Fury

— Estel! — Ela entrara na
floresta. Estava escuro, e a luz fraca da lua fazia sombra nas árvores. Conseguiu vê-lo ao longe, numa clareira, com o arco, atirando flechas furiosas contra um alvo que havia sido desenhado em uma das árvores por Legolas, quando ainda era criança. — Estel! — Atirou a última flecha e a olhou.

— Você não devia ficar andando sozinha aqui a noite. — Disse com seriedade.

— E você não precisa ouvir o que meu pai disse.

Ele guardou o arco e a olhou seriamente.

— Na verdade... Eu preciso. Ele disse a verdade. Não estávamos pensando com clareza.

— Não pode dizer isso.

— Sim, eu posso. Não consigo imaginar como é viver pela eternidade, Arwen, seu pai, sim. E não quero que leve um luto imortal em seu coração, após a minha partida.

Aragorn tornou a pegar o Arco e aponta-lo para o alvo, mas ela entrou em sua frente.

— Vocês não podem simplesmente decidir por mim!

Ele baixou o arco e caminhou em direção a ela. Concordava com ela, mas achou que seria melhor esquecer esse assunto. E claro, por que não? Isso pouparia aos dois muita dor e sofrimento. E ele deveria ter pensado melhor antes, especialmente porque Legolas o avisou.

— Está correto. Não posso tomar decisões por você, e nem me atrevo. É de minha parte que digo. — ele explicou. — Bem, eu não quero impor esse sofrimento a você. Eu nunca faria nada para machucá-la.

— Está fazendo agora... — Sua voz estava começando a desaparecer e havia lágrimas em seu rosto. Aragorn queria estar mais perto, mas fez o possível para manter distância. — Você prometeu que nunca iria desaparecer!

— Está além da minha capacidade cumprir esta promessa. — Ele segurou a mão dela. — Espero que você me perdoe algum dia.

Arwen olhou para ele imóvel por um momento, como se estivesse pensando em uma resposta, mas não encontrou nenhuma. Ela soltou a mão dele e foi embora. Ela estava frustrada, frustrada era a palavra certa. Não conseguiu encontrar nenhum motivo para seu pai fazer o que fez, mas talvez estivesse certo. Mas a verdade é que os medicamentos muitas vezes são indigestos até mesmo para o metabolismo de um elfo. Ela voltou para casa em silêncio e se trancou no quarto por três longos dias. Elrond às vezes tentava aliviá-la de seus problemas com palavras de conforto, mas isso parecia irritá-la ainda mais. No segundo dia, ele começou a se arrepender das palavras ditas a ela e a Aragorn, mesmo sabendo que era necessário, até que no terceiro dia Elladan a convenceu a sair do esconderijo. Fez com que ele passasse horas do lado de fora da porta de seu quarto. No entanto, Elladan retornou derrotado e se jogou em uma cadeira na mesa de jantar, recusando-se a retornar até que seu pai lhe contasse o mal que lhe fizera.

— Proibiu ela de se casar com Estel? — Elrohir ficou surpreso ao ouvir essa explicação. Nem sabia que havia algo entre eles. — Por que ela deveria se casar com ele? —Elladan e Elrond olharam para ele gravemente. – Espere, meu melhor amigo minha e irmã estão namorando e eu não sabia?

— Eles não estão namorando. — Corrigiu Elrond.

— Que eu saiba... — Elladan fez uma careta para ele. — Eu é que sou seu melhor amigo.

— Irmãos gêmeos não contam. — Desdenhou ele. — Mas ainda não entendi o que há de mal na união dos dois.

Os gêmeos então olharam para o pai, que não respondeu imediatamente. Ele guardou o diário em que às vezes desenha alguma coisa.

— Eles não podem se casar porque são de raças diferentes. Isso é tudo que tenho para lhes dizer.

— Mas... Bem, o senhor sabe... toda a nossa família...

— Elrohir! — Elladan repreendeu o irmão, depois percebeu que ele havia falado demais.

— Deixe. — Disse Lorde Elrond. — Como ressalta Elrohir, meus ancestrais eram membros de raças diferentes. Seu destino foi terrível e é assim para todos que desejam seguir seus passos. Não quero que o mesmo destino aconteça com sua irmã ou Aragorn.

Na manhã seguinte, Elladan finalmente conseguiu tirar Arwen da sala e a convenceu a pelo menos se juntar a eles no café da manhã.

— Partiremos em algumas semanas. — ele argumentou. —Pelo menos espero poder dizer adeus adequadamente.

Seu rosto estava pálido e havia círculos escuros sob seus olhos, como aqueles vistos por alguém que passou a noite acordado. Elladan sorriu para ela.

— Qual é a graça?

— Você parece terrível! — Ele sorriu e a conduziu até a sala de jantar de Elrond. — Mas você continua muito linda, irmãzinha.

O café da manhã transcorreu em silêncio, e até mesmo Elrohir parecia não ter energia para uma piada boba. Elrond ergueu a cabeça e olhou para a filha, que estava em silêncio e parecia não querer comer.

— Você tem que comer alguma coisa, Arwen. — Ela finalmente olhou para ele. — Se matar de fome não mudará minha opinião sobre Aragorn.

— Eu não estou com fome. — Ela disse séria, finalmente olhando-o nos olhos. — E talvez eu não morra por causa disso.

Então ela se levantou e foi até a porta, e Elrond, cansado de toda aquela malcriação, levantou-se também.

— Arwen!

A elfa parou na porta da varanda e olhou para ele.

— Adar... — Elladan tentou acalmá-lo, mas ele o ignorou.

— Volte e sente-se. Pare de agir como uma criança.

— E o senhor, pare de me tratar como uma.

E saiu da sala. Elrond estava diante da mesa, sob o olhar preocupado dos seus dois filhos mais velhos. Ele caiu de volta na cadeira, como Elrohir fazia ocasionalmente, e engasgou com raiva. Era tão difícil para ela entender... Seus medos não eram infundados. O meio-elfo era talvez o mais racional de sua família.

— Vou procurá-la, Adar. —Elladan se levantou e o viu assentir.

Pelo menos Arwen o ouviria. Ele esperava por isso. Elrohir estremeceu silenciosamente e suspirou.

— Sairei para treinar com os guardas. Elrond assentiu e se levantou. — Adar. — Ele olhou para o filho, ainda sério. — Não seja duro com ela. Isso tornará difícil para ela entender seus motivos.

Elrond não lhe respondeu. Ele o deixou ir, mas suas palavras permaneceram na sala, como ecos de sabedoria, começando com uma das raras ocasiões em que seu filho disse algo sábio, ou sem a influência do vinho. Ele encontrou Legolas e Aragorn no pátio, onde Daeron praticava suas habilidades com a espada. Daeron e Legolas estavam duelando há quase duas horas, e o primo do filho de Elrond fez uma aposta com o príncipe Élfico que o perdedor ficaria devendo um novo cavalo ao vencedor. Tudo isso Aragorn lhe contou enquanto assistia à partida. Enquanto falava, Elrohir desembainhou a espada e o desafiou. Desta vez não havia riscos, apenas um confronto justo entre amigos. Ou, pelo menos, deveria ser. Ele ergueu uma sobrancelha. Aragorn colocou Ringil no chão e caminhou até ele. O som da fricção do metal pôde ser ouvido na arena e o golpe foi preciso, mas não feriu o oponente.

— Conte-me, Estel.

— O que você quer saber? — Rechaçou o ataque de Elrohir.

— Quem é seu melhor amigo, eu ou meu irmão? — Aragorn franziu a testa. — Esta é uma pergunta simples. Ou prefere Arwen?

— É injusto colocá-la nessa comparação.

— Bem, eu sei que você a prefere. — Ele riu. Ele recebeu outro golpe, mas bloqueou. — Você poderia ter me contado. Você sabe, antes de contar a Elladan.

— Eu não contei a ele. Elladan descobriu por si mesmo. Por que você está falando sobre isso agora? Você sabe, não estamos mais juntos.

— Não por idéia dela. — Um sorriso apareceu em seus lábios, e ele golpeou com mais força, e Aragorn o protegeu com sua espada.

— Você não deveria estar tentando me dissuadir e me ameaçar com torturas como Mordor nunca tinha visto antes?

Elrohir riu dele.

— Não brinca! Meu melhor amigo tem uma queda pela minha irmã! Não consigo pensar em ninguém mais adequado para ela. — Seus ataques fizeram com que Aragorn recuasse e agora se preparasse para invadir o espaço de Daeron e Legolas. — Claro, se você machucá-la, vou te jogar do penhasco. Mas tenho certeza que você nunca faria isso, certo?

Ele abriu a boca para responder, mas Elrohir cessou com os golpes e olhou para algo que se movia do outro lado da ponte. Herenvar, Cementárion e Thargon surgiram a cavalo e entraram para dentro da mata logo após Elladan.

— Droga! — Bradou Daeron, tornando a embainhar a espada. — O que eles estão fazendo?

Aragorn franziu o cenho e uma mistura de temor e ansiedade começou a crescer dentro dele. Elrohir correu para os estábulos e montou no cavalo preto de seu pai, que até onde sabiam era o mais rápido de Valfenda. E ele passou por Aragorn, pegou-o pela mão e o puxou para cima. Daeron e Legolas também pegaram um cavalo e galoparam pela ponte que ligava a casa de Elrond ao pinheiral. Eles não sabiam exatamente o que estava acontecendo, mas suspeitavam que fosse algo ruim, envolvendo Hrenvar, Cementarion, Sargon e Cairon, filho de Caranthir.