Nazgûl

Na manhã seguinte, eles partiram antes do nascer do sol e seguiram para o leste, em direção às montanhas enevoadas. Segundo um estranho guia, o refúgio de Imladris estava escondido ali. Após vários dias de caminhada, chegaram finalmente ao Topo do Vento, onde procuraram abrigo antes de continuarem ao longo do rio Bruinen. Deixando-os lá durante a noite, Aragorn disse-lhes que observaria o caminho à frente deles e os alertou para não atrair atenção. Antes lhes tivesse arrastado consigo, pois seu conselho mostrou-se inútil para eles, pois quando voltou, encontrou-os espalhados e lutando contra um grupo de cinco Cavaleiros Negros. Frodo estava caído em um canto, enquanto os outros tentavam livrar-se dos espectros, que haviam de alguma forma encontrado o portador do anel. Aragorn pegou alguns gravetos e os acendeu com a chama da fogueira feita pelos Hobbits e deu a cada um dos pequenos para que espantassem as vis criaturas.

Quando finalmente viram-se livres, a atenção de Passolargo foi atraída novamente para Frodo, que parecia ter um terrível ferimento no ombro esquerdo, um que por pouco não lhe havia acometido o coração. Seus olhos paralisaram diante do horror de vê-lo caído e sem forças e quando pegou nas mãos a lâmina que o ferira, ela se desfez em sua mão em uma poeira negra, restando apenas o punho da lâmina.

— Temos que sair daqui. — Disse ele. — O mais rápido que pudermos.

Avançaram antes do amanhecer. aragorn deixou Frodo sobre seu cavalo e o conduzia em terra, uma vez que conseguia andar rapidamente, tão rapidamente que estava deixando os Hobbits, cansados para trás.

— Estamos muito longe? — Indagou um dos pequenos. Provavelmente Pippin, que era o mais baixinho e o que mais reclamava.

— Se continuar falando mais que andando, mestre Pippin, provavelmente estaremos mais longe do que o necessário.

— Espero que Frodo fique bem. — Murmurou Sam, que até onde havia observado, era o melhor amigo de Frodo.

Passolargo pensou em responder, mas um gemido baixo de dor vindo do hobbit, que estava sobre o cavalo lhe preocupou. Ele olhou em sua direção e suspirou pesadamente.

— O que há de errado com ele? - Meriadoc se aproximou do amigo. O ferimento não era profundo e Aragorn já havia retirado a lâmina quando a descobriu. — Não deveria estar bem agora?

— Talvez ... - Aragorn pensou por um momento. —Mas é fácil as feridas infeccionarem, embora eu não ache isso.

Na verdade, ele não queria pensar no que realmente estava acontecendo ali. Eles caminharam pela floresta até chegarem a uma clareira relativamente segura. Aragorn pediu que esperassem lá. Frodo não progride muito sem pelo menos um pouco de descanso. Então ele se separou deles novamente e procurou na floresta algo para limpar as feridas do pequeno hobbit até encontrar a planta que os elfos usavam para os ferimentos. “Athelas”.' Athelas tem folhas longas que emitem um aroma doce e forte ao mesmo tempo quando esmagadas, e um aroma pungente quando secas. Eles são a única parte útil da planta. Ele suspirou em alívio ao encontrar a erva e abaixou-se para colher um punhado de folhas, mas seu corpo paralisou ao sentir uma lâmina fria contra seu pescoço.

— Ora! Um guardião distraído na floresta?!

Ele levantou os olhos surpreso ao ouvir a voz de Arwen. Afastou a espada de sua pele e se levantou.

— O que faz aqui?

— Elladan e Elrohir estão mais à frente.

— Não foi o que perguntei. — Aragorn agarrou o braço da elfa, puxando-a consigo para perto do cavalo no qual ela viera. Parecia furioso e talvez tivesse razão. Quer dizer, ela não deveria estar andando por ali, ainda mais com cavaleiros Nazgûl à solta. — Precisa voltar para casa o quanto antes.

— Não! — Ela se soltou e o encarou com seriedade. — Há cinco cavaleiros Nazgul perseguindo vocês. Não sei onde se enfiaram os outros, mas eles sabem que está com o anel. Precisa correr.

— Eu não posso. — Sussurrou para ela. Seus olhos estavam fixos nos quatro Hobbits logo atrás. Arwen também os olhou rapidamente e tornou sua atenção para ele. — Frodo sofreu um ferimento por uma lâmina Morgul.

Os dois avançaram na direção dos Hobbits, que não disseram muita coisa. Frodo olhou para Arwen por alguns instantes como se procurasse nela algum indício de que era confiável, e só então lhe deu consentimento para examinar seu ferimento. Ela pôs a mão sobre o corte e voltou seu olhar para Aragorn.

— Ele não tem tempo. Temos que levá-lo ao meu pai.

— Não posso correr com os outros.

— Posso levá-lo. — Disse ela. — Estou com Scadufax, posso chegar rapidamente a…

— Com os Nazgûl atrás de você? — Aragorn a interrompeu. — Não mesmo.

— Estel! — Ela reclamou contrariada. — Meus irmãos estão na fronteira, eu posso…

— Não, não pode. Não posso te colocar em perigo. Aquelas coisas são velozes.

— Também posso ser. — Aragorn bufou com irritação, afastou-se para algum ponto da floresta e ela o seguiu. — Estel… Não pode arrastá-los nessa velocidade, se eu levá-lo, os cavaleiros vão me seguir, então vocês estarão seguros.

— Eles vão pegá-la.

— Não vão. — Ela garantiu. — Confie em mim.

Estel relutou, mas foi vencido por seus argumentos. Arwen pegou Frodo no colo, como quem pega uma criança, e o colocou sobre Scadufax, o cavalo que pegara emprestado de Gandalf, montando nele logo em seguida.

— Tenha cuidado. — Suplicou Aragorn, pegando sua mão.

— Vocês também.

E após dizer estas palavras, cavalgou para longe dali. Como havia previsto, os cavaleiros a seguiram. E eram velozes como o vento frio do inverno, cavalgavam depressa de modo a alcançarem Scadufax, mas o cavalo branco parecia mover-se pelo medo das criaturas sombrias e suas patas tornavam-se mais velozes conforme eles se aproximavam. Arwen agarrou Frodo com toda a força para evitar que o pequeno caísse, o que não seria difícil acontecer naquela velocidade e o caminho que tomou para Valfenda era ainda mais perigoso do que o que Aragorn e os outros percorreriam. Ela adentrou a floresta e pôde ouvir o som pesado e medonho dos cascos dos cavalos negros. Seu coração estava acelerado e ela pôde sentir que o de Frodo também estava. Ele parecia agora mais desperto, mas a dor do ferimento era insuportável de modo que sua respiração era rápida e curta. Arwen precisou afrouxar o braço em torno dele ao notar isso. Os cavaleiros estavam cada vez mais próximos, mas ela sabia como despistá-los. Chegaria ao leito do Bruinen, no alto da colina, antes da queda da cascata que descia o Vau. Elladan e Elrohir estavam naquela direção. Ou ao menos ela achava que sim. Não havia sido totalmente sincera com Aragorn quando lhe disse isso.

De qualquer forma, chegara ao leito do rio, e só então os cinco cavaleiros que a seguiram foram revelados a seus olhos. Scadufax atravessou o leito do rio, que começou a recuar após sua passagem. Os Nazgûl pararam do outro lado, como que por medo da água.

— Entregue-nos, pequeno elfo. — Sussurrou um deles, e sua voz lhe causava calafrios, mas ela manteve-se firme. Abraçou Frodo com um pouco mais de força, e pôde senti-lo agarrar-se ao seu braço como uma criança temerosa

— Se você o quer… — Então novamente desembainhou Hadhafang, a espada de sua ancestral Idril, e a ergueu com um sinal de força. — Então pode vir pegá-lo!

Os espectros soltaram um grito agudo e forçaram os cavalos a avançar para dentro do rio. Arwen começou pensar que talvez não tivesse sido uma ideia inteligente despistar seus irmãos e passar por aquele lado do vale, mas aquele medo era proveniente do pavor dos Nazgûl. Ela não tinha medo deles. Ao menos queria acreditar que não. Seus lábios se moveram em uma espécie de prece a a Ulmo, Senhor das Águas e tornava-se urgente a cada passo que os fantasmas davam em sua direção:

Nîn o Chithaeglir lasto beth daer; rimmo nín Bruinen dan in Ulaer! [Águas das Montanhas Sombrias, ouçam a palavra do poder, correm, águas de Bruinen (Loudwater), contra os Espectros do Anel!”]

Por umas três vezes repetiu essa prece e quando estava prestes a sucumbir, o rio atendeu, e como uma represa furiosa ao romper-se, o Bruinen retornou tomando a forma de cavalos de água e perseguiu os cavalos negros dos espectros e os afogou em suas águas grossas e bravas. Ficariam longe de vista por algum tempo. Arwen suspirou aliviada por isso e seus olhos vasculharam cada canto do vau em busca de algum remanescente, mas não havia nenhum. Nenhum, exceto pela sombria figura que surgiu ao longe por cima das rochas. Seu coração congelou quando reconheceu o rosto de Calion, que a observava dali, e após poucos segundos o encarando, deu ordem a Scadufax para que galopasse de volta à Valfenda.