The king of the mountain of the dead

Quando a noite tornou-se mais profunda, e todo o acampamento já descansava, Aragorn levou seu cavalo na direção da fenda que dividia a montanha. O animal se agitou e relinchou, mas obedeceu seu comando. Gimli e Legolas o seguiram, apesar dos protestos dele para que não fossem. O lugar era fétido e assombroso, abandonado e com crânios e ossos por toda parte. Havia uma porta caindo aos pedaços cuja a inscrição nos umbrais fizeram Legolas recuar um passo, mas ele seguiu e Gimli logo atrás dele, pois não era muito chegado a coisas de fantasmas, espíritos, magia e qualquer coisa que não pudesse ser tocada, se bela e morta se de procedência maligna.

O céu desapareceu acima deles e deu lugar ao teto de pedra, a sombra os envolveu e uma neblina espessa e verde tomava conta do lugar. Conseguiam ouvir os próprios passos até certa distância. Aragorn olhou de relance para o chão, seus pés estavam cobertos pela névoa, de modo que ele não os podia ver, mas o chão que pisavam era feito de ossos e ele pode sentí-los sob as botas pesadas.

— Não olhem para baixo. — Avisou.

Mas Gimli sentiu a curiosidade dentro de si gritar e deu uma espiada, notando então o motivo da recomendação. Equilibrou-se sobre os ossos, sentindo um, dois ou três quebrarem-se sob seus pés, então correu para onde Legolas e Aragorn haviam ido. Uma espécie de salão, escuro e cheio da névoa agourenta.

— A Senda dos mortos. — Murmurou Legolas. — Já foram Homens vivos. Eles moraram nas Montanhas Brancas e eram conhecidos como os Homens das Montanhas. Eles eram próximos dos Homens da Terra Parda, adoradores de Sauron. Eles juraram fidelidade a Isildur, na guerra da última aliança de homens e elfos.

— E o traíram. — Bufou Aragorn. — Quando convocados durante a Guerra da Última Aliança, o rei e seus homens quebraram o juramento e se recusaram a lutar contra seu antigo mestre. Isildur disse ao Rei da Montanha que ele seria o último rei e amaldiçoou aqueles que juraram nunca descansar até que seus votos fossem cumpridos.

Um vento gelado soprou do interior da caverna. Gimli escondeu-se atrás de Legolas, sentindo um calafrio macabro em sua espinha.

— Quem ousa invadir o domínio do Rei da Senda dos Mortos?!

Uma voz ecoou rudemente e então a névoa tomou a forma de um homem, um fantasma, translúcido com uma coroa sobre a cabeça. O fantasma avançou sobre Aragorn, brandindo uma espada, que por mais estranho que pudesse parecer, era palpável e machucava. Ele desembainhou Ringil, a espada de Elrond e pelejou contra o proscrito, que ganhava em tempo e experiência, e.. claro, no fato de poder aparecer e desaparecer e não ser ferido por Ringil. Legolas até tentou acertá-lo com uma flecha, mas ela passou direto por sua testa e fixou-se na parede logo atrás dele.

— A gente devia sair daqui. — Resmungou Gimli.

— Ora, meu nobre anão, está com medo? — Legolas zombou. — Fique quieto, deixe Aragorn resolver isso.

— Sabiamente.

Afastaram-se então observando a luta, que se desenrolava mais por diversão do Fantasma, já que era visível que este, em poucos segundos, teria matado Aragorn, se fosse essa sua vontade. Então no calor da batalha, Ringil voou para o outro lado da caverna e Aragorn viu-se desarmado. O Rei fantasma riu para ele.

— Ora, parece que é aqui que sua pequena excursão termina. — E em fração de segundos, quando preparava-se para receber o golpe final, Anduril se colocou entre seu rosto e a espada do fantasma, que saltou para trás com grito surpreso. — Não!

Os olhos dele se arregalaram e Aragorn finalmente entendeu o porquê. Suas mãos seguravam trêmulas a espada, pois ele acreditou que o fantasma a atravessaria, mas aquilo não aconteceu.

Um burburinho encheu a caverna e só então perceberam que havia um exército de fantasmas a seu redor. Aragorn ergueu a espada.

— Vocês já a viram antes. — Disse, agora com segurança, e sua postura era a de um rei que se levantava para a batalha. — Esta é Andúril, forjada dos fragmentos de Narsil, a espada sob a qual juraram lutar pela casa de Isildur. Pois bem, aqui estou. Sou Aragorn, filho de Arathorn, herdeiro de Isildur, e lhes apresento a oferta de cumprirem seu juramento.

Após essas palavras, houve um silêncio incômodo, e então a risada misteriosa dos fantasmas ecoou pela caverna, seguida por um rugido trêmulo. O teto quebrou e eles saíram correndo de lá. A passagem pela qual haviam passado foi bloqueada e uma avalanche de crânios os forçou para o leste, a única saída. Eles escaparam por pouco da morte, mas quando chegaram à encosta da montanha com vista para o rio, Aragorn desejou ter sido enterrado. A frota lestense estava ancorada na costa perto de Osgiliath. Ele caiu de joelhos e viu a pouca esperança que lhe restava escapar por entre os dedos. Seus olhos estavam quentes, mas reprimiu a vontade de chorar. Legolas colocou a mão em seu ombro, tentando confortá-lo, mas não adiantou.

Não demorou muito até que Gimli sentiu um novo arrepio e deu um pulinho onde estava. O Rei dos Mortos havia retornado. Aragorn se pôs de pé e o encarou. O fantasma sorriu para ele e então comunicou sua resposta:

— Vamos lutar.

Ainda era início de dia, os navios já estavam ancorados, exceto por um, que desapareceu na névoa, antes do amanhecer. Os capitães já estavam começando a preocupar-se quando o viram aproximar-se da costa. Prepararam-se para dar algum sermão aos marujos que desceriam em breve, mas para sua surpresa, o navio estava relativamente vazio e apenas uns três sujeitos, maltrapilhos desembarcaram. Um homem alto de cabelos escuros e desgrenhados, barba por fazer e aparência torturada, ao lado dele, um elfo, de cabelos louro-prateados, e um… anão?! Sim. Parecia ser. Um anão mal encarado, ruivo com um machado em mãos.

— Bom dia, senhores. — Disse o sujeito do meio, o de cabelos escuros, que aos olhos dos capitães era o mais mulambento dos três. — Eu sinto dizer, que estão invadindo, então se tiverem a gentileza de saírem…

Um estrondo de gargalhadas se ouviu. Os sujeitos se entreolharam e voltaram-se aos demais, como se não achassem graça.

— Idiota! — Um dos lestenses cuspiu no chão. — Sabemos que estamos invadindo. Se tem problemas com isso, certamente deve ser um dos vadios que habitam essa terra. Então não. Não iremos sair. E vai fazer o que? Jogar seu amigo anão em nós?

Aragorn olhou para Gimli com um sorrisinho.

— Que deselegante! — brincou Legolas.

— Meu amigo está certo. Não, não jogaremos o anão em vocês. — Retrucou Aragorn. — Na verdade, pensamos em chutar suas bundas lestenses daqui de volta aos buracos imundos de onde saíram.

Outra explosão de risadas, agora os corsários pegaram suas espadas e avançaram lentamente na direção dos atrevidos e maltrapilhos.

— Ah, é?! Vocês e qual exército?

Os soldados avançaram, Aragorn apenas pôs a espada na frente do rosto e uma figura translúcida passou por ele. O exército dos mortos, agora visível aos inimigos, deixou o navio e os atacou. Gimli, Legolas e Aragorn riram da cara de espanto dos lestenses e entraram também na batalha, que se arrastou até o porto de Osgiliath, a cidade, que agora estava totalmente destruída, sitiada por forças de Mordor, Khand, Harad e Rhun, dos reinos ocidentais. O som do clarim anunciou a vinda dos corsários, que vinham correndo para dentro da cidade. Aragorn e os outros os seguiram e precisaram recuar ao deparar-se com a enorme força que jazia diante de Osgiliath.

Os arqueiros de Gondor abateram alguns no caminho, mas com eles vinham orcs, com armas poderosas, gigantescos trolls e Olifantes, centenas de Olifantes. Estava claro, que seu objetivo não era Osgiliath, e sim a fortaleza, onde agora se escondia o regente. Eles queriam destruir tudo o que restava de Gondor.

— Faramir! — Gritou uma voz grave de cima de uma torre de sentinelas. — O Rio! Eles estão no Rio!

Um grupo de soldados correu para a encosta, e foram recebidos com flechadas mórgul. Estes eram os guardas da cidadela, liderados por Faramir, filho de Denethor e irmão de Boromir, agora encarregado de proteger Osgiliath, que agora era a penúltima defesa de Gondor. Os mercenários Lestenses avançaram desde o anduin e entraram na cidade. Os guardas lutaram bravamente e por vários dias, sem esperança de vitória. Um grito agudo encheu o ar da cidade e seus homens foram tomados pelo medo. Eram um Nazgul Voador, de Minas Morgul. Eles vinham assolando-os há bastante tempo e nem todas as armas que lhes restavam juntas, eram capazes de abatê-los.

— É inútil! — Reclamou Faramir. — Eles são muitos. E já tomaram mais da metade da cidade. — Temos que recuar!!! — Gritou para os demais.

Os cavaleiros retiraram-se rumo oeste, na direção de Minas Tirith, e tiveram auxílio de Aragorn e seus companheiros, enquanto fugiam de volta para Minas Tirith. Lá, encontraram Gandalf, Pippin, que agora era aparentemente escudeiro do regente, ou algo assim, e o próprio regente, Denethor, que não estava feliz em vê-los. Na verdade, nunca estava feliz com nada, que não fosse Boromir, e seu desgosto tornou-se ainda maior, quando lhe contaram sobre a morte do mesmo.

— Por que vêm em hora de aflição trazer-me mais aflição?! Murmurou ele. — Malditos sejam. Boromir… meu amado Boromir…

— Não ouviu o que disseram, pai?! — Faramir interrompeu. — Sauron atacará Minas Tirith. Não temos homens, nem armas para detê-los.
— Pensei que tivessem pedido auxílio de Rohan. — Aragorn ficou confuso.

— Não pedimos. — Denethor ficou enfurecido com aquilo. — Théoden é um traidor. Suas terras estão infestadas de Orcs. — Daí olhou para Faramir. — E você… Seu inútil, insolente, deixou que Osgiliath fosse tomada por… — Cuspiu no chão e fez uma expressão de nojo. — Lestenses.

— Pai…

— Não me chame assim!

— Ele não teve culpa, meu senhor. — Aragorn tentou defendê-lo. — Haviam muitos e para cada homem que derrubaremos, mais dez apareciam. Faramir defendeu com bravura a cidade e…

— Não falei com você! — O regente se alterou e o eco de sua voz fez com que Aragorn se calasse, não por medo, mas por respeito. Embora Minas Tirith fosse sua por direito, era a casa de Denethor, e ele a respeitaria. — Não me venha falar de Faramir. Sei para quê ele serve e não é muita coisa.

— Se esse for seu desejo, pai, — Faramir disse gravemente, sua voz era levemente trêmula, mas ele não se permitia chorar. — Retomarei a cidadela. E tornarei para o senhor. Apenas peço-te que teu desprezo por mim torne-se menor depois disso.

Denethor ignorou as palavras do filho, fez um sinal com a mão para que fosse logo, como quem espanta um cachorro faminto, então sentou-se novamente sobre o trono que havia no grande salão. Aragorn saiu juntamente com ele, mas o rapaz insistiu que ele não o acompanhasse à Osgiliath. Na verdade, esperava que Aragorn e os outros pudessem ao menos auxiliar o povo da torre branca a preparar-se para o cerco. Aquela seria sua última batalha, ao menos ao que lhe parecia.