Trevamata Invasion

Já fazia algum tempo que seus perseguidores haviam sumido, e Arwen relutou em deixar a árvore que lhe servia de abrigo, embora soubesse que não demoraria para que voltassem e a encontrassem ali. Pensou que talvez fosse melhor descer e seguir na direção norte, por onde provavelmente viriam seus irmãos e Aragorn, mas ouviu passos na floresta. Cementárion e Herenvar estavam retornando, furiosos, após uma noite inteira de buscas.

— Onde terá se metido? — Cementárion bufou com irritação.

— Eu não sei. Mas Calion fica mais insuportável a cada segundo que passa. Talvez devêssemos mesmo incendiar a floresta. E se ela morrer no incêndio, paciência.

Herenvar começou a pegar lenhas mortas e juntá-las próximas da árvore, que por ironia do destino era a mesma onde Arwen estava refugiada. Seu coração acelerou-se. E ela moveu-se quando o fogo começou a chegar perto. A árvore estava frágil e uma lasca do galho soltou-se Herenvar olhou para cima e seus olhos enegrecidos encontraram o olhar cinzento, claro e apavorado da elfa.

— Ora, ora! — Disse com ironia. — Não há nada que o fogo não revele, não é mesmo? — Então virou-se para Cementárion. — Traga-a para o chão.

O elfo fez como seu amigo ordenara. Deu um salto e alcançou o galho onde Arwen se agarrava. Puxou-a pelo braço para baixo. Ambos caíram e Herenvar a agarrou antes que pudesse escapar, ficando sobre seu corpo, segurou os braços da elfa, que lutava com todas as forças para se libertar.

— Quieta! — Ordenou. — Se soubesse o tanto de trabalho que tive para encontrá-la, não testaria minha paciência.

— Vocês não ganham nada, me mantendo aqui. — Disse ela. — Calion os trata como meros serviçais. O que acha que vai acontecer se ele realmente conseguir o que quer?

Ambos se entreolharam. Ela tinha razão, mas eles já haviam pensado nisso antes.

— E quem falou que vamos entregá-la a ele. — Riu maliciosamente. — Como você mesma disse, ele nos trata como serviçais, e tivemos um trabalho desgraçado para achá-la. Acho injusto que não recebamos alguma gratificação por nosso esforço.

— E por acaso…— Iniciou Cementárion — Conheço um Senhor Élfico que pagaria até mesmo uma Silmaril em seu resgate se pudesse.

Ele entregou a Herenvar dois pedaços de corda firmes, então Herenvar prendeu seus pulsos, enquanto seu amigo amarrava seus tornozelos e apertou com tamanha força que ela não poderia romper as amarras por mais que tentasse.

— Não... Não , espera! — Ele a olhou. — Envie-me de volta a Rivendell, ou me deixe ir para Lothlorien. Prometo que nunca direi que fizeram parte disso.

Herenvar deu de ombros e riu para seu amigo.

— Todo mundo já sabe, espertinha.

Preparou-se para pegá-la em seus braços e colocá-la sobre uma das montarias

— Eu espero que não esteja fazendo nenhuma idiotice. — A voz de Calion chamou a atenção dos três. — Arwen é minha noiva, não seu espólio de guerra.

Herenvar levantou o olhar para ele, mas não moveu-se. Arwen também o olhava como se implorasse para que ele a livrasse daqueles dois

— Quem decide?

— Eu decido! — Desembainhou a espada. — E se não tirar agora sua carcaça imunda de cima dela, eu arrancarei sua cabeça. — Herenvar não se moveu e ele desviou seu olhar para Cementárion. — Afaste-o.

— E o que ganharei com isso? — Indagou o Elfo. — Herenvar está certo. Thargon morreu enquanto tentavamos ajudá-lo a reaver seu suposto direito de se casar com a filha do senhor Elrond, e nós nos cansamos de caçá-la esta noite. Talvez ela deva sim ser o nosso espólio de guerra.

— Seu demônio pernicioso!

Calion soltou uma risada fraca e brandiu sua espada contra o elfo, que defendeu-se. O som do metal se chocando ecoou por toda a floresta. Herenvar sorriu com satisfação, vendo-os pelejarem entre si. Levantou-se e puxou a elfa consigo, tentando arrastá-la para longe dali, mas uma flecha acertou a árvore logo atrás dele e um enxame delas encheu o ar. Legolas surgiu montado em um cavalo branco, de pé sobre ele, e atirava continuamente várias flechas ao mesmo tempo.

Elladan e Elrohir surgiram em seguida, brandindo suas espadas e atacaram Calion pela retaguarda, enquanto Daeron e Aragorn tratavam de procurar Arwen. Os elfos da floresta cercaram Cementárion, que não se intimidou com sua presença. Era um guerreiro de Lothlorien, poderia enfrentar quatro guardas Silvan das terras de Thranduil. Herenvar tomou de volta seu cavalo e puxou Arwen consigo, tentando fugir de volta para a torre, mas os gêmeos o seguiram impiedosos, erguendo suas espadas. Aragorn iria com eles, mas Calion bloqueou seu caminho.

— Deveria ter ficado morto, Dunadan! — Bradou enfurecido, atacando-o com golpes pesados e certeiros, os quais eram facilmente rechaçados. — Já o matei uma vez, o que impede que eu o faça de novo?

— É que agora, não estou disposto a morrer. — Aragorn chutou o peito do elfo com alguma força, empurrando-o contra o tronco da árvore, mas com movimentos mais rápidos, Calion atacou-o novamente, fazendo um corte profundo em sua perna. — Ah!!! — Seu grito ecoou pela floresta, e chamou a atenção de Legolas, que até então tentava acertar Herenvar de cima de uma das árvores.

Cementárion derrubara boa parte dos guardas de Tauriel e ela havia gastado toda sua aljava de flechas, tentando acertá-lo por detrás dos arbustos. Sua mira era exímia, mas o elfo, apesar de seu tamanho e força, possuía a leveza inerente aos Eldar e desviava-se com rapidez. Agora avançava em sua direção e ela sacara suas adagas gêmeas para atacá-lo. Saltou sobre ele e quando estava perto de apunhalá-lo no coração, Cementárion agarrou seu pescoço no ar e o apertou. Os olhos verdes da ruiva se estreitaram e ela sentiu o ar tornar-se escasso nos pulmões. Ele apertou ainda mais e com ainda mais força, agora utilizando as duas mãos. A visão de Tauriel tornara-se turva e ela pensou que morreria se algo não tivesse golpeado seu agressor por trás. A pressão em seu pescoço afrouxou e o corpo do elfo pendeu para frente, ela desviou-se e o viu cair com Anglachel enterrada nas costas. Legolas estava logo atrás dele e recuperou a espada, que estava embebida em sangue, então a olhou.

— Você está bem? — Ela não respondeu com palavras. Na verdade, sua garganta estava doendo para isso, então o abraçou com alguma força e depositou um beijo terno em sua bochecha. — Tá... Acho que isso quer dizer "sim".

Enquanto isso, o embate entre Aragorn, filho de Arathorn e Calion, filho de Caranthir, tornou-se acirrado e levou-os para o coração da floresta. Calion fugia por caminhos pedregosos e lodosos que dificultavam o avanço de seu oportunidade, ainda mais estando ferido em uma das pernas. Atraiu-o até uma caverna escura, onde pretendia matá-lo, mas Aragorn mostrou-se feroz e hábil guerreiro, apesar de pertencer ao subestimado reino dos homens.

— Não pode ficar com ela! — Gritava enquanto o atacava. — É um mero mortal! Irá morrer antes que ela consiga piscar. Deveria poupá-la de muita dor e sofrimento!

— E poupá-la provavelmente seria deixar que você se case com ela. — Aragorn investiu contra ele novamente mas foi afastado. — Você é um covarde! E um insulto a seu próprio povo!

— Não sabe nada sobre o meu povo! — Berrou ele.

Elladan e Elrohir cavalgaram até a praia, seguiram Herenvar até uma elevação rochosa que ficava um pouco distanciada da torre, de onde não se podia mais seguir e os gêmeos estavam em seu encalço. Desmontou e puxou Arwen consigo, ameaçando lançar-se sobre as rochas do rio se avançassem.

— Acabou, Herenvar. — Disse Elladan, aproximando-se com cautela. — Solte minha irmã.

— Afaste-se. Ou será a última vez que a verá inteira.

Elladan deu alguns passos para frente, seu irmão tentou segurá-lo, mas ele ignorou e seguiu.

— Sabe o que vai acontecer se matá-la. Irão para os salões de mandos. Arwen poderá retornar se quiser, mas o julgamento de Mandos sobre você será severo.

— Elladan... — Arwen balançou a cabeça como se pedisse para ele não se aproximar. Mas ele ignorou.

Avançou com a espada nas mãos e acertou sua ponta no tronco de Herenvar, entre um dos braços de Arwen e o corpo dela. O elfo arregalou os olhos, surpreso e ao mesmo tempo desesperado. Suas mãos soltaram Arwen, que afastou-se dele e ficou ao lado de seu irmão. Elladan sorriu satisfeito ao ver a vida esvair-se dos olhos de Herenvar, chegou próximo a ele.

— Espero que Morgoth o esteja esperando do outro lado. — Sussurrou em seu ouvido e o empurrou para a morte.