Immortal Star

Guerra em menor escala - Parte 2


Não tenho muito o que comentar sobre a primeira parte daquele acaso que virou algo realmente derradeiro. Você ainda não tem ideia do que estava para acontecer.

Mas lembra do final? Um soldado aparecendo dizendo que o Castelo de Riven, o lugar mais bem guardado do mundo, estava sendo atacado? Pois então. Isso faz com que a tentativa suicida de invadir o castelo de Shiro e seus companheiros de Guilda se tornasse algo com bem menos importância.

"Então já acabou a parte dos espiões?", você pergunta? Não, meu caro ouvinte. Essa situação vai ficar ainda PIOR muito em breve.

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Passava das onze quando Mulkior Musubi acordou em sua cama. Sim, sua cama. Ta, não era DELE, mas era a que ele dormia, ali no quarto especial preparado para acomodar os combatentes do Torneio. O mago tinha ganhado alta da enfermaria no meio da madrugada, e como Kula ainda estava lá — por motivos um pouco óbvios —, ela o levou de volta para o quarto.

Quando os dois chegaram, perceberam que Mana e San já estavam no décimo terceiro sono. Não era de se estranhar. Mana não parecia muito cansada, mas San estava com uma cara de que iria desmaiar a qualquer momento.

Então Kuchi levou seu parceiro ferido até sua cama, sem fazer nenhum barulho. Naquele momento, ela não percebeu o quanto estava vermelha e o quanto seu sorriso não deixava de existir. Não dava pra determinar quanto tempo os dois ficaram juntos, colados um ao outro, trocando a respiração. Vivendo aquele momento. Nenhum dos dois queria parar. Tudo o que eles queriam era que o próprio tempo parasse para que eles ficassem ali.

Kula chegou a derramar duas lágrimas, e foi quando Mulkior se afastou da boca dela pela primeira vez. Ele perguntou o que estava acontecendo, e ela, sem nem gaguejar, disse que aquelas eram lágrimas da mais pura e profunda felicidade. E foi aí que ELA puxou ele de volta para perto e os dois ficaram por mais um tempo naquela troca de sentimentos, que já estava tão intensa, que até a temperatura do quarto tinha se elevado.

O mago de ferro dormiu muito, na verdade. Passar pelas seções de tratamento intensivo deixaram seu corpo exaustado e sem energia mágica, mas pelo menos, ele não sentia mais dores.

Ele estava dormindo quando Regi, a ferreira de sua família, foi até o quarto deles. Ela pediu desculpas várias vezes por não ter conseguido entregar as duas armas de Mana no dia anterior pois tinha sido chamada com urgência no Castelo Real. A assassina levou alguns segundos para fazê-la parar de abaixar a cabeça com o sentimento de culpa.

Foi logo depois disso que San fez uma pergunta por pura curiosidade:

— Qual era a urgência, Regi?

— Pedidos para fabricação imediata de armaduras de ferro e cotas de malha de aço fundido. — respondeu a ferreira, imediatamente. — Eu cheguei a me assustar com a quantidade.

— Assustar? Eram tantas assim? — perguntou Kula, sentada à cama.

— Eram. Aliás, AINDA são. Coloquei todo o pessoal da minha loja nesse serviço e acabamos fechando temporariamente para outros clientes. A única coisa que eu fiz fora esse pedido do General, foram as katars da Mana.

— Uma quantidade absurda de armaduras e um pedido de urgência... Riven está entrando em guerra? — a pergunta de San não podia ser mais direta. Regi fez uma cara de emburrada, pois aquilo era pra ser um segredo. Mas não que não fosse óbvio. Ela olhou para Mana e San, e pensou bem antes de falar. O que a fez contar, na verdade, foi saber que como eles estavam no time de Mulkior, ela já os considerava confiáveis. Além disso, ela já os conhecia de antemão. — Era pra ser segredo, não é?

— Era. — disse Regi, com uma voz mais baixa. — Mas logo todos iriam saber. Riven entrou em uma guerra de grandes proporções no Sul. Muitos soldados marcharam para lá ontem de manhã e muitos outros irão hoje, logo após o almoço. Eu fui requisitada novamente para o Castelo hoje ao meio dia, junto com o pai de Mulkior. Parece que vai ter um tipo de reunião entre os nobres. Eu não gosto muito de participar disso, mas foi uma ordem direta do Rei, então não posso ignorar.

Depois disso, ela se despediu e saiu do quarto, dizendo que precisava se aprontar para a Reunião. Ela disse para que eles passassem pela loja dela assim que terminasse a luta de hoje, pois ela mesma prepararia um jantar para todos.

Foi meia hora depois dela sair que Mumu acordou. Ele foi recebido com vários "Você está se sentindo bem?" ou "Ainda dói?", e depois de responder várias vezes que estava, de fato, muito bem, ele se levantou e foi até a mesa de madeira no quarto, pois ainda tinha o café da manhã que os três tinham guardado para ele. Ele se sentou e abriu um sorriso ao olhar para Kuchi.

Não dava mais para não sorrir, depois daquilo. Tinha até ficado um clima silencioso, só com os dois se olhando, ignorando totalmente a existência dos outros dois membros do time no local. Mas como já é costumeiro nesse tipo de situação, há sempre alguém que aparece pra quebrar o clima e estragar todo aquele sentimento fluindo no ar.

— Manipulação especial de ferro para criar uma arma própria... — disse San, sendo o tal cara quebrador de climas. San fazia tanto isso que chegava parecer que ele GOSTAVA. — Foi uma surpresa e tanto, Mulkior.

— Ahm? Ah! É! — disse o mago, totalmente sem jeito. Ele tentou disfarçar pegando uma fatia de pão e a comendo logo em seguida. — Podemos dizer que essa magia é meu "ás".

— A transformação é diferente das outras. — falou Mana, se sentando em sua própria cama. — Percebi um pulso de energia um pouco diferente de quando você transforma as outras armas.

— Ah, você percebeu? Impressionante! — Mulkior dá mais uma mordida no pão e bebe um pouco do suco que ele tinha colocado no copo há um segundo atrás. — Verdade, é diferente. Para criar aquela arma de Nível 3 eu preciso usar um pouco da minha energia vital nela. É por isso que eu coloco nomes nessas armas. Elas são uma exclusividade minha.

— Mumu não foi o único que nos mostrou uma surpresa! — disse Kula, se virando para a assassina do grupo. — Você nunca me disse que poderia usar magia de gelo!

Mana sentiu um tipo de eletricidade estática passando pela sua coluna. Sim, ela não tinha dito nada mesmo. Mas era por um bom motivo. Ela ainda levava na mente um certo peso em ter abandonado tudo. Seu pai, sua mãe. Seus estudos. Seu reino.

Eram águas passadas, claro. Mas as vezes, ela sonhava com a casa. Com o quarto. E com um maluco quebrando sua janela e colocando uma faca em seu pescoço. A maioria dos seus pesadelos envolviam San fazendo alguma burrada. Isso quando não era ver o quartel general de sua guilda pegar fogo.

Mana apertou as mãos e pensou pesadamente. Como ela diria? Não dava pra dizer: "É que na verdade eu sou uma Princesa de um reino famoso por seus magos controladores de água e acabei fugindo de lá, tirando a única herdeira do trono da Família Real". Era pedir pra dar confusão. Mas se existia uma coisa que Mana odiava, era a mentira. Kuchi a olhava com aqueles olhos de gato pedindo carinho, e a assassina não ia se segurar por muito mais tempo.

— Eu nasci no povoado de Lazetna, o grande país ao Leste daqui. — começou ela. San a olhou com surpresa, o que já era de se esperar, já que ele era a única pessoa VIVA que sabia do seu segredo. — Acho que vocês bem sabem, mas Lazetna é lar de uma Academia de Magos e sua especialidade é Magias de Controle de Águas e Líquidos. E eu comecei a estudar magia quando era muito nova, impulsionada por meus pais. Mas muita coisa aconteceu e eu tive que... Fugir de lá. Acabei tendo que me virar com outro tipo de vida, e isso me fez dar mais atenção pras minhas habilidades físicas do que as mágicas. Mas nunca deixei de praticar.

— Entendo... — disse Mumu, ainda comendo. — Então você guarda essas magias como uma carta na manga?

— Sim, exatamente.

Mana arfou mentalmente. A história dela tinha ficado perfeita e pelo olhar dos dois magos, eles tinham acreditado nela. Claro, eles não tinham o porque duvidar de Mana, em primeiro lugar.

Mas mesmo assim, a garota se sentiu mal por ter que esconder o fato real deles. "Será temporário.", pensou. A assassina já viu que poderia confiar bastante neles, e não haveria problemas se ela contasse o fato de verdade depois que esse torneio acabasse e eles saíssem da Capital. Ela fez uma promessa para ela mesma, jurando que não esqueceria.

San estava um pouco tenso enquanto ela contava a história, mas imediatamente depois dela ter terminado, ele já tinha entendido o porque daquela resposta. O garoto puxou uma das cadeiras de madeira, se sentando ao lado de Mumu, e depois alcançou um kiwi que estava na pequena cesta em cima da mesa.

O que houve depois disso foram só umas conversas leves. Foi dito para Mulkior que Regi tinha passado por ali mais cedo. San e Mana ainda comentaram sobre a magia em conjunto dos dois magos, o que os fez ficarem levemente envergonhados. Mana reclamou com San por ele ter lutado ferido daquele jeito. E San questionou Kula mais uma vez sobre a família dela e onde ela nasceu. Foi entre esse papo descentralizado que Mumu se lembrou de algo que estava em sua língua há algum tempo.

— Mana, San. Eu tenho uma coisa que preciso revelar para vocês. — isso fez os dois se calarem e concentrarem a visão no mago. — Não é algo nada sério, na verdade. Mas vocês precisam saber disso. Eu decidi entrar nesse Torneio por algo muito específico, e desde o momento que eu tive a vontade de vir pra cá, eu só pensei na vitória pelo bem desse meu motivo. — o homem se virou para Kula, que fez um rápido aceno positivo com a cabeça. Depois ele se virou para os dois ouvintes, que prestavam toda a atenção nas suas palavras. — Eu quero criar uma Guilda. Nada pequeno. Uma guilda de verdade! Grande! Imponente! Que faça todos os tipos de trabalhos. Que seja ouvida nos quatro cantos do planeta. Algo que nunca alguém esperaria, que imaginasse tamanha grandeza!

— Sua empolgação é quase contagiante. — disse San, assim que Mumu parou de falar para tomar fôlego. Ele tinha se empolgado demais. — Fazer uma grande Guilda requer fama e uma boa quantidade de dinheiro. E é pra isso que você veio pra cá.

— Isso mesmo. — respondeu o mago, e logo em seguida, continuou. — Sobre a quantidade de dinheiro, eu vou precisar mais do que você imagina, pois eu quero que a sede da guilda seja aqui, na maior Capital do mundo!

— É um sonho alto. Mas com o prêmio daqui, não seria impossível. — disse Mana, com os braços cruzados.

— Não é só isso. — se intrometeu Kuchi. — Eu e Mumu conseguimos encontrar um certo tesouro de vampiros, na nossa última missão. Ainda não trocamos tudo aquilo por ouro, mas temos certeza que a quantidade vai ser boa o suficiente para pelo menos iniciarmos nossos planos, mesmo se acabássemos perdendo o Torneio.

— Bom, com a fama que o nosso time já ganhou, se vocês fizessem um anúncio direto no ringue, muita gente iria apoiar e alguns iriam até mesmo querer entrar como membros oficiais. — disse San, relembrando de uma coisa que Mulkior já tinha pensando antes.

— Sim, exatamente isso! — respondeu o mago, ainda mais empolgado. — O que me leva ao fato de eu estar falando isso pra vocês: o que acham de se juntarem comigo e com a minha parceira aqui para criarmos a Guilda mais poderosa já existente?

Nenhuma resposta foi dada imediatamente. A pergunta tinha afetado muito mais Mana do que seu parceiro. Bom, era óbvio. Não fazia tanto tempo assim que a garota tinha perdido a única família que a aceitou de coração. A sua ex guilda tinha mudado muito os sentimentos de Mana, e vê-la acabar daquele jeito era algo que ela não aceitaria tão rapidamente.

Como San disse, a empolgação de Mumu era quase contagiosa. O assunto ficou travado na sua mente. Mana abaixou a cabeça, sem dar nenhuma resposta. Já San, com os olhos fechados, parecia estar pensando na possibilidade. Ele nunca pensou em entrar em nenhuma guilda, e em sua vida existiam tantos inimigos que se ele, por ventura, acabasse entrando em uma, acabaria trazendo problemas para muita gente.

San odiava fazer outras pessoas se envolverem em seus próprios assuntos. Principalmente quando esses "assuntos" poderiam trazer morte e desgraça. Ele também não respondeu nada, mantendo o longo silêncio do quarto. Os dois magos que esperavam alguma resposta, se olharam e sorriram mais uma vez. Era uma grande notícia, com um convite importante.

— Vocês não precisam responder agora. — disse o mago de ferro, tomando o resto do seu suco. Ele percebeu o quanto estava com sede e com fome. Levou a mão na jarra de suco e encheu seu copo mais uma vez. — Querendo ou não, essa ideia só vai ser iniciada no término desse Torneio. Então por favor, pensem a respeito sobre isso.

— Eu...

Mana não conseguiu completar a frase. Foi ouvida uma gigantesca explosão, vinda de fora do Coliseu, mas muito próximo à ele. O tremor foi seguido de incontáveis gritos aterrorizantes de pessoas que pareciam fugir de um monstro. De fato, foi a primeira coisa que Kula pensou.

San foi o primeiro a agir. Ele empurrou a cadeira de madeira com força, fazendo-a bater na parede e depois indo ao chão. Ele correu para a janela do quarto e a abriu rápido olhando para quatro lugares diferentes ao mesmo tempo. Não foi preciso procurar muito para ver o pânico.

Pessoas corriam nas ruas sem saber para onde ir, enquanto alguns poucos soldados tentavam diminuir o alvoroço da correria. Eles estavam falhando miseravelmente. Mas esse não era o principal foco da preocupação deles.

— O Castelo Real está... — começou San, mas não completou a frase imediatamente. Nem ele conseguia acreditar no que via. Mana se levantou da cama em um só pulo e correu para o lado de seu companheiro. — Está pegando fogo!

Um segundo depois, Mumu e Kuchiki estavam ali junto dos dois, se espremendo para poderem ver alguma coisa lá fora. Era exatamente o que San tinha dito. O Castelo Real estava em chamas, mas só em uma parte do lado direito, bem perto do telhado. O fogo era intenso e não parecia que iria cessar tão cedo. E parecia estar se espalhando também.

Mas só isso não causaria tanto alvoroço nas pessoas. Agora ver um amontoado de gente armada lutando contra os soldados da cidade, sim. Era isso que acontecia na frente do portão principal do Castelo. E não era pouca gente! Só ali, haviam mais ou menos cem pessoas, empurrando os pouco mais de vinte soldados amontoados no portão. Era óbvio que os pobres soldados não aguentariam por muito tempo.

Os quatro combatentes perguntaram a mesma coisa ao mesmo tempo. "Guerra? Aqui em Riven?". Não existia possibilidades disso estar acontecendo, vendo que esse Reino era um dos mais poderosos do mundo... Se não "o" mais poderoso! Querer batalhar contra Riven e seu gigantesco exército era como atirar um balde de água em um vulcão.

Mas esse era outro ponto importante de se ressaltar: onde está o Exército Real? Só os Guardas Reais lutavam lá e eram massacrados sem piedade. Naquela altura do campeonato, eles já deveriam estar recebendo reforços. Então por que a demora?

Os membros do time Immortal Star ficaram quietos, só observando a situação e tentando cada um chegar à própria conclusão lógica. Mais uma vez, foi San e sua análise na velocidade da luz que clareou os pensamentos de seus colegas:

— É um exército rebelde. E eles tem muitos membros, pelo jeito.

— Mas eim? Como você sabe disso? — perguntou Kuchi.

— Eles não estão vestindo uma vestimenta padrão, não usam armas iguais, não carregam bandeiras ou símbolos e não tem nenhum comandante de tropa nas linhas de frente. — respondeu San, de imediato. — Além disso, se você olhar para as laterais dos muros do Castelo, vai ver que tem gente escalando e destruindo as torres de vigília.

— E eles estão desorganizados. — complementou Mana. — Estão apenas avançando porque tem a vantagem numérica.

— Pois é... E onde está o Exército Real?

A pergunta do mago de ferro não tinha resposta. Era o que todos queriam saber, mas infelizmente, eles nunca iriam adivinhar. Mana lembrou que havia sim, soldados do exército no castelo porque a própria Regi falou que eles estavam se aprontando para partir depois do almoço. Ainda não tinha chegado nessa hora.

A assassina sentiu outro arrepio quando lembrou de sua Guilda inteira sendo envenenada durante o almoço. Ela queria ter levantado essa hipótese entre seus amigos, mas não conseguiu abrir a boca.

Ao invés disso, eles ouviram Mulkior dizer bem alto "AH MERDA!", e dar as costas, indo para sua cama e procurando suas coisas. Alcançou sua cinta de couro, que Mana tinha mandado arrumar. Equipou-se e se preparou mentalmente. Não haviam dores em seu corpo, mas o médico havia dito muito claramente que ele tomasse cuidado com o próprio peito, pois mesmo magias de cura de alto nível não eram milagrosas. Não tanto quanto as de Sayuri, pelo menos.

— Mumu! Onde você vai? — perguntou Kuchiki, se aproximando dele, preocupada.

— Vocês não me falaram que a Regi e o meu pai iriam para uma reunião do Castelo? — perguntou o mago, com voz alterada e tom alto. Ao mesmo tempo, os outros três membros do time se tocaram que era verdade. Naquele mesmo momento, havia uma Reunião de alguma coisa acontecendo dentro do Castelo, e o exército rebelde estava preste a entrar lá. Sem contar com aquele fogo no telhado. Também foi nesse momento que o pessoal ouviu outra explosão, fazendo todos olharem pela janela novamente. Agora tinha mais um lugar pegando fogo. O Castelo estava sendo bombardeado. — Eu preciso ir salvá-los!

— ESPERE! — gritou a maga de fogo, agarrando Mumu pelo pulso bem na hora que ele se virou.

— Não tente me impedir, Kuchi! — a voz do garoto estava alterada e ele estava tão nervoso, que não percebeu que estava falando com a guria que ele tinha dito que amava, há algumas horas atrás.

— Eu não vou te impedir! Eu vou com você!

A raiva sumiu. Mulkior começou a raciocinar rápido, e isso fez ele se acalmar, pelo menos um pouco. Ele tirou a tensão dos ombros e sorriu levemente para a parceira. Um segundo depois, ele firmou a expressão e fez "Sim" com a cabeça. Se ela estivesse do lado dele, ele conseguiria passar por qualquer coisa sem problemas. Ele queria ter dito aquilo naquele momento, mas a pressa fez ele se virar e correr para a porta. Talvez ele nunca descobrirá que naquele mesmo momento, Kula queria dizer a mesma coisa. Sem palavras, os dois partilhavam do mesmo sentimento.

Ao sair do quarto Mumu viu que existia um caos até mesmo dentro do Coliseu, pois os corredores estavam lotados de pessoas desesperadas à procura de abrigo. Xingando, o mago abriu caminho empurrando "educadamente" quem estava em sua frente. Se a situação ali já era ruim, imagine quando eles alcançassem a estrada?

Quando ele chegou em uma bifurcação, olhou para os dois lados e escolheu àquele que vinha menos pessoas. Isso fez seu passo acelerar. Ainda correndo, eles conseguiram ouvir mais duas explosões vindo de longe. Parecia que era algo grande demais para ser apenas uma rebeldia de algum reino nervoso.

Foi com muito esforço que o "casal" conseguiu sair do Coliseu e finalmente ver a rua. Seria difícil andar pelo meio daquele povo todo. O mago de ferro começou a procurar uma brecha entre as pessoas, e no que olhou para trás, percebeu que estava sendo seguido de perto.

— Ei! Aonde vocês pensam que vão? — perguntou Mulkior, levantando uma sobrancelha.

— Que pergunta sem sentido, Mulkior. — respondeu San, que era um dos seguidores do mago.

— Estamos indo para o Castelo também. — respondeu o outro seguidor, que era Mana.

— Vocês vão acabar se envolvendo em uma guerra entre rebeldes! Podem acabar se machucando ou até mesmo morrendo!

— Engraçado. Queria te dizer a mesma coisa. — disse San, sorrindo sarcasticamente.

— Somos um time, Mumu. — começou Mana. — Não importa o que aconteça, durante esse Torneio, andamos e agimos como um só. Além disso, você não é o único preocupado com a Regi.

Mumu abriu a boca para falar, mas a fechou. Abriu de novo, pensou. Fechou de novo, sem dizer nada. Como ele poderia encontrar argumentos bons o suficiente para contradizer as nobres palavras da assassina de seu time?

Mana também não era uma pessoa que ignorava os amigos, então ela acabaria se metendo no meio de lutas que não eram dela só para poder salvar alguém. E San... Bom, San era San. As ações inexplicáveis dele eram sempre misteriosas e intensas, para não dizer perigosas. Mas se ele estava com vontade de ajudar, quem seria Mumu para recusar tal oferta?

Ele virou as costas e sorriu de novo. "Eu quero eles na Guilda!", pensou. Sua decisão estava mais firme do que uma âncora de navio. Kula se virou para os dois parceiros e agradeceu rapidamente, fazendo a mesma carinha de cachorro com fome que ela fazia de vez em quando. Isso quase derretia Mana.

Os quatro correram se desviando de muitas pessoas. Eram poucos os que tentavam correr contra a maré que o povo fazia, trazendo gritos e desespero. Algumas pessoas chegavam a se jogar nas janelas das casas mais próximas, com medo de serem atingidas ou envolvidas nas batalhas.

Por sorte, parecia que a batalha não tinha se alastrado para as principais ruas da cidade. Haveria um banho de sangue caso a guerra chegasse nos centros comerciais. Mas parecia que todos os soldados rebeldes estavam indo em apenas uma direção, que era a mesma de Mulkior e companhia.

Que por falar nisso, eles já conseguiam ver os grandes muros que protegiam o Castelo Real. A entrada estava limpa. Bom, isso era figura de linguagem. O exército rebelde tinha conseguido derrotar todos os soldados reais que protegiam o portão, então envolta do mesmo, haviam inúmeros corpos, armas e sangue espalhados aleatoriamente.

Era um cenário típico de guerra. San e Mana já estavam acostumados de ver tantos corpos empilhados, mas não os dois magos. Kuchi sentiu seu estômago embaralhar quando o cheiro da carne chegou em suas narinas. Ela levou a mão na boca, prendendo a respiração. Eles não tinham escolha. Precisavam passar por cima dos corpos e continuar seguindo.

Antes que o Líder da Immortal Star desse o primeiro passo, San olhou para o lado, pois sentiu a presença de alguém. O que ele viu o fez ficar com os olhos arregalados. Era uma pessoa correndo na direção dos muros laterais. Se fosse só isso, até tudo bem. Era só uma pessoa correndo, e daí? Mas o que deixou San amedrontado foi o cabelo da pessoa. Liso, comprido e vermelho, sem mechas e sem franjas. Aquele cabelo...

— Não... Não pode ser! — San disse aquilo, se virou e começou a correr para o outro lado, contrário do que o seu grupo estava seguindo.

Ao mesmo tempo, Mulkior estava vendo de longe que os dois batalhões de soldados estavam travando uma luta complicada bem em frente à grande porta de entrada do Castelo. Após ver isso, sua ação seguinte foi óbvia: correr o mais rápido possível para lá. Ou seja, San e Mumu correram ao mesmo tempo, para lados totalmente opostos.

— SAN! — gritou Mana, sem conseguir segurá-lo. Mesmo tendo ouvido a parceira, San não pareceu querer parar de correr. — Mas para onde esse maluco está indo?

— Mana! — chamou Kuchi. A assassina virou a cabeça para encarar a companheira. — Mumu já correu para as portas do castelo. Onde o San foi?

— E eu sei lá! — disse ela, se virando novamente para o lado que San tinha corrido. Ele estava correndo rápido demais para não ser algo importante. — Eu vou atrás dele. Kuchi, cuide de Mumu! Ele está sem sua cota de malha e seu peito não pode ficar machucado novamente!

Dizendo um sonoro "Deixa comigo", Kula se virou e correu na direção de seu amado, pulando alguns corpos de soldados jogados no chão. Ela tentava correr sem olhar para as expressões mortíferas das pessoas no chão, mas era quase impossível. Mais um pouco daquele cenário iria fazer ela devolver o que tinha comido no café da manhã. Enquanto isso, Mana começou a correr atrás do sem noção. Ela estava um pouco preocupada porque San não era de fazer coisas impensadas. Sair correndo sem nem dizer nada... O que ele tinha visto? Ou será que estava planejando alguma coisa?

O mago de ferro correu com vontade por dentro do terreno frontal do Castelo. Ali, era possível ver como a situação era complicada e perigosa. San tinha razão: a quantidade de soldados do exército rebelde era grande. Todos os soldados reais estavam sendo empurrados, sendo obrigados a recuarem para as paredes do Castelo.

Havia outra visão que podia se dizer a mais horrível de todas: as catapultas que ficavam dentro dos muros do castelo estavam sendo operadas pelos rebeldes. Como? Essa pergunta não teria uma resposta lógica e Mulkior sabia que não era hora de se preocupar com eles agora. As catapultas estavam mirando as paredes dos andares superiores do Castelo, e foram com elas que aquele fogo tinha sido criado.

"Dane-se esses rebeldes!", pensou o mago. Para ele, o importante era a proteção de sua família. Quando ele chegou bem próximo a batalha, alguns homens do exército rebelde se viraram e o encararam. Analisavam suas roupas, vendo que o mago de ferro não era um soldado do castelo.

— Você é um dos nossos? Nunca vi você. — disse um dos rebeldes.

— Não me juntem com vocês, seus bastardos! TRANSFORMAÇÃO DE METAL - LANÇA!

Mumu aproveitou a deixa para puxar uma de suas esferas especiais de energia e, depois de passar um pouco da sua energia para ela, criou uma lança simples e pontiaguda. Não era de se estranhar que o soldado rebelde que fez a questão há um segundo atrás ficasse tremendo de medo daquilo. O Líder do time Immortal Star ainda piorou a situação da pessoa, usando um ataque rápido e perfurando o abdômen dele. O soldado caiu de joelhos, com as duas mãos em cima do ferimento, na tentativa desesperada de estancar o sangue.

Um amigo desse soldado, que estava bem ao lado, viu a cena e explodiu em raiva. Era seu amigo que estava caído no chão! O maldito iria pagar! Puxou sua espada para trás e correu na direção de Mumu, aplicando um corte vertical mirando o ombro do mago. O mesmo mago, sem recuar, defendeu o golpe facilmente usando o meio do cabo da lança. Depois de ter lutado contra David, os ataques de qualquer um dali seriam fracos e lentos demais.

Mulkior fez força no braço, empurrando seu atacante e tirando seu equilíbrio. O homem caiu de costas no chão, mas não se machucou com a queda. O mesmo não poderia ser dito quando a ponta da lança de Mulkior empalou sua perna direita, tirando um grito severas alto da pessoa.

Esse grito alertou muitos outros soldados, tanto rebeldes quanto os do castelo. Não demorou muito para Mumu ser marcado como inimigo pelos rebeldes. "Podem vir", pensou o mago de ferro. Ele não iria perder para alguém que estava colocando sua amada família em risco.

ESFERA DE FOGO!

A esfera de fogo de Kula explodiu atrás de seu amado, em um soldado que estava preste a acertá-lo com um machado. Essa pessoa caiu no chão e rolou duas vezes, quase inconsciente. A maga correu até ficar lado a lado com seu parceiro, concentrando mais energia mágica. "Minha amada família E minha amada parceira", pensou Mumu, completando seu próprio pensamento de mais cedo.

— Kuchi, tem uma entrada do castelo aqui na nossa direita, mas mais ao fundo. — disse ele, continuando logo em seguida. — É a entrada que os soldados usam para irem aos quartos. Podemos usar essa mesma entrada para chegar até o Grande Salão, que é provavelmente onde a Reunião estava sendo feita. Mas passar por essa quantidade de soldados vai ser complicado e até um pouco perigoso.

— Eu tenho uma ideia. Mas vou precisar que você me proteja para eu conseguir juntar energia mágica o suficiente para isso. — respondeu a maga, confiante.

— Vai querer atirar fogo em todo mundo? Isso vai acertar os guardas do castelo!

— É exatamente por isso que eu preciso que você me proteja. Eu preciso juntar energia e controlar as minhas chamas para só atingir os rebeldes.

— Quanto tempo você precisa? — perguntou Mumu, colocando a mão esquerda em sua bolsa de esferas e retirando mais uma.

— Quinze segundos. Talvez um pouco menos. Mas quinze de certeza. Acha que consegue?

— Ah! Pra proteger você, eu ficaria aqui a vida inteira! TRANSFORMAÇÃO DE METAL - ESPADA E ESCUDO!

A frase de Mulkior criou uma chama dentro da maga de fogo. Não literalmente, claro. Ela realmente não esperava uma resposta tão intensa vindo dele, naquela situação. "A vida inteira". Era a parte da frase dele que tinha feito Kula ficar sem ar. Ela só não ficou sonhando acordada porque dois outros soldados do exército rebelde apontaram suas lâminas para o seu amado.

Kuchi segurou o pulso do braço direito com o sua mão esquerda e depois fechou os olhos. Sua concentração tinha começado. O chão e o vento começaram a reagir ao acumulo de energia absurdo da garota, e muitos outros soldados tiveram que dar alguns passos para trás, demonstrando um real medo da maga.

Mas como dito antes, dois dos soldados não pareciam muito bem intimidados e estavam indo na direção de Mumu. Esse, por sua vez, tinha transformado a lança em uma espada, e na outra mão que segurava uma pequena esfera de ferro, agora havia um escudo fortificado.

O mago sentia que nada poderia derrotar ele agora. Suas palavras tinham saído diretamente de sua alma, e parecia que todo o cansaço de tanto correr tinha simplesmente ido embora. A decisão era imutável. Ele não deixaria ninguém se aproximar de Kula.

Os dois avançaram ao mesmo tempo. O da direita usava uma espada simples, mas um pouco mais longa que o normal. Ele deu um pulo curto e movimentou sua espada para baixo, dando um golpe vertical. O outro, da esquerda, usava um machado grande e pesado, e era mais lento do que o parceiro. Mas isso não significava que era menos problemático.

Mumu calculou o movimento dos dois adversários e foi se defender do cara da direita primeiro. Levantou a espada, aparando o golpe ainda no meio do trajeto. Depois aplicou um chute no peito do soldado, que o fez cair no chão sem ar. Imediatamente após, Mulkior se virou e levantou o escudo para cima, se defendendo do machado que vinha reto em sua cabeça. O barulho do impacto foi grande o suficiente para fazer o mago perceber que não poderia subestimar a força do adversário.

Mulkior empurrou o escudo para cima, fazendo o machado e o braço do soldado voarem, deixando-o totalmente aberto. O próximo movimento de Mumu era óbvio: um corte vertical e profundo no peito do soldado que usava machado, que caiu no chão gritando de dor.

A percepção do mago apitou, fazendo ele se virar para o outro lado imediatamente. Mumu evitou ser empalado por um outro soldado que usava uma lança curta, mas não conseguiu evitar ser danificado por ela. A lança do oponente tinha lhe arranhado o braço direito, mas não parecia ser profundo. Olhando nos olhos do novo inimigo, o garoto protetor percebeu que aquele ali tinha melhores habilidades de luta. Então ele precisaria ser tirado do combate mais rapidamente.

O mago de ferro jogou a própria espada na direção desse soldado, que mesmo com medo, deu um passo para o lado, evitando o ataque. Mas aquilo era só uma finta. O que Mumu queria mesmo era fazer com que o oponente o perdesse de vista por apenas um segundo. O soldado lanceiro nem viu que seu oponente tinha segurado sua lança com a mão direita.

TRANSFORMAÇÃO REVERSA!

Depois de passar uma certa quantidade de energia mágica de suas mãos para a lança de ferro do soldado, a arma libera um brilho fosco e no segundo seguinte, o próprio soldado sente que sua arma desapareceu de suas mãos. Sem saber o que tinha acontecido, ele olha para as mãos e depois para o chão, achando que a derrubou em algum lugar. Mal sabia o coitado que era seu oponente que estava com ela nas mãos, em forma de uma pequena bolinha cinza.

TIRO DE METAL - ESPADA!

Não precisou de muitos movimentos bruscos para acertar o oponente que ainda parecia perdido. Mulkior colocou energia mágica na esfera e mirou no peito do soldado sem armadura. Atirou a bolinha que se transformou em uma espada simples em pleno voo. A arma lhe atravessou o peito, fazendo o soldado cair praticamente morto no mesmo segundo.

Tempo era importante ali. O mago olhou para trás e viu que sua parceira ainda precisava de mais cinco segundos. Ele deu dois passos largos para frente e juntou a pequena esfera que estava no chão, que era da espada que ele tinha atirado em primeiro lugar, para fazer o soldado não perceber a finta.

No momento em que ele se levantou, sua percepção apitou novamente, e assim como na primeira vez, ele tinha conseguido se livrar de um acerto em cheio, mas não de ser danificado. Dessa vez, se tratava de uma flecha de ponta fina que lhe arrancou um pouco do couro de sua perna esquerda, fazendo-o se agachar com a mão no novo machucado. Não era um machucado tão feio, mas havia doído bastante. Provavelmente a flecha deveria estar cerrada.

Mumu olhou para os dois lados, procurando o inimigo. Não o viu. Provavelmente estava em uma das torres de vigília ou atrás dos outros soldados que ainda avançavam.

Que por falar neles, outro soldado carregando uma espada e um escudo de madeira era o próximo oponente do mago de ferro. Uma das coisas que Mulkior sabia que precisaria fazer era conservar energia. Então usar suas armas de nível 2 ou 3 estava totalmente fora de cogitação. Ele precisaria batalhar só com suas armas mais simples.

Além do mais, ele tinha que enfrentar outro problema: sua escassez de esferas. Por causa de seu último combate na arena, muitas esferas foram perdidas. Mana disse que juntou as que tinha por perto, mas tinha sido muito pouco. Quantos ele teria agora? Seis? No máximo sete esferas em sua bolsa. "Jogar minhas armas contra os oponentes também não é uma boa ideia", pensou.

O soldado de espada e escudo tinha lhe atacado. Foi um corte lento, mirado na cabeça. Mumu, que ainda estava com seu escudo na mão esquerda, o levantou e defendeu o ataque sem nenhum problema. Esse soldado era algum novato ou nem tinha nenhum treinamento militar. Isso foi comprovado porque logo após esse ataque, ele emendou outro ataque alto. Mulkior firmou o braço e usou uma investida com o escudo, batendo com força na espada do oponente. O braço do soldado voou para trás, junto com sua espada.

Agora ele estava totalmente aberto na frente e quase sem equilíbrio nas pernas. Mumu puxou o escudo de volta para perto de si, deu um passo para frente na direção do soldado, e aplicou um golpe direto na cabeça do soldado, usando o escudo de ferro em sua mão. Tonto e sem equilíbrio, o soldado caiu no chão, se remexendo como uma minhoca que acabou de perder a cabeça.

Calor foi sentido por muitas pessoas. Veio do nada, como se um vulcão tivesse entrado em erupção e a lava estivesse escorrendo pela montanha, se aproximando de você. Muitos olharam para trás, procurando a fonte desse fenômeno bizarro. Isso gerou a morte de muita gente, pois perder a concentração em uma batalha de frente significava muito para o seu oponente.

Mesmo sem olhar para trás, Mulkior sorriu ao sentir aquele calor intenso. Aquela energia elevada. Ela estava preparada. E com muita vontade de atirar fogo em todos os inimigos de uma só vez. Em especial, os dois que feriram seu amado parceiro.

MAREMOTO VERMELHO!

Essa era uma das magias de maior área que Kula tinha. Ela necessitava de uma grande quantidade de energia mágica e uma boa concentração. Claro que nem tanto quanto foi de agora, pois ela estava mesmo querendo controlar as chamas para não atingir os aliados.

Mas primeiramente, ela cruzava os braços em "x" junto ao peito, passando toda a energia concentrada para os dois braços. Depois ela os abria para os lados, como se fosse abraçar alguém. Mas não era o calor de seu corpo que os inimigos recebiam. Depois ela batia com as duas mãos em frente ao corpo, e esse impacto criava atrás dela, uma gigantesca e aterrorizante onda vermelha que era capaz de engolir até mesmo o castelo. Existia uma clara diferença: não tinha água nessa onda. Era um maremoto de fogo, que vinha de cima e de trás, caindo em um campo e colocando fogo em todos os oponentes que o mago usuário quisesse.

E foi o que aconteceu. Alguns tentaram fugir desesperados, mas acabaram se esbarrando e criando uma confusão ainda maior. Outros nem viram nada. Quando a onda caiu em cima deles, tudo o que dava para ser ouvido eram os gritos de horror dos soldados rebeldes, que se jogavam no chão na tentativa de apagar o fogo que consumia suas vidas.

Tinha sido uma magia e tanto, e por mais que Mulkior estivesse impressionado, ele sabia que não era hora de parabenizar a parceira. Ele faria isso depois, e de um jeitinho especial. Por hora, ele só se virou para a maga que arfava rápido, tentando recuperar o fôlego. Usar uma magia grandiosa fazia isso com todo mundo. Você se sentia fisicamente cansado depois de usar muita energia mágica de uma vez só, mas era só algo muito temporário.

Kuchi retribuiu o largo sorriso do parceiro e logo em seguida o acompanhou para a lateral do castelo. Os soldados reais que viram a cena nem tentaram impedir os dois. Para eles, o casal de magos eram claramente bons aliados, que era exatamente o que aquela batalha estava necessitando. Mumu apontou para uma porta muito ao longe, e os dois aceleraram o passo.

San não precisou correr tanto assim para alcançar a pessoa que tinha tomado toda a sua atenção. Ele ouviu Mana gritar por seu nome no momento da partida, mas ele decidiu não perder um milésimo sequer. A situação era realmente complicada, então cada segundo poderia ser fatal.

Além do mais, poucos segundos depois dele mesmo começar a correr, a assassina correu em direção dele. San a sentiu se aproximar rápido, o que não era de se estranhar. Ela era realmente a mais rápida do quarteto, tanto em velocidade de movimento quanto em velocidade de ataque. San só conseguia superá-la se usasse sua magia de auto reforço.

Mas enfim, ele correu até virar uma esquina. A rua ali era muito larga e comprida, o que fazia ser difícil de perder alguém de vista. Principalmente porque nessa parte da cidade, já não havia mais ninguém.

Esse era um outro motivo por San achar estranho de ver a tal pessoa. Será que era ela mesmo? Aquele cabelo era inconfundível. ERA ela! Claro, San também conseguiu reconhecer um pouco da face da pessoa, pois correr atrás de alguém por causa de um cabelo seria loucura.

Ele finalmente tinha chegado na esquina de uma rua, olhando para o lado direito. Essa outra rua levava diretamente para os muros laterais esquerdos do Castelo. Era outra rua larga e bem grande.

A pessoa estava lá. Longe. Caminhando calmamente, mas em um ritmo levemente acelerado. Agora dava pra ver a roupa da pessoa. Uma capa grossa e comprida até o chão, na cor vermelha. As bordas da capa tinham um tipo de pelagem branca. Não tinha capuz. Uma Capa de Magos? Sim, era isso. Não dava pra ver a frente. Usava uma saia apertada, que ia até um pouco acima do joelho, também na cor vermelha, mas em uma tonalidade um pouco mais clara. Uma bota com um salto não muito alto, na cor branca. Só deu para ver isso por causa do vento que fazia a capa esvoaçar levemente. E o cabelo. Um brinco na orelha direita, de prata. Sem luvas. Um cajado médio, branco com uma gema de energia acoplada na ponta de cima.

— ESPERE!

O grito de San realmente chegou aos ouvidos da pessoa, que parou o seu avanço. Ela não se virou imediatamente, criando um clima mais do que tenso. San também parou, esperando que a pessoa em questão se virasse e a encarasse. Mas ela permaneceu parada, sem andar e sem se virar. San deu um passo para frente e abriu a boca para falar mais alguma coisa. Só que aconteceu um certo problema.

A audição de San o alertou de alguma coisa vindo rápido pelo seu lado esquerdo, fazendo-o esquecer a pessoa lá na frente. Não era alguma coisa que estava vindo. Era uma outra pessoa!

CHUTE QUEBRADIÇO!

Essa nova pessoa tinha vindo do alto, provavelmente de cima de uma das casas baixas da rua. Ele caiu com o golpe, criando uma força colateral estrondosa. O chute foi dado com a intenção de acertar a canela na cabeça do oponente, que nesse caso era San. Isso não aconteceu.

San levantou os dois braços retos um do lado do outro e os reforçou com sangue, como se fosse dar um golpe. O impacto foi entre duas partes de corpos sem armaduras ou armas, mas o barulho tinha sido grande o suficiente para alertar toda a vizinhança.

A pessoa caiu no chão ainda em pé, com cara de assustado. Seu golpe tinha sido perfeito e deveria ter destruído os braços e a cabeça do oponente de uma vez só. Mas pelo impacto, ele parecia ter chutado a base de um tronco de árvore. Quem conseguia ter braços tão resistentes assim?

O atacante estava sem palavras, quando que era pra San estar abismado. Ele permaneceu com os braços levantados, pois não conseguia movê-los. Doíam. Tremiam os ossos. O que era aquilo? O impacto foi forte demais!

San foi abaixando os braços devagar, tentando esconder o fato de que ele quase não estava os sentindo. Dormência. Em um só chute, aquele cara tinha conseguido causar tudo isso. "Imagine se eu não uso meu sangue para fortalecer minha defesa?", pensou San. Sua maior sorte foi seu controle perfeito de manipulação de energia. O lutador da Immortal Star apertou o olhar, demonstrando uma expressão de nervosismo.

— Magia do tipo destrutiva, incrustada e misturada em golpes corporais. — disse ele, colocando as mãos nos bolsos, criando aquela já velha cena que seus inimigos odiavam. O deboche afetou o homem atacante, fazendo ele assumir uma nova posição de combate. — Foi um golpe e tanto. Pela sua posição fixa e bom movimento, eu diria que é da classe dos Artistas Marciais. E pela vestimenta... Uhmm... Muay Thai?

— Uau! — falou o inimigo, sem sair de sua posição de ataque. Sua voz não combinava com a pessoa em si, pois era mais grossa do que o normal. Era possível que ele estivesse a forçando de propósito, para criar intimidação. — Sua habilidade analítica é realmente impressionante! Conseguiu determinar tudo perfeitamente levando apenas um golpe. Se bem que não seria difícil determinar minha classe por causa da minha roupa, não é? — disse ele, apertando as duas mãos.

O fato era verdadeiro. A vestimenta dele era simples e óbvia demais. Ele não usava camisa, exibindo um físico muscular treinado. Usava um calção sem bolsos nas cores verde e branco, em formas de listras. Usava típicas faixas brancas nas duas pernas que iam até os pés, que estavam descalços. Nas mãos, as também típicas faixas de corda grossa, que serviam tanto para bater forte e para absorver impactos diretos. Na sua testa, usava uma faixa de corda também branca. Sua pele escura demonstrava que ele não era natural dessa região, o que dava mais uma dica dele praticar tal arte marcial.

— Eu estava certo de querer te enfrentar no Ringue do Coliseu!

— Coliseu? — a pergunta de San soou como confusa. O garoto olhou bem para o seu atacante e fez o cérebro entrar em operação. — Espere... Você é do Time Scarlet Party! Vocês seriam nossos próximos oponentes no Torneio!

— Exatamente! — o oponente gritou em empolgação, dando um passo para frente. Sua aura estava brilhando, mostrando que estava pronto para batalhar. — Agora o que você acha de esquecermos as regras chatas do Coliseu e duelarmos aqui?

— Não estou nem um pouco interessado nisso. — responde San, prontamente. — Eu só quero falar com a pessoa atrás de você.

— Vai ter que passar por mim pra chegar até ela!

A pessoa atacou. Avançou com os braços em pé, protegendo a cabeça. San continuou parado onde estava, com as mãos nos bolsos. Não importava em que mundo isso acontecesse, alguém sempre se irritaria. Quem deixa as mãos nos bolsos em uma luta? Ficar sem nenhuma posição defensiva era pedir para morrer. Então pra que correr o risco? Quem faria tal coisa e para quê? A resposta era mais simples do que poderíamos imaginar: alguém que quer fazer um ataque surpresa.

ESTILO DO DRAGÃO, PUNHO DA DESTRUIÇÃO!

San tirou a mão direita do bolso em uma velocidade impressionante. Seu controle de energia foi perfeito como sempre. Sua mão, brilhando com um leve vermelho, voou em direção ao peito desprotegido do oponente.

Houve um leve impacto, mas o golpe não tinha acertado o ponto mirado previamente. O oponente lutador levantou a perna e defendeu o soco de San com o joelho. Os dois sentiram o choque. O oponente deu um passo para trás, incrivelmente impressionado de quase ter perdido a perna nessa brincadeira.

Já San, estava tentando amaciar as costas da mão, pois pareceu que ele tinha acabado de socar dez milímetros de puro aço. Ele lembrou que os lutadores de muay thai tem treinamentos intensos para fortificar os ossos frontais da perna e dos braços. O cotovelo e o joelho eram como duas marretas para um lutador dessa arte.

O atacante deu dois passos rápidos para frente e usou uma joelhada mirando o estômago de San. Esse último, por sua vez, sabia que era perigoso demais defender esses golpes frontais, então deu um passo para trás e depois outro para frente, tentando acertar um soco reto na face do oponente. O artista marcial aparou o golpe simples com o braço esquerdo, e já emendou um outro ataque, tentando acertar a testa de San com seu cotovelo. Era um golpe básico de muay thai e geralmente era mirada no nariz.

San abaixou a cabeça, apertou o punho direito e aplicou um gancho. O oponente usou o cotovelo do braço esquerdo para parar o golpe, e mais uma vez, os dois sentiram um leve choque. O homem deu um passo para trás só para ganhar espaço, e depois avançou de novo com um soco reto mirado no peito do oponente. San aparou o golpe perfeitamente com seu braço direito. Abaixou o corpo e aplicou uma rasteira. O inimigo não tentou esquivar. Ao invés disso, firmou a perna ao chão e levou o impacto direto.

Mas dessa vez, quem mais sentiu o choque foi San. Era como chutar um poste. Vendo a posição desfavorável do seu oponente, o artista marcial puxou o braço para trás da cabeça e concentrou energia mágica nele.

SUPER DIRETO!

ESTILO DO TIGRE, PATA DA IMPOSIÇÃO!

O soco que vinha de cima tinha um perigo maior do que os outros golpes. San percebeu que sua própria posição criava uma fatalidade não evasiva, e precisou agir rápido. Então quando o braço do oponente brilhou com uma luz roxa, San estralou os dedos da mão direita e passou todo o peso do corpo para a perna esquerda. Esperou o braço do atacante descer até metade do trajeto para que ele mesmo levantasse o braço direito, com energia concentrada em toda a sua palma.

Mais uma vez, o impacto criado pelos dois golpes tinha sido explosivo. O braço do artista marcial foi jogado para cima. Muito para cima. A ponto de fazer o corpo dele sair do chão, voando um metro para cima e outros dois para trás.

Já San, foi o mais afetado. De novo. O soco de seu oponente era tão poderoso que nem o impacto de seu golpe tinha diminuído o poder de ataque. O pulso de San tinha sido deslocado levemente, deixando seu braço direito ficar em total dormência. Mostrar isso para o oponente seria o mesmo que mostrar que você está sem flechas para seu arco. Então ele se levantou, e virou a cabeça para os dois lados, estralando o pescoço.

E foi aí que tudo começou a se tornar uma cena perigosa. San começou a demonstrar uma aura assassina. Forte e impiedosa. Seu oponente se afastou com três longos passos para trás, ficando novamente em uma posição defensiva. Ele estava suando. Sabia que aquilo significava problemas.

Principalmente porque San colocou uma das pernas para frente, levantou o braço esquerdo reto na direção dele e puxou a mão direita para trás do corpo, a escondendo. Uma posição marcial. Aura negra. Era uma posição de ataque. Aquela posição... Estilo de luta das montanhas orientais? Kung Fu? Só podia ser.

Ele tinha visto a luta de San contra Momo, e sabia que se ele ficou naquela posição é porque reconheceu estar enfrentando um oponente forte. Sorriu. Ser reconhecido era uma das coisas mais prazerosas para um Artista Marcial. Perdeu o sorriso. Pois lembrou-se que isso significaria que sua vida estava preste a ser disputada.

O oponente de San deixou de ficar intimidado cinco segundos depois. Ele sabia que ficar com medo não ajudaria a vencer esse combate. Olhou para trás e viu que a mulher de cabelos vermelhos ainda estava lá, observando a luta com a cabeça virada para o lado. Por que ela continuava ali? Ela não estava atrasada? Não dava tempo pra perguntar.

A aura de San se intensificou e ele deu um passo para frente. O lutador não iria deixar. Ser atacado por alguém que luta kung fu é pedir para levar golpes que você não está esperando. Então ao invés disso, ele atacou primeiro. Criou uma aura ao redor do corpo e partiu para cima. Iria atacar antes de ser atacado. Foi aí que ele viu.

Algo voando em sua direção, vinda em uma diagonal alta. O lutador parou o avanço e deu um salto para trás, desesperado e sem firmeza nas pernas. Por sorte, ele conseguiu evitar ser atingido. Onde ele estava, tinha caído três agulhas de ferro grossas, que tinha sido miradas em sua cabeça. Aquele tipo de ataque era inconfundível.

— Ah! — disse o lutador, em um tom bem alto. — Você ainda não perdeu esse costume de atacar pelas sombras, não é mesmo... MANA!

— Eu não posso acreditar. — disse Mana, saltando de uma das casas à direta de San e caindo bem do lado do parceiro, que não tinha tirado os olhos do oponente nem por um segundo e continuava com uma aura intensa. — Jimmy, é você mesmo?

— O próprio. — respondeu Jimmy, perdendo a compostura de batalha. Ele sabia que Mana não estava com a intenção de atacá-lo, pois suas agulhas foram obviamente para fazê-lo parar de avançar, e não para matá-lo. O mesmo não poderia ser dito do cara ao lado dela, que ainda o olhava com fogo nos olhos. — Faz bastante tempo, não é?

— Demais. Eu achei que... — Mana fez uma pausa ao se lembrar de algo que não queria. — Achei que você tivesse sido... Sabe... Pego no fogo...

— Eu posso te dizer o mesmo. Achei que eu tinha sido o único sobrevivente. Eu não estava no Quartel General quando ouve o tal incêndio, pois eu estava em uma pequena viagem de treinamento. Eu voltei pra lá dois dias depois do ocorrido. Imagine minha reação ao saber que nossa Guilda havia sido exterminada graças ao incêndio acidental e que nosso Rei havia sido assassinado um dia após isso.

— Acidental? — Mana mudou o tom de voz aqui. Deu um passo para frente e olhou o homem lutador com nervosismo. — Jimmy, COLOCARAM fogo no nosso Quartel General! Fomos traídos pelo próprio Rei! Foram os soldados dele que queimaram tudo e envenenaram todos os nossos membros com um sonífero, para morrerem consumidos pelas chamas e ninguém ficar sabendo do motivo verdadeiro!

— O QUÊ? Espera, isso é imp-

— Não, não é. — disse San cortando Jimmy, finalmente abaixando os punhos e se acalmando. Ele percebeu o óbvio ali. Um ex membro da Guilda da Mana não teria motivos para ser seu inimigo... A não ser que ele quisesse continuar em sua frente. — Eu e ela somos os únicos que sabem da verdade. Quem matou o seu Rei foi ela mesma, como uma vingança.

— Isso... — disse Jimmy, sem forças. Não era de se estranhar que ele estava abalado. Qualquer um ficaria. Jimmy era um membro da Guilda ainda mais antigo que Mana. Ele não era nenhum Capitão de Esquadrão, mas fazia parte do Esquadrão de Aozaki, e por ser um dos lutadores mais habilidosos da Guilda, ele era bastante conhecido por todos. Não só pela Guilda, na verdade. Jimmy era um dos Campeões Internacionais do "Duelo de Punhos", um Torneio que reúne os melhores lutadores de artes marciais do mundo em duelos limpos. Isso fazia dele ser bem conhecido em muitos templos e academias de Reinos distantes. — Isso é verdade, Mana?

— É. Eu tenho que te explicar tudo com detalhes. — disse Mana, se acalmando um pouco.

— Mais tarde. - disse San. — Agora me dê licença. Eu tenho algo a tratar com a Senhorita de Cabelos Vermelhos que está parada atrás de você e ficou nos observando a luta inteira.

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Um rápido silêncio foi criado naquele momento. Jimmy olhou para trás, querendo saber qual seria a reação daquela pessoa. San falou em alto e claro tom, o que fez com que ela também ouvisse.

Mana ficou prestando atenção na pessoa. Olhou as roupas e o rosto, quando ela finalmente se virou para os três. Aquela mulher... Mana já tinha a visto antes. Ela estava no torneio do Coliseu, mas ainda sim, a assassina a conhecia de outro lugar. Aquela roupa não era estranha também.

Agora que ela estava de frente, dava pra ver mais detalhadamente. A capa que ela usava não cobria a frente, tirando os ombros. A saia não tinha bolsos e não tinha babados. E a camisa sem mangas era extremamente complexa, com vários panos, uns por cima dos outros. Mas tudo na tonalidade vermelha com branco. Usava um batom forte vermelho também.

— Você não parece ter mudado muito, Número 03. — disse a mulher, sorrindo levemente. Jimmy se virou para trás, não entendendo nada. Mana também não tinha entendido, mas olhou para San aquele momento. A expressão do rosto de seu parceiro havia sido alterada duas vezes em menos de três segundos. As duas caras que ele fez demonstravam pura surpresa. — Ah, agora você se chama de "San", não é? O mesmo nome dele...

— Então eu não me enganei. — disse San, fazendo sua típica cara de nada e colocando as duas mãos nos bolsos novamente. Seu pulso ainda doía, mas era uma dor ignorável. — Você está viva, Número 34. E acredito que você também tenha mudado de nome. Aliás... — San sorriu antes de continuar. — Mudar não. Criar um, não é?

— Espere... — disse Mana, apertando a visão. — Eu sabia! Eu conheço você. É a Vice Líder da Diamond Wall! "Peste Escarlate", não é?

— Ex Vice Líder. — responde a garota, se aproximando. — Minha Guilda não existe mais, assim como a sua. E pelo que eu ouvi da sua conversa com o Jimmy aqui, nossas Guildas terminaram pelo mesmo motivo: traição.

— Diamond Wall? A guilda de guerrilha? — perguntou San, se virando para sua parceira.

— Sim, essa mesmo. — respondeu a garota ao lado, imediatamente. — Eles eram especializados em dar cobertura para grandes castelos e só aceitavam trabalhos grandiosos. Em combate, eram exímios guerrilheiros, trazendo problemas pra qualquer exército que os desafiasse. Conheço bem vocês porque nossas Guildas já se encontraram no campo de batalha uma vez. Tivemos que recuar justamente porque sabíamos que não iríamos vencer. Mas eu não sabia que a Guilda havia sido destruída!

— Não faz tanto tempo assim. — respondeu Peste, ficando muito próxima aos dois. — Cerca de três meses atrás, eu acho. Envenenaram nosso Líder e criou-se um boato que havia sido um dos membros no nosso Esquadrão de Assassinos. Você sabe bem como é, certo? — ela estava fazendo a pergunta diretamente para Mana, demonstrando que sabia muito bem quem ela era. Mana sabia que quando algo desse tipo acontecia, todo mundo suspeitava primeiro dos assassinos, ladrões ou espiões. Fazer o trabalho sujo da Guilda sempre tinha muitas desvantagens. — Isso fez a Guilda se dividir em dois: o lado que achava que a pessoa era de fato, o envenenador, e o lado que achava que ele era inocente. A situação foi piorando até acabar em uma batalha interna. Foi horrível e eu não gosto de lembrar da cena dos meus companheiros se matando.

— LÍDER!

A conversa foi interrompida pelo grito de não apenas um, mas de vários homens vindo de muito ao fundo. De onde Peste estava indo há uns minutos atrás, surgiram de quinze a dezesseis homens e mulheres. Estavam armados. Armas aleatórias, sem padrões. Era o Exército Rebelde.

Agora que San e Mana conseguiram vê-los mais de perto, eles realmente não pareciam ser guerreiros. Uns estavam completamente exaustos e outros nem sabiam segurar as armas direito. O pior de todos era um cara que estava usando a armadura ao contrário. San quase riu quando viu.

— Líder? — perguntou Mana.

— Desculpa, eu não tenho tempo para conversar com vocês. — disse Peste, rapidamente. Ela mudou a tonalidade da voz e demonstrou uma tamanha pressa. Se virou para aquele povo armado e voltou a falar. — Está tudo pronto?

— Sim senhora. — respondeu um deles, que estava mais a frente. Ele parecia mais confiante do que os outros, e usava uma armadura pesada na cor negra com um grande machado nas mãos, sem contar que ele era mais alto e mais robusto, chamando totalmente a atenção. — Já detonamos a bomba e o caminho para o Castelo está livre. Muitos de nossos soldados já adentraram o local e provavelmente estão dentro do Castelo, empurrando os soldados reais.

— Perfeito. Vamos avançar juntos. Preparem-se para invadir! — a voz da garota vermelha tinha acordado o espírito guerreiro dos soldados, fazendo com que todos levantassem as armas e gritassem. Eles se viraram e começaram a marchar de volta para o lugar de onde vieram. — Jimmy, temos que ir.

— Claro. — disse o lutador, se virando para Mana logo em seguida. — Desculpa Mana, mas não posso conversar com você agora. Tenho um trabalho para fazer. Espero poder te encontrar depois em outro lugar para podermos conversar melhor. Vê se não morre no Coliseu, eim?

— Esperem! — gritou a assassina, fazendo Jimmy e Peste pararem para olhar para trás mais uma vez. — Por que vocês estão atacando Riven? O que deu em vocês para atacar o Centro da Aliança do Triângulo do Universo? Vocês deveriam saber que é loucura atacar essa cidade!

— Não temos tempo para explicar nada para vocês. Fiquem fora disso. — respondeu a mulher de vermelho, apressadamente. — Voltem para o Coliseu para não se envolverem em uma guerra que não é de vocês! — ela começou a correr junto com Jimmy para alcançar a tropa que ia a frente. Tinha visto San abrir a boca para falar algo, mas não deu tempo para o garoto se pronunciar.

Aquele garoto estava cravado em sua memória e em seu passado, e vê-lo agora, depois de mais de dez anos, não estava lhe fazendo tão bem. Pelo menos ele estava vivo, coisa que ela sempre sentiu. E pelas suas lutas na arena do Coliseu, tinha ficado tão poderoso quanto ela mesma.

Ele sempre foi uma criança ativa demais e sempre se metia em brigas, então não era de se estranhar que acabasse virando um guerreiro habilidoso no futuro. Ela o viu no Coliseu, mas não o reconheceu de imediato. Foi só no segundo dia, quando ele entrou no ringue pela primeira vez, que ela se tocou. O nome "San" trazia muito impacto para ela, pois era assim que o seu salvador, o homem que apareceu um dia no orfanato vindo do nada para destruí-lo completamente, se nomeou.

As crianças daquele orfanato sempre desejavam a morte. Era o inferno na terra. Maus tratos, comida ruim e escassa, trabalho escravo. Sem tempo para dormir ou sequer descansar.

Ela chegou naquele lugar com cinco anos de idade, logo após seus pais terem desaparecido de sua vida, engolidos pelas chamas da guerra. Ela não lembra por quanto tempo chorou sem parar. Tiraram o seu nome e lhe colocaram em um quarto muito pequeno e fétido, junto com outro guri que ela nunca tinha visto na vida.

E o guri era um maluco, ainda por cima! Passava horas se exercitando dentro do quarto, batendo com os punhos na parede dizendo que iria ficar forte o suficiente para quebrar a parede com um só soco.

Ela o ignorou por mais de uma semana, sem trocar uma palavra. Até não aguentar mais a quietude e puxar assunto. Ela jurava que seria ignorada ou que teria uma resposta típica de um doente mental. Mas ficou assustada quando ele se sentou quieto na cama e começou a conversar com ela normalmente. Aquele foi o último dia que ela chorou.

Eles começaram a trabalhar juntos e se ajudar sempre que possível. No quarto, eles conversavam bastante, isso quando ele não estava batendo contra a parede. Sua amizade foi crescendo pouco a pouco, até o dia que ela mudou de setor no orfanato e foi dormir em um quarto maior, que era repleto de meninas da mesma idade do que ela. Aquilo tinha se tornado seu santuário, pois ela conseguiu finalmente ter um pouco de paz e mais amigos.

Mas ao mesmo tempo, ela foi se afastando do garoto maluco, já que eles quase não se viam. Além disso, aquele garoto nunca se sentava na mesa com as outras crianças e sempre ficava quieto na hora do almoço e janta.

O mais assustador era quando ele apanhava dos adultos. Em vez de chorar e se desesperar, ele olhava fixadamente para a pessoa que estava batendo nele, como se estivesse marcando um alvo para o futuro. E talvez realmente estivesse.

No dia da grande fuga, que foi quando o tal do "San" apareceu muitos anos depois dela ter chego ali, ela tinha se perdido em meio as chamas do orfanato. Fumaça negra para todos os lados. Calor. Fogo comendo sua roupa.

Em meio ao desespero por não conseguir achar a saída, ela acabou vendo o garoto maluco correndo para um lado, com uma pressa divina. Sem ter onde ir, ela o seguiu. Só foi o encontrar na sala da diretora, uma velha que parecia ter o diabo no corpo. A mulher idosa estava caída no chão, envolta de uma poça de sangue. O garoto maluco segurava uma faca larga ensanguentada, e sem ter nenhuma expressão no rosto disse "Eu disse que me vingaria", olhando para o cadáver da velha.

A garotinha entrou em pânico e correu dali, ficando totalmente perdida nas chamas que consumiam o orfanato. Foi aí que ela bateu de frente com aquele homem que a agarrou e a tirou daquele lugar, fugindo para o horizonte sem olhar para trás.

A garota ficou mais de um dia inconsciente e acordou na fazenda de um casal muito simpático, que acabaram lhe adotando. Ela nunca mais viu as crianças daquele lugar, e no fundo do coração, achava que quase todas estavam mortas. Menos aquele garoto com aquela faca. Ela sabia que ele tinha dado algum jeito de fugir de lá. Talvez ele tenha finalmente concretizado seu sonho de destruir uma parede com os punhos? Ela não duvidava de nada.

— Desculpa Senhorita Peste Escarlate, mas já estamos "envolvidos". — disse San, o "Garoto Maluco". Ele estava correndo junto com ela e Jimmy, o que fez ela quase tropeçar e ir ao chão com o susto.

— Mas vocês não me ouviram!? — disse a garota, fora de si. — Querem se envolver em uma guerra de um exército rebelde contra um reino poderoso?

— Na verdade, eu não quero. — respondeu Mana, que também corria junto à eles. — Mas nossos companheiros já foram para o Castelo tentar resgatar duas pessoas e nós temos que ter certeza que eles sairão de lá são e salvos. E se vocês conhecem um caminho mais curto que leva pra lá, então eu não vejo problemas de segui-los.

Peeh, não tente discutir com a Mana. — disse Jimmy. — Quando ela coloca uma coisa na cabeça, ela vai até o final sem mudar de opinião.

A Líder do Exército Rebelde piscou duas vezes e tentou respirar fundo enquanto corria. Ela já estava atrasada. Não tinha tempo para fazer aqueles dois mudarem de ideia. Ela lavaria as próprias mãos. Não foram forçados a vir, então se acabassem morrendo, ela não teria culpa de nada. Além disso, ela não precisava se preocupar com eles se estivessem fora do seu caminho.

Peeh aumentou o passo, com o intuito de alcançar seu pessoal. Ela estava com uma expressão mais séria enquanto olhava para as chamas que se espalhavam pelos telhados do castelo. Ainda não tinha fogo o suficiente para se iniciar um grande incêndio e já havia muitas pessoas do próprio local que jogavam baldes de água, na esperança daquele fogo não se alastrar. Parece que eles estavam conseguindo tal façanha.

O que as forças de seu exército rebelde estavam fazendo que ainda não tinham dominado tudo lá dentro? O Castelo de Riven era de fato gigantesco, mas a essa altura do campeonato, todo o primeiro andar já deveria estar cheio de soldados seus! O que havia mais lá para impedi-los?

— E então, "Peeh". — disse San, chamando a atenção da garota que ia à frente. — Poderia nos dar um resumo rápido do que está havendo aqui?

— Vejo que vocês vão mesmo se intrometer onde não são chamados. — respondeu ela, de imediato. Sua causa era muito nobre e ela tinha feito muita gente ir para o lado dela só por explicar o que estava acontecendo. Talvez, com muita sorte, aqueles dois acabariam querendo apoiar o ataque. Peeh sabia que San e Mana seriam uma adição tremenda em seus planos. E mesmo que não quisessem ajudar, qual seria o problema de contar? Eles não tinham motivo para se juntarem aos soldados reais. Não haveria perda em nenhuma das opções. — Prestem atenção, pois vou fazer só um resumo rápido antes de chegarmos ao muro destruído.

Mulkior corria na frente, com sua parceira logo atrás. Eles haviam chegado à tal porta que levava para o interior do castelo, mas a encontraram arrombada e com alguns soldados reais mortos pelo caminho. Quem planejou o ataque sabia que deveria ser feito uma entrada dinâmica por todas as portas possíveis, ao mesmo tempo. Isso faria o exército real se dividir, diminuindo o poder dos soldados. Pelo jeito, os Soldados Reais caíram direitinho na armadilha.

No caminho, Mumu e Kuchiki tiveram que travar mais duas batalhas rápidas para continuarem avançando. Nenhum dos dois saiu ferido desses dois embates, mas eles usaram um pouco mais de energia, que estavam tentando economizar.

Além dessa "guerra" acontecendo aqui, eles não tinham esquecido que estavam participando de um Torneio no Coliseu, e três horas não seriam o suficiente para curá-los, caso eles usassem toda sua energia mágica ali. Então a situação para eles era mais perigosa do que para os adversários.

Mulkior conhecia bem o castelo, mesmo estando ali poucas vezes. Quantos anos já faz que ele não vem aqui? Cinco? Talvez menos. Mas mesmo que passasse dez anos, ele ainda se lembraria de cada parede, pois nunca esqueceu daquele sentimento intenso quando era criança e visitou esse lugar pela primeira vez. Naquela época, tudo parecia gigantesco para ele. Era tudo muito divertido e impressionante.

Não que tivesse mudado algo hoje em dia. Para Mulkior, esse lugar continuava gigantesco e mesmo o vendo mais de uma vez, ele não conseguia parar de se impressionar com os quadros, estatuetas, candelabros e tapeçaria dos corredores largos do Castelo.

Os dois magos correram até alcançar o corredor do Salão principal, que era o maior e mais largo corredor do local. Aqui, eles viram uma cena absurda demais para ser verdade.

Morte. Foi a melhor palavra pra descrever aquilo. Havia acontecido uma chacina ali. Corpos estavam dilacerados, membros espalhados pelos quatro cantos, sangue pintando cada tijolo das paredes, do chão e até mesmo no teto. Cortinas ensanguentadas e carpete servindo de prato para miolos e músculos. Horrível e horripilante. O cheiro entrou rápido nas narinas dos dois recém chegados, e seus estômagos foram embaralhados no mesmo segundo. Os corpos...

Mumu olhava para os mortos no corredor e conseguiu determinar que todos aqueles corpos eram do exército rebelde. Olhou para trás e viu Kuchi dando um passo tonteado para o lado. A segurou para não cair e perguntou se ela estava bem.

A maga não respondeu de imediato pois estava usando todas as forças para não vomitar tudo o que tinha comido naquela manhã. Ela se segurou em seu parceiro e tentou controlar a respiração, colocando uma mão em frente ao nariz, neutralizando o cheiro poderoso.

Olhou para frente, para Mumu, e finalmente respondeu que estava tudo bem. Claramente não estava. Nem mesmo o mago de ferro estava suportando ficar no meio de uma cena de massacre. Ainda a segurando, Mulkior voltou a avançar, indo na direção que ele sabia que seria a grande porta dupla que levaria para a Sala do Trono.

— Não dê mais nenhum passo. — disse uma voz firme.

Mulkior parou e olhou para frente. Congelou. Medo. CORRA! FUJA! Era o que seu cérebro estava gritando para ele. Pela primeira vez em muito tempo, Mulkior da Garra de Ferro estava tremendo de puro medo.

Bem mais a sua frente, havia uma pessoa parada na frente da grande porta dupla, que seria o objetivo primário do casal. Aquela armadura reluzente, aquela espada. E a aura! A aura era algo impossível de se acreditar.

Kula sentiu um calafrio na espinha tão forte que pareceu que alguém lhe atravessou vinte centímetros de uma lâmina nas suas costas. Uma das primeiras coisas que ela viu foi a lâmina da pessoa pingando sangue e criando uma significativa poça ao lado de seus pés.

— Quem é... Ele? — perguntou Kuchi, se esforçando para que as próprias palavras fossem no mínimo entendíveis. A tremedeira dela também era assustadora.

— Ele é... — Mumu engoliu saliva e esperou mais três segundos para poder continuar falando. — Ele é o General da Brigada Leste do Reino de Riven. Seu nome é Raziel.

— Sabe quem eu sou. — disse Raziel, inexpressivo. — Então deve saber que não tem chances de passar por aqui. Não faça que nem os seus amigos espalhados pelo chão.

— Eles não são meus amigos! — Mulkior estava procurando a coragem que estava escondida atrás das sombras de seu coração. Estava difícil de alcançar. — Não somos soldados rebeldes.

— Mas também não são soldados daqui. — respondeu o General. — Se são civis, então eu lhes aconselho a sair imediatamente do Castelo e se esconder em um lugar seguro, bem longe.

— Não podemos sair! Viemos aqui para resgatar alguém e ainda não a encontramos! Ela deve estar aí no Salão! Deixe-nos passar! — foi a vez de Kula falar alguma coisa. O que tinha lhe dado forças era a força de vontade de seu parceiro.

— Isso eu não posso deixar. — disse Raziel, balançando a espada firmemente, retirando o sangue acumulado na lâmina. — Essa área está proibida. Nenhum plebeu tem autorização para entrar. Voltem para suas casas imediatamente. Isso é uma ordem!

— Raziel... Com que você pensa que está falando? — disse o mago, tentando ser imponente. Ele deu um passo para frente, fazendo o General levantar uma sobrancelha e ficar mais atento. A aura de Mumu estava sendo liberada. Kuchi olhou para o rosto do amado e viu que agora ele fazia uma expressão nervosa. Uma das coisas que Mulkior mais odiava na vida era ser visto como um ninguém. — Meça suas palavras perante mim, General! Você está falando com o filho de Torkeus Musubi, um dos herdeiros da Família Real dos Ferreiros abençoados por gerações de Lordes desse reino!

Raziel mudou para uma expressão incompreendida. Era verdade? Aquele garoto não parecia nem um pouco nobre. Roupas ensanguentas e um pouco rasgadas. E ele tinha ferimentos leves pelo corpo. Era um guerreiro. Claro que o General sabia muito bem sobre a Família Musubi, que por gerações, fizeram um trabalho mais do que excelente para equipar os soldados do exército do reino.

Mas havia uma coisa que fez Raziel não acreditar nas palavras de Mulkior: todos os membros das Famílias Reais carregavam um emblema pendurado em suas roupas, demonstrando da onde eram. O rapaz não tinha nada.

O general apertou os olhos e não diminuiu a intensidade de sua aura. Não iria acreditar na entonação da voz do mago só porque ele parecia ter falado como um verdadeiro nobre riquinho. E foi aí que a grande porta dupla se abriu.

— Eu sabia que tinha reconhecido essa voz! Mumu! — gritou Regi, demonstrando que tinha sido ela que havia aberto a porta. Assim como o casal de magos, ela também foi pega de surpresa pela cena macabra feita naquele corredor.

— REGI! — gritaram Mumu e Kuchi, ao mesmo tempo.

— Algum problema aqui, Raziel? — de trás de Regi, que estava meia indecisa se corria ou não na direção do seu tio e da parceira dele, surgiu um homem um pouco mais alto que o General, vestindo uma clássica vestimenta completa de seda grossa, cor roxa com cinza. Era um nobre da alta realeza, mas esse em específico, não usava colares de ouro ou anéis de diamantes. Mal sabia o General que por debaixo daquela roupagem esnobe, o homem vestia uma pesada armadura de prata.

— SENHOR! — Raziel mudou imediatamente para o modo "obediente", desligando sua aura poderosa e se ajoelhando perante a pessoa em questão. — Esse rapaz está insinuando ser seu filho, Lorde Torkeus.

— Deveria mesmo, já que ele É meu filho. — respondeu o nobre. Sua voz não continha nenhum nervosismo, demonstrando não estar bravo com alguma atitude do General. — Já faz algum tempo, Mulkior. — ele olhou para o mago, que abaixou a cabeça em uma reverência rápida. — Soube que estava na cidade, mas não veio em sua própria casa para nos visitar. Seus anos de viagem o transformaram em algum tipo de marginal sem nenhum apego à Família?

— Nada disso, meu Senhor. — disse o mago, levantando a cabeça de novo para encarar o pai. — Eu pensava em visitar nossa casa assim que vencesse o Torneio do Coliseu.

— Ahahahah! Vejo que não mudou nada. — riu Torkeus. — Entre. Estamos em uma situação emergencial e precisamos de toda ajuda possível até chegar nossa "Cavalaria".

O pai de família virou as costas, voltando para dentro do Salão onde havia um bate papo extremamente intenso. Os nobres estavam todos reunidos em volta de uma das grandes mesas de jantar, mas ao invés de comida, havia um grande mapa do Castelo. Eles planejam uma contra medida imediata.

Regi ficou na porta, esperando os dois magos passarem por ela. Mas antes que pudesse adentrar o Salão, Kula foi parada pelo braço. Olhou para trás e viu que Raziel lhe segurava sem a menor intenção de soltar.

— O filho do Lorde é uma coisa. Mas eu não dei permissão para que você entrasse. — disse o general, com a voz firme novamente. — Quem é você?

— Solte-a! — disse Mulkior, batendo com força no braço de Raziel, o fazendo soltar a maga. O General despedaçador de humanos olhou fundo nos olhos do mago e conseguiu ver a fúria sendo iniciada como uma explosão de calor. Mumu falou com mais intensidade depois disso. — Ela é minha Esposa! E você vai tratá-la do mesmo jeito que trata meu pai!

Talvez houvesse limites para a alteração de cor de pele de um ser humano. As vezes, a roupa que você usa acaba fazendo sua pele parecer mais clara ou mais escura. Geralmente a diferença é tão pequena que você nem nota. Mas quando Kula Chikigane ouviu a última frase de seu parceiro, ela entrou em um vermelhidão nível pimenta malagueta.

Regi, que estava bem ao lado dos dois, nunca tinha ficado com os olhos tão arregalados em sua vida quando ouviu aquilo. Ela quase caiu no chão por puro desequilíbrio. O pai de Mulkior já estava lá dentro e focado em seu trabalho, então não pode ouvir o fato de que, teoricamente, estava para se tornar Sogro de alguém.

Raziel fez uma reverência de desculpas e deu dois passos para trás. Mulkior puxou "sua esposa" para dentro do Salão, fechando as duas portas logo em seguida. Ele poderia ter ficado com medo daquela aura gigantesca que emanava do corpo do General, mas quando o assunto era proteger Kula, o medo se transformava em força.

— Desculpa dizer aquilo, Kuchi. — disse ele, andando em direção da grande mesa.

— Esta tudo bem, eu entendi. — respondeu a maga de fogo, olhando para o chão.

O silêncio entre os dois foi uma coisa óbvia. Regi, que estava seguindo eles de perto, ficou um pouco entristecida ao saber que Mumu só tinha dito aquilo para fazer Raziel colocar o rabo entre as pernas. Ela olhou para Kuchi, que em vez de estar decepcionada, estava com um leve sorriso no rosto, mesmo ficando com a cabeça baixa. "Ah, então é por isso!", pensou a ferreira.

Só com essa cena, Regi já tinha entendido a nova relação entre os dois magos. Foi a vez dela sorrir. Saber que seu tio poderia estar um passo de conseguir a verdadeira felicidade lhe trazia um contentamento sem igual.

A situação no Salão estava complicada. Haviam poucos nobres agora, pois a maioria foi dispensada para voltarem para suas casas por uma rota segura, sendo que o General Leon iria os acompanhar. O Rei não estava mais presente também, pois preferiu ficar em seu quarto com a proteção da Guarda Real.

Tirando isso, todos os membros das Famílias Reais continuaram ali, junto com os conselheiros do Rei. Havia alguém que Mulkior não reconhecia em uma das pontas da mesa, dando um discurso estratégico sobre as defesas do Castelo. Eles chegaram bem na hora para ouvir uma explicação importante.

— Mas nosso maior problema é aqui. — disse o homem magro, apontando em um local específico do mapa. Todos ao redor da mesa acompanharam o dedo do homem, que continuou logo em seguida. — Aqui fica nosso armazém de suprimentos dos soldados. Como todos os nossos soldados foram mandados para a linha de defesa, não sobrou ninguém para cuidar daqui. Analisando o avanço das tropas rebeldes, é possível que eles estejam planejando sabotar nosso armazém, criando uma situação desesperadora. Não podemos pedir para nossos Generais, pois eles já estão com as mãos cheias.

— Ah, desculpa me intrometer, mas... — isso tinha sido Kula se pronunciando. Todos os membros da mesa olharam em direção dela ao mesmo tempo, a assustando. Ela tomou um fôlego e continuou. — Eu posso me voluntariar para ir proteger esse lugar.

— Verdade. Agora que estamos aqui, podemos tomar parte dessa estratégia defensiva. — disse Mumu, complementando sua parceira.

— Não Mulkior, eu preciso de você aqui. — disse o pai do mago. — Raziel precisa ser mandado para a frente de combate para tomar conta da liderança de nosso exército, já que os outros dois Generais estão ocupados. Eu preciso que você seja nosso guarda até os reforços chegarem.

— Está tudo bem, Mumu. — disse a maga, fazendo o parceiro se virar para ela. Ele viu que Kuchi continuava vermelha e sorridente. Ficou perdido em sua beleza por um leve instante. — Eu posso cuidar daquele lugar sozinha. Além disso, eu não sou muito boa em lutar em áreas fechadas como aqui e só iria atrapalhar.

— Mas você nem sabe onde é o local! — responde Mulkior. Na verdade, o que ele queria dizer era outra coisa. Ele queria ter dito "Você nunca vai atrapalhar".

— Sobre isso, eu posso ajudar. — se pronunciou Regi, dando um passo a frente. — Eu posso levá-la até lá e dar cobertura à curta distância para que ninguém se aproxime dela. Mas eu vou precisar de uma arma, já que deixei meu instrumento de trabalho lá na loja. Tem como fazer uma pra mim, Tio?

— Ah, até tenho, mas... Você tem certeza disso, Regi? — disse o mago tio. Sua voz estava cheio de preocupação, porque as duas mulheres que ele mais gostava no mundo estavam indo para um lugar fora de sua proteção. Essa não era a ideia inicial.

— Claro que tenho. — respondeu a ferreira, sem a menor dúvida na mente. — Não se preocupe, eu vou proteger ela no seu lugar. Eu prometo.

Isso não era de hoje, mas Mukior simplesmente não conseguia dizer "não" para Regi. Desde que eles eram crianças, ele sempre fez de tudo para animá-la, e isso era retribuído com um amor de família verdadeiro vindo dela. Antes de sair de casa para virar um Aventureiro, Mulkior foi até ela lhe dizer adeus, o que a fez chorar por uma semana inteira.

Depois que os treinos mais básicos do mago foram concluídos, a primeira coisa que ele fez foi voltar para casa e mostrar o que ele sabia fazer para impressioná-la. No fim, quem saiu impressionado tinha sido ele, já que naquela época, Regi já tinha começado a praticar o dom da ferraria.

Mulkior se aproximou da sobrinha e retirou uma das esferas de metal de sua bolsa traseira. Regi abriu a mão em sua frente e o mago colocou a esfera na palma da garota, deixando o dedo indicador em cima da esfera. E então os dois forçaram a suas auras a saírem de seus corpos.

Kuchiki não estava entendendo o que estava acontecendo. Por que a esfera estava nas mãos da Regi? Não deveria ser ao contrário? A maga tentou lembrar das longas conversas que ela já teve com o parceiro, mas em nenhum desses papos ele chegou a mencionar algo desse tipo. Uma magia nova, talvez? Não. Regi estava fazendo algo muito natural pra ser novo.

Sem saber mais o que pensar, a maga decidiu ficar prestando muita atenção no processo mágico, como uma verdadeira maga deveria fazer.

MAGIA CONJUNTA - TRANSFORMAÇÃO DE METAL - NÍVEL DOIS - MARTELO DE GUERRA!

A energia dos dois se elevaram e depois mandaram tudo para a pequena esfera na palma da mão da ferreira. Assim como as armas de Mumu, a esfera de metal brilhou e começou a mudar de forma. Era algo com um cabo comprido e ligeiramente grosso, com um retângulo duplo preso a ponta, dando a vaga lembrança de um martelo.

Regi analisou a arma visualmente. Não parecia ter sofrido nenhuma alteração desde a última vez que fizeram isso. O peso estava bom e a distância perfeita. Era sua arma preferida.

Ainda houve um certo murmúrio por parte dos outros nobres. Eles teriam que confiar em uma garota totalmente desconhecida para proteger um local tão importante. Era loucura! Mas o Lorde Musubi fez questão de se responsabilizar pelo resultado dessa decisão.

Sem mas delongas, foi pedido à elas que fossem imediatamente, pois o tempo estava contra eles. Dizendo mais uma vez para que tomassem cuidado, Mulkior as viu saindo pela porta lateral esquerda do Salão, sumindo de sua visão.

Ao mesmo tempo, a pessoa que estava na ponta da mesa foi até a entrada do local e, abrindo a porta dupla, deu novas ordens para Raziel ir para o campo de combate tomar a liderança, já que o mago de ferro ficaria em seu lugar. O General obedeceu imediatamente, saindo em disparada logo após.

E foi quando aconteceu. Cinco minutos depois das duas mulheres e do general deixarem o Salão do Rei, outra explosão pode ser ouvida. Só que estava muito mais próximo. Os nobres se alertaram, ficando todos mais próximos da mesa. Enquanto eles puderam ouvir o barulho, Mumu VIU o que era.

Se tratava de uma explosão de média escala. Alguém explodiu a parede lateral do corredor que levava para o Salão. Mulkior, já equipado com sua clássica combinação de espada e escudo, se alarmou e se concentrou. Quando a poeira de sujeira com sangue abaixou, era possível ver o tamanho do buraco que tinha ficado na parede. E alguém "vindo" dela.

Se revelou ser uma pessoa de estatura média, vestindo algo completamente diferente. Ele usava um sobre-tudo preto, fechado na frente e que era grande o suficiente para chegar aos seus pés. Usava uma calça larga também preta, com bolsos laterais na cintura e nos joelhos. Um sapato simples, da mesma cor do conjunto. Usava um óculos de sol, criando uma figura bem única. Cabelo cheinho, penteado para trás e para cima.

— Heh... Lugar certo! — disse o cara.

Kula correu junto com Regi, e a maga não pode deixar de ficar totalmente abismada. Ela sabia que Regi era uma ferreira de nível gênio, mas nunca soube que suas habilidades físicas de combate eram grandes também. No que saíram do Salão e viraram o corredor bem lá no final, um soldado rebelde havia aparecido. Parecia perdido. Mas atacou mesmo assim.

Regi, quase sem nenhum esforço, usou a vantagem da grande distância que sua arma providenciava e bateu na costela da pobre pessoa, acertando pelo lado. O homem que usava uma espada medieval simples caiu no chão e começou a cuspir sangue na mesma hora. Não foi nem preciso finalizá-lo. Elas estavam com pressa e não podiam perder tempo.

Quando elas chegaram fora do castelo, Regi se mostrou mais uma vez extremamente habilidosa com aquela arma. Ela fazia balanços rápidos, batendo nos oponentes antes mesmo deles terem a chance de atacar.

Ah, e quando as duas moças chegaram lá fora, puderam ver que as chamas que consumiam os telhados eram complicadas, mas o problema iria ser resolvido se continuasse assim. Havia muita gente com baldes e eles pareciam quase vencedores contra o fogo.

Não importava agora. As duas correram para trás do Castelo, onde eram guardados a maioria dos suprimentos dos Soldados Reais e dos empregados. Ali, como era um pouco afastado das entradas para o castelo, não havia ninguém, o que fez as duas se tranquilizarem. O armazém estava intacto.

Como elas tinham um tempo sozinhas, Kula decidiu puxar assunto. Falou da Magia Conjunta com Mulkior, dizendo o quanto estava realmente impressionada e que nunca tinha visto algo do gênero. Regi explicou que aquela magia só era possível porque os dois tinham uma ligação sanguínea idêntica, então ficava muito mais fácil controlar a energia mágica para se igualar e criar a arma. Ela também disse que fazendo isso, a arma que Mumu criava não era alimentada por sua energia mágica e sim, da energia do usuário. Kuchi tentou esconder o fato de que sentiu uma pequena inveja dos dois. Ou eram ciúmes?

Mas como o Destino gosta de pregar peças nas pessoas, logo essas duas também foram pegas de surpresa quando uma pequena tropa do exército rebelde marchava em sua direção. Eram quantas pessoas? Sete? Sim. Eram seis atrás e uma mulher na frente, vestida com um clássico kimono branco usado em festivais orientais, em danças ritualísticas.

A roupa era simples e chamativa, mas não tanto quanto a arma da mulher: uma naginata com cabo vermelho e lâmina desenhada. Parecia perigosa. Quando eles se aproximaram das duas mulheres guardiãs, os soldados rebeldes se espalharam e rodearam as duas. Agora elas estavam cercadas. A outra mulher da naginata levantou o braço, como se estivesse pedindo atenção e, depois de uns dois segundos, ela o abaixou de volta gritando:

— Acabem com elas!

Em outro lugar, bem afastado dali, na lateral oeste do grande castelo, um certo grupo de pessoas estavam passando por um buraco ligeiramente grande. Muitos viram a explosão que deu origem ao tal buraco, e muitos viram que mais tropas dos rebeldes adentraram por ali. Mas agora, todos estavam muito espalhados e a guerra consumia aquele terreno. O barulho de lâminas de ferro se batendo e os gritos desesperadores dos soldados de ambas as partes eram os dois maiores ruídos naquele local.

Foi por isso que "ele" demorou pra chegar. Ele foi retirado do seu almoço fora do horário, dizendo que havia uma emergência no Castelo. Ele não acreditou quando o soldado mensageiro disse que era um exército rebelde. Ele terminou de comer apressadamente e correu para o Castelo, só pra encontrar um mar de sangue.

E "ela". Ela estava junto com um certo grupo de pessoas aleatórias e todas estavam passando pelo buraco e entrando para o terreno depois dos muros do castelo. Quando ele a viu, muitas coisas se passaram em sua cabeça. "O que ela está fazendo aqui?", foi a primeira delas.

Não adiantava ficar quebrando a cabeça enquanto rolava o maior quebra pau da história da rebeldia desse povo. "O que uma assassina está fazendo com um exército rebelde?", foi a segunda coisa que ele pensou. Mas antes mesmo dele pensar na terceira coisa, sua mente veio a tona.

— Eu sou obrigado a perguntar diretamente para ela. — disse Bart, ao ver Mana passar por último pelo grande buraco feito nos muros de pedra que rodeavam o Castelo.