Elrond’s Decision


A manhã chegara demorada, pois a última casa de Rivendell, também fora a última a apagar suas luzes na noite anterior. Elrond acordou pela madrugada, incomodado com notícias de que Elladan e Elrohir haviam novamente se metido em alguma confusão em uma Taverna com Herenvar e Cementárion, os elfos que vieram de Lothlorien. Seu filho mais velho possuía cortes e arranhões por todo o rosto, enquanto o irmão gêmeo dele, Elrohir, estava com um olho roxo e as mãos doloridas. Daeron não possuía ferimentos. Havia se esquivado mais que lutado, e chegara no final, apenas, afugentando os outros dois baderneiros.

— São uns tolos, estúpidos! — Elrond dizia furioso. — Por que desgraçada razão, inventaram de meter-se com aqueles dois?

— Estávamos conversando tranquilamente, Adar. — Elladan explicou. — Eles nos atacaram.

Bem, aquilo era parte verdade e em parte não. Na verdade, Elrohir dissera para todos na taverna ouvirem que Herenvar era vítima de infidelidade conjugal. De forma bem menos educada.

— Elrohir o chamou de "corno". — Daeron riu. — Mas isso não é exatamente uma agressão.

Aquele, na verdade, era um vocábulo do reino dos homens e significava exatamente isso. Não era bem recebido em canto algum. Era óbvio que seus filhos procuravam pretextos para discórdias.

— Não me importa. — Elrond foi claro. — Não os quero metidos com Herenvar ou Cementárion, com Calion ou Thargon, se tudo o que vocês três conseguem fazer é causar confusão por aqui. Fui claro.

— Sim, Adar. — Os gêmeos disseram juntos.

— Sim, senhor. — E Daeron junto a eles.

E depois disso, a discussão se encerrou. O sol já subia por entre as rochas ocidentais, iluminando os pontos mais altos do vale. Elrond não lhes diria mais nada, sentiu-se ansioso pelo momento em que Calion e sua corja de amigos pegassem caminho para Lothlórien e que os gêmeos fossem logo para as fronteiras matar seus tão detestáveis orcs e deixassem-no ao menos ter alguns poucos meses de paz. Quando já metade do Vale estava sendo iluminada pela luz do sol, chamou a todos para um desjejum em seu salão.

Precisaria decidir com os gêmeos e com o príncipe Legolas sobre o que fariam quando partissem para as fronteiras. E lhe diria se Estel poderia ou não ir juntamente com eles. E claro, lembraria-se de implorar que levassem Daeron. Todos chegaram em silêncio. Elladan e Elrohir antes de todos, pois estavam há um tempo despertos, ainda abatidos da batalha na taverna. Daeron viera
logo após eles, acompanhado por Arwen, que para sua grande surpresa, estava silenciosa naquela manhã.

Legolas e Estel (pois era difícil para eles após anos chamá-lo por seu verdadeiro nome) chegaram do corredor leste, e por ali pareciam ter sido os únicos que tiveram uma noite decente de sono. Aquilo o animou, pois ao menos alguém naquela casa ainda possuía juízo, mesmo que não fossem seus filhos.

— Então... — Iniciou a dizer e todos os presentes o olharam. — Aproxima-se o dia em que irão às fronteiras de Rivendell. Nosso inimigo se aproxima, e sua força cresce a cada ano. Devem manter-se firmes e vigilantes.

— Meu senhor, quanto a Estel... _ Parou no meio do caminho. — Digo, Aragorn. Nós já lhe contamos sua verdadeira origem, meu senhor.

— Na verdade, Elrohir contou. — Elladan afastou-se da responsabilidade.

Elrond olhou para o dúnadan e assentiu.

— Eu desejava contar-lhe eu mesmo. — Disse. — Mas, sim, eu creio. Que já é hora de Aragorn, filho de Arathorn cumprir seu propósito. — O rapaz concordou com alegria nos olhos. Sequer percebeu o olhar sério de Arwen sobre si. Elrond levantou-se e foi até uma parede do salão que estava repleta de espadas embainhadas. Pegou uma delas e voltou até ele, entregando-lhe. — Essa é Ringil, a espada de meus ancestrais.

Aragorn levantou-se e se afastou da mesa, então desembainhou a espada, experimentando seu peso. Era leve, como qualquer arma élfica. O fio era afiado e o metal era de um prata azulado. Como qualquer arma desse tipo, ela emitiria um brilho azul celeste quando inimigos estiverem próximos.

— É linda! — Olhou-o agradecido.

— Sim, ela é. Eu deveria dá-la a Elladan, mas creio que ele facilmente a perderia com todas as bebedeiras. — Todos os presentes riram daquelas palavras, exceto por Elladan, é claro. — Espero que ela o sirva bem, Estel. Até que a sua própria espada esteja pronta para uso.

A decisão de Elrond fora que poderia ir às fronteiras com Elladan e Elrohir, e ocasionalmente com Daeron, se este estivesse suficientemente sóbrio para lutar. Lembrou-lhes também da importância de que nunca utilizassem o seu verdadeiro nome. Ao menos não até que estivesse seguro. Após o desjejum todos se retiraram. Legolas parabenizou o amigo por finalmente conseguir a aprovação para poder fazer algo mais por Rivendell e o restante do mundo e correram para o pátio com os outros para testar a espada.

Arwen despediu-se do pai e fez novamente o caminho de volta a seus aposentos. De lá, conseguia ver o pátio, o caminho para o restante da cidade e parte da floresta. Ficou por alguns instantes observando Estel com seus irmãos e Legolas. Ele parecia feliz e aquilo a preocupava, por mais que tentasse dizer que não. Dalí a poucos dias ele partiria e então, estaria novamente sozinha. O rapaz pareceu sentir seu olhar sobre ele e parou com os golpes à espada e olhou em sua direção. Seu sorriso era puro e alegre, e o coração de Arwen se aqueceu mais uma vez. Ela o amava. E a cada dia isso ficava mais claro.

Partiriam dentro de um mês e meio, de acordo com o que Legolas lhe dissera. Na verdade ele lhe disse muitas coisas, e no meio delas algo como: "Resolva sua vida com Arwen agora, pois batalhas são incertas, não sabemos quando ou se retornaremos". Após isso, Aragorn lhe entregou a espada para que a guardasse e deixou o quarto. O elfo apenas suspirou e revirou os olhos. Esperava que nada daquilo terminasse da forma como ele temia.

O dia estava próximo de seu fim e Arwen estava postada junto a um dos pilares da varanda de Elrond, com um livro vermelho entre as mãos.

— Vai perder o pôr do sol mais belo de Valfenda. — Ela o olhou espantada, como se estivesse verdadeiramente distraída com o livro.

— Meu pai diz para não ficar andando sozinha pela floresta.

Ele concordou.

— E está certo. — Pegou uma de suas mãos, e a puxou para que se levantasse do dossel que estava ao lado do pilar. — E é por isso que irei com você.

— Certo. — Ela riu. — Só preciso devolver isso à biblioteca.

E então afastou-se, mas no momento em que seus braços envolveram o livro, as manchas roxas em seus antebraços tornaram-se visíveis a luz do sol e Aragorn as contemplou com espanto.

— Arwen, o que há com o seu braço? — Ela ficou parada e olhou rapidamente para as manchas. Havia se esquecido da existência delas. Eram hematomas, marcados pelas mãos de Calion, quando ele a pressionou contra a parede.

— Não foi nada demais, eu... devo ter batido em algum lugar.

Ele se adiantou à sua frente e pegou um dos braços dela nas mãos. Parecendo horrorizado com a forma como estavam marcados.

— Isso não foi uma batida. — Arwen desviou o olhar. — Me diga. O que aconteceu?

— Encontrei Calion no corredor, ontem a noite, depois que nos despedimos.

— Calion machucou você?! — Seu olhar tornou-se severo e enraivecido.

— Ele sabe sobre nós... Sabe que eu gosto de você. De alguma forma ele sabe. Quero dizer, nós também não fomos lá muito discretos. — Riu. — E ele ficou furioso quando soube, me disse... Me disse que eu deveria cumprir minha promessa e me casar com ele, e que você...

— Que eu?

— Que você desapareceria em um piscar de olhos, que meu pai jamais permitiria que ficássemos juntos por causa disso.

Aragorn manteve a expressão séria. Imaginando se o que mais o deixava furioso eram os hematomas nos braços de Arwen ou as coisas horríveis que havia dito a ela. Queria matá-lo. Com as próprias mãos se pudesse, mas imaginou que ela precisasse mais de sua presença naquele momento do que Calion, filho de Caranthir. E que Morgoth o carregue! Pensou. O sol logo iria se pôr e não pretendia deixar que aquele imbecil acabasse com isso.

— Bem... Eu acho que devemos esquecer Calion. Ao menos hoje.— Disse, notando que aquilo a animara. — Posso pedir a Elladan e Elrohir para jogá-lo do penhasco amanhã.

— O quê?

— Ou eu mesmo posso jogá-lo, depois de partir ele em dois. Tenho certeza de que Mandos o enviará de volta.

— Estel! — Arwen riu do que ele dissera. Não era possível que ele conseguisse deixá-la de bom humor em um momento daqueles.

Mas antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, ele apenas se aproximou e acariciou seu rosto, com uma das mãos, então disse:

— Não importa o que ele diga, Arwen. Eu amo você. — Garantiu. — E não estou nem um pouco disposto a desaparecer em um piscar de olhos. — Riu, e ela repetiu sua reação. — Nalyë melmë cuilenya [ Você é o amor da minha vida ].

Nalyë melmenya [ Você é o meu amor ].

E novamente seus lábios se encontraram, em um beijo terno e carinhoso, iluminado pelos últimos raios do sol que já se punha por detrás das rochas.