Arwen's Choice

A noite caiu depressa, ou talvez fosse o fato de terem ficado tanto tempo no tal conselheiro que fez com que as horas desaparecessem. Aragorn estava agora perambulando pelos corredores externos da casa de Elrond, pensando sobre tudo o que fora dito naquele dia. A luz prateada da lua iluminava a câmara, onde o meio elfo guardava as relíquias dos tempos antigos. Ele olhava um quadro na parede, onde era retratada a batalha de Isildur contra o senhor do escuro e seu coração pareceu apertar-se ao ver diante de seus olhos a possibilidade de que talvez devesse enfrentá-lo também.

— De acordo com meu pai… — Ele ouviu a voz suave de Arwen atrás de si e olhou-a por cima do ombro, sem virar-se. — Há formas menos tortuosas de atrair pesadelos.

— Ele provavelmente tem razão. — Riu, mas sua expressão continuava séria. — Não conversamos sobre você escapar de Valfenda sem ele saber.

— Você não vai me dar um sermão. — Reclamou ela. — Ainda sou sua irmã mais velha.

Aragorn fez uma careta ao ouvi-la dizer aquilo. Eles não eram irmãos, e embora ele fosse adotado, não a considerava assim, uma vez que não a conheceu até que fosse um homem adulto, caso fosse, sua relação com ela poderia ser no mínimo estranha.

— Ahn… Nós não somos irmãos. — Corrigiu, vendo-a rir zombeteira. — E não vou te passar um sermão. Esse é o trabalho de Elrond, acredito.

— E ele tem feito com frequência. — Arwen baixou os olhos, encarando as mãos que apertavam nervosamente a manga longa do vestido.

O homem apenas balançou a cabeça, tentando demonstrar que ouviu o que ela disse.

— Partiremos em dois dias. — Disse, como se adivinhasse que ela perguntaria por isso.

— Eu sei…

— Seu pai quer que você parta também, ele me disse. — Arwen desviou os olhos dele e não disse uma só palavra. — Talvez… Você deva ir. — Seus olhos agora tornavam a encarar a figura negra retratada na pintura que estava emoldurada na parede, e os olhos flamejantes pareciam encará-lo como um inimigo pronto para o combate.

Um calafrio lhe percorreu a espinha e ele sentiu um enorme desejo de deixar aquele lugar. Caminhou para uma das saídas que levava de volta para a entrada da casa, ainda absorto em pensamentos. Chegara ali certo de sua missão, mas não da vitória. Tinham o Anel, mas ainda não o haviam destruído e Sauron ainda não fora derrotado. Sequer havia a certeza de que isso ocorreria assim que se livrassem da “arma do inimigo”. Sabia que todo o destino de Arda dependia do sucesso de sua missão, mas estava desesperançoso, e quando fracassasse e a mão de ferro do senhor do escuro sobrepujasse a todos os seres viventes, não queria que Arwen estivesse entre os que lhe serviriam de espólio.

— Estel! — A voz furiosa da elfa o chamou, e ele parou sobre a ponte de pedra. Ficara tão perdido nos próprios embates em sua mente, que sequer viu que ela o havia seguido. — Espere! Você não pode estar falando sério.

— Mas estou. — Respondeu, quando ela já estava próxima. Sua feição era séria e irritadiça, e agora era ainda mais parecida com Elrond do que quando a comparou pela primeira vez. Agora que estava diante dele, Aragorn notou que ela era alta, e media apenas um dedo a menos que ele. Mas não deixou-se intimidar pela fúria de sua amada. — Disse que me agarraria à sua esperança. — Ele relembrou. — Mas você, minha amada senhora, não passou muito tempo longe da casa de seus pais e seus avós, e ainda não viu os horrores do mundo.

— Vou te bater. — Ela avisou, mas Aragorn apenas riu e gentilmente segurou suas duas mãos

— Arwen… Sei que fizemos um juramento, e eu amo você com toda a força do meu coração, mas… É por causa desse amor que peço, que faça o que seu pai lhe disse para fazer.

— Ele te mandou dizer isso?

— Não…— Ponderou por alguns instantes, olhando ao redor. Rivendell estava deserta, pois ainda não havia chegado o fim do inverno e metade dos elfos que outrora residiam nela, pegaram caminho através das montanhas nebulosas rumo aos portos cinzentos, onde Círdan, o armador os aguardava desde o início das eras. — Mas ele me disse para não arrastá-la para a morte. E acho que é o que vai acontecer se ficar.

— Me deprime, a forma como você se subestima. E pouca é a fé que tem em si mesmo. Sei que está desanimado, e acho lindo que você queira me proteger, mas de que modo o fará? Me enviando para longe? Que bem isso trará?

— Elrond é seu pai. E Elladan e Elrohir, seus irmãos. E Valinor é a terra de sua família. — Justificou. — Deveria ficar com eles.

— Aragorn… — Sua voz soava suplicante, cheia de impaciência reprimida. Será tão difícil para ele entender? — Minha família é você. Se esse é o caminho que nos une, escolho a mortalidade. Eu viverei com você e morrerei com você. E irei aonde você for, mesmo que seja fora do círculo do mundo.

Ele olhou para ela por um momento, surpreso com suas palavras, depois levou a mão dela aos lábios e beijou-a com ternura.

— Não pode vir comigo. Não para isso.

— Eu posso. — Então Arwen levou a mão até a parte de trás do pescoço e desprendeu a corrente de prata e lhe entregou Elessar. — Mesmo que em espírito.

— Não pode me dar isso. — Ele tentou devolvê-la, mas a elfa fechou as duas mãos em torno da sua.

— É minha para dar a quem eu quiser. — Então aproximou-se mais e pôde sentir a respiração acelerada de Aragorn contra seu rosto. — Assim como meu coração.

Suas palavras lhe deram esperança novamente, e ele capturou seus lábios em um beijo profundo e gentil. Arwen passou os braços em volta do pescoço dele e puxou-o para mais perto, beijando-o ainda mais forte. Eles se separaram por um momento para respirar, depois olharam em volta. A cidade ainda parecia deserta e assim permaneceria por muito tempo. Ela colocou a mão na dele e puxou-o pela ponte. Já era tarde da noite e Aragorn provavelmente deveria ter descansado, já que logo partiria com a Sociedade, mas ele estava com ela novamente, movendo-se pela floresta de pinheiros no escuro. A lua iluminava fracamente seu caminho, e a maior parte estava escura como breu, mas ele ainda podia ouvir a cachoeira e, ao se aproximar, ver o brilho pálido da lua refletido no rio.

A ponte de pedra fornecia sombra para as árvores onde Eleanors floresciam, e ele descobriu que era a flor favorita de Arwen. Quando finalmente chegou à margem do rio, um sorriso alegre apareceu no rosto da elfa e, como que encantado por ela, ele a tomou novamente nos braços e procurou novamente seus lábios. Ela o agarrou com as duas mãos e o empurrou contra uma das árvores de frente para o rio. Ela deslizou as mãos do pescoço até o peito de Dunadan, puxando-o para mais perto dele e desfazendo um dos pequenos botões de sua camisa.

— Arwen... — Aragorn quebrou o beijo e pegou a mão dela. — Você acha que isso é uma boa ideia? Quero dizer, ainda não somos casados.

— Você está assustado comigo?

— Sim. um pouco. — ele riu, percebendo pela primeira vez que estava nervoso.

— Bem… então acho que você está certo, deveríamos ir para casa.

Arwen soltou a mão dele e rapidamente se afastou dele, mas Aragorn a seguiu e agarrou-a pela cintura, puxando-a de volta para si e enterrando o rosto em seu pescoço, fazendo a elfa rir um pouco. Ele deixou beijos curtos e quentes em seu pescoço, sua barba fazendo cócegas nela.

— Para! Faz cócegas! — ela disse entre risadas. Aragorn não a soltou e pareceu se divertir com a forma como ela ria e se contorcia sob seu toque. E continuaram brincando até cair na grama verde escura iluminada pela noite. — Veja! Papai estava certo, você é uma má influência. — Ela riu e tentou se levantar, mas Aragorn puxou-a para si e rolou para o lado, sentando-se em cima dela.

— Ah, sou eu? Mas foi você quem me trouxe aqui por segundas intenções.

Ele se abaixou e a beijou novamente, envolvendo-a nos braços e deitando-a na grama.

— Funcionou, não foi? — Arwen riu dele.

E foi a primeira noite que passaram juntos desde que se conheceram, há quase 60 anos. Eles se amavam como se o mundo estivesse acabando. E talvez isso acontecesse em breve, e durante as poucas horas que passaram juntos, trocando carícias e votos, o terror trazido pela sombra do leste parecia não surtir efeito sobre eles. Dormiram abraçados sob a luz da lua por entre a proteção da floresta, cobertos pela capa cinzenta de Aragorn.