Elessar

Estel apareceu no dia seguinte no treinamento. Legolas o encarou irritado, bufando injúrias e reclamando do sumiço do rapaz. Só não lhe deu um sermão maior, pois como já lhe havia dito, não era seu pai e todo e qualquer conselho que lhe pudesse dar a respeito de Arwen já havia sido dado bem antes daquele dia.

— Posso falar agora? — Indagou ao Elfo, que a contragosto fechou a boca e lhe deixou explicar. — Eu não estava com ela, se quer saber. Na verdade, a deixei no jardim de Elrond na noite passada e fui caminhar pela floresta. Devo ter adormecido em algum canto, pois já era tarde.

Legolas o encarou desacreditado, mas sua expressão suavizou logo em seguida. Deixou de lado o arco.

— Tudo que quero é que tenha cuidado. — Pediu. — Quanto ao restante, cabe somente a você. Se seu amor por Arwen é verdadeiro, eu o respeito. Apenas esteja ciente de que não será fácil.

— Estou disposto a correr os riscos. - Disse o jovem Dunedain com determinação. E aquela foi a primeira vez em que Legolas o vira admitir que amava Arwen, ao menos para ele.

— Ótimo. Agora precisa voltar ao treinamento. - Jogou uma espada nas mãos do jovem, que a apanhou no ar. - Sinto que não tarda a hora em que precisará utilizar estes conhecimentos.

O som das espadas se chocando chegavam até os muitos quartos de hóspedes da casa de Elrond, o meio-elfo, e já era perto do meio dia, quando Haldir de Lothlorien, foi enviado por Galadriel aos aposentados de Calion para despertá-lo. Deveriam se pôr a caminho de casa antes do pôr do sol. O elfo apenas bufou com malcriação para seu compatriota e faltou mostrar-lhe mandar que fosse ter com Morgoth.

— Não vou para Lothlorien, Haldir. - Disse sério.

— Como não? A Senhora Galadriel...

— Pouco me importa o que Galadriel diga ou deixe de dizer. Vou ficar aqui, e se tiver vontade retornarei.

Haldir concordou apenas com o que ele disse e informou que daria sua resposta à Galadriel. Não discutiria, por mais insensata que pudesse parecer a decisão de Calion. E a senhora de Lothlórien não pareceu nem um pouco satisfeita, entretanto reconheceu que não poderia obrigá-lo a ir com eles. Fosse por parentesco ou qualquer outra coisa. Despediram-se de Elrond e os filhos, do príncipe Legolas, que estava deveras ocupado treinando com Estel, mas fez questão de interromper para os cumprimentar, tal como o fez também o dúnadan, que desde criança possuía grande admiração por Haldir.

— Da próxima vez que o vir, estará ainda mais alto. - Brincou o Elfo. Dizia isto, pois o vira pela primeira vez, quando o jovem Dunedain era menos que uma criança de quatro anos e só o vira novamente aos quatorze. Sempre que o encontrava dizia a mesma coisa.

— Ele não cresce mais. - Legolas não pareceu entender, o que fez os outros dois começarem a rir de sua ingenuidade. Era óbvio que Estel, agora estava no auge de sua estatura. - Ah, vocês dois se merecem!

E ficaram na varanda observando a comitiva dos senhores de Lothlorien partir, mas Daeron achou suspeito que Calion não os tivesse acompanhado. Elladan e Elrohir também não se agradaram da história, mas como não queria levar mais sermões de seu pai, nada disseram. De qualquer forma, tiveram paz por quase dois meses, embora a presença do primo os incomodasse e Arwen evitasse sair para a floresta desde que o encontrou por acaso esgueirando-se por entre as árvores enquanto fazia sua caminhada vespertina. Pela primeira vez, imaginou que fosse apenas o acaso, mas o fato se repetiu por quase seis dias, e quando lhe indagava, ele simplesmente dizia que sentia que ela precisava de um "guardião".

— Não, na verdade não preciso. - Tentou não parecer rude e seguiu em direção contrária a dele, de volta à casa, mas Calion segurou seu braço. Seu toque era gelado e firme. Arwen parou e olhou para a mão do primo, que pressionava sutilmente seu braço. — Está tarde, Calion. Devemos voltar para casa.

— Esqueça. — Pediu ele. — Podemos ficar mais. O que acha? A noite está agradável!

E realmente estava, mas ela sentia um calafrio percorrer sua espinha sempre que Calion se aproximava. Mas ouviu ao longe uma voz masculina chamar por seu nome e aquilo a reconfortou, por mais que Calion fizesse uma careta de desagrado. Desvencilhou-se do aperto gelado das mãos dele.

— Arwen! — Estel quem a chamava, e trazia consigo uma lamparina fria das que os elfos da floresta costumavam utilizar. Franziu o rosto ao vê-la acompanhada de Calion, mas guardou qualquer comentário que tivesse a respeito. — Está tudo bem?

— Tudo ótimo. — Calion disse com ironia, mas ele ignorou, voltando sua atenção a Arwen.

— O senhor Elrond a está procurando. — Informou. — Não disse que você estaria na floresta.

— Ele sabe. É quase impossível esconder qualquer coisa dele. — Garantiu a jovem elfa. — Então, vamos?

Os rapazes a seguiram de volta até a casa. Calion manteve-se mais afastado em mormente silêncio, exceto quando soltava uma piada tosca e ironizava alguma coisa que Estel dizia, mas Arwen dificilmente dizia qualquer coisa sobre isso. Na verdade, pareceu-lhes que ela o evitava ao máximo, até mesmo olhar para ele após o ocorrido no banquete das estrelas há alguns meses. Despediu-se deles e desapareceu com pressa para dentro do escritório de Elrond, que levantou a cabeça para olhá-la.

— Deveria evitar a floresta. — Disse ele, embora soubesse que ela não o ouviria. — Bem, enfim. Tenho algo importante para lhe dizer.

— Estel me falou. - Estava apreensiva. Elrond era conhecido por ter visões do futuro e seus presságios raramente significavam algo de bom. Ele se levantou e foi até a escrivaninha, buscando algo em uma velha gaveta. — Diga-me, Adar. Estou ficando preocupada. O que aconteceu?

— Sua avó me entregou isso, ontem à noite. — Abriu uma das mãos, em que continha um broche prateado que tinha a forma de uma águia com asas abertas. Nela estava incrustada, verde como os raios de sol que passam pelas folhas primaveris, a pedra élfica. — Elessar.

Elrond lhe entregou o pingente que pendia de uma corrente de prata. Ela o ergueu à altura dos olhos, encantada com a beleza da pedra, que reluzia mesmo no escuro e com a fraca luz das lamparinas frias.

— Era da minha mãe. — Sua voz quase falhou quando lembrou-se disso. E seriamente, Elrond concordou com ela. — Por que está me entregando?

— Acredito que seja uma espécie de tradição na família dela. Galadriel deu a ela quando tinha a sua idade. E ela iria dá-la a você. - Pegou novamente o colar e rodeou Arwen, e ficando atrás dela, prendeu a corrente ao redor de seu pescoço. Naquela posição era para ser impossível ver os olhos acinzentados da eleth ficarem úmidos e deixarem fugir uma ou duas lágrimas. Mas ele a conhecia perfeitamente. Pousou as duas mãos sobre seus ombros, tentando consolá-la. — Sei que sente a falta dela. Eu também.

— Se eu não estivesse com ela naquele dia... — E então sua voz falhou.

— Arwen! Você era uma criança. Não pode se culpar pelo destino, por mais cruel que ele possa ser — Ela concordou e levantando-se foi envolvida por um abraço terno de Elrond. — Melinyel hina [Eu a amo, criança].

Melinyel atto [ Eu amo você , papai ]