Caramba, me desculpa, eu não te…” ao levantar os olhos e perceber o estilo chamativo da garota, seu coração falhou uma batida; cabelos compridos e cor de rosa, uma estatura baixa e um rosto extremamente bonito “...vi?” e automaticamente começou a ajudá-la a recolher as coisas que haviam caído.

“Pra não ter me visto aposto que devia estar bem distraída” a garota riu e abaixou-se para pegar suas coisas também “Prazer, meu nome é Bonnibel” ela arrumou os óculos no rosto e estendeu a mão para cumprimentar Marcy, mas ela estava tão perdida olhando para a garota que acabou demorando o suficiente para ficar um clima constrangedor

“Marceline, prazer” se recuperou do transe e prontamente cumprimentou a rosada

“Eu nunca te vi aqui antes, você foi transferida recentemente ou eu realmente não te vi?” Terminaram de recolher tudo e se levantaram

“Geralmente as pessoas não me notam muito, faço o possível pra que se mantenha assim. Estou aqui desde o começo do ano.” A mais alta desviou o olhar, tentando procurar algo que a tirasse desse contato tão próximo, mas não foi necessário recorrer a nenhuma saída

“Ah, entendi. Bom, a gente se vê por aí. Até mais!” Bonnibel se despediu com um aceno e continuou seu caminho até a biblioteca. Marceline sentiu seu coração bater rápido e logo correu dali. Aquela garota lhe lembrava alguém, mas ela não queria se lembrar desse alguém. Já Bonnie, não se importou em deixar o belo rosto da morena vagando em sua mente; ela não negou a si mesma a possibilidade de ter um crush nela. A garota extremamente popular e inteligente estranhou nunca ter visto o rosto de Marceline antes. Afinal, ela conhece todo mundo naquela escola, todo mundo. Devolveu a bibliotecária os livros que tinha em mãos e logo correu para procurar mais, pegando a maioria com o tema de exatas. Era ótima nisso, mas em compensação, péssima em humanas. Estava até considerando pedir ajuda à diretora para incluí-la no sistema de monitoria. Tentou estudar, mas ela não conseguia se concentrar, não em um lugar público. Não só uma, nem duas, nem três vezes. Fora abordada seis vezes por garotos diferentes. Ela sabia que era bonita, mas já estava de saco cheio. Na sétima vez, se irritou.

“Ei gata, será que sua boca tem o mesmo gosto do seu cheiro? Você podia me deixar provar--”

“Ah vai se foder, na moral. Eu to tentando estudar!” Sua voz saiu mais alta do que poderia numa biblioteca. Pegou suas coisas e saiu, foi à procura de algum lugar mais calmo, sem tantas pessoas por perto. Era horário de almoço, então achar um lugar pouco movimentado seria difícil. Foi até o pátio e andou até a árvore mais longe que viu, sem sair da área da escola. Sentou-se na base do tronco e suspirou alto, percebendo que poderia por fim estudar em paz.

“Agora vai me perseguir é?” Uma voz em tom de riso soou de cima, dando um baita dum susto em Bonnie

“Quer me matar é? Não estou perseguindo ningu--” levou outro susto ao olhar para cima e ver Marceline “Ah. Oi. O que faz aqui?” Ela arrumou o cabelo e sorriu

“Não gosto de multidões. Não dá pra se absorver nada estando no meio deles. Daqui consigo observá-los melhor. E você?” voltou a olhá-la na última frase e viu que ela estava com um livro de história na mão. Desceu da árvore devagar e sentou-se ao lado dela “Você gosta?”

De você? sim “Não sou muito fã, prefiro química. Mas preciso de nota, sabe.” ela riu e se encostou na árvore “Não tenho tirado muito ultimamente. Estou por um fio tentando me manter na média. Até pensei em pedir ajuda pra diretora e entrar no sistema de monitoria.”

“Ah essa diretora. Acredita que ela me obrigou a ser tutora voluntária nesse programa?!” Marceline deitou-se na grama e riu “Só por ter me defendido daqueles brigões.”

“Que brigões? O Lemon e sua turma?”

“Esses mesmos. Eles são uns abusados, achando que iriam se safar de levar uma surra depois de serem tão insuportáveis assim.” Bonnibel arregalou os olhos e balançou a cabeça negativamente

“Acho que você se meteu em encrenca. Marceline, né? Esses caras nunca deixam uma surra sair barata… Da última vez, surraram um garoto que se defendeu e o trancaram no armário do zelador. O coitado ficou lá a noite inteira, até a manhã do dia seguinte, quando o zelador abriu a porta. Eles levaram suspensão também.” A rosada deixou os livros de lado e cruzou os braços, observando a morena deitada.

“Devia ser algum fracote que faz algum tipo de arte marcial e achou que dava conta. Mas fala sério, isso foi esse ano? Eles levaram suspensão, a diretora disse que eles já foram dezessete vezes pra sala dela… Eles não param não?!” O sinal que avisava o final do almoço, tocou. As duas levantaram, Marceline colocou um boné e uma blusa, para bloquear o sol em sua caminhada. Ajudou Bonnie a carregar alguns livros, e foram juntas até dentro da escola. “Aula de física agora. Te vejo depois.” Marceline devolveu os livros dela e acenou como despedida

“Espera! Me passa seu número.” Bonnie pegou o celular dela e colocou na mão de Marcy, esperando que ela colocasse o número ali, que foi prontamente atendido pela morena. “Te mando mensagem.” Deu um sorriso e piscou, antes de sair. A morena não conseguiu evitar de sorrir. Mal começou a caminhar e já pôde sentir seu celular vibrar em seu bolso.

“Confirmando pra ver se você não me deu o número errado ;)”

“Ah Bonnibel… Você se parece tanto com ela…” Um sorriso triste estampou-se no rosto de Marceline ao ver a mensagem. “A diferença é que você cheira a chiclete… e ela cheirava a bolo…” A morena salvou o contato da garota como “bubblegum”. Guardou o celular e voltou para a sala de aula.