The Heir of the Dunedain

Aragorn era apenas um garoto quando esteve pela primeira vez no vale de Imladris, na casa do senhor Elrond, onde eram abrigados, por amor do Elfo a seu irmão Elros e a descendência deste. Elros, assim como Elrond era um meio-elfo, e fora lhe dado assim como a todos de sua família a oportunidade de escolher entre a imortalidade dos Elfos e o indefinido destino dos homens, porque os Eldar, não morrem, a menos que sejam assassinados, e seu corpo destruído, e seu espírito é enviado aos Salões de Mandos, para que repousem e retornem se assim desejarem. Mas os Edain, ou homens, são vencidos pelo tempo e pelo cansaço e não há quem saiba para onde vão, senão de onde vem, e talvez levado por esse desejo, Elros, o meio-elfo, decidira viver como homem mortal. E mortal fora sua descendência, embora os Dunedain fossem abençoados com vida longa.

— Fique perto de mim. — Lhe disse o Elfo alto que o guiava. Legolas, era seu nome. O resgatara de ser devorado por uma horda de orcs, quando ainda era bem pequeno e por dois anos, eles vagaram no Ermo até Valfenda, onde, de acordo com Legolas, encontrariam refúgio.

— Meu príncipe. — Os Elfos de Imladris eram diferentes de Legolas. Possuíam cabelos longos e negros, olhos claros, e a pele tão alva quanto a luz da estrelas. O que lhes falava era o senhor Elrond, que viera a seu encontro montado em um cavalo negro de crina tão escura quanto a noite. Ele desceu e fez um cumprimento, pareceu particularmente feliz ao vê-lo, embora Aragorn não o conhecesse. — E Arathorn? — Legolas negou com a cabeça.

— Os soldados foram dispersos, senhor. — Respondeu-lhe com pesar.

— Meus filhos...

— Elladan sofreu ferimentos

graves, mas vai sobreviver. Já Elrohir... Bem, ele lida com a dor a seu modo. Era amigo próximo de Arathorn.

O Elfo de cabelos negros pareceu confortar-se ao saber que os filhos estavam vivos, ao menos por enquanto.

— Devem estar exaustos. — Ele estendeu uma das mãos ao garoto, que escondeu-se atrás de Legolas. Elrond sorriu, desistindo então da ideia. Aos poucos, Aragorn se acostumaria.

Naquele mesmo mês, uma visão lhe chegou enquanto observava o menino brincar no pátio de sua casa, agarrado às pernas de Elladan, seu filho mais velho - embora fosse nascido ao mesmo tempo que Elrohir -, e ao despertar-se, Elrond o passou chamar de Estel, que significa esperança, pois assim o passara a enxergar. E também, reconhecia a necessidade de esconder a identidade do herdeiro de Isildur, pois sabia que os servos do inimigo o procuravam. Acolheu-o então em sua morada e o criou como um de seus filhos, embora os meninos fossem de fato muito mais velhos que ele. Por algum tempo, sua presença tornou Imladris um lugar animado. O senhor Elrond gostava da ideia de ter uma criança correndo por seus corredores, já que faziam centenas de anos desde que o mais jovem de seus filhos tornou-se um elfo adulto. Uma eleth, na verdade. Arwen, e ela fora morar com seus avós em Lothlorien, ainda quando criança. Já Aragorn, era como Elladan quando menino agitado e corriqueiro, poderia correr por todo o dia com um pedaço de pau que ele dizia ser "O martelo do inimigo" , caçando algum dragão imaginário. Os anos que se passaram foram horas aos olhos do Elfo que o treinou, incumbido da missão de prepara-lo para um futuro do qual ele não tinha certeza, mas que sabia que seria importante.

— Mantenha as costas eretas, Estel. — Legolas alinhou-o e observou a mira do arco. — Respire, mantenha a calma, você ainda não está em um campo de batalha.

— E vou estar algum dia? — O loiro o olhou de cima a baixo, respirou fundo e observou novamente a mira. Ele deveria ter entre sete e oito anos. Considerando que pareciam poucos minutos, Legolas já não tinha paciência em contar. Apenas observava se ele estava mais ou menos alto, se parecia maduro ou se ainda era pegajoso e molenga feito uma criança.

— Não corra tão apressadamente

para a morte. — Mas sabia que ainda era. E aos poucos sua afeição pelo menino cresceu de modo paternal, embora soubesse que Estel de modo algum era seu filho, ou algo próximo a isso. — Solte.

E ele atingiu poucos milímetros de distância do arco, bufou choroso, sentindo-se um fracasso, mas Legolas sorriu com orgulho, ajoelhou-se tentando alcançar a sua altura.

— Não mirei direito. — Reclamou.

— Você foi ótimo! — O menino abriu um sorriso de orelha a orelha e aquela era uma das poucas vezes que sorriu genuinamente desde que fora resgatado. Legolas agitou as mãos em seus cabelos castanhos e levantou, estendendo uma das mãos para que ele se segurasse. — Precisa comer e descansar. Gosta de bolo de cenoura?

Estel correu a sua frente, em direção à casa de Elrond, onde normalmente ficavam instalados.

— Ele cresce depressa. — Observou o senhor de Valfenda, e Legolas apenas estreitou os olhos.

— Já contou para ele? Disse sua

verdadeira origem?

— Os Orcs estão fechando o

cerco. Soube que o Um Anel foi encontrado. Não sabemos por quem, nem porquê agora. Eles queimaram vilas inteiras de homens ao leste da floresta verde, mataram todos que acharam no caminho. Têm ordens para destruir qualquer um que possuía traços do sangue dos Dunedain. — Elrond fez uma pausa longa, enquanto observava seu pequeno protegido bajular a cozinheira, que amava enchê-lo de bolos de cenoura à tarde, quando vinha após o treino. — Ele estará seguro aqui, ao menos até se tornar quem ele precisa ser.

E aquilo poderia demorar bastante

tempo, dezenas de anos, embora para um elfo, nada mais fossem que poucas horas. Eles poderiam esperar por toda a eternidade, e se fosse preciso, pela eternidade esperariam. Mas Estel não tinha uma eternidade, ele teria sorte se pudesse ao menos viver até os cem anos, uma vez que sua linhagem era descendente dos Elfos e abençoada pelos Valar à uma vida longa e próspera. No entanto, até que isso fosse concreto, Estel era um pequeno filhote de homem. Pequeno e frágil, como qualquer filhote deveria ser, pois ao contrário das crianças élficas, que podem viver uma centena de anos com aparência infantil e ainda assim, parecerem avançadíssimos em desenvolvimento, as crianças dos homens são frágeis e nunca se desenvolvem totalmente, alguns não amadurecem nem mesmo depois da quarta década de vida.

Aos olhos de Estel, em contrapartida, os anos pareciam séculos e se tornaram cada vez mais distantes, quando pela primeira vez encontrou uma razão pela qual adiantaria sua idade. Os meninos elficos eram escassos em Valfenda. Na verdade, eram escassos em qualquer comunidade de elfos, pois Legolas lhe dizia que longínqua era a vida de um elfo, e sua família era formada na juventude, antes do primeiro milênio de sua vida imortal e eles não costumavam ter mais de quatro filhos, de modo que o elfo com o maior número de filhos, fora Feanor, filho de Finwë, ancestral de Elrond e da senhora Galadriel, e de alguma forma, - mas Legolas não lhe dissera isso - , seu ancestral. Feanor, tivera sete filhos e Legolas às vezes lhe contava suas histórias, quando tinha paciência para tal. Mas nada daquilo lhe explicava o porquê de haverem tão poucos meninos parecidos com a sua idade. E os que haviam, não pareciam nada interessados em suas brincadeiras de dragões e batalhas. Em vista disso, a maioria de suas tardes era solitária, e quando não estava com Legolas, aventurava-se a perseguir coelhos na floresta, sempre à vista do senhor de Valfenda e dos elfos que a povoavam.

Uma tarde, quando já se

aproximava da contagem de sua segunda década, cansou-se de esperar pelo retorno de Legolas, que vez ou outra estava viajando para longe, mas que sempre retornava. Estel, nesse tempo, já não era um menino e já não brincava com o graveto-espada, nem caçava dragões imaginários. Agora passava boa parte de seu tempo dedicando-se a fazer algo útil ao povo de Valfenda. Aprendera a magia élfica, e a língua daquele povo, tal como sua história, mas em momento algum Elrond lhe falava sobre os Dunedain ou o porquê de quase nunca poder deixar o vale de Imladris.

— Há coisas perversas além de

nossas fronteiras. — Lhe dissera em sua última conversa. — Sua vida é preciosa, não a desperdice.

A conversa foi interrompida pelo som do clarim. Elrond levantou-se de sobressalto e sorriu, como se previsse uma boa notícia vinda com a música emitida pelas trombetas. Ambos correram para a entrada da casa e viram Legolas, que acabara de chegar, com os gêmeos Elladan, Elrohir, e sobre o cavalo do último gêmeo, sua irmã Arwen Undómiel, filha mais jovem do senhor de Valfenda. Bem, claro, isso considerando o que jovem deveria significar para eles.