The Truth


Não estavam nem mesmo perto do horário do pôr do sol. Na verdade, talvez demorasse algumas horas, e àquele horário, Estel deveria estar no pátio com os Elfos da guarda das fronteiras, treinando com Elrond e Legolas. Deveria, mas ele não estava lá. Agora, corria apressado pela floresta, ouvindo o som dos pássaros e sons de galhos sendo quebrados. Arwen o estava guiando no início do caminho, mas após alguns minutos de caminhada simplesmente desaparecera por entre as árvores. Ela era rápida, ou simplesmente o fato de conhecer melhor o relevo da floresta estava a seu favor. Parou por alguns instantes quando julgou não poder mais ouvir seus passos, mas então ela surgiu detrás de alguma árvore e disse entre risos para prosseguirem.

— Onde exatamente estamos indo. — Correu para alcançá-la.

— Você vai ver.

— Sabe, eu odeio surpresas. — Reclamou, vendo o sorriso zombeteiro da elfa se alargar ainda mais.

— Ué, isso é problema seu. — Riu, vendo-o fazer uma expressão ofendida.

Estel era lento demais, até mesmo para uma pessoa comum, mas apenas aos seus olhos. Na verdade, ele caminhava muito mais depressa do que qualquer homem de sua idade, e por isso as crianças élficas lhe deram o apelido de "Telcontar", que significa "passolargo" no idioma comum. Ela só estava mesmo com pressa de chegar antes que o dia começasse a se findar. Agarrou-lhe a mão e puxou-o para dentro da floresta, atravessando a clareira, que até então havia sido o ponto mais distante que ele já havia ido naquela região. A trilha que seguiam, descia íngreme ao chegar perto da entrada do vau e Estel precisou manter os pés firmes para não cair, pois embora os elfos fossem consideravelmente mais leves, ele vez ou outra se lembrava de que não era um.

Dalí, se podia ouvir o grave som da cachoeira que despencava no vau e avistar a ponte que ligava a casa do senhor Elrond ao restante de Rivendell. O rio Bruinen deságua naquele desfiladeiro e seu leito formava piscinas profundas na rocha, enquanto descia fulguroso montanha abaixo.

— E... Chegamos! — Disse ela, parando finalmente, antes das rochas. Dava para ver a ponte dalí, o que indicava que a casa de Elrond não estava tão distante.

Estel olhou ao redor. O lugar era belo e rústico, era logo abaixo da queda d'água, mas aparentemente não havia perigo. As flores próximas ao leito do rio eram vermelhas e vivas e se estendiam por todo o terreno até a parte das rochas da cachoeira.

— Uau!

— Não é? — Sorriu orgulhosa de si mesma. — Eu me escondo aqui às vezes. Elladan e Elrohir não sabem dessa passagem. Por mais óbvia que seja.

— É lindo! — Olhou ao redor e voltou sua atenção a ela, aproximou-se lentamente. — Quase como você.

— Quase? — Riu, franzindo o rosto, vendo-o concordar com a cabeça.

— Sim, quase. Porque você é simplesmente a mais bela das criaturas de Ilúvatar.

Eles ficaram se encarando por poucos segundos, então Arwen simplesmente deu alguns passos para frente, encurtando a distância e ficando na ponta dos pés, tocou os lábios de Estel com os seus, depositando um beijo calmo, tranquilo e carinhoso, que ele correspondeu de igual modo. Aquela fora a primeira vez que se beijaram. Na verdade, poderiam dizer que fora a primeira vez que beijaram alguém, então seus movimentos eram sempre carinhosos e ternos, pura e simplesmente demonstração de um afeto que eles não sabiam ao certo como expressar com palavras. Estel abraçou-a e ela pode sentir seus pés deixarem o chão. Abraçou o pescoço do homem, que a ergueu como quem ergue uma criança.

Seus lábios se separaram em poucos segundos, embora parecessem horas para eles. Arwen sorriu e esticou os pés para que tocasse no chão. Era tão alta quanto ele, mas não lhe diria isso.

— Eu também amo você, Estel. — Disse simplesmente. Não havia respondido a declaração dele na noite em que ele lhe disse aquelas mesmas palavras, mas sabia que sentia o mesmo. Apenas não fazia a menor ideia como dizê-lo. — Amo você desde que te conheci na floresta.

O verão estava chegando ao final e aquilo além de significar que o clima ficaria desconfortavelmente frio, também significava maior probabilidade de ataques de orcs nas fronteiras. Elladan e Elrohir pareciam animados com aquilo, uma vez que simplesmente odiavam orcs e seu dia só ficava mais alegre quando encontravam algum desavisado esgueirando-se para dentro dos domínios de Imladris. Legolas contava que os gêmeos certa vez perseguiram um orc desgarrado montanha abaixo até que a desprezível criatura caísse e se despedaçasse nas pedras da cascata. Elrond, obviamente ficara extremamente furioso, alertando-os a respeito de tais atos de crueldade. Aparentemente mais preocupado com isso do que com o fato de haverem orcs em Rivendell. Estel chegou no fim do dia e provavelmente ouviria um sermão de Legolas, mas eles estavam se preparando para partir, aparentemente.

— Onde vão? — Indagou.

— O verão está terminando. — Explicou-lhe Elladan. — Então nós vamos tirar umas férias. Nas fronteiras.

E sim, ele se referia à "oportunidade" de poder matar alguns orcs como "férias", já que não havia nada no mundo que os gêmeos, filhos do senhor se Rivendell, odiassem mais do que orcs.

— Você deveria vir com a gente. — Daeron o convidou.

— Eu também acho que deveria. — Concordou o rapaz. — Não acha, Legolas?

— Eu não acho que gente que mata o treinamento para se enfiar no mato esteja pronto para sair ao ermo. — Zombou o príncipe, pareceu sério no início, mas sua expressão era divertida. Na verdade, ele quase nunca estava de mau humor.

— Ele iria adorar massacrar uns orcs! — Riu Daeron e por pouco não levou uma moca vinda do príncipe de Trevamata. — Opa! O que eu fiz?

— Não é uma questão de gostar, idiota!

— O pai não o quer fora de Valfenda, Daeron. — Explicou Elrohir. — Ao menos não enquanto Sauron estiver caçando a cabeça dele.

— Opa, espera aí, como? — Eles se entreolharam. Agora não havia mais volta e Legolas poderia jurar que lhes arrancaria as cabeças uma por vez se pudesse. Mas então, quando o jovem Estel lhes indagou a que aquilo se referia, todos fizeram silêncio.

— Estamos atrasados. — Elladan tentou fugir do assunto, mas Estel se colocou à porta, impedindo a passagem dos Elfos.

— Não vão a lugar nenhum antes de me explicar. Por que Sauron me quer morto, e a mim especificamente.

— Ele quer a todos mortos. — Garantiu Daeron. — Mas você em especial, pois é o herdeiro de Isildur. O sujeito que o derrotou há uns mil anos, quando Legolas era jovem.

— Vá te catar! — Legolas olhou feio para ele. Elrond lhe havia dito que mantivesse em segredo a origem de Estel, ao menos até que seu treinamento estivesse concluído, o que a julgar por ele mesmo, não estava nem perto.

— Bem, acho que já tá na hora de falar a verdade. — Declarou Elladan. — Seu verdadeiro nome é Aragorn, seu pai é Arathorn, herdeiro de Isildur.

Ou talvez aquilo tudo fosse medo. Preocupação de que se seu amigo partisse, poderia nem mesmo retornar, e então toda a desgraça prevista por Elrond caso o inimigo triunfasse, seria concreta.

Ele olhou com seriedade para os Elfos, Legolas assentiu ao que Elladan lhe narrava. Explicou-lhe que Elrond, o meio-elfo, desde os tempos de seu irmão Elros, mantinha seguros em sua casa, os jovens senhores Dunedain, até que pudessem partir em direção ao desconhecido. E estes eram chamados, os guardiões. Seu pai fora antes dele, e seu avô e os outros antes dele. Vencido, e totalmente ciente do que aquilo agora significava, Legolas tirou de um dos infinitos bolsos de sua roupa, um pequeno anel élfico e entregou ao amigo.

— Era do seu pai. — Disse. — E do seu avô, e do pai dele, e de Isildur, e do pai dele. E de Beren e Barahir, dado pelo Rei de Nargothrond, Finrod Felagund, da casa de Finarfin.

Então Estel, agora Aragorn, colocou o anel em um dos dedos e o observou. Possuía uma pedra verde esmeralda e haviam duas serpentes representadas em prata.

— Então eu...

— Sim, você é o descendente de Isildur e o herdeiro do trono de Gondor.

Ele olhou ao redor, e notou que nenhum de seus amigos parecia surpreso.

— Isso é loucura! Por que não me disseram?

— A gente te ama, maninho! — Ironizou Elrohir. — Não iríamos querer que alguém arrancasse a sua cabeça.

— É, mas vê se lembra dos amigos quando for rei, viu?

— Meu Deus, Daeron! — Elladan pôs a mão na testa, envergonhado. Não era possível que eles não pudessem manter a seriedade nem mesmo em momentos como aquele. Voltou-se novamente para Aragorn. — Meu pai pediu que mantivéssemos isso em segredo até que você estivesse seguro. Mas parece que já está. Bem, ao menos aqui.

— Sauron ainda quer a cabeça dele. — Avisou Legolas, mas ponderou quanto à possibilidade
de deixá-lo partir com eles.

Aragorn já não era mais uma criança e provavelmente precisaria de alguma experiência fora
dali. Prometeu-lhe então que conversaria com Elrond a respeito, mas certamente o faria mais tarde,
ao fim do verão.