Melinyel


Um a um, eles começaram a povoar o escritório particular de Elrond. O primeiro a entrar foi Elrohir, seguido pelo irmão gêmeo e o primo, Daeron logo em seguida. Postaram-se lado a lado, enquanto Calion ficou no lado oposto ao deles. Legolas entrou logo em seguida com Estel logo atrás e os últimos a entrarem foram Arwen e o pai. Ela ficou próxima a porta, ao lado de Legolas e Aragorn. E Elrond aprofundou-se até o meio do escritório e os encarou com seriedade.

— Agora — Seu tom era sisudo e irritado, seu olhar pousara-se sobre cada um dos filhos. Elladan possuía arranhões por todo o rosto enquanto o irmão queixava-se de dor nos braços e na espinha. Daeron parecia o único que saíra intacto da briga, além de Legolas, Arwen e Estel, que não havia se metido na confusão.— Vão me explicar o motivo da briga e por que razão atacaram Calion, que estava desarmado. — Todos ficaram em silêncio e ele olhou diretamente para o gêmeo mais velho.

— Estava defendendo minha irmã!

— Eu não preciso que me defendam! — Arwen se pronunciou, parecendo indignada com o que ele disse.

— De fato. — Concordou o senhor Elrond. — De fato, ela não precisa. Não há perigos aqui em Valfenda.

— Exceto pelo Calion. — Resmungou Elrohir. — Ele e toda a corja dos descendentes de Fëanor não fizeram mais que atrair desgraça para o nosso povo. E agora ele vem com essa história de se casar com Arwen!

E novamente o silêncio. Elrond olhou com seriedade para os filhos, e para Calion, que não sabia como justificar-se das acusações.

— Vocês são imbecis ou o quê? — Finalmente defendeu-se. — Pois se sua irmã não pretende casar-se comigo, simplesmente dirá que não. — E aquilo era óbvio. Mas ela até então não havia encontrado forma de dizê-lo sem magoar Calion, que era seu amigo de infância. — E se tivesse problemas comigo, poderiam fazê-lo depois sem que ela precisasse passar por todo esse constrangimento.

— Você é um cínico! — Bradou Elladan, tentando avançar sobre o elfo, mas foi impedido pelo primo, Daeron.

— Já chega! — Elrond disse alto fazendo com que todos se calassem. — Essa história acaba por aqui. Não quero mais ouvir de contendas ou qualquer outra agressão de vocês quatro, ouviram?

— Sim, Adar! — Os gêmeos disseram juntos.

— Sim, senhor. — E ao mesmo tempo que eles, Daeron e Calion.

— Eu acho muito bom. — Fez uma pausa e só então olhou para sua filha, ainda parada na porta do escritório. — Quanto a decisão de casar-se ou não e com quem, é pura e inteiramente de Arwen. E desde que não seja com esse sujeito — Apontou para Calion, que bufou com irritação. — Juro por Ilúvatar, que não me importo nem um pouco com quem ela se casa ou deixa de se casar.

— Mas tio... — Calion tentou dizer, mas foi interrompido por Elrond que apenas os dispensou.

Os elfos deixaram o escritório com mais rapidez do que haviam saído, e entre eles, Estel, que seguiu em silêncio os gêmeos e Daeron de volta a sua mesa, onde as taças de vinho ainda estavam intactas. Para a sua alegria, quase ninguém notara seu desaparecimento e o banquete estava quase no final. Esperavam apenas que Elrond, o meio-elfo, despedisse de seus convidados.

— Vocês são uns idiotas! — Arwen bateu na mesa, assustando os irmãos mais velhos. — Que direito têm de ficar me espionando e querendo cuidar da minha vida?

— Eles não fizeram por mal. — Estel tentou defendê-los, mas recebeu um olhar mortal da elfa. Decidiu ficar calado.

— Ficamos preocupados com você. — Elladan se justificou. — Calion não é um sujeito que preste. E pode ter certeza de que ele não veio aqui fazer coisa boa.

Ela revirou os olhos.

— Me poupe! Sua rivalidade infantil com ele é antiga, Elladan! — Olhou para os demais. — E me admira que tenha conseguido arrastar Legolas e Estel pra essa panelinha!

— E você queria que deixássemos ele se casar com você? Não vai me dizer que realmente gosta desse cara?! — Acusou Elrohir, já furioso, e facilmente levaria um soco se Legolas não tivesse segurado o braço de Arwen antes que ela o acertasse.

— Eu acho que já tivemos confusão o bastante por hoje. — Advertiu o príncipe élfico, e ela se afastou, ainda irritada, e saiu batendo os pés para o lado de fora.

— Eu falo com ela. — Estel se levantou logo em seguida e seguiu por onde ela havia ido.

Elladan revirou os olhos para isso.

— Gado! — Exclamou Daeron, fazendo os demais começarem a rir e a fazer piadinhas.

Arwen saíra rapidamente. Estava furiosa e poderia facilmente matar os irmãos e seu primo se os visse em sua frente. Achava uma tremenda injustiça que eles não vissem o fato de que ela não precisava deles se metendo em sua vida e dizendo com quem ela deveria ou não se casar. Não era uma questão de gostar ou não de Calion, na verdade, o pensamento lhe causava náuseas.

— Arwen! — Ela continuou andando, mas os passos de Estel tornaram-se apressados, e ele pegou em seu braço, fazendo com que parasse. — Me ouça, eu...

— Não tem nada pra escutar. — Reclamou. — Elladan e Elrohir são uns estúpidos! Desde criança eles simplesmente me vêem como... Como... A droga de uma donzela indefesa!

Ele segurou uma risada, mas seus lábios se entortaram, deixando clara sua reação. Ela revirou os olhos e virou-se para ir, mas ele novamente a segurou.

— Espere. — Pediu. — Tem toda a razão de estar chateada. Eles criaram uma confusão besta e sem necessidade.

— E Elrohir me acusou de ter algum romance com Calion. — Aquilo parecia deixá-la ainda mais furiosa.

— Então... — Ela agora o olhava, mas seu olhar era impaciente. — Você não gosta dele?

Um lampejo furioso se viu nos olhos claros da jovem elfa, mas ela o abrandou, respirando fundo e negando com a cabeça.

— Calion e eu somos amigos, somos quase como irmãos. — Aquela ideia ainda lhe aprecia asquerosa — Quero dizer, fomos criados juntos em Lothlorien, depois que a minha mãe foi embora e que o avô dele, Caranthir foi morto.

— Era uma paixão de criança.

Ela concordou. E para ser sincera consigo mesma, não sabia se de fato havia existido "paixão", "amor" ou qualquer coisa do tipo. Lembrava-se de Calion como um amigo problemático de sua infância e só isso.

— Ficamos mais próximos depois dos meus doze anos. Ele me disse que estávamos apaixonados. — Riu. — Pensei que fosse brincadeira. Tudo era brincadeira naquele tempo.

Estel estava silencioso. Caminhava ao lado dela no jardim, ouvindo cada palavra atentamente. Mas aquela conversa estava ficando deveras melancólica e a penumbra da noite deixava o jardim sombrio, apesar das lanternas. Ainda conseguiam ouvir a música do lado de dentro, então uma ideia lhe ocorreu para quebrar a melancolia.

— Ah, que tal a gente esquecer tudo isso e irmos dançar? — Arwen o olhou surpresa. — Quero dizer, ainda estamos no meio da festa. E o pessoal vai cair de sono se não animarmos as coisas. Sem brigas, claro.

— Muito esperto, senhor. — Riu, entrelaçando seu braço ao dele e retornando para dentro da casa. A música agora parecia mais animada, provavelmente tocando alguma cantiga de procedência duvidosa que Daeron aprendera em suas muitas andanças e conversas de anões. Haviam alguns casais élficos dançando no meio da sala, inclusive seus avós, Galadriel e Celeborn ( e fora um sacrifício fazer Celeborn sair de casa ). — Mas devo dizer, sou uma dançarina horrível! Você vai ter de me perdoar se eu pisar no seu pé.

Estel sorriu para ela, abraçando sua cintura, enquanto ficavam na posição da dança.

— Não vai pisar no meu pé. Se eu pisar no seu primeiro. — Brincou.

Elrohir e Elladan já haviam bebido mais da metade das bebidas que seu pai encomendou naquela noite e ainda estavam mais sóbrios que Daeron, o qual Legolas agora acabara de arrastar de cima de uma das mesas antes que o velho Elrond enfartasse de desgosto.

— Fique aqui. — Ordenou o príncipe élfico. Já entediado de ser feito de babá pelos rapazes. — Ninguém merece isso. E onde, por Ilúvatar, se meteu Estel.

Os gêmeos apontaram para o meio da sala, onde o protegido do príncipe agora dançava com Arwen. Próximos. Próximos demais para o seu gosto. E ele achou aquilo péssimo, embora Galadriel e Celeborn estivessem dando a maior força em tentar ensiná-los a não deixar o outro aleijado enquanto dançavam.

— Que Morgoth me carregue! — Daeron riu e soluçou ao vê-los.

— Tomara mesmo. — Bufou Legolas.

— Você não dança tão mal assim. — Arwen sussurrou para seu companheiro de dança. E por mais que parecesse alta perto de outras mulheres, ela precisava ficar na ponta dos pés para alcançar o rosto dele.

— E você ainda não me aleijou. — Riu, girando-a e continuando a dança, agora ambos virados para frente. Elrond estava próximo a porta, e esqueceu-se por poucos minutos a vergonha que seus filhos mais velhos estavam fazendo, quando viu a proximidade entre Arwen e seu filho adotivo. — Arwen, eu... Tenho que te dizer algo.

— Então... diga. — Pediu ela.

— É que... Ainda não sei como falar isso.

— Bem, você sabe! — Outro giro e ela ficou de frente para ele, mas seus olhos encontraram os de Elrond do outro lado do salão. Ela desviou rapidamente.

— Eu te amo. — Estel tinha um sorrisinho besta no rosto. Ao menos aos olhos de Legolas, que revirou os olhos tentando adivinhar pelos lábios o que eles diziam. — Eu te amo desde que te conheci na floresta, há um ano.

Arwen travou ao ouvi-lo dizer aquilo, mas precisou manter seu corpo em movimento, afinal, não desejava que os demais notassem que havia algo estranho naquela conversa.

— Não brinque com isso. — Disse ela com seriedade.

— Eu juro, não estou brincando.

Ele já não tinha mais senso de humor para brincar, ao menos não com aquele tipo de coisa. A dança parou. Arwen agarrou sua mão e o arrastou novamente para o jardim. Elrond não os seguiu, já que naquele exato momento, Elrohir levantou-se da mesa e caminhou aos tropeções até cair quase em cima de sua avó, que limitou-se a rir da cara de irritado do genro.