the Last Voyage of the Eldar

Aquele era já o quarto ano em que a estadia de Elrond e seus filhos se prolongava na Terra-média. Os navios de Círdan retornaram aos portos no início do inverno e partiram com a primavera, no que seria a última viagem dos Eldar. Uma grande excursão partiu de Minas Tirith para que os homens mortais pudessem assistir pela primeira vez a partida dos elfos para a terra abençoada. Nela vinham o Rei Elessar, com a Rainha Arwen, Faramir, Capitão de Gondor ao lado da esposa, a Senhora Éowyn, o Rei Éomer de Rohan. À frente deles iam o Príncipe Legolas, com Tauriel ao lado dele, e seu filhos gêmeos Estel e Aredhel, que eram apenas um ano mais novos que o príncipe Eldarion, mas agora haviam se tornado grandes amigos.

Eldarion, por sua vez, estava com Elladan e Elrohir, pois ele amava os tios como se fossem seus irmãos mais velhos e Arwen dizia que era porque realmente os dois se comportavam como duas crianças. Com eles estava Celeborn, Galadriel e Elrond, que pareciam ansiosos por finalmente deixar a terra dos homens mortais, embora também Elrond estivesse triste por ter de se separar de sua filha. Ele não lhe dizia isso, não mais. Havia travado aquela batalha por quase sessenta anos, e ela vencera. Não havia mais o que pudesse fazer. Além disso, Arwen, agora tinha ainda mais motivos para ficar do que há quatro anos atrás. Ele olhou para trás, ouvindo a bagunça que Eldarion e Elrohir faziam e o menino sorriu para ele, um sorriso puro que só uma criança é capaz de ter. Elrond devolveu o sorriso e tornou a olhar à frente.

— Me deixa desenhar também?! — Ele pediu ao tio, que estava rabiscando distraidamente seu "SketchBook".

— Eu não estou desenhando. Estou fazendo um retrato seu para a minha mãe. — Explicou Elrohir, prendendo-o entre os dois braços e entregando o caderno parano menino ver. Haviam já muitos retratos dos que ele começou a fazer em Valfenda, quando soube que Arwen ficaria na Terra-média. — Gostou?

Eldarion revirou mais o caderno, voltando às fotografias antigas e depois para as novas. Haviam imagens de Valfenda, de Arwen no jardim, de Elladan e Arwen, ou apenas dela com Aragorn em Minas Tirith. Elrohir os fez ficar horas parados junto à árvore coração apenas para conseguir fazer aquele retrato. E depois outro, quando Eldarion nasceu, e mais outro quando Arwen retornou à Minas Tirith, no ano passado. Ele folheou de volta à fotografia de Elladan e Arwen, e encarou o tio que vinha ao lado deles montado em seu próprio cavalo.

— As orelhas do tio Elladan são enormes! — Riu e Elladan os olhou indignado.

Ao anoitecer, encontraram Frodo, Sam, Merry e Pippin em Bree, próximo ao condado. Gandalf e Gimli estavam com eles, com longos cachimbos de fumo entre os lábios. Eles iriam até os portos despedir-se de seus amigos e de Gandalf, que agora deveria partir com eles, uma vez cumprida sua missão designada a ele por Ilúvatar e pelos Valar. Decidiram ficar em Bree, naquela noite, visto que a maioria da caravana era de homens mortais e outras criaturas que facilmente se cansaram, e as estalagens ficaram cheias de visitantes. Gimli desafiou Legolas mais uma vez para o famoso jogo de bebida e perdeu, obviamente, e agora dormia sobre uma das mesas enquanto os amigos conversavam no que provavelmente seria sua última reunião juntos. Sam precisou voltar para casa, uma vez que agora era um Hobbit casado e sossegado. Merry, Pippin e Frodo iriam com eles até os portos na manhã seguinte, então decidiram ficar alí.

— Você talvez deveria seguir o exemplo de Sam antes que Tauriel venha atrás de você. — Elladan riu para o príncipe elfo.

Legolas olhou ao redor para ter certeza de que sua esposa não estava por perto.

— Até parece. Eu é que mando na minha casa, tá?

— Ah, é sim! A gente acredita. — Os demais riram, então Aragorn lhe apontou a porta, por onde a elfa ruiva vinha agora, parecendo procurar por ele.

Tauriel se aproximou da mesa com os olhos semicerrados e apoiou as mãos no ombro do marido.

— Legolas, vai mesmo me deixar sozinha com as crianças essa noite? — Ele a olhou com um sorrisinho apaixonado e apenas negou com a cabeça.

— É só mais uma rodada e eu já vou. Prometo.

— Eu vou ficar te esperando.

Então despediu-se dos demais e voltou por onde havia chegado. Legolas os encarou e uma explosão de risadas tomou a mesa.

— "Eu é que mando na minha casa, tá?" — Zombou Elrohir, quase sendo atingido por uma taça arremessada pelo amigo.

No dia seguinte, as primeiras flores da primavera desabrocharam na antiga floresta na divisa do Condado. Eldarion e Estel correram para a clareira e lutaram com as pequenas espadas de madeira que Celeborn havia feito para eles. Aragorn e Arwen estavam logo atrás deles, andando de mãos dadas por entre as árvores da antiga floresta velha.

— Por favor, não se apresse, Eldarion! – Arwen gritou para o filho, mas ele pareceu não ouvi-la. Ele estava muito distraído com seus amigos.

—Você contou a ele que Estel e Aredhel estão indo embora?

Ela balançou a cabeça.

— Não tenho coragem. Esses três se tornaram amigos inseparáveis em pouco tempo, então é uma pena termos que separá-los. Espero que ele lide bem com isso.

— E como você está lidando? — Arwen não lhe respondeu. Apertou mais sua mão na dele, imaginando que se não tocasse no assunto, simplesmente a terrível sensação de perda desaparecesse. — Arwen…

— Eu fiz essa escolha há muito, muito tempo. Sabia o que viria a seguir. Não estou arrependida, se é isto o que está perguntando.

— De modo algum. — Aragorn a puxou para perto, apoiando o braço no ombro da esposa, sem soltar sua mão. — Apenas me preocupo. Sei o quanto foi difícil para você decidir separar-se de seu pai e seus irmãos.

— Se não ficar quieto agora, eu juro que vou te dar um soco.

— Eu não quero que você sofra.

— E está me deprimindo.

— Estou falando sério.

— E eu também. — Então parou e o olhou, segurando sua outra mão. — Lembra do que disse a você, anos atrás, quando me disse para ouvir o conselho de meu pai e partir com meu povo para Valinor?

Aragorn concordou.

— Além de dizer que ia me bater?

— Não, bobo! — Ela riu. — Depois disso.

— Você disse que se uniria a mim. Mesmo que precisasse ir para fora do círculo do mundo.

— Eu não mudei de ideia. — Aragorn tentou protestar, mas foi interrompido. — Essa foi a minha escolha. E mesmo agora, tenho mais motivos para ficar. — Ele a encarou sem entender o que ela dizia. — Bem, eu tenho você. E Eldarion... E o nosso outro bebê.

Ele concordou, mas só depois de alguns instantes pareceu tocar-se do que Arwen havia dito.

— Espere… nosso, o que? — Ela riu e tentou continuar caminhando, mas Aragorn segurou sua mão e a puxou de volta. — Você está grávida? De novo?

— Em primeiro lugar, a culpa é sua. Mas sim.

— Vamos ter mais um filho?

— Bem, foi o que eu diss… Ah! — Então foi surpreendida por um forte abraço do marido, que a ergueu no ar, apertando-a entre seus braços e enchendo seu rosto de beijos, antes de finalmente lhe beijar os lábios com intensa paixão. Ela sorriu para ele, quando separaram-se para respirar. — Vai mesmo fazer isso todas as vezes?

— Sempre. — Ele a colocou no chão. Seu semblante era alegre e belo. — Eu vou ser pai de novo!

— Sim… Ahn, não conte ao Eldarion ainda. Ele vai me encher de perguntas do tipo: “Como, por que, onde e quando”.

— Não vou contar a ele.

— Não contar o quê?

Ambos se assustaram com a súbita aparição do menino, que vinha com Estel e Aredhel, e seus tios, Elladan e Elrohir logo atrás.

— Nada, não é nada. — Aragorn, tentou contornar, recebendo um olhar suspeitoso do filho.

— O que não é nada? — Perguntou Elladan apenas para pôr lenha na fogueira.

— Sério, por que você os trouxe de volta? — Arwen reclamou com o irmão. — Os portos ficam na outra direção.

— Adar pediu para verificarmos se vocês dois haviam sido devorados por algum orc ou… Sei lá. — Ele deu de ombros. — Mas provavelmente é mais sério que isso. E vocês andam mais devagar que Bilbo, e olhe que ele já é um senhor de idade.

— Estávamos apreciando a paz que é quando você não está presente. — Zombou Aragorn, pegando no colo o filho, que já estava cansado após correr por toda a floresta com Estel e Aredhel.

— Até parece. Vocês dois vão sentir minha falta. Vão ter até pesadelos comigo. — Riu. — Agora me digam o que estão aprontando. Ainda sou o irmão mais velho de vocês dois.

Eles se entreolharam como se estivessem se comunicando em silêncio, então concordaram em dizer-lhes, ao menos de forma discreta o que estava havendo. Elladan os encarou incrédulo, parecendo surpreso, feliz e assustado ao mesmo tempo.

— Você engravidou minha irmã?! — Elladan olhou para Aragorn, que simplesmente usou Eldarion de escudo para não ser agredido pelo irmão adotivo. — De novo?!

— Sabe, nós estamos casados agora. — Ele riu. — Isso pode acontecer, às vezes.

— Você é o pior melhor amigo que um elfo pode ter.

— Vocês vão ter mais um bebê? — Elrohir perguntou animado. — Que bom! O pai vai surtar quando souber.

— Eu vou contar para ele, alguma hora. — Arwen ponderou.

— Ah, eu queria ter mais tempo para desenhar você grávida. — Riu Elrohir. Agora, ele simplesmente gostava de desenhar tudo.

Os dois olharam para Elladan que estava quieto. Agora, Aragorn levou Eldarion e as outras crianças para junto da comitiva, deixando-os a sós.

— Elladan. — Arwen chamou o irmão mais velho. — Por favor, diga alguma coisa. Está me deixando agoniada.

— Eu só… Pensei que seria mais fácil quando chegasse esse momento. — Ele suspirou.

— Eu sei.

— Promete que não vai nos esquecer?

Arwen riu para ele.

— Está brincando? Vocês dois infernizaram a minha vida por dois mil setecentos e oitenta e dois anos!

Elrohir abriu a boca para contestar, mas ficou quieto.

— Em nossa defesa, você também foi uma irmã terrível. — Disse Elladan, então a abraçou fortemente. — Vou sentir sua falta.

— E eu vou sentir a sua. — Sorriu, puxando Elrohir também para o abraço. — De vocês dois.