The Departure of the Eldar

Tendo se completado trinta e oito anos da partida dos guardiões para o norte, Elrond Meio-Elfo recebeu notícias de Trevamata anunciando que metade dos elfos silvestres haviam partido para o Oeste. Um terço deles, mas dos residentes da floresta de Lórien também embarcariam na primavera e assim, aos poucos a luz élfica deixaria para sempre a Terra Média, que agora seria herança dos homens, como já havia sido predito pelos mensageiros de Ilúvatar. Seus filhos, entretanto, pareciam indecisos quanto à decisão de partirem. Em especial, Arwen e Elladan. Elrohir, por outro lado, mostrou-se entusiasmado com a ideia de finalmente navegar para a terra onde sua mãe agora repousava.

Arwen, no entanto, não lhe deu uma resposta imediata e quando pressionada apenas lhe disse que não queria pensar a respeito do assunto tão precipitadamente. Na verdade, Elrond não lhe apresentou uma escolha. Apenas disse que deveriam partir em breve e ela sabia que seu pai lhe ocultara o fato de que poderia sim decidir ficar. Elladan não ficaria, ele lhe disse. Apenas esperava o momento certo, e aquela provavelmente fora a única ocasião em que ele divergiu do irmão gêmeo em alguma coisa.

— Podemos ir logo. — Reclamou Elrohir a ele. Os três agora se reuniram no quarto de sua irmã caçula para decidirem quanto sua partida. — Por que demorar? O pai já disse que não há mais nada que possamos fazer para ajudar os homens.

— Você pode ir, não estou te impedindo. — Disse ele com seriedade.

— Ignorante!

— É você!

— Meninos… — Os dois olharam para Arwen, que até então estava em silêncio observando a discussão. — Sério, vocês não têm que brigar por isso. Elrohir, nós ficamos felizes por você poder ir antes de nós. Mas, devo dizer a vocês dois, pois os amo, que não irei para as terras imortais.

Um silêncio sepulcral se fez após ouvirem-a dizer tais palavras. Arwen pôde ver o pesar nos olhos dos irmãos, mas também não disse mais nada. Esperou que Ellada, o mais velho dos três finalmente se pronunciasse:

— Eu já imaginava. Por essa razão decidi adiar minha partida.

Elrohir os olhou desacreditado e fungou para engolir as lágrimas que lhe invadiam os olhos. Ele queria abraçar sua irmã, e também queria gritar com ela, sentiu imediatamente a dor da separação atingi-lo como um golpe de espada. O olhar complacente de Elladan caiu sobre ele e então sua irritação foi abrandada.

— O Adar já sabe?

Eles meneiam as cabeças, indicando que não lhe haviam dito nada a respeito, mas Arwen advertiu:

— Você sabe, é…

— Quase impossível esconder qualquer coisa dele. — Completou. — Eu sei.

— Por favor, não digam nada ainda. — Arwen pediu a eles. — Vai destruir o coração dele.

E assim ficou acordado entre os filhos de Elrond, que nenhum deles deveria dizer-lhe que Arwen Undómiel, sua filha amada, não navegaria com ele para reencontrar sua família em Valinor. Naquele mesmo ano, Arwen iniciou um novo projeto com as poucas tecelãs que ainda residiam em Imladris, eram elfas habilidosas que cuidavam de tecer belos vestidos para as damas élficas e magníficas túnicas para os senhores. Uma delas, em particular, era quem normalmente fabricava seus vestidos e ela lhe havia ensinado muito a esse respeito, pois Arwen estava sempre ansiosa para aprender qualquer coisa. Foi a ela, primeiramente, a quem disse sobre as idéias que estavam em seu coração.

— A árvore branca de Gondor! — ela lhe disse com admiração. — Será um trabalho difícil, sabe? Poderá levar muito tempo.

— Temos todo o tempo do mundo, a senhora se lembra?

Ela soltou uma risada escandalosa e tornou a olhar para Arwen.

— Você não tem jeito, menina! — Riu. — Mas acho que é um desafio que está disposta a enfrentar. E isso me alegra. — Entregou-lhe sua coleção de agulhas especiais e uma caixa com fios que ela sempre guardava. — Tome, são seus. Irei-me daqui com meu marido e meus filhos, no começo da primavera. E desejo a você toda a felicidade que seu coração puder aguentar.

— Obrigada. Digo o mesmo a você.

Elas se despediram com um abraço e Arwen voltou para casa, grata por sentir falta de ver o pai e os irmãos. Ela se trancou no quarto e trabalhou em seu projeto por não mais do que alguns dias. Na verdade, não sentiu o tempo passar porque quase não sentia fome ou sono. Esta era uma característica dos elfos. No quarto dia, seu pai finalmente a viu sair do quarto, mas não perguntou sobre seu desaparecimento. Em vez disso, tentou obter respostas de Elladan, pelo menos não diretamente.


— Francamente, estive ocupado com Elrohir nas fronteiras. Não notei que ela havia sumido. — Disse. — Por que o senhor não perguntou a ela?

Ele iria responder, mas foi interrompido pelo alvoroço dos guardas do lado de fora. Lindir surgiu acompanhado por Gandalf, que viera galopando do Sul, e indignado dizia ter sido feito prisioneiro por Saruman, o Branco, outrora chamado “Saruman, o sábio”, que agora não só aliara-se ao inimigo, mas fazia experiências macabras com orcs e gnomos a fim de criar uma nova espécie, mais perversa e mais resistente que os orcs.

— E quanto a Frodo? E o anel? Estão seguros? — Quis saber Bilbo, que o cercara bem antes da chegada de Elrond e Elladan.

— É com alegria que digo que sim, meu amigo. — Informou, então voltou seu olhar para Elrond. — Mas seus temores foram cumpridos, Mestre Elrond, os nove estão despertos e buscam incansavelmente o anel. Eu pedi que Aragorn os trouxesse até mim em Valfenda. Daqui poderemos saber o que fazer com a arma do inimigo.

— Certo, então. — O elfo virou-se para seus dois filhos gêmeos. — Guardem as fronteiras. Certifiquem-se de que chegarão em segurança.
— Sim, Adar.

Os meninos assentiram e foram preparar-se novamente para partir.

— O conselho não poderá prolongar-se. — Avisou o mago. — O olho do inimigo estará voltado para nós, e embora não possa adivinhar nossa posição, sua persuasão é poderosa, tal como foi com os elfos de Gondolin. — Elrond sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha quando ouviu-o falar sobre o reino escondido. — Temo que devemos estar preparados para quando Imladris tornar-se um lugar não mais seguro do que é agora.

As palavras do mago o assombram por algumas horas e ele lembrou-se de ter ouvido de sua mãe, quando ainda era criança,a respeito da queda de Gondolin. Passou a noite em seu escritório calculando rotas de fuga e planejando maneiras de manter seu refúgio oculto, então quando amanheceu, enviou cartas a Círdan, o armador, informando que poderia estar mais próxima a partida dos elfos de Valfenda do que ele havia previsto. Agora, havia chegado o momento que ele temia.

Encontrou Arwen ao fim da tarde, e ela retornava com seu cavalo de uma cavalgada vespertina, desmontou ao chegar perto da ponte e o conduziu a pé até o estábulo, parecendo distraída demais para notar que seu pai a observava, até que ele chamou sua atenção:

— Fico feliz que tenha voltado a cavalgar. — Arwen o olhou de sobressalto e sorriu para ele. De fato, evitava sair sozinha para a floresta desde o incidente com Calion e os outros.

— Sim, e acho que os cavalos começaram a sentir minha falta. — Brincou, mas a expressão no rosto de seu pai era séria.

— Arwen, tenho que falar com você.

Ela concordou e após levar o cavalo de volta para o estábulo, deixou-o com Scadufax, Senhor dos Cavalos, é chamado assim, pois era um dos mearas. Os mearas eram uma raça de cavalo do norte, os senhores de todos os cavalos. Quando finalmente retornou, seu pai estava na varanda, parecendo apreensivo ao que precisava lhe dizer.

— O que aconteceu? — Perguntou ela com certa preocupação.

— Minha filha, é chegada a hora que a sombra cobre a Terra-Média. Sei que adiamos esse diálogo por anos, mas preciso pedir que vá para os portos cinzentos. Não há mais tempo a perder.

— Adar…

— Arwen, estou falando sério. Não desejaria ficar neste lugar. Por amor ou qualquer outro motivo. Precisa ir. Não pode abandonar a herança do seu povo.

— E quanto a Estel? — Indagou. Sua voz estava embargada, sufocada pelo choro que logo viria. — Devo abandoná-lo?

— Eu estarei aqui por ele. Irei auxiliar em seu caminho.

— O senhor não entende, que eu o amo?! — Alterou-se. — Eu não posso deixá-lo.

— Mas você deve! — Bradou Elrond, avançando em sua direção. — Sei que seu amor por ele é sincero e é belo, mas é prejudicial. E tanto a você quanto a Aragorn, nada pode trazer além de dor e sofrimento. Recuso-me a deixá-la aqui para enfrentar um destino incerto.

— Essa é a minha escolha!

— Chega, Arwen! — Gritou o elfo com rispidez, fazendo-a assustar-se com seu tom de voz. Cansara-se de toda aquela malcriação e insensatez. — Um navio partirá com a primavera e você estará a bordo dele, nem que eu tenha de amarrá-la a um dos postes!

Ela bufou irritada e lutou contra as lágrimas. Estava cansada. Não discutiria mais com sei pai. Foi novamente na direção da saída da casa, então olhou-o por cima do ombro e lhe disse:

— Pois o senhor terá mesmo que me amarrar.

Então apressou-se para sair o mais rápido que pôde dali. Elrond não a entendia e com frequência a censurava por suas decisões. Ele a tratava como criança a seu ver e aquilo a enfurecia. Pensou que talvez devesse afastar-se novamente de Rivendell. Sim! Iria para a casa dos parentes de sua mãe ao sul, onde o tempo é imortal e não há mazelas na terra. Ele a encontraria eventualmente, mas pensou que talvez pudesse evitar maiores dores de cabeça. Tornou ao estábulo e seus olhos ficaram indecisos entre seu amigo, o cavalo negro de seu pai e o veloz meara que estava ao lado dele. Scadufax era um cavalo altivo e com facilidade a derrubaria, se discordasse de sua fuga. Mas ele não o fez, na verdade agiu com docilidade e deixou que a elfa montasse, sem fazer nem mesmo barulho. Parecia saber que estava participando de um plano furtivo.

O sol estava se pondo quando deixaram Rivendell, passando por um caminho que pouquíssimos conhecem, afinal, ele ia em direção oeste e retorna fazendo o caminho do rio, levando para o alto das montanhas enevoadas. Era um caminho perigoso e cheio de rochas, mas no momento era o único que poderia tomar se quisesse partir sem ser vista nem mesmo por seus irmãos, que agora montavam guarda na floresta.

Quando a noite finalmente caiu, Elrond deixou sua casa em busca da filha, mas quando preparava-se para entrar na floresta de pinheiros, deparou com Elladan e Elrohir, que agora retornavam, escoltando o príncipe Legolas e seu primo, Daeron.

— E onde está sua irmã? — O meio-elfo pareceu aflito quando não a viu com eles.

— Como? Ela não está aqui?

Os rapazes se entreolharam e o olhar de Legolas era mais aflito que o de seus companheiros.

— Que Droga! — Disse o príncipe. — É melhor a acharmos o quanto antes. E o motivo disso também tem haver com minha vinda, pois trago notícias terríveis do Reino da Floresta, meu senhor.

— Pois então, nos diga logo. — Suplicou Elrond com surpresa.

— Bem, Calion, filho de Caranthir, escapou da prisão.