Many farewells

Demorou mais três a quatro dias para chegar ao porto cinza. Gandalf sentou-se com Cirdan olhando para o mar, soprando anéis de fumaça de seu cachimbo e discutindo assuntos muito além da Terra-média. Foi assim que Elrond os encontrou quando chegou ao porto com Eldarion agarrado a sua mãos. O mago o cumprimentou com um sorriso amigável e fez o mesmo com o menino.

— Vocês demoraram. — Gandalf falou com uma voz animada. — Círdan e eu estávamos começando a pensar que haviam desistido de partir. Seria uma pena.

— Não diria isso, meu amigo, se soubesse a ansiedade que cresce em meu coração para estar na Terra Abençoada.

Gandalf deu mais uma baforada em seu cachimbo e riu para ele.

— Eu bem sei. Nossa missão aqui está cumprida. — Então olhou para o pequeno príncipe, que embora não entendesse absolutamente nada do que diziam, estava atento, ainda segurando firme a mão de seu avô. Agachou-se até a altura do menino, que agora tinha alguns meses mais que quatro anos, mas estava alto, como costumavam ser os homens de sua linhagem. — Seja um bom rei para o seu povo, Eldarion. Como seu pai tem sido.

O príncipe sorriu e assentiu para ele, entusiasmado com a ideia de ser rei. Mas logo chegaram o príncipe Legolas, com Tauriel, Estel e Aredhel, que correram com o amigo na direção do cais, admirados pelo enorme navio. Círdan os cumprimentou e os levou para ver a embarcação. Frodo, Sam, Merry e Pippin vieram logo depois. Chegaram com Bilbo, que já idoso e cansado, tendo exaurido sua energia em cento em cento e dezessete anos, agora navegaria com Gandalf e os Elfos para um merecido descanso, nas terras imortais. Os filhos de Elrond, juntaram-se a eles em seguida. Elladan, que agora parecia menos contente em partir do que estava há anos atrás, e Elrohir, que embora se sentisse de igual modo, disfarçava ao máximo, pois sabia que seu pai e sua irmã, por demasiado já achavam aquela despedida dolorosa. Ela vinha logo depois deles, com Galadriel e Celeborn, conversando sobre como se sentia com tudo aquilo.

— Eu gostaria de poder perguntar a você, se o descanso dos homens é como as praias abençoadas. — Galadriel disfarçava sua tristeza. — Mas receio que não teremos oportunidade.

— Quem sabe. — Arwen riu para a avó. — Não sabemos os planos de Ilúvatar para os homens. Mas não posso esperar nada ruim de alguém capaz de criar tantas coisas belas.

— Eu a invejo, minha neta. — Disse Galadriel, em um tom ainda mais grave, parando e segurando a mão da elfa mais nova. — Pois a imortalidade não é uma benção, embora muitos dos morrem pensem que sim. Estaremos presos nos círculos do mundo sem jamais repousar. O descanso que os elfos não têm, pois estão presos a Arda, enquanto ela durar. Mas você, estrela vespertina, pôde escolher o descanso.

Ela tentou responder, mas não encontrou as palavras. Galadriel a envolveu em um abraço terno, que não durou muito. Celeborn também veio despedir-se de sua neta. Ele também disfarçou o quanto sentia-se triste por separarem-se, e não lhe dizia aquilo, pois sabia que apenas lhe faria deprimir-se mais. Parabenizou-a pela gravidez e desejou-lhe toda a felicidade do mundo, com um caloroso abraço dos que costumava dar-lhe quando criança.

— Ahn… O senhor está me sufocando! — Arwen disse para o avô em um tom divertido.

— Espero que fique tudo bem. — Ele disse. — Direi a sua mãe todas as travessuras que aprontou em Lothlórien depois que ela partiu.

— Ela não vai acreditar. — Arwen provocou.

— Eu serei convincente. — Então abraçou-a novamente e deu-lhe um beijo na fronte, então afastou-se e pegou a mão de Galadriel. — Olhe para o Oeste, sempre que precisar de nossa companhia.

— Farei isso. — Ela estava com os olhos marejados, mas sorriu, vendo-os afastarem-se na direção do navio. Aragorn, que já havia desistido de correr atrás de Eldarion, aproximou-se dela e a abraçou pela cintura, mantendo-a perto de si, sem dizer nenhuma palavra, apenas para confortá-la. — Eu deveria ter te escutado.

— Sobre ir com sua família?

— Não! — Arwen o olhou como se quisesse matá-lo por dizer aquilo. — Sobre me preparar para esse momento.

— Não estaria preparada nem em um milhão de anos. Eles são sua família.

— Está certo… — Suspirou tentando afastar as lágrimas, então o pegou pela mão e os dois caminharam até onde Gandalf e os pequenos estavam.

Bilbo já havia ido com Celeborn e Galadriel para o navio e Estel - que só ali descobrira que seria separado do amigo - agora chorava inconsolável no colo da mãe, enquanto Elladan e Legolas tentavam impedir que Eldarion e Aredhel caíssem do cais, o que ocorreria com muita facilidade vindo dos dois. Frodo, Sam, Merry e Pippin estavam perto da prancha do navio, acenando para Bilbo, quando Aragorn chamou Frodo em particular.

Frodo Bolseiro fora o corajoso hobbit incumbido da missão de viajar até Mordor, levando consigo uma carga preciosa e ao mesmo tempo perigosa: A arma do inimigo, o Um Anel. Tamanha fora a coragem e força de vontade de Frodo para que conseguisse chegar à montanha da perdição, e embora tivesse podido livrar-se do anel, ele já habitava sua mente e coração há muitos anos, o que tornara árdua sua tarefa, e as feridas causadas no caminho, incuráveis. Ele os seguiu em silêncio até o cais, de onde seus amigos, os mesmos que tornaram mais suportável sua jornada, ainda podiam vê-lo.

— O que aconteceu? — Perguntou o Hobbit desconfiado a Aragorn, que não lhe disse muita coisa, apenas acenou com a cabeça para a esposa, que estava ao seu lado, então ela lhe disse:

— Tenho um presente para você, Frodo Bolseiro.

— Um… Um presente? — Ele a olhou espantado, virou-se e viu que Sam, Merry e Pippin, que o encaravam curiosos, então tornou a olhar para a Elfa.

— Eu não vou acompanhar meu pai em sua partida, pois a minha escolha é a mesma de Lúthien, e como ela, eu também escolhi o doce e o amargo. Mas você irá em meu lugar, portador do Anel, se você assim quiser. Se seus ferimentos ainda lhe doerem e a lembrança do fardo for pesada, então poderá permanecer no oeste até que todas as suas feridas e fadiga sejam curadas. — Ela pegou uma pedra branca semelhante a uma estrela que estava em seu peito, pendurada numa corrente de prata, e a colocou em volta do pescoço de Frodo. — Quando a lembrança do medo e da escuridão o incomodar — Disse ela. — isso lhe trará ajuda.

Frodo sorriu para ela com gratidão e despediu-se dos dois, correndo de Eldarion e Estel que vinham em sua direção. Os Hobbits normalmente gostavam de crianças, mas aqueles dois eram assustadores às vezes. Aragorn aproveitou para pegar o filho, que fugira dele o dia todo, e o menino protestou de todas as formas possíveis, mas após algum tempo simplesmente sossegou. Estava entardecendo e ele estava cansado. Era hora dos navios partirem. Elrond aproximou-se deles, algo que havia evitado fazer durante todo o dia e Arwen não forçava uma aproximação, pois imaginou que seu pai precisava lidar com a dor a seu modo. E estava certa.

— Não quero que fique triste. — Ele disse, simplesmente. — Sua mãe provavelmente vai me matar quando souber que deixei você ficar. Não que eu tenha tido opção.

Arwen apenas assentiu, esquecendo-se de que estava segurando o choro.

— O senhor pode dizer a ela que eu a amo? — Elrond concordou com a cabeça, evitando pronunciar mais qualquer outra palavra, pois sentia que desabaria em lágrimas se o fizesse.

Então a puxou para um abraço terno e demorado, sem querer deixá-la. Aquele seria o último de suas vidas, embora a dele ainda fosse durar muito, muito tempo. Ele ainda estava sério quando afastou-se e acariciou gentilmente o rosto da filha, que estava vermelho e molhado pelas lágrimas.

— Arwen… A im, ú-´erin meleth lîn [ Ainda tenho o seu amor ]?

Ela assentiu e sorriu para o pai.

Gerich meleth nîn, ada [ Você tem o meu amor, pai ].

Eles se afastaram com custo, e após despedir-se de Aragorn e de Eldarion, Elrond chamou os filhos mais velhos para acompanhá-lo. Os meninos demoraram mais tempo em sua despedida, e envolveram Arwen e Aragorn em um abraço de grupo. Elladan não queria despedir-se deles, e também não queria despedir-se de seu pai. E por fim, Elrohir apertou fortemente o sobrinho, que começou a rir, mas depois fez pirraça quando precisou se afastar do tio. Até maior do que fizera para despedir-se de Estel e Aredhel. Elrohir, então tirou de seu caderno duas folhas desenhadas e entregou a ele. A primeira era um retrato seu e dos tios, feita por Bilbo, quando passaram por Valfenda, e a segunda, era um retrato do príncipe com os amigos, Estel e Aredhel, em Minas Tirith. Eldarion agradeceu ao tio com mais um abraço, e tamanha fora sua empolgação pelos retratos, que correu de volta para o colo do pai, esquecendo-se totalmente da tristeza que sentia por sua partida. Então Elrohir aproximou-se novamente do irmão adotivo.

— Quero que saiba que Elladan e eu vamos dar um jeito de te assombrar pelo resto da sua vida se você..

— Se eu fizer qualquer coisa para magoar sua irmã. — Completou ele, rindo. — Pelos valar! Estamos casados há quatro anos! Vocês não vão parar de me ameaçar?

— É nosso trabalho como cunhados e irmãos mais velhos. — Elrohir riu e o apertou em um último abraço. — Bem, temos que ir. O mar nos chama para casa. Desejo a vocês toda a felicidade do mundo.

— O mesmo para você, meu irmão.

Os dois caminharam mais a frente, na direção para onde Elladan e Arwen haviam ido, próximos à prancha do navio. Elladan segurava a mão da irmã, relutante em se afastar. Ele respirou fundo, sentindo o chamado do mar em seu coração, mas tornou a olhá-la.

— Se lembra quando Elrohir e eu a encontramos na floresta? Depois que a mãe foi atacada pelos orcs? — Arwen apenas balançou a cabeça em afirmação. Odiava aquela lembrança. — Você era tão pequena e… Estava temerosa, e encharcada de chuva. Tudo o que eu quis fazer dali em diante foi proteger você.

— Acho que você conseguiu.

— Quase… — Ponderou ele. — E não vou mais estar por perto pra te tirar das encrencas.

— Não pretendo me envolver em nenhuma. — Arwen riu para o irmão. — Está tudo bem, Elladan. Você pode ir.

— Promete que vai ficar bem?

— Eu prometo. — Embora aquela fosse uma promessa que não pudesse fazer. Mas o coração de Elladan aqueceu-se ao ouví-la. E o navio estava pronto para partir, aguardavam apenas os gêmeos e o Príncipe Legolas, que estava despedindo-se de seu amigo. — Bem, então, acho que é Adeus.

— Não. — Elladan sorriu para ela. — Não dizemos adeus, você se lembra? Dizemos Namárië.

— Namarië. — disseram juntos.

O sol estava desaparecendo quando zarparam, e o navio refletiu a luz vermelha do crepúsculo. Elladan e Elrohir acenavam para Arwen, que ficou de pé no porto de pedra, olhando-os partir. À sua esquerda estavam Merry, Pippin e Sam, que também acenavam freneticamente para Frodo e Bilbo e para Gimli, que gritou bem alto para os três o quanto estava agradecido pelos suprimentos de erva de fumo para a viagem. Á direita da rainha, estava o rei Elessar, com Eldarion no colo e abraçando-a com uma das mãos. Elrohir franziu o cenho para a cena, mas sorriu, então virou-se para o irmão.

— Nossa visão era verdadeira. — Disse baixo.

— Ao menos agora é.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.