Calion's last escape

As forças de Sauron foram expulsas e em sua maioria dizimadas pelos guardiões, com os quais, Elladan e Elrohir agora viajavam, auxiliando-os a caçar e a matar os orcs sobreviventes. Muitos ainda escondiam-se nas montanhas e nas florestas, acuados, sobrevivendo ao atacarem os viajantes. Mas seu número estava reduzido e o objetivo dos reinos dos homens era que todos fossem exterminados antes que pudessem se reerguer.

— Estamos montando guarda desde o Anduin até Isengard. — Faramir desenhou a trilha no mapa. — Qualquer homem nas fronteiras tem ordens para atacar e matar os orcs que encontrarem, mas eles ainda tornam as estradas perigosas.

Aragorn tentou fixar os olhos no mapa, mas estava quase dormindo. Faramir fingiu não ver isso, mas não pediu o mesmo de seus capitães. Para sua alegria, Arwen estava ao seu lado, e ela fazia o possível para mantê-lo desperto. Uma das vantagens de estar casado com uma elfa, ela quase não sentia o peso do sono.

— Certo. Ainda há soldados Rohirrim a oeste das montanhas enevoadas, eles estão mantendo as coisas em ordem por lá. Nosso foco agora é aqui. — Pousou a mão sobre a parte em que mostrava Orthanc, em Isengard. — Embora Saruman tenha sido destruído, muito de sua bruxaria ficou na torre negra. E não sabemos o que mais pode ter vindo de lá.

— Não pode ter sido boa coisa. — Resmungou Faramir. — Enfim... Devo partir para Edoras amanhã. De lá, posso ir para Isengard e descobrir que diabruras, Saruman andou fazendo por lá.

— Quanto a Saruman, eu não sei. — Elrohir estava encostado na parede do outro lado da sala de reuniões do Rei. — Mas sei que Calion filho de Caranthir passou algum tempo com ele, e aprendeu algumas coisas preocupantes. Ele se aliou aos orcs e invadiu Valfenda pouco antes da batalha no portão negro. E Galadriel me disse que ele podia invadir o pensamento das outras pessoas.

Gandalf, que até então estava silencioso, olhou para ele.

— Por que não me informaram a esse respeito?

Elladan deu de ombros.

— Bem, estávamos em guerra. E o patife está preso agora. Meu pai o mantém sob vigilância constante, até que viajemos para o Oeste e o levemos conosco. Embora fosse mais do meu agrado ter a cabeça dele espetada numa lança.

— Partilho disso com você, meu amigo. — Disse Aragorn. — Não gosto da ideia de ter aquela cobra sorrateira por aí.

A reunião continuou por um tempo e o choro de Eldarion foi ouvido novamente. Arwen despediu-se do marido e dos outros e correu de volta para o quarto. O menino chorou a noite toda até que o levaram para seu quarto e finalmente ele conseguiu adormecer. Ela não ficou surpresa ao ouvir a voz dele, embora ele tivesse dormido a manhã toda. Já era tarde, então ele provavelmente acordou com fome ou algo o estava incomodando. Ela abriu a porta com cuidado e entrou no quarto com o berço, mas congelou ao ver uma grande figura refletida na janela com a criança nos braços.

— Ele tem seus olhos. — O elfo loiro se virou para ela e lhe deu um sorriso estranho. Ele sacudiu a criança enquanto a analisava, mas Eldarion chorava compulsivamente, como se quisesse ficar sozinho. — mas essas orelhas definitivamente pertencem ao pai dele.

— Calion... — Arwen deu alguns passos para trás e pegou a espada que estava encostada na porta. — Por quê você está aqui? E como saiu da prisão?

— Só vim dar os meus parabéns. Você finalmente conseguiu. Se casou com o mortal que tanto ama, e olha só... — Ele olhou novamente para Eldarion, que não parava de chorar em seu colo. — Até conseguiu fazer um mortalzinho. Como conseguiu cortar o efeito da erva que dei a você? — Ela não respondeu. Seu olhar estava fixo no bebê, que ainda chorava. — Bem, não importa. Ele é forte. Quase me arrependo por tentar impedir que nascesse.

— Calion, me dê meu filho. — Agora ela segurou a espada ainda mais forte para que ele pudesse ver. — agora.

Olhou para ela com desdém.

— Não. E não tente me intimidar. Eu sei que você não vai me atacar enquanto eu estiver com seu bebê. — Ele desembainhou sua espada e apontou na direção da elfa. — Abaixe sua espada. Caso contrário, vou matá-lo.

Arwen recuou, mas não fez o que lhe foi dito.

— Deixe-o em paz. É apenas uma criança.

— Não. Ele é um problema que precisa ser resolvido. — Ele se aproximou e apontou a espada para o pescoço dela. — Eu disse para você jogar fora sua espada, Arwen. Não vou repetir uma terceira vez.

A porta se abriu uma segunda vez e agora Aragorn viera tentar descobrir porque razão seu filho chorava tanto e quando notou a presença de Calion, filho de Caranthir, seu rosto fechou-se em uma expressão furiosa, ele preparou-se para desembainhar anduril e matá-lo alí mesmo, mas Arwen o deteve.

— Aragorn! — Ela se colocou em sua frente, impedindo-o de pegar a espada. — Aragorn! Ele está com nosso filho.

— Desgraçado... — Resmungou o rei.

— Ao menos um dos dois é inteligente. — Riu o elfo do outro lado do quarto. — Agora, se não for incomodo para vocês, Eldarion e eu vamos dar um passeio.

— Não vai a lugar algum com ele. — Arwen o desafiou.

— Ah, eu vou. — Ele riu. — E você deve vir comigo. — Então jogou uma corda na direção de Aragorn e tornou a apontar a espada para os dois, mais especificamente para o rei. — Bem, minhas mãos estão ocupadas, então... Que tal fazer a gentileza de amarrar ela pra mim?

O rosto de Aragorn endureceu. Ele poderia matá-lo com as próprias mãos agora mesmo.

— Você é um sádico, pervertido!

— E estou com seu filho. Se não quiser enterrá-lo agora, faça o que eu digo. E ordene aos seus homens que nos deixem ir sem resistência.

Eles se entreolharam e com alguma resistência fizeram como ele disse. Aragorn pegou a corda e prendeu os dois braços da esposa. Ela respirava pesadamente e o temor estava nítido em seus olhos, mas confiava em Aragorn com sua vida. Após amarrar um nó relativamente firme ele tocou o rosto de Arwen com uma das mãos e fez com que ela olhasse em seus olhos.

— Me desculpe. — Disse, vendo-a assentir. — Eu preciso que seja forte.

Calion revirou os olhos e fingiu uma tosse para chamar a atenção deles.

— Já acabaram?

— Está perdendo seu tempo. Por mais que tente, não vai forçá-la a amar você. — Avisou Aragorn.

O elfo apenas levantou os ombros.

— Não quero o amor dela. Não mais. — Desdenhou ele. — Quero que ela sofra. Que vocês dois sofram por terem arruinado a minha vida e tornado a minha existência numa miséria.

— Fizeste isto consigo mesmo! — Arwen retrucou.

— Não me provoque. — Então olhou para Aragorn. — Vá na frente, majestade. Diga a seus homens para abrirem passagem.

Um alvoroço tomou conta de Minas Tirith. Aragorn correu à frente de seus guardas e comunicou-lhes o que estava ocorrendo, dando ordens para que não se pusessem no caminho de Calion, filho de Caranthir, pois a vida de seu único filho e herdeiro dependia disso. Elladan ficou furioso quando soube e após ter discutido com quase todos os soldados, pôde finalmente entender os motivos do rei. Pediu então que os guardiões deixassem Calion sair da fortaleza, levando consigo seu sobrinho e sua irmã. Poderia atirar no patife por trás, mas imaginou que facilmente acertaria Arwen ou Eldarion. Então ficaram alí, imponentes, enquanto eles se afastavam pelos campos de Pelennor.

— O que vamos fazer? — Perguntou a Aragorn, que encarava a cena parecendo distante, como se nem estivesse lá. — Aragorn?

— Eles não vão longe. Há guardiões por todos os lados, eles nos manterão informados.

— Então... Não vamos seguí-los?

O rei ficou em silêncio por alguns instantes e concordou com a cabeça.

— Definitivamente. Mas quando estiverem a uma distância segura. Não quero correr riscos.

Elladan baixou o olhar e suspirou, arrependendo-se por não ter matado Calion quando teve a chance, há alguns meses, na mata de pinheiros. Poderia simplesmente tê-lo apunhalado no coração como fizera com Herenvar, ou tê-lo afogado no rio Bruinen. Seu pai certamente surtaria, e tentaria apavorá-lo com fábulas como fazia quando era criança, inventando histórias sobre a maldição dos Noldor e coisas sobre um fratricídio.

Aragorn o observou como se tentasse adivinhar o que ele pensava, então pousou a mão sobre o ombro do elfo. Elladan tornou a olhá-lo.

— Eu não te disse isso antes porque pensei que não era necessário. Mas Calion já tentou matar o seu filho antes. — Aragorn franziu o rosto, mas deixou que prosseguisse. — Antes de sabermos que Arwen estava grávida, quando ele invadiu Valfenda. Depois que nós o prendemos, eu fui até o quarto dela pra ver se estava tudo bem, mas ela estava sangrando muito e não me dizia porquê. Eu não sei se ela sabia, na verdade. Estava sentindo muita dor e me proibiu de falar com os curadores porque... Bem, você deve imaginar. Então eu chamei Galadriel e aí, tudo se resolveu. Nenhuma das duas me contou o que aconteceu. E sempre que eu tentava tocar no assunto, Arwen me dizia para esquecer, ou simplesmente passava a falar sobre outra coisa. Mas eu sei que foi ele. O que mais poderia ser?

— Acha que ele vai tentar isso de novo?

O elfo meneou a cabeça.

— Não sei. Antes temos que saber como o vadio escapou da prisão dessa vez. Isso, se em algum momento ele não poderia sair quando pudesse, pois como já te disse, ele aprendeu muitas artes macabras com Saruman. Vai saber o que mais ele anda planejando. — Bufou com frustração. — Eu entendo a obsessão doentia dele pela minha irmã, mas por que Eldarion? Que ameaça ele representa?

— Ele disse que queria vê-la sofrer. A nós dois. — O rei tornou a encarar a estrada, onde agora nem sequer podia vê-los. Sentia-se irritado, e estupidamente impotente. Havia permitido que um único homem invadisse seu castelo, sequestrasse sua esposa e seu filho bem debaixo de seu nariz e não pudera fazer nada contra ele. — No começo, duvidava que ele pudesse fazer qualquer coisa que a machucasse, ao menos de propósito. Mas sabendo sobre o que você me disse... Tenho medo do que isso possa significar.