In The Halls of the Elven King

A luta perdurou por mais algum tempo. Calion estava ferido, tanto ele quanto seu adversário. Estel o encurralou na caverna quando seus amigos chegaram, colocando fim à luta.

— Então aí estão. — Dissera Calion. — Sejam rápidos. Matem-me. Nada pode ser pior do que olhá-los mais uma vez.

Legolas riu para ele e aproximou-se. Empurrou-o contra a parede e tomou-lhe a espada.

— Será um prazer visitá-lo todas as manhãs nas masmorras.

Aragorn afastou-se dali, deixou que Daeron, Legolas e Lindir cuidassem dele. Na verdade, sua atenção ficou presa em Arwen, que agora chegou com Elladan e Elrohir. Seu rosto iluminou-se em uma expressão pura de felicidade e ele foi em sua direção, mas o ferimento em sua perna o fez parar. Arwen correu em sua direção e o abraçou fortemente e ele quase caiu para trás, mas manteve-se firme.

— Eu disse que não deixaria nada acontecer a você. — Sussurrou baixo para ela. — Uma...

— Das poucas promessas que conseguiria cumprir. — Arwen completou, encarando-o.

Entretanto, um pigarro chamou a atenção dos dois, que olharam para Legolas.

— Temos que ir andando. — Disse ele. — O reino da floresta fica há várias milhas daqui e provavelmente vou ouvir um sermão de duas ou três horas quando chegar. Vamos nos apressar.

Levaram mais tempo para voltar do que haviam gastado para ir. Estavam feridos e cansados e ainda precisavam arrastar um prisioneiro atrás de si, e vez ou outra evitar que Elrohir matasse Calion afogado em algum lago, ou que Elladan lhe mandasse a pauladas para Mandos. Mas tirando esses momentos, a viagem seguiu tranquila. O próprio rei Thranduil os recebeu, vindo encontrá-los no meio da floresta, montado em seu cavalo. Ele olhou altivo para os elfos, que retornavam como quem acaba de escapar de um ataque de dragão. Demorou seu olhar sobre Legolas e no final, não conseguiu evitar uma risadinha tosca para o filho.

— Você está horrível!

— Também senti a sua falta, Adar.

— Não disse que senti. — Disse ele. — Só falei que você está horrível. — Então virou-se na direção de sua fortaleza. — Venham, encontrarei acomodações para seus amigos e para o prisioneiro. — Então olhou novamente para Elladan e Elrohir, e para Daeron, como se só agora tivesse notado a presença deles. — Ah, e por favor, mantenham esses três longe de minha adega.

Passariam a noite em Mirkwood e partiriam pela manhã de volta a Imladris, bem ao menos a maioria deles. Decidiram que nada seria mais justo que manter Calion nas masmorras do Rei Élfico, embora Elladan preferisse jogá-lo de alguma altura mortal. Depois de muita discussão, finalmente decidiram mantê-lo ali. Thranduil não o deixaria fugir mesmo... Na verdade, poderia passar um século sem lembrar-se de que haviam prisioneiros em sua fortaleza.

— Quando disse para ir para o Norte, não quis dizer para esquecer-se de minha existência. — Disse com seriedade a seu filho.

— Espere, estava com saudades de mim?

— Não foi o que eu disse, Legolas.

O príncipe riu baixo, vendo-o subir as escadas para o trono.

— Por que mentiu sobre Tauriel ir para o Oeste? Se não pretendia que eu retornasse para cá.

— Até porque Tauriel seria a única razão para você vir ver o seu próprio povo. — Resmungou Thranduil. — Devo dizer, eu facilmente a amarraria a um dos navios de Círdan, o armador, se não tivesse absoluta certeza de que os Valar a enviariam de volta por insubordinação.

— É, isso não seria difícil. —Legolas riu e viu de relance, seu pai fazer a mesma coisa.

— Bom, seu filhote humano já está bem crescido, não acha? Pensa em ficar?

Legolas abriu a boca para responder, mas notou que ainda não tinha uma resposta para aquilo. Na verdade, não pensou a respeito. Sua missão fora cumprida a mais de dezoito anos, e era simplesmente resgatar Aragorn e levá-lo para Valfenda, onde seria criado por Elrond como todos os homens de sua família.

— Depende. — Olhou pra ele com um sorriso zombeteiro. — Vai me deixar ficar com a Tauriel?

Thranduil o olhou deveras surpreso com sua audácia, mas não lhe respondeu. Sentou-se em seu trono e ordenou que Legolas desaparecesse de sua vista. Logo, seus hóspedes estavam devidamente alojados e vestidos, já que não tinha a menor chance de ele deixá-los perambulando em seu castelo parecendo os mendigos de Esgaroth. Ao menos foi o que Legolas contou-lhes da conversa que tivera com ele antes de escapar para reencontrar seus amigos no Banquete das Estrelas.

No final, dizer que não deixassem Elladan e Elrohir aproximarem-se da Adega não adiantou de nada. Na verdade, era raro alguém ali realmente fazer o que Thranduil dizia, a menos que este estivesse presente. Reuniram-se aos elfos no que eles chamavam de Mereth In Gillith, o banquete das estrelas. Daeron arranjou alguns amigos com os quais disputar a quantidade de taças de vinho que bebia, já que seus primos provavelmente não se lembravam nem do próprio nome depois de tomarem a bebida duvidosa que este trouxera para Mirkwood. Lindir recusou-se de todas as maneiras juntar-se a eles, alegando que alguém precisaria estar sóbrio no dia seguinte para conduzi-los de volta a Valfenda.

— Já podemos matar o Calion agora? — Indagou Elladan a Aragorn, que apenas riu para ele e o deixou. Já estava para lá de embriagado.

— Por falar em voltar... — Legolas chamou a atenção dos amigos. — Ficarei com meu pai, ao menos por enquanto.

— Seu pai. — Aragorn fez aspas com a mão. — Ou a Tauriel?

— Ô, moleque! — Olhou feio para o rapaz. Tauriel estava vermelha feito um morango silvestre. Tentou escapar da conversa, dizendo que iria pegar mais bebidas para o grupo. — Sabe, após vinte anos, você bem que poderia começar a demonstrar um pouco mais de respeito.

— Como quiser, meu príncipe. — Riu o rapaz.

— Ou eu posso simplesmente dizer a todos, o que você fica resmungando sobre Arwen enquanto dorme.

— Não ousaria.

Legolas levantou uma das sobrancelhas e olhou de um lado para outro.

— Experimente.

— Ahn, acho que talvez a gente deva falar sobre alguma outra coisa — Arwen interrompeu o assunto. Não sabia o que eles poderiam dizer mas tinha certeza de que seria algo constrangedor. — Nós apoiamos totalmente qualquer decisão que tome, Legolas, de verdade. Não é, Estel?

Ela fez uma expressão séria e o sorriso zombeteiro de Estel desapareceu.

— Claro. Claro que sim. — Disse ele, levantando-se e puxou a mão de Arwen para que fosse com ele. — Agora... Mellon, o deixaremos sozinho para aproveitar as suas... anh... "decisões".

E saiu o mais rápido possível, e Legolas só não lhe atirou uma taça na cabeça, pois Tauriel acabara de chegar e ficou na frente dele.

— Ué? Para onde foram?

— Para algum matagal, acredite. Não gostaria de saber.

— Então... — Sentou-se de frente para ele. — Seu pai parece feliz em saber que vai ficar.

— Ele diz que não. — Riu. — Mas acho que Estel já está grandinho, ele irá para o noroeste de Valfenda com Elladan e Elrohir no início do inverno.

— Você parece orgulhoso. — Legolas olhou para ela, tentando descobrir se era esse o sentimento ou não.

— Na verdade, não é o único motivo pra eu querer ficar.

— Não?

— Eu amo você, Tauriel. — Foi direto. — Meu amor por você só cresceu com a distância e meu coração descansou quando soube que havia ido para Valinor, mesmo que não fosse verdade, porque eu pensei... Que voltaria a vê-la quando chegasse às terras imortais.

— Legolas...

— É, eu sei. — Disse ele, levantando-se e pegando as mãos da elfa. — Sei que é difícil para você me ver dessa forma, e está tudo bem, de verdade. Eu só decidi que não vou mais me afastar. Não vou mais deixar você.

Um sorriso puro surgiu nos lábios rosados de Tauriel, então olhando de um lado a outro - provavelmente para descobrir se o rei estava por perto - ela ficou na ponta dos pés e o abraçou, tocando os lábios dele com o seu em um selinho rápido e carinhoso. Os olhos claros de Legolas se arregalaram e ele a encarou incrédulo.

— Tem sido meu melhor amigo há séculos. — Ele concordou, ainda estavam abraçados. — E... Acho que também amo você. Há muito tempo.

— V-você...? — Tauriel assentiu e se afastou dele, pegando sua mão e caminhando para fora do salão onde os demais estavam reunidos. — Mas, você não gostava do anão Kili?

— É, eu achava que sim. — Franziu o rosto, lembrando-se do fatídico ano em que precisaram pelejar contra os Orcs no sopé da montanha solitária. — Mas seu pai me disse umas coisas bem óbvias quando voltamos: "Não faz nem uma semana que você conhece esse anão, Tauriel. Se continuar com isso, vou enfiá-la em um navio para Valinor."

— Meu pai e suas ameaças. — Riu.

— É. Mas dessa vez foi por algo bom.

Estel e Arwen deixaram o salão com passos apressados, segurando a mão um do outro, e rindo como duas crianças travessas. Estavam alegres. E havia quase uma semana que não se sentiam assim, devido a toda a dor de cabeça que foram aqueles últimos dias. Deixaram Legolas e Tauriel com os outros, afinal ninguém estava interessado em segurar a vela dos dois. Esperto havia sido Daeron, que simplesmente desapareceu com uma donzela élfica que ele conheceu. Não lembravam seu nome, apenas que ela possuía cabelos claros como uma manhã de primavera e que fazia parte da guarda, exatamente do mesmo contingente de Tauriel. Chegaram ao corredor leste do castelo, onde ficavam os quartos de hóspedes e antes de se despedirem, Estel abraçou sua cintura e a deixou entre seu corpo e a parede ao lado da porta do quarto no qual ela ficaria hospedada, então grudou seus lábios aos dela em um beijo ardente, profundo e Arwen o correspondeu, acariciou seu rosto, e o puxou para mais perto de si. O beijo se extinguiu e eles sorriram um para o outro.

— Por que disso, agora? — Perguntou ela.

— Ora, porque te amo. Te amo muito! — Riu, abraçando-a como se fosse a coisa mais preciosa de sua vida. E provavelmente fosse. — Eu senti sua falta.

— Também senti a sua.

Olhou novamente para ele e mostrou-lhe um sorriso puro. Estel parecia atraído por seus olhos e a beijou novamente, como se ele não soubesse outra maneira de demonstrar o quanto a amava. O beijo tornou-se intenso, Estel abraçou a cintura da elfa e em poucos segundos, seus corpos estavam irremediavelmente colados um ao outro. Arwen segurou-se em seus braços a fim de manter-se de pé, uma vez que as suas pernas pareciam não sustentar o próprio peso. Era uma sensação engraçada até. Estel afastou seus lábios dos dela, ofegante, mas não saciado. Ele beijou sua bochecha e seu pescoço, e sua mandíbula, e sua boca de novo. Seus beijos eram carinhosos, ternos e sempre apaixonados. Não eram agressivos ou possessivos como os de Calion… E pensar naquilo fez seu estômago embrulhar. Estava se lembrando dele, justamente agora?! Então, novamente aquela sensação de estranheza a tomou. Arwen pôs a mão carinhosamente no peito de Estel e o afastou. Ele pareceu relutante em deixá-la, mas respeitou sua decisão, como sempre faziam. O olhar dela era sério quando o encarou e ela desviou seu rosto para que Estel não notasse que estava incomodada.

— Me desculpe. — Disse ele.

— Está tudo bem, eu só…

— Eu tenho quase certeza de que vocês dois… — Então a voz imponente de Thranduil encheu o corredor, fazendo-os pular de susto, e afastar-se ainda mais. Ele estava parado, encostado em uma das paredes e os olhava com um ar sugestivo. — Tenho quase certeza de que ainda não são casados.

— Meu senhor? — Arwen o olhou envergolhada. Seu rosto agora estava vermelho como um tomate.

— Não Estávamos fazendo nada. — Estel tentou explicar.

— Ah, me poupe! Não sou igênuo. E você mente tão mal quanto Legolas. — Eles ficaram em silêncio e desviaram seus olhos para o chão, como duas crianças pegas em alguma travessura. Thranduil se aproximou e os analisou com o olhar, primeiro a Arwen, que ainda não tinha coragem de encará-lo e depois a Estel, que levantou os olhos para ele. — Vá para o seu quarto. — Ordenou o rei, ele fez conforme ordenara.