The Heir of Eldar

Passou-se quase uma semana desde a coroação do Rei Elessar, e Minas Tirith ainda estava polvorosa, agitada com a chegada de um casamento real. Faramir fizera questão de organizar o evento. Na verdade, ele sempre queria fazer tudo, e na noite de sexta, inventou subitamente uma espécie de "ritual de despedida de solteiro" para Aragorn. O rei tentou fugir para todos os lados e com todos os tipos de desculpas, mas no fim das contas, acabou convencido. Elladan, Elrohir, Gimli e Legolas estariam presentes, embora este último, sem o consentimento de sua esposa, que obviamente o mataria quando soubesse. Mas nenhum deles ali pareciam a fim de contar-lhe.

E sim, Legolas havia se casado, não muito depois de partir para Mirkwood. Sob protestos e reclamações de seu pai, que achava que no final das contas, após muito discutir apenas lhe disse:

— Você já é adulto, então faça o que quiser com sua vida. — Resmungou o rei, olhando para ele e Tauriel, então soltou um suspiro. — Apenas prometa-me que não colocarão fogo na floresta após eu ir embora.

— Prometemos. — Disse o príncipe com os olhos brilhando de alegria.

Foi então, que no final da primavera, Legolas e Tauriel juraram seu amor um ao outro, na bela floresta verde, em uma cerimônia modesta, ao menos ao ver de seu pai, mas contando com a presença de seus amigos e aquilo para o príncipe já era tudo com o que sonhara por toda a vida, desde que ele e Tauriel se conheceram quando crianças.

— Não acredito que meu amigo finalmente vai beijar na boca, pela primeira vez na vida dele. — Gimli fingiu limpar uma lágrima dos olhos, recebendo um cascudo de Legolas. — Ai!

— Pelo menos um de nós vai deixar de ser um ilibado. — Zombou o elfo.

Naquela mesma semana, mais precisamente no sábado, ocorreria o casamento de Aragorn e Arwen em Minas Tirith. Legolas também utilizaria isso como desculpa para viajar com Tauriel, uma vez que sabia que não teriam um minuto de paz depois que seu pai pegasse o navio para Valinor. Na verdade, os dois também deveriam ir com ele, mas pensaram seriamente em postergar a partida e viajar na última embarcação com Elrond, Elladan e Elrohir. Então, no dia seguinte ao casamento, eles viajaram de volta à Gondor, chegando no entardecer de sexta-feira.

Depois que a noite caiu, Aragorn deixou seu quarto e disse aos guardas que se encontraria com Faramir e seus amigos, mas virou para outra direção. Passou silenciosamente pelo corredor, imaginando-se muito inteligente por tê-los enganado. Faramir àquelas alturas já devia estar para lá de bêbado, sequer notaria sua ausência. Legolas praticamente o obrigara a participar, uma vez que fez o mesmo com o príncipe elfo, às vésperas do casamento do mesmo.

Quanto a Merry, Pippin, Frodo e Sam, eles entenderiam. De qualquer forma, já havia subornado Peregrin para não dizer que ele provavelmente escaparia da tal "despedida de solteiro", prometendo-lhe um baú cheio de erva de fumo.

Virou à direita em um segundo corredor e espiou para ver se havia algum guarda por perto, e sorriu vitorioso ao descobrir que não. Correu silenciosamente até o último quarto do corredor e bateu discretamente na porta. Demorou um pouco, mas ele finalmente ouviu o som da fechadura sendo destravada e Arwen pôs o rosto pela pequena abertura da porta, olhando-o com espanto.

— Estel? — Olhou de um lado a outro, então agarrou sua mão e o puxou para dentro do quarto. — Não devia estar aqui.

— Eu sei. — Ele sussurrou de volta rindo como se achasse aquela situação divertida. — Estou me escondendo de seus irmãos. Você pode me abrigar?

— O que?!

— Suspeito que eles dois, Legolas e Faramir tenham um plano maligno para me embebedar. Chamaram de "despedida de solteiro".

— Por Eru... Sabe que horas são? — Ele riu e se aproximou, abraçando-a, mas ela tentou afastá-lo, o que tornou a situação ainda mais cômica. — Estel... Meu pai vai nos matar se te encontrar aqui.

Aragorn se afastou e caiu de joelhos ao lado dela, abraçando suas pernas como uma criança pirracenta.

— Por favor, minha senhora, eu imploro que não me entregue àqueles bêbados loucos. — Arwen riu dele, tentando levantá-lo.

— Só se você se comportar.

— Eu prometo que vou. — Então levantou-se novamente e a puxou para perto de si, depositando um beijo calmo e suave em seus lábios. Arwen abraçou seu pescoço e retribuiu o beijo, afastando-se após algum tempo para retomar o fôlego. — Estava sentindo a sua falta. Fiquei uma semana inteira sem te ver! Acho um absurdo que não me deixem ver minha própria noiva. Quer dizer, eu sou o rei, oras!

— Bem, Éowyn diz que faz parte da "tradição" de casamento de seu povo. — Ela se afastou mais. — É por isso que você não deveria estar aqui. Na verdade, nos dois deveriamos estar dormindo. O casamento é amanhã, lembra?

Aragorn franziu a testa, mas sorriu e assentiu. Claro que ele se lembrava.

—Ah, mas isso não é problema. — Ao vê-la olhando para ele com surpresa, ele se jogou na cama e riu para ela. – Posso ficar aqui, com você.

— Não, você não pode. Afinal, qualquer um poderia entrar aqui... — Ela tentou pegá-lo, mas ele usou seu peso para arrastá-la para a cama, virando-se e deitando-se em cima dela. — Aragorn!

— A maioria das pessoas já está dormindo.

— Você não pode, só... esperar até amanhã?

Ele balançou a cabeça negativamente.

— Não sei se posso. — Então, ele a beijou novamente, dessa vez com muito mais urgência e calor. Arwen o abraçou e acariciou seu rosto com ternura, mas suas mãos deslizaram para o peito dele o empurraram para cima, cessando o contato do beijo. Quase pode ver o olhar de frustração nos olhos de Aragorn quando o afastou. — Ou que houve?

— Não podemos fazer isso. Ainda não.

Seu olhar estava distante e ela desviou antes que Aragorn pudesse adivinhar o que estava pensando. Ela o evitava? Mas por que?

— Arwen... — Ele a fez olhar nos olhos dele novamente. — Tudo está bem. Você pode me contar qualquer coisa que te incomode. — Ela concordou com as palavras dele, mas ainda parecia hesitante. — Eu machuquei você?

O rosto de Arwen se contraiu e ela balançou a cabeça.

— Não... — Sorriu para ele novamente. — Claro que não. É que tem... Uma outra coisa. — Ela pegou sua mão e fez com que repousasse sobre sua barriga, então tornou a olhá-lo. — Aqui. É um bebê.

— Um... um bebê? — Os olhos de Aragorn se arregalaram com espanto. Ele ergueu o corpo e se afastou dela, sentando-se na cama. — Quer dizer... Que você... Que nós...

— Respire, Estel. — ela pediu, observando-o se atrapalhar com as palavras, mas assentiu e respondeu “sim” a todas as perguntas. — Ele está aqui há algum tempo. Desde que viajou com a sociedade do anel.

— Já se passaram três meses...

Então levantou-se de vez e passou a perambular pelo quarto, como se tentasse descobrir se estava ansioso, alegre, temeroso, ou qualquer outra coisa que pudesse sentir. Parou por alguns instantes encarando a porta, até que a voz de Arwen chamou novamente sua atenção.

— Você está bravo? — Perguntou ela, sem ainda saber se queria ouvir a resposta.

Mas o sorriso que Aragorn tinha nos lábios quando finalmente virou-se para encará-la já dizia tudo.

— Como eu poderia? Essa é a melhor notícia que você poderia me dar! — Então tornou a aproximar-se e a puxou pela mão para que se levantasse da cama, e a apertou em um abraço forte, tão forte que quase a sufocou.

— Ah... Estel!

Ele a soltou e sorriu para ela.

— Desculpa.

— Você parece feliz.

— Eu estou feliz. — Admitiu. — Eu poderia gritar para toda a terra média ouvir o quão feliz eu estou.

Ele abriu a boca, mas Arwen o deteve, colocando a mão sobre os lábios dele.

— Nem se atreva! Apenas eu, você e mais duas pessoas sabem disso. Que não incluem o meu pai. Então sugiro, para o nosso bem, que você fique quieto.

Aragorn franziu o rosto.

— Mais duas pessoas?

— Elladan e minha avó. Mas isso é uma longa história.

— Certo... — Ele a olhou por alguns instantes e seus lábios tornaram a desenhar um sorriso quase inevitável. — Eu vou ser pai.

— Você vai... Ah! — Então a surpreendeu com um abraço e encheu-a de beijos na bochecha e nos lábios. — Aragorn!

— Eu te amo. — Ele disse finalmente se aquietando.

A manhã chegou depressa e a agitação na cidade, tornou-se ainda maior com a chegada do casamento real. Tudo correu perfeitamente bem, e pudera, pois Faramir e Eowyn haviam se empenhado naquele evento e organizaram com perfeição em pouquíssimo tempo. Então, antes do fim do dia, Arwen e Aragorn estavam oficialmente casados. Claro, que só contariam a Elrond sobre o bebê depois disso. Bem depois disso. E como, agora quase toda a família já sabia menos seu pai, Elladan, parou inocentemente perto de onde Aragorn estava com Legolas e cruzou os braços para ele.

— O que foi? — Ele perguntou, suspeitando da atitude do elfo.

— Não acredito que você engravidou minha irmã.

— Você fez o que?! — Legolas indagou com surpresa.

— Ahn... Não foi de propósito.

— Não ligo. Ela é minha irmã. E você é o pior melhor amigo do mundo. — Ficou mais um pouco em silêncio e logo não conseguia mais manter a postura séria. Ele riu para o irmão adotivo, que já estava começando a ficar preocupado. — Eu te detesto, mas desejo toda a felicidade do mundo a você.

— Tá... Obrigado. — Aragorn franziu o rosto. — Eu acho.

— Mas aquela nossa conversa ainda está valendo. Se fizer qualquer coisa que a magoe eu...

— Vai me jogar de um penhasco, eu sei.

— Ótimo. — Então sorriu e suspirou, e depois envolveu-o em um abraço. — Estou orgulhoso de você, irmãozinho.

As estações passaram-se rapidamente, bem mais do que esperavam. Aos poucos os vestígios dos trabalhos de Sauron tornaram-se mais remotos, como pesadelos distantes. Jamais puderam recuperar tudo o que fora desfeito por ele, mas as coisas que vieram a seguir, eram sempre belas e puras. Ao menos, foi assim por um longo tempo.

O outono estava se iniciando, quando Legolas e Tauriel retornaram de sua viagem ao longo da terra média. Eles acompanharam os Hobbits de volta ao condado e passaram mais algum tempo visitando Valfenda, Fangorn, Mória e Lórien com Gimli. Depois de deixar o anão com seus parentes nas montanhas azuis, cavalgaram até Esgaroth, onde passaram algum tempo, próximos à montanha solitária.

Legolas encontrou Aragorn andando de um lado a outro, no corredor próximo ao quarto, de onde vinha os angustiantes gritos de sua esposa. Ele parecia preocupado e com frequência tentava invadir o quarto, mas não lhe era permitido.

— Já está na hora? — Indagou o príncipe elfo.

— Aparentemente sim. — Ele bufou com frustração. — Mas já fazem três horas que ela está lá dentro. Eu odeio vê-la assim.

— É só um bebê, gente. — Resmungou Elladan, ainda sem entender o motivo de tanta demora. Ele acompanhou o parto de sua irmã, havia sido rápido e praticamente indolor ao que parecia. — Ela deveria sentir tanta dor?

— Não. — Informou Elrond. — Mas sua irmã está diferente. O corpo dela começou a aceitar a mortalidade.

Os gêmeos se entreolharam.

— Ela vai morrer?

Elrond estreitou os olhos.

— O que seu pai quer dizer, é que ela está se tornando humana. — Legolas explicou.

— Ah... Mas...

Então outro grito agudo de dor vindo de dentro do quarto cortou a conversa. Aragorn se cansou.

— Já chega, eu vou entrar.

Legolas pôs o braço na frente dele, e tudo então ficou em silêncio. Eles ouviram o choro baixo de uma criança e após alguns minutos Galadriel surgiu na porta, com um pequeno garotinho nos braços.

— Acho que esse foi o trabalho mais difícil que tive. — Ela riu. — Quero que conheçam Eldarion.