The Elrond’s Vision

A primavera chegou sem muita demora, e era final de fevereiro quando Elladan e Elrohir retornaram de uma última ronda nas fronteiras, alegando que os orcs e urde sua última patrulha nas fronteiras, avisando que Mordor e Isengard haviam recolhido os orcs em direção sudeste, provavelmente de volta ao covil que haviam saído, e aquilo também significava que, a penúltima caravana de elfos poderia viajar para o oeste sem preocupar-se com os seres peçonhentos. Elrond estava fora naquela ocasião. Viajou para o sul, até Rohan a fim de entender melhor o que acontecia e lá encontrou Aragorn, Legolas e Gimli, que agora planejavam com o Rei Théoden, um assalto a Osgiliath, ex capital de Gondor, agora tomada e dominada pelos orcs de Sauron. Merry e Pippin estavam com eles. Os encontraram no porão de uma Isengard sitiada e alagada, deliciando-se com o tabaco que eles encontraram na dispensa do mago branco. Os companheiros se entreolharam surpresos, tentando entender como diabos, dois pequenos hobbits haviam podido invadir Isengard, sitiá-la e fazer Saruman e o ex conselheiro de Théoden de reféns. E seu encontro terminou tanto com o mago quanto Grimma mortos e a palantir que Saruman guardava com tanto afinco, agora estava em posse de Gandalf, o Branco. Assim, após constatarem que nada mais poderia ser feito ali, retornaram ao acampamento dos Rohirrim, onde Théoden preparava seus cavaleiros para a batalha.

Elrond os encontrou no meio do caminho e pediu a Aragorn que lhe dissesse o que estava havendo e por que razão, Frodo e o anel não estavam com eles.

— Ele precisava seguir seu caminho só. — Aragorn disse vagamente. — Depois de sair de Lorien, perdemos Boromir. Ele foi seduzido pelo anel. Frodo temeu que a mesma tentação se abatesse sobre nós, então foi embora. Sam foi com ele. — Ele olhou a expressão estranha no rosto do elfo. — Sei que ele está vivo. Caso contrário, não estaríamos.

— E agora marcham para Minas Tirith.

— Os orcs tomaram Osgiliath. A cidade foi sitiada pelos espectros e por montarias aladas. Eles estão sendo massacrados dia e noite. Temos que ajudá-los. Se Minas Tirith cair, o mundo dos homens se eclipsará.

Elrond o examinou de cima a baixo.

— Faça como quiser. Você não parece muito esperançoso de qualquer forma.

— Temo que nossos esforços sejam inúteis. Sauron é poderoso.

— Sim, ele é. — Ponderou por algum tempo. — Por isso insisto que Arwen vá para os portos cinzentos.

— Você não pode forçá-la. – Aragorn protestou.

— Não vou deixar minha filha aqui para morrer.

— Ela fica porque ainda tem esperança…

— Não! Ela fica por você! — Bradou o elfo. — Avisei a você que ela não trocaria a herança de seu povo por uma causa menor. — Aragorn permaneceu em silêncio, agora verdadeiramente ofendido pela insistência do Mestre Elrond. Apressou os passos para longe dele, mas a voz cortante do elfo chamou novamente sua atenção. — Aragorn! Eu a convencerei a partir.

Ele assentiu e voltou para seus companheiros sem o olhar. Elrond mais uma vez seguiu para o Vale de Imladris, onde encontrou Haldir e suas forças de Elfos de Lórien, sobreviventes da Batalha do Abismo de Helm. Eles também estavam a caminho de Valfenda, de onde planejavam partir no final da primavera com o Senhor e a Senhora dos Galadhrim. Quando ele chegou, Elladan e Elrohir estavam em sua varanda e pareceram estranhamente surpresos ao vê-lo.

— Estel, está bem? — Perguntou Elrohir, parecendo preocupado com o irmão adotivo.

— Ele está vivo. Pelo menos.

Os gêmeos se entreolharam.

— O senhor parece furioso para variar. — Observou Elladan. — Os Galadhrim estão se preparando para partir, mas nós ficaremos com o senhor até que chegue a sua hora.

— Sou grato pela preocupação, Elladan, mas não desejo isso.

— Sabemos que não. — Acrescentou Elrohir. — Mas não vamos deixá-lo sozinho. Naneth já esperou por dois mil setecentos e setenta anos. Ela certamente não se importará com mais alguns meses.

Não pode evitar um sorriso involuntário quando o ouviu dizer aquilo. Bem, talvez Elrohir tivesse razão, mas ele odiava a ideia de que talvez não pudessem sair caso Sauron triunfasse. Suas visões haviam mudado recentemente, e ele já não sabia qual delas se referia a um futuro concreto. Tudo o que sabia era que não poderiam permanecer alI, pois a esperança, que há muito tempo nascera em seu coração, já quase não existia.

— Onde está sua irmã? — Perguntou.

— Ah… da última vez que nos encontramos ela de alguma forma jogou um copo na minha cabeça. – Elladan resmungou. — Então ela se desculpou, me abraçou e começou a chorar como uma criança.

— Ela está estranha. — Observou Elrohir.

— Estranha como? — Elrond quis saber.

— Está comendo mais do que o Elrohir. — Brincou Elladan. — E parece doente, não sei. Eu a livrei de cair do cavalo essa manhã. Foi como se ela tivesse simplesmente desmaiado. Mas isso é estranho porque ela tem se alimentado bem.

— Bem demais. — Disse Elrohir. — E os elfos não podem adoecer, certo, Adar?

— Não. — Sua resposta foi direta e um longo silêncio se fez. — O que sua avó acha disso?

— Ela falou que é normal. — Disse o gêmeo mais velho, sem lhe dizer que a seus olhos parecia que Galadriel sabia mais do que pretendia contar.

Elrond não demorou mais tempo alí. Foi direto para o quarto de sua filha, que graças aos valar, não estava mais uma bagunça. Arwen estava deitada sobre a cama com o olhar fixo no teto e parecia adormecida, mas virou o rosto em sua direção assim que ele entrou.

— Está se sentindo bem? — Ele perguntou e ela concordou com a cabeça.

— Seja o que for que Elladan e Elrohir disseram, eles estão ficando paranóicos.

— Não estão não. — Elrond sentou-se ao seu lado na cama. — O ar maligno de Mordor agora cobre a Terra Média. Ele é prejudicial para o nosso povo. Tentei avisar a você.

— Eu não estou doente. — Ela insistiu, mas Elrond pareceu ignorar.

— Se não partir agora, poderá não viver para ir depois.

— E já disse ao senhor que não…

— Que não o quê? Você insiste em ficar e colocar sua esperança em uma causa perdida! — Ela abriu a boca para contestar, levantou-se e se sentou ao lado dele, mas seu pai interrompeu antes que pudesse dizer qualquer coisa. — Pois fique sabendo que, se vencermos, ou se perdermos, não há vida para você aqui. — Elrond se levantou e a puxou consigo, rodeando e segurando-a pelos ombros. Os olhos de Arwen se abriram e ela pôde enxergar o mesmo que ele. Estava tendo uma visão?! Sim, uma visão sombria e assustadora. — Sim, você poderá casar-se com Aragorn e viver alguns poucos dias de paz e contentamento com ele. Mas Aragorn é um homem, e pelo tempo ou pela espada ele morrerá. — Ela se viu diante do túmulo de seu amado e algumas lágrimas começaram a invadir seus olhos. — E não haverá consolo para você. Estará sozinha, para sempre, até que perca totalmente o desejo pela vida e então será enviada a Mandos para viver na Terra Abençoada, e seu pesar jamais a abandonará.

A visão se desfez, e agora ela soluçava inconsolável. Então… Tudo terminaria daquela maneira? Lutariam contra a sombra para no final serem tragados por ela? Arwen afastou-se de seu pai e sentou-se novamente em sua cama. Elrond sentou-se ao lado dela. Sentiu-se profundamente culpado por fazê-la sofrer daquela forma, mas era necessário.

— É chegada a hora. Os navios partem para Valinor. Agora vá, antes que eles partam. Ouça meu conselho: Fique com sua família… Fique comigo. — Ela o olhou ainda entre lágrimas. Elrond continuou: — A im, ú-´erin meleth lîn? [ Eu também não tenho o seu amor? ]

Ela assentiu chorosa, sentindo-se abraçada pelo pai.

Gerich meleth nîn, ada. [ Você tem o meu amor, pai ]

Elrond a apertou entre seus braços e sentiu-se aliviado em ouví-la dizer aquilo. Na verdade, também seria difícil para ele despedir-se da Terra Média, e de Estel, que agora era seu filho por adoção e criação. E se pudesse interferir de maneira duradoura em seu destino, o faria, também não lhe agradava nem um pouco ver Arwen sofrer daquela maneira, mas já perderia um filho pela separação natural que Eru impusera aos homens, não estava disposto a perdê-la também.

Quando a primavera finalmente se findou, Galadriel e seu marido reuniram os Galadhrim para partir e pareceu feliz em saber que Arwen e os gêmeos iriam com eles. A Caravana partiu ao amanhecer rumo oeste. Elladan e Elrohir foram à frente com seus avós, enquanto sua irmã mais nova vinha com Lindir, e outros Elfos de Lothlorien, montada sobre o cavalo negro de seu pai. Ele o deixara com ela, uma vez que sempre estavam juntos e ele certamente acharia o caminho de volta após pegarem a embarcação. Após o terceiro dia de viagem, os elfos já haviam avançado uma distância considerável para o interior da floresta, afastando-se cada vez mais do Vale. Lindir cantarolava alguma coisa que ela não entendia exatamente o que era e constantemente ficava vigiando o que fazia. Arwen começou a desconfiar que seu pai o enviara para garantir que ela não fugisse, e aquele pensamento a fez sorrir melancolicamente.

As florestas eram sombrias e uma névoa pálida descia sobre as árvores, de modo que dificultaria a visão de quaisquer viajantes. Para sua felicidade eles não eram viajantes quaisquer e sua visão podia divisar até mesmo o primeiro grupo de elfos à algumas milhas. Arwen não queria olhar à frente, de qualquer forma. Sabia que não veria nada de seu interesse. A não ser Elladan e Elrohir fazendo palhaçadas com Haldir e os irmãos dele. Revirou os olhos para isso e passou a admirar as belas árvores que os cercavam. A floresta estava silenciosa e sequer o canto dos pássaros podia ser ouvido. Chegaram até uma clareira, que estava totalmente coberta pela cerração e por um instante, aos olhos dela, pareceu que as árvores haviam se transformado em dois pilares brancos. Avistou um homem parado ali, de costas para, e havia uma escada que descia de volta para a floresta. Um pequeno ser surgiu correndo escada acima, parecia menor ainda que os hobbits que vira em Valfenda, e seus cabelos eram longos até a altura dos ombros, cacheados e escuros. Ela o viu correr na direção do homem, que virou-se e o ergueu nos braços. Seu coração errou uma batida quando viu o rosto de Estel, que parecia distrair-se com a criança. O menino por outro lado, olhou diretamente em seus olhos e ela pôde ver Elessar, a pedra élfica que pendia do colar em seu pescoço.

— Minha senhora? — A voz de Lindir a despertou da visão e seus olhos encararam saudosos a floresta que agora se estendia diante de seus olhos. — Temos que ir. Os outros já estão bem na nossa frente. — Arwen o olhou por alguns longos segundos, apertou a rédea do cavalo e a puxou, virando na direção contrária. — Senhora?! — Lindir a chamou com desespero. — Ah, droga!

Elrond estava na varanda de sua casa quando ouviu o relinchar de seu cavalo, olhou na direção da floresta de pinheiros, e para sua surpresa viu Arwen descer do mesmo. Com uma expressão furiosa. Ele não entendia porque ela estava assim, ou porque razão havia deixado a Caravana.

— O que está… o que está fazendo aqui? — Elrond avançou em sua direção, mas ela não recuou.

— O que viu em sua visão? — Foi direta. Ele levou um baque com suas palavras. Suspirou e tornou a olhar para o livro que tinha em mãos. Poderia simplesmente cortar aquela conversa e brigar com ela por tê-lo desobedecido e deixado seus irmãos seguirem sozinhos para o Oeste, com Galadriel e Celeborn.

Ele levantou os olhos para sua filha.

— Eu olhei em seu futuro e tudo o que vi foi morte.

— Mas também há vida. — Ela insistiu. — Você viu que havia uma criança, você viu… — Parou por um instante antes de dizer: — Você viu meu filho.

Elrond levantou-se e olhou para longe, na direção das florestas. Suspirou pesadamente e negou com a cabeça.

— Esse futuro já quase não mais existe.

— Não pode desistir desse jeito. — Ela tomou o livro que Elrond tinha em mãos e então recitou o trecho que ele próprio escrevera. — "Das cinzas uma fogueira vai despertar. Das sombras uma luz vai aparecer. A espada que foi quebrada vai se restaurar e quem não tem coroa, rei voltará a ser." — Então devolveu-lhe o livro e com seriedade o encorajou: — Refaça a espada.

Elrond levantou-se novamente e se preparou para sair, mas então olhou novamente para a filha e seu coração se apertou. Ela havia deixado o corpo cair sobre o dossel da varanda, e o livro de capa vermelha que estava em suas mãos, agora estava no chão. Ele correu até ela e pegou novamente o diário, então tocou as mãos da filha, que estavam geladas como a de alguém prestes a perder a vida.

— Suas mãos estão frias. — Disse, tentando manter-se calmo. Elladan já lhe dissera que aquilo vinha acontecendo com alguma frequência, mas não havia pensado no quanto poderia ser sério. Levantou os olhos para encará-la com pesar. — A vida dos Elfos a está deixando.

Arwen assentiu.

— Essa foi a minha escolha. — O rosto de seu pai era de uma tristeza profunda. — Não há mais embarcações que possam me levar, Ada.

Elrond concordou, mas sua expressão era apreensiva, pesada. Deixou-a na varanda de sua casa e seguiu até a câmara onde guardava Narsil, a espada de Elendil, ou o que sobrou dela. Ainda estava afiada, embora partida em fragmentos. Ele ouviu novamente o som de cascos e agora Celeborn surgiu à cavalo, vindo também da floresta. Com ele vinham, sua esposa, Galadriel e os netos Elladan e Elrohir. Elrond bufou contrariado. Era o que lhe faltava! Aparentemente era o único sensato de sua família.

— Não deveriam ter voltado. — Alertou ele.

— Não vamos a lugar nenhum sem nossa irmã. — Elladan disse em alto e bom tom. — Então, se ela decidir adiar sua partida, adiaremos a nossa.

O olhar de Elrond tornou-se severo e enraivecido.

— Sua irmã… Sua irmã não irá mais embarcar, Elladan! — O jovem elfo o encarava de volta sem mostrar-se surpresa. O olhar de Elrohir era exatamente igual. — Espere… Vocês sabiam, não é? — Nenhum deles respondeu, mas estava óbvio para qualquer um que quisesse ver. Elrond bufou. — Ótimo.

Então retirou-se para a forja, levando a espada consigo.