Secret Meetings

Os encontros secretos entre o herdeiro dos Dúnedain e a filha do senhor de Valfenda duraram cerca de um ano sem que ninguém percebesse. Normalmente sua conversa era aleatória e o assunto variava entre as músicas de que gostavam, as histórias antigas e o manejo de armas. Estel sabia que a jovem elfa era boa com o arco e a espada, embora jamais tivesse tido oportunidade de vê-la em combate. Legolas lhe dissera que fora treinada por Haldir e por seu avô, Celeborn, nos séculos que passou refugiada em Lothlórien e aquilo despertou sua curiosidade mas ela raramente falava a esse respeito e se falava, era uma menção curta sobre um dia ou outro. Eles normalmente saíam antes do pôr do sol, pois Arwen gostava de vê-lo desaparecer por detrás das rochas do vale e não havia absolutamente nada que ela pedisse que seu fiel companheiro e amigo não fizesse, por tal razão, Estel passou a apelidá-la evenstar, que era uma abreviação em idioma comum para "estrela vespertina". Arwen apenas sorrira ao ouvi-lo dizer isso e seu rosto recebeu uma quentura rubra nas bochechas, de modo que ela precisou escondê-lo de sua vista.

— Pensei que não viria hoje. — Ela olhava atentamente o pôr do sol, mas podia ouvi-lo aproximar-se por trás. Estel se sentou ao seu lado em uma das rochas.

— E perder a única oportunidade que temos para conversar sem seus irmãos enchendo? — Riu. — Legolas me segurou por mais tempo no treinamento. Me disse que preciso estar com os braços fortes se quiser segurar uma espada de forma decente. — Revirou os olhos.

— Eles pretendem enviá-lo às fronteiras?

O rapaz bufou e olhou com revolta para o horizonte, então negou com a cabeça, parecendo ver que ela soltou um suspiro de alívio ao vê-lo negar.

— Duvido muito. — Decidiu que mudaria aquele assunto. O Sol estava desaparecendo no horizonte e logo, o senhor Elrond os chamaria de volta para o jantar. — Mas não quero falar dessas coisas chatas. Conte-me você, o que fez ao longo do dia.

— Estou lendo um novo livro. — Ele pareceu feliz com aquilo. Indagou-lhe mais a respeito, sobre o que era? Que o escrevera? Se poderia emprestá-lo quando terminasse.

A conversa se estendeu até que a penumbra caísse e invadisse o vale. Legolas estava no quarto de hóspedes, limpando sua lâmina e polindo, quando Elrond o convocou à sala, e indagou-lhe com preocupação se sabia do paradeiro de seu protegido.

— Eu não... não imagino onde possa ter ido. — Era mentira. Ele sabia e há meses sabia, mas não dizia nada a respeito. Imaginou que Estel aos poucos deixaria de lado aquela loucura.

— Arwen também não está aqui. — Avisou Elladan, saindo de um dos corredores.

Adar, eu posso procurá-los. Arwen deve estar na floresta tocando a harpa.

— Eu irei. — Legolas interrompeu. — Não precisam se preocupar. De certo, Estel está enfiado nos estábulos, bajulando os cavalos.

Antes estivesse. Ele foi direto para a floresta e aproximou-se em silêncio, como quem espia duas crianças encrenqueiras. Mas eles não estavam fazendo nada, para o seu alívio. Já estavam deixando a floresta. Ele os viu caminharem lado a lado, parecendo radiantes, ela ria de algo que Estel lhe sussurrava ao ouvido e agarrava o braço dele como se fossem um belo e feliz casal. Aquilo o incomodou, não que nutrisse algum sentimento romântico por Arwen, de forma alguma, mas temeu por seu amigo e o que seu amor juvenil e insensato por ela poderia fazer a ele. Entretanto, não os incomodou, retornou à casa de Elrond e esperou no quarto, imaginando que Aragorn passaria ali antes de se juntar aos outros para jantar. Eles se separaram como sempre faziam e Arwen chegara primeiro, ele sabia disso pois podia ouvir a voz furiosa de Elrond a censurando por desaparecer no meio do cair da noite. Ouviu um barulho na janela e a mesma se abriu pelo lado de fora. Estel passou pela mesma e não o viu até que o Elfo dissesse:

— Não desejo nem para meu pior inimigo. — O rapaz parou no meio do caminho e virou-se para ele, como se indicasse a que ele se referia. — O fardo de amar alguém que é totalmente diferente de você.

— Arwen é minha amiga. — Afirmou. — Só isso.

— Isso me conforta. — Legolas se levantou e o rodeou. — Mas eu o conheço desde os dois anos de idade, antes mesmo de aprender a falar de forma decente. Você não me engana.

— Não vai vir com aquele papo paternal sobre responsabilidades e a maneira correta de fazer isso, não é?

— Eu não sou seu pai. — Disse com franqueza. — Sou seu amigo. E como amigo é meu dever avisá-lo, não faria isso se fosse você. Já vi o que o dilema do amor e da imortalidade podem fazer a alguém. Acredite em mim, não iria querer se enfiar nessa enrascada.

Ele ficou em silêncio e assentiu às palavras de Legolas. Ele era mais velho, mas experiente e foi enfático ao lembrar-lhe de que por mais belas que fossem as canções, a história de Beren e Lúthien não terminava em um mar de rosas. Estel bufou, esperneou e cansou de repetir que não havia nada do tipo ocorrendo entre ele e a filha do senhor Elrond.

— Ou acha que eu não teria lhe contado? — Reclamou.

Legolas apenas riu e negou com a cabeça, enquanto o conduzia para fora do quarto, dizendo aos demais que ele havia adormecido em algum canto da casa e por isso desapareceu até aquele momento. Ignorou a troca de olhares rápida e nada discreta entre seu amigo e a eleth, que estava sentada ao lado de Elrond. No dia seguinte, encheu-o com indiretas e lições de moral a ponto de irritá-lo, mas o rapaz nada lhe dizia. Treinou com vigor e em parte, odioso pelas palavras do amigo, mas seu treinamento foi encerrado pelo clarim e chegaram elfos à cavalo vindos de Lothlorien, dentre eles, Haldir, Daeron e Glorfindel, um elfo milenar que vivera na primeira Era e um dos poucos que se sabia ter retornado de Mandos para a Terra-Média.

Elladan e Elrohir vieram jubilosos ao encontro deles e Legolas riu ao ver que o segundo gêmeo provavelmente iria sugerir alguma coisa que tivesse a ver com beber vinho até seus dedos ficarem dormentes e dançar feito garças pelo resto da noite. Glorfindel, entretanto, trazia notícias de além das fronteiras de Lothlórien, e pediu que antes fossem até o senhor de Valfenda. Legolas deixou de lado a espada e o arco e os seguiu, com Estel ao seu encalço, mas o jovem Dunedain talvez tivesse desejado não o fazê-lo. Elrond estava em sua varanda com Arwen quando chegaram e a elfa alegrou-se ao ver o primo, Daeron e a Glorfindel que ela recebera com um caloroso abraço. Aquilo deixou Estel incomodada e pareceu que um nó se formara em sua garganta quando a viu abraçada a outro sujeito.

— Pequena Arwen! — O elfo de cabelos dourados a chamara de forma carinhosa e sorridente.

— Eu avisei que não poderia passar muito tempo até que a visitasse no vale. Lothlorien não é a mesma sem você por lá para embelezar o ambiente.

Arwen riu um pouco sem jeito e afastou-se de seu amigo. Estel fez menção de que sairia de fininho, mas Legolas o agarrou pelo capuz e fez com que ficasse. As palavras que o Elfo lhe dissera na noite anterior, logo começavam a fazer algum sentido, Arwen era diferente dele.

— Me disse possuir notícias importantes, Glorfindel. — Elrond estava ansioso para aquele assunto. — Espero que não tenha sido uma desculpa para vir tentar cortejar minha filha.

— Tenho uma mensagem da senhora Galadriel. — Informou-lhe. — O anel foi encontrado. Ela não me disse por quem, mas Gandalf o vigia desde então e o mantém fora de vista.

— Seu olhar se voltou para Estel e se desviou rapidamente para o elfo moreno. — A hora se aproxima, Elrond. Devemos partir em breve.

— Não ainda. Não até que lhes demos as armas necessárias. Os homens não podem vencer sozinhos.

— É o destino deles, meu senhor.

— Ninguém nunca falou que não poderíamos torná-lo menos sacrificoso. Se não podemos ajudá-los, então de nada servimos.

Glorfindel pareceu ponderar sobre o que Elrond dizia e após alguns instantes, concordou com ele. Mas Estel ouvia tudo em silêncio, revoltado que Legolas o fizesse ficar e presenciar toda aquela palhaçada e quando Elladan e Elrohir deixaram a sala, aproveitou para segui-los também para fora. Legolas foi logo atrás, sabendo perfeitamente o motivo da irritação do rapaz.

— Estel.

— Você venceu, Legolas.

— Eu... Sinto muito. — Tocou o ombro do amigo. — Espero que entenda. Não quero que sofra.

Naquela noite, o pôr do sol de Arwen na floresta foi silencioso e solitário. E ela não entendera exatamente o porquê, mas sentiu falta de seu amigo, sentiu falta de sua companhia e antes que a noite chegasse por completo, via-se fazendo o caminho de volta para casa. Com a harpa pendurada em um dos ombros e o semblante confuso, quase triste, que ela precisou disfarçar impediam ao encontrar Elrohir e Glorfindel próximos à entrada.

— Enfiada no mato de novo, Arwen?! — Reclamou seu irmão. — Sabe que o pai detesta que faça isso.

— Não a perturbe, Elrohir. — Glorfindel o repreendeu, parecendo notar que ela não parecia animada naquela noite. — Está tudo bem, menina. Diga o que a está incomodando?

— Eu... — Seus olhos encararam Elrohir que também pareceu curioso. Talvez pudesse dizer a Glorfindel, o motivo de sua tristeza, mas não ao irmão. Irmãos mais velhos eram metidos e se preocupavam demais. Poderiam deduzir qualquer coisa do que ela lhes dissesse. — Só estava praticando. Mas estou cansada, melhor ir dormir.

Já Estel, enfiara-se na adega com Elladan e o primo, Daeron, com Legolas, que sentiu que talvez devesse fazer-lhe companhia. Contaram histórias e beberam, até que à sexta taça de vinho, Legolas o vetou para o jovem Dunedain, tendo de lembrar-se novamente de que ele poderia facilmente desmaiar e então teria de levá-lo arrastado para o quarto. Quando a luz da lua surgiu, despediram-se e voltaram para seus aposentos.