Immortal Star

Estratégia contrária


Eu não sei como você deve ter reagido à história que San contou para seus colegas, mas para mim, aquilo era algo de importância mundial. Ainda penso no que aconteceria se o Rei de Deicius tivesse conseguido aquele pergaminho. Talvez nada do que eu irei lhe contar mais tarde tivesse acontecido... Ou talvez você nem estaria aqui.

San tirou aquele peso das costas, mas não foi por isso que ele se sentiu mais relaxado. Na verdade, pareceu que ele simplesmente devolveu o pergaminho a Mochizuki sem nem pensar duas vezes, mas ele se remoeu muito por saber que aquilo poderia ser o alvo de outro massacre.

E ele não era o único com problemas em suas mentes. Durante aquela época, muitas pessoas estavam tendo uma batalha interna de pensamentos, com as quais, suas conclusões poderiam levar todo o mundo ao caos e desordem. Vou começar essa parte falando mais ou menos sobre isso.

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Katherina tropeçou em um dos tubos ligados as câmaras de contenção e quase foi ao chão com sua prancheta de madeira . Ela odiava aquilo. Adorava o ar que o laboratório lhe trazia, pois acordava seus sentidos de cientista, levando seu sangue a altas temperaturas e lhe proporcionando um êxtase maior do que a adrenalina real. Mas odiava ter que andar para lá e para cá, passando por tubos, fios, pessoas, pessoas, pessoas e mais pessoas.

E como tinha gente ali! Katherina já esteve em todos os grandes Laboratórios Arcanos do mundo, mas aquele ali era o dobro do maior que ela já tinha entrado. Quantas pessoas aquele local abrigava? Um milhão?

A mulher ignorou o nervosismo e continuou andando. Tinha trabalho para fazer. Trabalho muito importante. O mais importante da sua vida, para ser mais exato. Ainda apressada, ela ignorou o "Boa tarde" de dois outros cientistas que passaram por ela nos grandes corredores de metal. Quando ela tinha pressa, ninguém conseguia falar com ela. Para ela, um segundo perdido poderia ser fatal.

Abriu as portas duplas que a levavam para a grande sala onde trabalhava. Ela deu uma rápida olhadela para os quatro cantos da sala, contando as pessoas. Eram seus ajudantes e auxiliares.

Sua sala era prazerosamente grande. Tudo ali era grande. E na sala, o barulho de água correndo e o maquinário ligado a mil por hora fez seu espírito ascender. Quase todos já haviam chegado e já estavam trabalhando. "Ótimo!", pensou ela. Era assim que ela gostava de ver. Ninguém sentado numa cadeira fumando ou mexendo no próprio nariz. Todos trabalhando, focados.

Menos um. Havia um homem baixo, com os braços cruzados, perto da escrivaninha que ela mesma usava. Parecia estar lhe esperando. Tinha uma cara de sono e estava vestindo roupas apertadas, num tom cinza claro enjoativo de se ver. Tinha uma faixa branca na cabeça, luvas de pano do mesmo conjunto do que a roupa e uma grande bolsa em suas costas.

Katherina sabia muito bem quem era, e foi por esse motivo que sua cara se fechou em uma total expressão de desânimo.

— O que você faz aqui, Plutão? — perguntou a mulher, engrossando a voz e se aproximando lentamente do homem.

— Meça suas palavras, mulher! — respondeu o homem, descruzando os braços e se aproximando de Katherina, ficando cara a cara. — E eu já disse pra você usar o meu nome real quando estivermos na Capital!

— Não estou interessada nas coisas que você disse ou ainda vai dizer. Então faça-me o favor e saia já daqui. — Katherina passou por Plutão, ignorando a vista grossa do homem e se dirigiu até a sua própria escrivaninha, largando a prancheta.

— Você anda muito folgada, moça! Já se esqueceu que foi por minha causa que você está trabalhando aqui?

— Não, não esqueci. — disse ela, se virando novamente para encará-lo. Ela odiava esse tipo de conversa. E o tempo estava passando. — Mas o que isso tem a ver com o suposto motivo de você estar aqui agora atrapalhando o trabalho que "você" me deu?

— Eu estava em missão no Leste e cheguei na Capital só hoje cedo. Então decidi vir aqui ver como estão as coisas. Sabe que eu não gosto de ser deixado de fora das novidades, não é? — Plutão sorriu quase forçadamente, o que deixou a mulher cientista ainda mais nervosa.

— Estão excelentes. — Katherina fez uma contagem de um até dez mentalmente, para tentar se acalmar. Ficar nervosa antes de começar o seu trabalho não lhe ajudaria em nada. Ela sempre fazia essa contagem quando precisava enfrentar pessoas que ela considerava chatas ou burras. Sempre dava certo. — A fabricação das Runas teve que ser triplicada nesses dois últimos dias. A aquisição de energia está fluindo tão bem, que conseguimos obter mais uma sala cheia de capsulas de conservação só para nosso projeto.

— Uau! Finalmente estou ouvindo boas notícias!

— Que bom saber que gostou. Agora saia. Nosso trabalho hoje vai ser duas vezes mais complicado porque iremos receber energias demais e isso pode sobrecarregar os nossos geradores.

Plutão deu um sorriso e descansou os ombros. Ele sabia que a mulher odiava mesmo ser atrapalhada durante o serviço, mas ele não tinha muita culpa, pois esse era o único horário que ele tinha livre para poder ir vê-la. Ele também fazia parte de todo essa parafernália que estava acontecendo na Capital, mas preferiria não ter dedo seu no meio daquela coisa científica ali.

Ele deu as costas e começou a caminhar em direção à única porta da sala, que estava sendo aberta naquele momento. Os outros dois cientistas estavam chegando para começarem seus respectivos trabalhos. Eles já vieram preparados para receber um sermão daqueles da chefe encarregada. Mas tiveram a sorte de que ela estava com a atenção em outro lugar. Aliás, em outro "alguém".

— Espere! — disse ela, se virando. Isso fez Plutão parar de caminhar e se virar para a mulher. — Como assim "finalmente boas notícias"? O que aconteceu lá no Leste?

— Quer mesmo saber? — Plutão mudou de expressão imediatamente. Toda a palhaçada tinha sumido. A aura do homem também chegou a mudar de cor. Katherina deu um passo para trás por puro instinto e levou a mão direita no bolso do seu jaleco. Era a reação normal quando ela se sentia em perigo. Sua velocidade de reação era fantástica. Mas ela logo retirou a mão do bolso e não pegou o que ali estava guardado. Plutão diminuiu a intensidade de sua aura e fechou os olhos antes de continuar falando. — O Reino de Lazetna está querendo continuar seu avanço de conquista pelo litoral. Eles já conquistaram Groman e Feital, e devo dizer que nem se esforçaram muito pra isso. Mas o problema vem agora. A próxima cidade que eles pretendem atacar será...

— ARKNAR! — gritou a mulher, pois já tinha um grande conhecimento do mapa do mundo e já imaginava qual seria o destino daquela conversa. — Eles vão atacar uma capital grande daquelas? O Rei Rildegard enlouqueceu!

— Você não viu nada. Ele está com uma cara de maluco mesmo. O pior foi o que ele me disse quando cheguei avisando que ele estava preste a criar confusão com "a gente". Ele se virou para mim e disse: "Deixe seu pessoal fora dos meus assuntos, ou meu Reino vai quebrar a Aliança!".

— O quê? — Katherina fez uma expressão engraçada, fazendo Plutão se segurar para não rir. — Como eles ousam nos desafiar?

— Aquele Reino está perigoso demais. — disse ele, dando as costas mais uma vez. — Haverá uma guerra em grande escala entre Lazetna e Arknar, e nós fomos ordenados a ficar de fora. Não pelo rei maluco, claro. Mas sim por nosso Comandante. Querendo ou não, lá não é o único lugar que tem problemas, não é? Além disso, as coisas por aqui vão ficar complicadas logo. Acho que nosso "Príncipe" não passa de hoje.

O homem finalmente voltou a caminhar em direção à porta, deixando a cientista com aquela expressão de impressionismo. Ao sair de sua visão, Katherina decidiu ignorar esse fato também. Era algo importante, mas não era trabalho dela se preocupar com guerras de outros países. Mesmo que fosse sua cidade natal em risco, ela ainda seria obrigada a ficar em sua atual posição, só rezando o quanto podia para que sua família não fosse consumida pelo fogo da guerra.

Mas muito tempo já havia passado. Ela se virou e gritou alto com os dois últimos cientistas que chegaram atrasados. Eles tinham achado que haviam escapulido da atenção da Chefe do Setor. E agora, de volta ao trabalho.

Mana foi a primeira a pisar no ringue. Ela conseguia ouvir seu nome sendo gritado em alguns cantos do Coliseu, mas não estava com cara e nem com vontade de responder à torcida deles. Ela se lembrou novamente que estava sem sua arma especial. Seria uma batalha complicada. Não impossível, claro.

Ela olhou para trás e viu San subindo no ringue, bem lentamente. Nesse momento, ela havia percebido uma coisa horripilante: San não estava bem. Óbvio que não estaria! Ele ficou totalmente quebrado na luta de ontem e como ele mesmo tinha dito no dia anterior, um dia não era o suficiente para que ele se recuperasse dos ferimentos. Ela sabia bem, porque a batalha dele tinha sido tão intensa quanto a dela... E olha que ele ainda teve que lutar três vezes seguidas!

— San, você está machucado ainda, não é? — disse Mana, depois de chegar bem juntinho ao garoto. Ela não queria que ninguém ouvisse o comentário.

— Sim, ainda estou dolorido. — respondeu ele, no mesmo nível de voz. — Meu peito principalmente. Aquele último golpe da Momo me pegou com a guarda baixa e me causou muitos danos. Mas não se preocupe, isso não vai fazer com que minhas habilidades diminuam.

Mana decidiu não continuar aquela conversa. Ela se afastou dele e foi até perto do centro do ringue, para esperar a luta se iniciar. Alongou os braços e desembainhou a sua arma padrão. Olhou para o lado, para San, e viu que ele tinha colocado as mãos nos bolsos de novo.

É aqui que começaria a complicação. O jeito de lutar dele com certeza atrapalharia a sua concentração, e a assassina sabia que não adiantaria nada reclamar com ele. Ela precisaria dar um jeito de atacar os dois inimigos sem se preocupar com a ajuda de San.

San, por outro lado, pensava diferente. Ele sabia que iria resistir a menos ataques do que normalmente aguentaria, então ele precisaria usar uma grande quantidade de energia para aumentar sua velocidade de movimento e estar preparado para se esquivar em vez de defender. Ele já sabia como Mana "trabalhava", então isso facilitava a criação de uma estratégia contra os seus oponentes. Mas primeiro, ele precisava analisá-los.

Os dois oponentes tinham entrado no ringue ao mesmo tempo, chegando até suas posições de espera em tempos diferentes. O garoto chegou primeiro, levantando a cabeça com orgulho. Ele pareceu respirar fundo.

A análise de San começava aqui. Ele viu que o garoto oponente estava animado, então ele provavelmente seria o primeiro a atacar. Ele carregava um arco cinza metálico, algo provavelmente feito em um ferro facilmente dobrável, com uma aljava de flechas muito bem acoplada em suas costas. "Um arqueiro.", pensou San. Ele vai lutar de longa distância, o que já começava ruim. San e Mana eram lutadores de curto alcance, e por mais que os dois tinham golpes a longa distância, nenhum deles poderia se focar nisso.

Reita era o nome dele. San não precisaria que o Apresentador tivesse o anunciado, porque no momento que ele colocou os pés no ringue, milhares de vozes femininas começaram a gritar seu nome. O cabelo do arqueiro era negro e brilhoso, penteado um pouco para cima, criando um topete que muitas mulheres achavam charmoso. Ele era um galã.

Reita levantou os braços, saudando seus fãs ao redor do Coliseu, o que fez a gritaria se intensificar. San não precisou analisar a roupa dele, pois já tinha criado um tipo de definição padrão por causa da Classe dele.

Agora a mulher. Kiirara era o nome dela. Inicialmente, San foi obrigado a admitir que os gritos de muitos homens faziam o total sentido. Ela era bonita e as roupas que usava acordariam o espírito galanteador de qualquer homem no mundo. Ela não se vestia com tanta "coragem" como Lumi, mas ainda sim, eram roupas bem típicas no quesito "sensualismo".

Ela vestia um tipo de camisa de manga cumprida, e uma calça larga, ambas de seda fina e ambas... Transparentes. Não tinha nem uma corzinha para poder se descrever. Era possível ver claramente sua calcinha e seu sutiã, que não podiam ser considerados como "normais". As duas peças de roupas eram forradas com cristais dourados, criando provavelmente a roupa íntima mais cara do mundo.

Não era só naquele local que a garota liberava pequenos brilhos. Ela ainda tinha duas pulseiras brancas com diamantes e uma tiara pequena dourada que provavelmente valeria o triplo do preço das roupas de todos os membros do time adversário.

Antes que San pudesse se perder nas curvas da garota, ele olhou para o lado e viu Mana o encarando com fervor.

— Tarado.

San quis cair na gargalhada com a frase de uma única palavra de Mana, mas decidiu deixar isso para depois da luta. E que para falar a verdade, a primeira a encarar Kiirara tinha sido Mana, e não o garoto. Mas claro, não era porque Kiirara era bonita, e sim, porque Mana já tinha visto aquele tipo de vestimenta antes, em algum lugar. Onde?

A assassina colocou o cérebro para trabalhar, e ele precisaria ser rápido, pois a luta estava preste a começar. Em sua antiga guilda? Não, não. Se fosse, ela saberia na hora, sem precisar se concentrar nisso. Era em algum lugar grande... Um castelo, talvez. Mas o que elas faziam? Espera... "Elas"? Eram mais de uma então. Sim, ela já tinha visto! O que elas faziam? O que elas faziam, droga!

Lutadores apostos! COMEÇEM! — gritou Pablo, sendo acompanhado por milhões de vivas dos torcedores que não aguentavam mais esperar e o som de uma corneta que era ouvida em todo Coliseu.

Houve uma explosão no ar. As quatro auras diferentes no ringue foram espalhadas e quando se chocaram, houve uma série de raios e efeitos mágicos gritantes. San havia tirado as mãos do bolso e se preparado para correr na direção do arqueiro. Mana ficou em posição defensiva, querendo achar uma abertura do primeiro ataque de algum dos dois oponentes.

Mas não houveram ataques iniciais. Reita e Kiirara deram um grande pulo para trás, ficando bem afastados um do outro e principalmente, afastados dos seus oponentes. Isso era ruim, e a dupla da Immortal Star sabia bem disso.

Reita foi realmente o primeiro a agir, como tinha imaginado San. Ele puxou três flechas ao mesmo tempo de sua aljava e os colocou em posição no arco, concentrando energia mágica. Antes mesmo que ele pudesse disparar, San já estava correndo em sua direção, pronto para lhe acertar um soco lateral em sua cabeça. Reita deu mais um pulo para trás ficando exatamente na posição que ele queria.

DISPARO TRIPLO!

As três flechas energizadas foram disparadas em grande velocidade contra San, que estava em uma posição bem desequilibrada naquele momento. Mesmo com isso, ele impulsionou o corpo para frente, se esquivando do golpe por muito pouco. Antes de se preparar para avançar de novo, ele olhou para Reita e o viu sorrindo. Por quê? Ele havia errado o golpe, então por que ele estava... MANA!

Houve um barulho de metal encontrando metal bem atrás de San. O garoto olhou para trás e viu Mana acabando de movimentar o braço verticalmente. Tinha sido um golpe traiçoeiro. Reita fez San ficar exatamente na linha de disparo entre ele mesmo e Mana. A ideia não era acertar o garoto, e sim, a assassina.

Mas parece que a mesma assassina havia percebido o movimento e aparou as três flechas de uma única vez. Ela não era tão boa em analisar magias como Kula, mas só por esse golpe ela já tinha conseguido definir que a intensidade dessas flechas não era brincadeira. A cota de malha fina de Mana não iria segurar uma flechada dessas.

Ela olhou para San querendo lhe gritar algo como "Presta mais atenção, seu tarado!", mas como San já tinha partido mais uma vez para o ataque, Mana decidiu se concentrar na outra oponente em campo que estava... Dançando?

Kiirara estava rodopiando em passos precisos, enquanto um círculo de energia mágico era criado ao redor de toda a arena de combate. Dança! Era isso que Mana estava tentando lembrar! Kiirara se vestia como uma das Dançarinas reais de um certo Reino! Foi uma boa conclusão, mas tinha sido tarde demais para poder evitar o próximo golpe.

QUINTO PASSO, AFOGAMENTO!

Aquela energia toda que estava rodeando o ringue se intensificou, atingindo o corpo de San e de Mana. Eles sentiram que foram atingidos por algo, mas não sentiram dor alguma. San, que estava correndo na direção de Reita, parou e analisou o próprio corpo. Havia uma estranha e sinistra aura de cor azul envolvendo seu corpo. Aquilo não era sua energia.

Ele olhou para o lado e viu que Mana também estava envolvida pela mesma aura e que também analisava o próprio corpo, não sabendo o que tinha acontecido. Sua percepção lhe chamou. San olhou para frente e viu Reita disparando uma flecha, dessa vez sem ter energia alguma, em sua direção.

A flecha voava rápido, mas não rápido o suficiente para que ele não conseguisse se esquivar. A flecha voou contra a cabeça de San, mirada no meio de sua testa. Era um golpe mortal, se tivesse sido acertado. San colocou a cabeça para o lado, calculando perfeitamente o tempo de impacto. Mas ele errou esse cálculo.

A ponta da flecha lhe arranhou o rosto, retirando uma grossa linha de sangue que começou a pingar em sua roupa. Como? Não era possível! A velocidade não era grande e a reação do garoto tinha sido perfeita! Mas se ele deixasse a cabeça onde estava por mais um segundo, sua vida teria ido embora!

— Olha só... — começou Reita. — Incrível você conseguir se esquivar, mesmo por um pouco, de uma das minhas flechas depois de ter sido pego na habilidade da Kiirara.

San começou a raciocinar rápido. Olhou para Reita, depois para seu próprio corpo. Se virou e viu Mana com a mesma aura envolvente que ele tinha. Se virou de novo e viu Kiirara dançando e liberando energia ao redor do ringue. Depois, era só fazer as contas. Querendo ou não, qualquer pessoa que já tenha passado por inúmeras batalhas poderia entender facilmente aquele cenário ali. Entender era uma coisa. Evitar... Já eram outros quinhentos.

— Mana! — disse San em um alto tom, para ser ouvido claramente pela parceira. — Aquela guria está usando o ritmo dos passos para manter um Campo de Efeito ao redor do ringue! Isso vai afetar nossos sentidos e diminuir nossa força! Faça ela parar de dançar o mais rápido possível!

— Eu já sei disso!

A assassina começou a correr em direção à Kiirara, parando de se preocupar com a tal aura que lhe envolvia. No momento que deu o primeiro passo avante, Mana levou a mão na bolsa de adagas de sua cintura e atirou duas. A estratégia do envenenamento nunca era ruim de ser usada, principalmente agora que Mana estava sem suas Katars.

A dançarina não parou a dança, nem para se esquivar. Aliás, ela usou a dança justamente para poder se esquivar das duas adagas voadoras, assim não precisando "desligar" sua magia. Mas ainda havia o fato de que a assassina estava avançando em sua direção sem piedade. Ela já tinha chegado, mais especificamente falando.

Mana mirou nas pernas da garota, pois sem aquilo, ela já não conseguiria manter a dança. Kiirara colocou uma perna para trás e puxou o corpo junto com ela, se esquivando do ataque inicial de sua oponente. A assassina sanguinária forçou o avanço mais uma vez usando um ataque alto, balançando sua kodachi verticalmente na altura da testa de Kiirara. E essa conseguiu se esquivar de uma forma bem anormal, jogando o corpo para baixo, mas sem cair.

Mana se irritou e deu um ataque duplo, mirados no estômago e na perna direta. O primeiro passou de raspão, arranhando o corpo quase perfeito da dançarina. O segundo foi parado na metade, pois Kiirara calculou a velocidade de ataque de Mana e antes mesmo que essa pudesse aplicar o golpe, a perna da dançarina já tinha sido levantada, acertando um chute no braço direito da assassina.

Mana deu dois passos para trás. O chute em seu braço tinha sido preciso, mas não forte. Isso, Mana já tinha imaginado. Mesmo que ela pudesse ser rápida e maleável, uma dançarina daquelas não teria força para lhe danificar fisicamente. Ela apertou a kodachi na mão e atacou de novo.

DISPARO TRIPLO!

Enquanto Mana partia para cima de Kiirara, San partia contra Reita. Ele tinha se aproximado e tentado acertar um chute reto no estômago do arqueiro, mas mais uma vez, Reita foi evasivo e recuou para longe. Concentrou energia e usou sua habilidade novamente, disparando três flechas na direção de San.

A velocidade das flechas eram a mesma de antes, mas dessa vez, San não ganhou apenas um pequeno arranhão no rosto. Ele jogou o corpo para o lado, calculando sua esquiva. Mas mais uma vez, esse calculo demonstrou ser ineficiente. A primeira flecha cortou sua perna, a segunda cortou seu braço esquerdo e somente a terceira tinha sido perfeitamente esquivada. Os dois cortes não tinham sido leves e mais sangue começou a pintar a roupa clara de San.

Reita sorriu, sentindo sua estratégia funcionar devidamente. Ele nem precisava se preocupar com o bem estar de sua parceira, pois sua estratégia previamente criada tinha ficado excelente, e enquanto os dois a seguissem, um poderia cuidar do outro sem nem olhar para os lados.

O arqueiro preparou mais uma flecha em seu arco, mirando o lado esquerdo do peito de San. Essa luta não seria longa. Reita calculou a velocidade de seu oponente e colocou sua mira um pouco mais para o lado, esperando que San se esquivaria para aquele mesmo determinado local. Seria uma surpresa e tanto. O arco foi puxado com vontade e a flecha foi disparada em grande velocidade.

DESLOCAÇÃO DE TEMPO FUTURO!

San fez sua energia mágica sair de seu corpo, criando o já visto relógio de energia embaixo de seu corpo. O relógio fez os dois ponteiros girarem loucamente, tirando a aura de cor azul que estava impregnada em seu corpo e dando espaço para a nova aura branca de sua própria energia.

A flecha ainda estava voando em direção do seu peito. Mas dessa vez, ele não tinha sido atingido. San parou a flecha em pleno voo, com as mãos nuas. Quebrou a flecha no meio e a jogou no chão, olhando fixamente para Reita no segundo depois. O arqueiro sentiu um arrepio. O olhar de seu oponente tinha mudado completamente. E ele tinha sido muito esperto de ter anulado a magia de Kiirara usando sua própria magia.

Mas não iria adiantar muito, pois Kiirara poderia manter o seu Campo de Efeito por horas e ele sabia que San não aguentava muito mais de que cinco minutos com aquela magia. Não era porque San não era treinado nisso ou algo parecido, e sim, que qualquer magia de reforço tinham um tempo reduzido. Ele não precisaria temer enquanto conseguisse se manter longe dele e continuasse atirando flechas sem parar, até o efeito da magia dele ter acabado! Simples!

ESTILO DO DRAGÃO, PUNHO DA DESTRUIÇÃO!

Dor. Reita voou alto e para muito longe depois de sentir uma terrível dor na região alta do peito. Ele sentiu outra dor nas costas depois que caiu com elas no chão fora do ringue, tirando seu ar por um segundo. Era óbvio que ele e nem ninguém mais da plateia houvessem entendido o que havia acontecido ali, mesmo que a tal plateia estivesse gritando sem parar.

O arqueiro se virou no chão e começou a tossir fortemente, levando a mão no peito. Reita usava uma cota de malha de ferro por baixo da roupa, e tinha sido aquilo que tinha lhe salvado de perder os ossos da frente do corpo. Quando conseguiu ficar de pé, o Telão Informativo já estava na contagem de "7".

Mana e Kiirara também não viram o que tinha acontecido, pois estavam focadas uma na outra. Não poderiam tirar os olhos do oponente nem por um segundo.

O que San fez tinha sido bem simples, na verdade. Depois de quebrar a flecha e olhar para seu oponente, ele se abaixou e colocou energia em suas pernas para dar um impulso único na direção dele. E como o corpo dele ainda estava sob os efeitos da magia de suporte, San se movimentou praticamente na velocidade da luz. Em milésimos de segundos ele já tinha conseguido chegar na frente de Reita e no momento seguinte, passou uma certa quantidade de energia vital para o braço e usou seu golpe padrão de destruição. Acerto direto.

San estava de joelhos no chão, respirando rapidamente. Ele precisava tomar o fôlego de volta por ter usado muita energia de uma vez só.

E enquanto isso, Mana não estava querendo dar trégua para sua oponente. Tinha atacado uma, duas e três vezes, com cortes rápidos e precisos, mas todos esses golpes foram defendidos por Kiirara, que conseguia atacar o braço de Mana antes do ataque ser dado. A assassina entendia que aquele Campo de Efeito estava diminuindo sua velocidade de reação, fazendo Kiirara ter tempo para atacar entre os ataques de Mana.

A dança não havia parado e a usuária não parecia estar cansada de dar piruetas dignas de uma apresentação teatral. Um outro embate entre as duas mulheres aconteceu. Mas houve uma diferença dessa vez.

Mana partiu para cima usando um corte vertical começando muito de cima. Isso era um erro tremendo, porque aumentava muito o tempo de ataque, dando um segundo precioso para seu oponente reagir de uma forma apropriada. Foi isso que aconteceu.

Kiirara percebeu o erro da oponente na hora, e ignorando o ataque completamente, deu mais um passo de sua dança e avançou para frente de Mana, lhe acertando uma joelhada no estômago. Mana caiu no chão depois de dar quatro passos imprecisos para trás, totalmente atrapalhada.

Kiirara esta pronta para soltar um leve sorriso, mas foi aí que ela sentiu uma picada nas costas. Isso fez a dançarina parar de se mover pela primeira vez durante a luta. Ela levou a mão esquerda para trás e sentiu três agulhas grudadas fundamente em suas costas, na altura do ombro.

Como? Aliás... Quando? Kiirara sabia que aquilo era coisa de sua oponente, mas ela não a viu disparando as agulhas em nenhum momento. A não ser... Não! Não podia ser! Mas era a única explicação!

— Você levantou o braço alto demais de propósito para eu me aproximar! — disse Kiirara, arrancando as três agulhas das costas e as jogando no chão logo em seguida. Ela sentiu uma dor momentânea, mas nada demais. — Aquilo foi uma finta pra eu não ver seu ataque com as agulhas!

Mana não respondeu nada. Ainda no chão, ela levou a mão em mais uma de suas adagas na sua bolsa e atirou contra a cabeça da dançarina. Não havia mais nada diminuindo sua velocidade, pois como Kiirara havia parado de dançar, toda o Campo de Efeito havia sumido. Era a regra que essa magia deveria seguir. Ela era uma magia com uma área gigante e afetava quem o usuário quisesse, mas ela deveria ser mantida ativa o tempo todo, consumindo pouco a pouco de sua energia mágica.

A adaga voou rapidamente, mas errou o alvo. Kiirara tinha dado outro pulo para trás, amedrontada. Ela não poderia abaixar a guarda por nada nesse mundo, ou acabaria morta. Olhou para os lados e não viu Reita. Ele não estava no ringue? Ela olhou para o Telão Informativo que mostrava o número "4", e como San era o único que estava no ringue ainda, ela automaticamente deduziu que seu parceiro tinha sido derrubado. Foi então que ela o sentiu.

Reita, depois de se levantar do chão, não voltou imediatamente para o ringue. Ele correu por fora do ringue, circulando o local de luta. Ele tinha chego exatamente atrás de sua parceira e, vendo que ainda tinha tempo, começou a concentrar energia mágica. A dor no seu peito não tinha diminuído nem um pouco, e correr logo após ter sido atingido tinha sido uma péssima ideia. Agora era tarde para se arrepender.

Kiirara já sabia o que tudo aquilo significava. Ela viu Mana ficando em pé novamente, mas ignorou completamente a assassina naquele momento. Mais uma vez, ela voltou a dançar. San olhou para o lado e percebeu que Reita ainda não tinha entrado no ringue, mas estava se preparando para usar alguma magia. O garoto tomou fôlego e começou a correr também.

TERCEIRO PASSO, PARALISIA!

Não tinha dado tempo. Kiirara liberou mais uma vez aquela aura por todo o ringue, criando mais uma vez um Campo de Efeito. Mas esse era claramente diferente. A cor era de um amarelo vivo, quase chegando a um laranja. Os corpos de Mana e San foram pegos mais uma vez por aquela aura sem eles poderem se defender. Era uma magia complicada de se livrar exatamente por ser indefensável na prática.

No mesmo momento que foi pego na magia, San parou de correr. Ele se sentiu estranho e ficou olhando para baixo. Suas pernas não obedeciam. Não muito longe dali, Mana tinha acabado de sentir o mesmo. Ela estava pronta para avançar contra Kiirara mais uma vez, mas suas pernas estavam congeladas.

E foi quando o Telão Informativo contou "1", que Reita subiu de novo ao ringue, fazendo a própria contagem sumir para dar continuidade a batalha. Reita estava com muita energia mágica concentrada e estava pronto para usar tudo de uma vez em uma única magia.

CHUVA DE FLECHAS!

O arqueiro passou toda aquela energia concentrada para a flecha que já tinha sido puxada e mirada em seu arco. Ele levantou os braços, mirando a flecha para cima e no segundo depois, disparou. A flecha, brilhando como um diamante recém polido, subiu até uma certa altura e depois explodiu. Foi como ver fogos de artifício. Mas ao invés de vermos as outras explosões seguidas, acabamos vendo milhões de flechas de energia sendo criadas e caindo ao mesmo tempo em todo o ringue.

San e sua parceira assistiam tudo de camarote. Mas era uma visão terrível. As flechas iriam cair sob suas cabeças e eles não poderiam pular para os lados para evitá-las, já que nenhum dos dois conseguia sentir as pernas. Realmente uma estratégia perfeita. Primeiro eles eram paralisados e depois eram acertados por cima.

As flechas de energia caíram sem demora em cima dos dois. Mana e San levantaram seus braços para proteger a cabeça, e logo começaram a sentir dores iminentes das flechas perfurando seus braços e arranhando seus corpos. Eram muitas e nenhum dos dois conseguiu contar quantas tinham lhes atingido. No fim da magia, os dois caíram de joelhos, criando pequenas poças de sangue no chão branco do ringue.

San era o que mais se sentia ferido, já que ele já tinha usado uma de suas magias, lhe tirando uma certa quantidade de energia vital. Bart, que estava lá em cima em seu velho local de comentarista, disse que estava impressionado com o ritmo dessa luta e que essa tinha sido uma estratégia muito bem trabalhada. É claro que depois de ouvir isso, os espectadores os salvaram com gritos e palmas.

Mumu e Kuchiki, que já estavam tensos o suficiente, depois que viram o golpe sendo acertado em seus dois companheiros de equipe, entraram em um mini desespero. Eles não tinham entendido o porque os dois não tinham tentado esquivar, mas não demorou muito para a maga dizer que era bem possível que eles estivessem paralisados devido a magia da tal Kiirara.

— Os dois estão em uma grande desvantagem! — dizia Mulkior Musubi, se referindo obviamente aos dois membros de sua equipe que estavam ajoelhados no chão do ringue, tentando recobrar as forças para se levantarem. — A dupla do time adversário já entrou no ringue sabendo o que fariam! Eles vieram preparados para uma situação dessas!

— O trabalho em equipe dessa Guilda é realmente impressionante. — respondeu Kula, presa à borda da arena, doida pra pular para cima e ir salvar os dois amigos. Era bem possível que ela ficasse assim em todas as próximas lutas. — Agora eu lembrei... Eu já trabalhei para a Key of Gold uma vez!

Antes que a maga conseguisse falar mais alguma coisa, Reita e Kiirara tomaram novas posições de combate. Isso fez Mumu e Kuchi voltarem toda a atenção para o ringue novamente.

A vontade do arqueiro e da dançarina era acabar de vez com toda essa dor que seus oponentes sentiam. Eles seriam derrotados agora. "Eles são bons, mas tiveram azar de nos ter como inimigos.", pensava Reita. Sua parceira pensava em algo parecido e parecia que finalmente tinha demonstrado o leve sorriso em seu rosto. Ela adorava a sensação da vitória.

Kiirara continuou dançando o mesmo passo, para manter os dois oponentes paralisados. Agora Reita só precisava disparar de novo e finalizar um por um. Fácil como sempre foi.

Não para Mana. A assassina sabia que sua vida corria perigo, pois sem poder se aproximar dos oponentes, essa batalha já estaria perdida. San parecia estar mais machucado e ainda estava sem fôlego, então cabia a ela fazer alguma coisa.

O arqueiro caminhava lentamente na direção de San. Provavelmente tinha decidido acabar com a vida dele primeiro, atirando uma flecha à queima roupa. Ela precisava agir AGORA. Mas o que faria? Kiirara tinha um corpo altamente treinado para ser maleável, o que a fazia poder esquivar de qualquer projétil disparado contra ela. Então atirar agulhas ou adagas não iria adiantar. A não ser... ISSO!

Mana teve uma ideia. Quis se culpar por não ter tido essa ideia mais cedo, mas agora não era hora pra isso. Ainda de joelhos no chão, ela começou a trazer energia mágica para seu corpo. E era uma boa quantidade. Era uma quantidade grande o suficiente para fazer Reita parar de andar e se virar para a oponente, ficando em uma posição defensiva. Mas ele não era o alvo de Mana.

SOMBRA DE LOKI!

A assassina levou a mão em sua bolsa de adaga mais uma vez, retirando apenas uma das armas afiadas que ali estavam. Passou a energia concentrada para a pequena lâmina e mirou em Kiirara, que olhava para ela com espanto. Todos a olhavam da mesma forma. Quem iria imaginar que ela já pensaria em atacar logo depois de levar tanto dano de uma só vez? E ainda por cima, não parecia uma magia qualquer.

Kiirara não poderia parar de dançar, mas ficou preparada para se esquivar a qualquer momento. E então, Mana disparou a adaga com toda a força que tinha.

A adaga voou baixo. Tinha sido mirada nas pernas da dançarina, mas essa mesmo dançarina já estava preparada. Era óbvio que eles tentariam sempre atingir suas lindas e bem treinadas pernas. Era estratégia padrão atingir seu inimigo onde ele mais vai ser negativamente afetado. Para uma dançarina, suas pernas eram suas armas assim como um arco era para um arqueiro. Sem elas, não haveria luta.

Kiirara já tinha passado por diversas situações complicadas e em todas elas, teve que lutar se protegendo de ataques baixos. Então essa magia de agora não era exceção. A bela dançarina colocou uma perna para o lado e girou, fazendo seu corpo dançar como uma valsa. Magnífico, belo e elegante. E doloroso.

A garota caiu no chão gritando de dor. O grito da parceira fez Reita levar um susto e se virar imediatamente para ela. Kiirara estava de costas no chão e estava segurando a coxa da perna direita. Estava sangrando e havia algo encravado ali. A moça com vestimenta transparente levou a mão até essa coisa e a retirou, causando mais dor ainda e fazendo ela gritar mais uma vez. Depois de retirada da perna, a "coisa" que a dançarina segurava simplesmente sumiu.

Ela raciocinou rápido, mesmo estando dolorida. Aquilo que estava na sua perna era algo feito de energia mágica. Mas então... Como aquilo tinha chegado ali? Não se tratava de uma finta novamente. Kiirara viu que tinha se esquivado perfeitamente da adaga, então por que tinha sido atingida mesmo assim?

Um ataque escondido. — era a voz de Bart, que estava sendo espalhado por todo o Coliseu. Como já era de costume, o público ficava mais silencioso para ouvir as explicações do Comentarista. — A combatente Mana usou a própria energia mágica pra criar uma réplica da adaga que jogou, feita totalmente de pura magia. Essa réplica se escondeu na sombra da adaga que foi atirada e por isso a combatente Kiirara não conseguiu vê-la. Um golpe muito engenhoso.

Reita tinha cometido um erro terrível por prestar atenção no que Bart dizia. Isso fez ele perder a visão da batalha por apenas um segundo. E San, que era apaixonado por pegar o oponente exatamente quando ele menos esperava, avançou por trás e lhe aplicou uma rasteira forte. Não existia mais nenhum Campo de Efeito.

O arqueiro caiu de costas no chão, sem poder se defender. San não iria esperar. Pegou um pouco de impulso e pulou em cima de Reita.

ESTILO DO DRAGÃO, GOLPE DA TRINCA!

A ideia era simples: acabar com a vida de Reita quebrando seu pescoço em um golpe vindo de cima, com a aplicação do impulso por ter pulado antes de dar o golpe. Simples mesmo.

Foi quando o arqueiro, temendo por sua vida, levantou o arco com as duas mãos, para poder se defender. San bateu com o punho fechado exatamente no meio do arco, passando todo sua energia para o local e fazendo o arco quebrar em dois. Reita quase chorou por ver seu arco preferido sendo quebrado bem na sua frente.

O mundo tinha parado por um segundo naquele momento. Seu arco. O arco que ele tinha gasto uma fortuna para mandar construir. Era provavelmente o arco mais cobiçado de muitas academias de arqueiros. Era leve e resistente, coisa difícil de se encontrar.

Reita abaixou os dois braços como se tivesse desmaiado. San, ao lado dele, ficou o encarando por alguns segundos.

— A batalha acabou para você. Saia do ringue e poupe sua vida.

Reita continuava paralisado, como se ainda estivesse vivendo aquele momento infortúnio. Para San, um arqueiro sem um arco era como um cozinheiro sem uma panela. Ele não precisava mais se preocupar com ele. San tinha lhe poupado por um único motivo: Reita teve a força de vontade de se manter vivo, mesmo tendo que sacrificar seu bem mais precioso.

San não conseguia odiar alguém assim, a não ser que fosse um verdadeiro inimigo que ele precisasse matar. Mas ali, naquele torneio, ninguém era "inimigo" de ninguém. O que tínhamos ali eram oponentes. Ele se virou e começou a andar na direção de Kiirara, que estava impressionantemente tentando ficar de pé.

Mana tinha se levantado agora, pois estava tentando recuperar o fôlego. Seus braços doíam demais e não paravam de sangrar. O dano tinha sido sério. Ela precisava acabar com aquela luta agora e ir se tratar.

Foi aí que ela viu. Reita tinha se levantado atrás de San e ele estava segurando alguma coisa. Não era o arco dele. Os dois pedaços da arma tinham ficado no chão. Era algo metálico. Com corte. Cabo. Grosso. FACA!

— SAN! ATRÁS DE-

Tinha sido tarde demais. Nesse tipo de situação, SEMPRE é tarde demais. Reita o apunhalou nas costas, fazendo San cuspir sangue no mesmo instante. Tinha sido um pouco mais acima da cintura, provavelmente mirando um rim. Fatal.

— Eu vou te contar um segredo, San. — disse Reita, aproximando a cabeça do ouvido do cara que tinha acabado de esfaquear. — Eu não sou um arqueiro. Minha classe é oficialmente chamada de "Caçador" ou "Ranger", como você preferir. Eu sou treinado com arco e facas, podendo lutar tanto de longa distância como curta. — Reita parecia se deliciar com a explicação, mas ouvir a respiração de San diminuir pouco a pouco era o que lhe deixava mais contente. — Não devia ter dado as costas pra mim! Agora pague o preço de ter quebrado meu bem mais precioso!

Reita puxou a faca de volta com força, causando mais dano ainda. San estava sem reação. Caiu no chão de joelhos, se sentindo tonto. Ele já estava fraco por ter usado dois golpes que uma grande quantidade de energia vital, somado ao fato de que entrou nessa luta já dolorido.

Olhou para Mana. Ela estava aterrorizada. Estava com a boca aberta e os olhos arregalados. San sorriu. Sim, sorriu. Sorriu e caiu de cara no chão. Gritos foram espalhados pelos quatro cantos do Coliseu, mas nenhum desses era tão alto quanto ao de Kula. Ela tinha começado a derramar lágrimas no mesmo instante que San foi esfaqueado, mas estava paralisada assim como Mana.

Mulkior, ao lado dela, sabia que aquele golpe tinha sido fatal pois percebeu exatamente o ponto de impacto da faca. Todos os três membros de equipe conseguiram ver o último sorriso do garoto. Mais uma vez, ele caía no chão. Mais uma vez ele sangrava para sua morte.

Kiirara, finalmente em pé, sentia que sua perna estava incomodando mais do que o imaginado. Dançar naquele estado seria horrível. O corte se alargaria e mais sangue sairia, deixando-a com poucos minutos de vida restantes. Não que ela precisasse dançar naquele momento, claro. San estava fora da jogada e Mana parecia sem reação nenhuma. Era hora de acabar com aquilo.

Ela se virou para Reita e, sem dizer nenhuma palavra, apontou para a assassina. O caçador não precisava de explicações. Ele iria finalizá-la. Reita girou a faca na própria mão e partiu para cima de sua oponente.

Mana continuava parada, olhando para o corpo caído de seu parceiro. Ele não iria se levantar? Era brincadeira, não é? Ela sabia que San adorava esse tipo de brincadeira de mal gosto e sem graça.

Reita puxou o braço direito para trás e atacou Mana com um golpe de perfuração, mirando seu coração. Como caçador, Reita era ótimo para saber pontos fracos das pessoas e de animais.

O golpe foi aparado com uma devida facilidade por parte de Mana. Ela não poderia se preocupar agora. A luta continuava. Reita atacou mais duas vezes. Deu um corte em cima do peito que Mana também o aparou e depois um golpe vertical mirado no estômago, que foi esquivado.

Ela precisava fazer como San e calcular a batalha naquele instante. Percebeu que Reita não era tão bom com a faca quanto era com o arco, então ela precisaria acabar com ele rápido. Kiirara não parecia poder dançar mais. O melhor curso de ação é tirar o caçador de fora da jogada e depois finalizar a dançarina.

Mana atacou seu oponente com fervor. Deu dois cortes horizontais, que foram defendidos pela faca de Reita. Mas os impactos não puderam ser evitados. O caçador galã deu três passos desengonçados para trás, percebendo que a força da garota não era brincadeira.

Uma das agulhas de ferro da assassina foi jogada na direção do olho direito de Reita, mas o garoto ainda conseguiu se esquivar jogando a cabeça para o lado. Era uma nova finta. Mana o atacou com um corte vindo de baixo, lhe acertando o braço e o corpo. Não tinha sido tão profundo, mas também não poderia ser totalmente ignorado o fato de que Reita já estava devidamente machucado. Mana partiu para cima, não querendo dar tempo para o oponente respirar.

OITAVO PASSO, PROVOCAÇÃO!

Mana paralisou novamente. Mas não sentiu o mesmo que da última vez. Agora seu corpo estava ignorando Reita e ela se virava para a outra oponente em campo. Kiirara estava dançando. Não era possível! Depois daquele golpe na perna, ela deveria ter ficado sem poder aplicar força nas pernas.

Mas lá estava ela. Rodopiando e fazendo passos estranhos. Kiirara estava escondendo a expressão de dor de uma maneira magnífica. Ela foi "obrigada" a voltar a dançar quando viu que Mana iria superar seu parceiro. Era só uma questão de tempo até ela pegar Reita com um golpe mortal e vingativo. Então ela escolheu uma certa dança que tinha e raramente usava.

E por algum motivo, Mana não conseguia tirar os olhos daquela dança. Deu um passo. O que seu corpo estava fazendo? Deu outro passo. "Não!", clamou Mana quando percebeu que seu corpo não lhe obedecia. No terceiro passo, ela começou a correr. Olho no olho. Não dava pra tirar os olhos de Kiirara. Não dava.

Mana atacou a dançarina gritando. Um corte impreciso mirado no pescoço. Mais uma vez, a dançarina se esquivou do golpe jogando o corpo para trás, sem perder o passo da dança. A diferença era que toda vez que Kiirara impulsionava o corpo, a perna doía como nunca.

A assassina não parou de atacar a oponente nem por um segundo, e era exatamente isso que Kiirara queria. Ataque, esquiva. Ataque de novo, esquiva de novo. Dois cortes embaixo, esquivados por um salto pequeno.

A dança havia parado. Mana sentiu que tinha se livrado da magia da oponente e foi só então, que ela percebeu um certo acumulo de energia vindo das suas costas. Reita!

O caçador tinha aproveitado a chance que Mana estava sobre o efeito da magia de sua parceira, e juntou uma grande quantidade de energia mágica. Mas o que ele poderia fazer? Ele estava sem seu arco e ainda estava a uma grande distância dela.

Mana estava em um impasse. Ficar em posição defensiva ou atacar Kiirara? E isso só foi respondido porque a própria dançarina deu um salto para trás, ficando muito próxima a borda do ringue. Energia mágica circulava seu corpo, demonstrando que ela iria voltar a dançar.

Kiirara sentiu novamente uma enorme fisgada na perna e quase desistiu de usar a magia. Mas ela não iria desistir. Não naquele "palco". Ela nunca poderia se dar o luxo de deixar todos os seus espectadores magoados por não verem sua performance. A dança iria seguir.

NONO PASSO, GRAVIDADE!

A aura saiu do seu corpo e envolveu todo o ringue mais uma vez. Estava acontecendo tantas coisas ao mesmo tempo, que o público nem sabia mais o que gritava. Mas lá estavam eles, gritando sem parar.

Essa aura era negra e parecia ser bem diferente das outras. Mana foi envolvida por um tipo de cota de trevas, sugando toda a sua aura. O que seria dessa vez? Não importava.

Mana olhou para Reita, que estava com o braço esquerdo apontado para ela e o braço direito seguido até o outro braço. Aquilo era uma posição. Parecia que ele iria usar uma espécie de... Arco! Mas não havia nada em suas mãos! Até a faca ele tinha guardado. Então o que ele estava fazendo? Queria assustar alguém?

— Vocês me subestimaram demais! — gritou Reita. — Acharam que sem um arco, eu não poderia usar magias? Ah! Esse vai ser o último erro que vocês cometerão! — toda a energia que Reita tinha acumulado estava indo para as suas duas mãos. Foi então que o mais incrível aconteceu: a energia mágica dele estava começando a sair das mãos e ganhar forma. Formou um uma haste curvada na mão esquerda e um retângulo pontiagudo na direita. Um arco e uma flecha! — TÉCNICA SECRETA, FLECHA DE AURA!

Essa era realmente uma técnica secreta de Reita. Ele não lembrava qual era a última vez que a tinha usado. Na verdade, ele não queria ter usado aqui. Não porque não gostaria de "revelar" algo, mas sim, porque essa magia lhe consumia muita energia mágica de uma só vez. Mas era por um bom motivo. Essa magia tinha uma potência absurda e tinha um grande vantagem de poder atravessar armaduras e barreiras mágicas.

A flecha brilhante de energia meio amarelada disparou em direção a Mana, que se preparou para se esquivar. Ela estava de costas e não daria tempo para se virar e se defender como ela fez na luta contra Shiro. Ela precisava se jogar no chão. Mas...

Seu corpo estava pesado. Não paralisado. Mas pesado. Demais. Ela não conseguia mexer tanto as pernas quanto os braços e até virar a cabeça era um esforço quase impossível. Era como estar em um lugar muito alto, onde a gravidade é maior e você acaba tendo dificuldades para respirar, fazendo seu corpo parecer estar carregando duas toneladas de peso.

A dança! A dança tinha aumentando a gravidade! Mana se irritou com o fato de que Reita e suas magias não eram afetados pelo Campo de Efeito de sua parceira, demonstrando a enorme habilidade de controle de energia que Kiirara tinha.

Enfim... A flecha vinha e ela não poderia se virar a tempo. Não dava pra se jogar no chão e nem rolar. Ela teria que tomar o golpe em cheio e se esforçar para aguentar. Mana se preparou psicologicamente, enrijecendo os ossos. Será que ela sobreviveria? Ela só tinha tomado dano nos braços que ainda lhe incomodavam bastante.

Mas aquela magia parecia ser forte. Tinha muita energia concentrada naquilo. Pesado. Não dava mesmo para se esquivar. Ela tinha que tomar. Ouviu Kuchiki gritando por seu nome. Não tinha como responder. Longe demais. Pesado demais. Até para respirar era difícil.

Kiirara continuava dançando com um sorriso no rosto, sabendo que seria o último ato. As cortinas iriam se fechar. O show iria terminar e tudo o que restaria seriam os aplausos de todos os espectadores do Coliseu, que gritariam por "mais". Hora do fim.

ESTILO DO TIGRE, PATA DA IMPOSIÇÃO!

A flecha foi parada antes de atingir o corpo de Mana. Houve um barulho grande de impacto, dando sequência para uma explosão pequena. Se não fosse a gravidade ainda ativa, Mana teria sido jogada para longe, sem defesa.

Os dois magos da Immortal Star não estavam mais vendo nada. Depois da explosão, uma fumaça cinza e densa envolveu Mana, fazendo-a desaparecer por alguns poucos segundos. O que tinha acontecido? E a flecha? Atingiu e explodiu? E mais outras mil perguntas passavam na cabeças dos dois e de mais outros mil espectadores que mantinham sua visão presa no ringue.

A fumaça foi sumindo. Mana foi a primeira a aparecer. Intacta. Não estava sangrando e não tinha nada nas costas. Mas a frente das costas dela, alguém estava em pé, com o braço direito levantado para frente, na direção de Reita. Essa pessoa mal conseguia se manter em pé. E ela estava sangrando tanto que parecia alguém que tivesse saído de um lago com o líquido vermelho da vida.

— SAN!!!

O grito foi de Kula e de Mulkior, mas era o que Mana queria ter feito quando se virou e viu o garoto. San não estava bem, e ninguém sabia mais disso do que ele mesmo. Ele tinha passado do limite. Estava vendo sua consciência apagar. Seus dedos estavam duros e a dor era insuportável.

Ele precisou usar toda sua energia mágica de uma vez só para poder acelerar o próprio tempo e chegar atrás de Mana a tempo de defender o golpe pra ela. Ele tinha energia mágica... Mas não vital. "Dane-se", pensou ele. Ele não queria ver Mana sendo atingida em cheio por aquela magia. Seria mais fatal do que a facada em suas costas.

Então ele usou energia vital que nem ele sabe da onde tirou para usar sua técnica de impacto mais forte. Era a primeira vez que ele a usava para se defender de outra magia.

San virou a cabeça de leve e encarou novamente a visão estupefata de sua dupla de combate. Ela parecia estar vendo um zumbi. O que, sinceramente falando, não era muito diferente do que San parecia.

— Deixo o resto... Com você...

San caiu no chão pesadamente. Ele estava com aquela aura branca envolvendo seu corpo, mas um segundo antes de beijar o chão, toda aquela energia havia sumido. De vez.

Mana poderia dizer que "não acreditava no que tinha acabado de ver", mas seria óbvio demais. Porque ela não era a única que não acreditava. Agora ela estava perto do corpo de San, e conseguia ver a quantidade de machucados que ele tinha no corpo. Quando foi que todos aqueles furos apareceram? Na chuva de flechas?

Não... Ela viu que San também levantou os dois braços para proteger a cabeça. Ele tinha machucados nas costas e nas pernas. Aquilo eram machucados da sua luta anterior! O idiota estava lutando com as feridas abertas! Mana sentiu uma mistura de sentimentos. Fúria suprema e tristeza suprema. "TEIMOSO!" foi o que ela quis gritar. "OBRIGADO!" também.

A garota da Immortal Star fechou os olhos. Seu corpo ainda estava pesado e começando a ficar dormente. Ficou pensando em outras coisas. Outros tempos. Quando foi que ela imaginaria que alguém como San ficaria na frente de alguma magia para protegê-la? Nunca! San era calculador demais e nunca tomaria um golpe sabendo que isso o levaria à morte. O garoto era agarrado demais a própria vida e nunca trocaria isso por nada.

Ela sabia disso... Mas então por quê? O que o mudou? O que mudou aquele jeito maldito de pensar? Foi o peso que tirou das costas quando devolveu o pergaminho para Mochizuki? Ele se sentia mais tranquilo e livre depois daquilo? Fazia sentido.

Mana sentiu uma enorme admiração pela força de vontade de seu parceiro. "Era isso que ele pensou para não matar Reita", pensou ela. Mana não iria deixar aquilo barato. Não iria deixar o esforço do garoto ser em vão.

Iria mostrar para os seus dois oponentes. Não. Iria mostrar para todos os espectadores do Coliseu algo que ela guardou bem fundo de sua mente. Era um de seus maiores segredos. Só havia uma pessoa que sabia daquele seu segredo, e essa pessoa não estava mais naquele mundo. O mais certo era guardar aquilo para o final, mas não haviam opções. Ou ela usava, ou eles perdiam.

Ela não queria mais perder. Não essa luta. Não depois de ver o panaca de seu parceiro ultrapassando os próprios limites para continuar lutando pela vitória. Não depois de vê-lo pular na frente de uma magia que a atingiria em cheio. E era isso que iria acontecer. Eles iriam ganhar!

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Mana abriu os olhos outra vez, exibindo pela primeira vez, uma coloração de íris totalmente diferente. Seus olhos estavam azuis.

Foi a vez de Reita e Kiirara sentirem um peso em seus corpos. Mas não era por causa da gravidade. Eles estavam sentindo medo. Algo que entrou em seus corpos e se alojou em suas espinhas. Aquilo era pressão espiritual. Estava vindo de Mana.

Kiirara foi a primeira a ver que a cor dos olhos de sua oponente haviam mudado, mas não tinha sido isso que a aterrorizou: foi a aura de Mana. A assassina tinha uma aura de energia sinistra, nas cores preta com roxa. Mas aquilo havia desparecido. Inicialmente, porque Mana estava sendo envolvida pelo Campo de Efeito da própria dançarina.

Mas depois que a cor dos olhos dela mudaram, até essa aura tinha sumido. Uma nova aura estava envolvendo seu corpo. Kiirara lembrava que quando Mana usou a sua arma especial contra Shiro, sua aura também tinha mudado... Mas isso era diferente! A aura dela estava azul! Como aquilo era possível? Três auras diferentes abrigando o mesmo corpo? Como diabo aquilo era possível?

Do outro lado do ringue, Reita estava sentindo algo parecido. Mas se amedrontou quando aquela energia toda que Mana exalava começou a, literalmente, sair de seu corpo. A aura azul estava envolvendo todo o ringue, apagando por completo o Campo de Efeito de Kiirara.

Havia algo PIOR nisso! Frio. Sim, frio. Algo congelante estava sendo liberado daquela energia azul. A temperatura caiu em questão de segundos, fazendo os dois oponentes da assassina tremerem de frio como se estivessem em cima de um iceberg. Reita se assustou mais uma vez quando olhou para baixo e viu seus pés serem congelados. O ringue!

Todo o ringue tinha se transformado em um enorme quadrado congelado! Da onde vinha todo aquele gelo? Nenhuma assassina deveria ter energia mágica o suficiente para fazer tudo aquilo sozinha!

Kuchiki e Mumu tiveram que se afastar da borda do ringue, pois o gelo tinha chego até ali e parecia que iria continuar correndo até a parede dos espectadores. Os dois magos não conseguiam falar nada a respeito do que estavam vendo. Mulkior foi o primeiro a perguntar para a parceira, que já conhecia Mana há algum tempo atrás, se ela já tinha visto aquilo. A maga de fogo respondeu negativamente, só balançando a cabeça.

— REITA! — gritou Kiirara. A voz dela demonstrava puro desespero. Não que ela tivesse culpa. — Meu Campo de Efeito sumiu! A energia da minha dança está sendo anulada!

O caçador queria ter respondido algo mais lógico e com mais conteúdo. Talvez se ele fizesse aquilo, sua parceira teria se acalmado e começado a pensar em algum tipo de contra medida para superar aquele cenário.

Mas o pobre garoto também estava tão aterrorizado quanto a dançarina. Ele estava tremendo dos pés à cabeça, e aquilo não era só por causa do frio. Então vendo por esse ponto, tudo o que ele conseguiu dizer para sua parceira naquele momento foi um breve:

— Ahm?

LÂMINA DO ZERO ABSOLUTO!

Mana não iria esperar para que os dois oponentes entendessem em que situação eles se encontravam. Eles tiveram o azar de fazê-la usar o seu segredo, então precisavam pagar um preço. Mana cobraria juros. E Reita seria o primeiro a pagar.

A assassina colocou dois dedos em cima da lateral da lâmina de sua kodachi e concentrou energia mágica ali. Quando seus dois dedos brilharam em um azul ciano, ela os movimentou pelo cabo até a ponta da lâmina, fazendo a kodachi ficar com uma aura azul poderosa.

Depois ela fixou o olhar no oponente. Reita sentiu um calafrio, sabendo automaticamente que tinha se tornado o alvo. Esse era aqueles momentos onde "o caçador vira a caça".

Mana jogou o corpo para frente, começando a correr na direção do garoto amedrontado. Esse mesmo garoto tentou se mexer, mas viu que o gelo acabaria atrapalhando seu andar, e ele não conseguiria se esquivar do golpe. Ele precisaria defendê-lo.

Afastou as pernas uma da outra e se preparou para o impacto. Ele precisava ficar calmo. Mana tinha exibido uma grande quantidade de energia mágica, mais isso não significava que ela tinha recuperado sua força física, pois seus braços ainda sangravam devido àquela chuva de flechas de mais cedo. O golpe não teria impacto! Ele sabia disso! Então era só defender, fazer ela perder o equilíbrio no gelo e depois atacar pelas costas, assim como foi com o desatento do San. Simples, como sempre foi e sempre será!

Mana girou o braço e aplicou um ataque horizontal rápido na altura do ombro de Reita. O caçador se preparou para se defender, deu um passo para trás e levantou sua faca. Houve um barulho médio de ferro encontrando ferro. A defesa tinha sido perfeita. Reita tinha acertado em cheio: Mana não tinha tanta força no braço por causa daqueles machucados. Mas aquilo não iria acabar do jeito que ele tinha imaginado.

A lâmina energizada da assassina liberou uma aura especial que começou a correr para a lâmina afiada da faca de Reita. Foi algo tão rápido e instantâneo que ele só percebeu isso quando a aura azul já envolvia toda a sua mão. E daí veio o frio novamente. Mas agora era um frio "interno". Sua mão, junto com sua faca e mais tarde, junto com o seu braço, tinham sido congelados.

Reita gritou de desespero e tentou se afastar, mas não conseguiu. Suas pernas não estavam mais obedecendo. Frio. Olhou para baixo de novo e viu que suas pernas estavam REALMENTE congeladas dessa vez. A aura de Mana ainda continuou correndo pelas veias do caçador, congelando seu corpo e por fim, sua cabeça.

Reita tinha virado uma estátua de gelo. Quando o gelo chegou no mesmo local que San tinha lhe atingido mais cedo, a dor foi fenomenal. Mas ele não teve tempo para gritar mais do que já estava gritando.

Mana pegou distância com a perna e depois aplicou um chute muito bem dado no meio do peito congelado de Reita, fazendo a estátua correr pelo chão congelado do ringue e cair fora dele. Imediatamente depois, o Telão Informativo anunciou a contagem novamente.

Não adiantou nada Kiirara ter gritado o nome do parceiro o mais alto que ela pôde, pois isso não surtiu efeito algum no garoto que tinha se tornado um picolé humano. Mana era a única que sabia que Reita não ficaria congelado por muito tempo, pois sua aura iria desaparecer do corpo dele em alguns segundos.

Mas esses segundos eram mais que o suficiente para acabar aquela batalha chata. Ela se virou para a dançarina. Kiirara deu um passo para trás. Ela era a próxima.

Mana estava arfando ligeiramente e não tinha mais tanto fôlego para continuar a luta. Seus braços estavam totalmente dormentes agora, pois havia dor e falta de sangue vindo deles.

A dançarina teve que fazer uma escolha rápida. Ou desistiria da luta ou aguentaria até Mana cair de cansaço. Porque querendo ou não, a combatente da Key of Gold só havia levado um grande dano, que tinha sido na perna. Mana estava claramente mais machucada e cansada, e em uma luta de um contra um, a assassina estaria na desvantagem. Kiirara escolheu continuar.

Mas primeiro ela precisava cuidar daquele gelo todo envolvendo o ringue. Com aquilo, Mana poderia ficar com a vantagem novamente. Se aquela magia de gelo era o segredo da assassina, então Kiirara precisaria mostrar o seu "segredo" pra ela também. Aquela luta estava longe de acabar.

Começou a juntar toda a energia mágica que tinha sobrando. Isso seria a parte fácil de se fazer. A parte complicada seria fazer sua perna direita lhe obedecer e ela começar a dançar mais uma vez. Para isso, Kiirara percebeu um grande erro de sua oponente ter congelado o campo inteiro: o frio era tanto, que a dor de sua perna havia quase totalmente desaparecido. Claro, ainda era perigoso dançar com aquele machucado, mas pelo menos, a dor não lhe atrapalharia. E que comece o show novamente.

DÉCIMO PRIMEIRO PASSO, QUEDA DA HUMANIDADE!

Mais uma vez, a aura de Kiirara tomou forma e começou a ser liberada de seu corpo para o ringue. Dessa vez, ela tinha juntado uma grande quantidade de energia mágica, e isso fez seu Campo de Efeito superar a aura congelante de Mana. Dançar com a perna dormente e congelada do frio não era a melhor experiência que uma dançarina poderia sonhar.

A assassina, por sua vez, foi mais uma vez envolvida por aquela energia que não era sua. Ela se irritou, mas não perdeu totalmente a calma. Não poderia se dar o luxo de fazer isso naquela altura do campeonato.

Mana sentiu seu corpo amolecer no mesmo instante. Não era gravidade. O que era aquilo? Sua percepção estava estranha. Sua audição tinha piorado e ela não sentia mais as pernas e nem a tensão em seu pescoço. Além disso, sua força tinha desparecido completamente. Ela calculou imediatamente que qualquer golpe que desse com a kodachi seria lento e sem força de corte.

— Vamos lá, Mana! — gritava Kiirara. Sua voz ainda parecia de alguém sofrendo por ansiedade. Ou desespero. — Quero ver você me atingir agora! Você caiu sobre os efeitos de uma das minhas magias mais poderosas! Minha décima primeira dança é uma mistura de outras três danças minhas, e faz diminuir os cinco sentidos dos meus oponentes! — havia um claro tom de orgulho nas palavras da dançarina, mesmo que sua voz não demonstrasse tal fato.

— Ah é? Bom saber.

Mana se ajoelhou, com o corpo virado para a oponente, e começou a juntar energia mágica. Colocou a mão esquerda no piso do ringue e fechou os olhos ligeiramente. Não precisou se concentrar muito. O que ela estava preste a fazer era algo bem simples e rápido.

Kiirara tinha cometido um erro terrível e não tinha percebido. Explicar para o oponente como sua própria habilidade funcionava era um erro de novatos ou de alguém totalmente desatento. No caso da dançarina, era claramente a segunda opção.

Mana olhou para o Telão e viu o número "5". "Ótimo, vai dar tempo", pensou ela. Olhou para o corpo caído e inerte de San. Ele não tinha se movido um centímetro e continuava sangrando como uma zebra atacada por um tigre faminto. Ele seria devidamente vingado. Mana fez seus braços lhe obedecerem novamente através da força de vontade. E então atacou.

RAJADA DE AR CONGELANTE!

Ainda abaixada, Mana fez um movimento horizontal com o braço esquerdo na direção de Kiirara, como se estivesse puxando alguma coisa invisível. Sua energia mágica, que estava envolta do braço naquele momento, foi "disparada" na direção da dançarina, que continuava rodopiando, ignorando o perigo de aumentar drasticamente o dano feito em sua perna. A energia disparada se misturou com o vento, criando uma mini tempestade de ar que voou até onde foi mirada pela assassina: as pernas de Kiirara.

A dançarina tinha voltado a sentir o sangue fervente correr pelas pernas por causa da adrenalina, mas então voltou a sentir o frio quando a rajada de ar passou por ela. Dessa vez, o frio foi pior. Especificamente falando, vinte vezes pior.

Kiirara gritou quando ficou totalmente paralisada. Suas pernas tinham virado dois blocos maciços de gelo em um milésimo de segundo. No desespero, a dançarina começou a dar socos nos blocos, mas isso se provou totalmente inútil.

Mana se levantou com dificuldade, não tirando os olhos da oponente. Ela tinha merecido aquilo. O Campo de Efeito havia sumido e Mana voltou a sentir seu corpo voltando a um estado normalizado. Bom... A dor tinha voltado também, o que não era de tudo bom e do melhor.

Mas não era hora de se preocupar com aquilo. Mana concentrou mais energia no braço esquerdo. Kiirara nem tinha prestado atenção. E também não veria o que iria lhe atingir. A participante do time Immortal Star levantou o braço, apontando com os dois dedos, o indicador e o médio, para a dançarina paralisada. Ela não iria conseguir se esquivar dessa.

JATO CONTÍNUO DE ÁGUA!

Um fino, mas potente jato de água foi disparado dos dedos de Mana, que voou reto e atingiu Kiirara no ombro, atravessando o corpo da dançarina de um lado para o outro. Essa magia era uma das mais simples da classe elemental de água, sendo base para muitas outras magias do mesmo elemento. Era como você pegar uma mangueira e apertar a extremidade onde a água saí, fazendo-a ser jogada com mais força. Essa magia fazia o mesmo, mas com uma força absurdamente maior.

Kiirara foi jogada no chão uns dois metros de distância de onde estava. Só não voou mais porque os blocos de gelo em suas pernas pesavam muito e fizeram ela se manter rente ao chão. Isso diminuiu o impacto de suas costas quando bateu com elas no chão, mas isso não quer dizer que ela tinha saído ilesa do golpe anterior.

No mesmo momento que Kiirara caiu, o Telão Informativo contou "0", eliminando Reita do combate por completo. Mana nem se deu o trabalho de ver se ele já tinha se descongelado ou não, porque seria um esforço sem sentido. Ela precisava continuar focada em Kiirara.

Mana deu um passo. Dor. Sentiu o peso novamente. Agora ela não tinha quase nenhuma energia mágica no corpo e suas dores estavam piorando. Mas ela precisava continuar. Deu outro passo.

Kiirara estava se mexendo. Ela iria levantar? Mesmo depois de ter recebido todos aqueles golpes? A dançarina se mexeu novamente. Estava sangrando feiamente pelo ombro, mas mesmo assim, levantou os dois braços e os cruzou em cima da cabeça. Era o sinal.

FIM DA LUTA! — gritou Pablo, o Apresentador. Ele tinha ficado em um grande silêncio até agora. Estava tão vidrado no combate que havia se esquecido de comentar algumas coisas. — A combatente Kiirara desistiu e o combatente Reita ficou fora do ringue por mais de dez segundos! A primeira vitória vai para o time da Immortal Star!

Gritaria e mais gritaria e mais gritaria ainda. A primeira luta tinha acabado e finalmente a tensão guardada pelos espectadores estava sendo solta de uma só vez. Mana nem tinha percebido que eles tinham se calado quase que totalmente quando ela mesma começou a usar o seu "segredo". Não ouviu nem os gritos de seus dois outros companheiros de time, que também não paravam quietos lá fora do ringue.

Mas isso não era hora de comemorar. A assassina tentou andar mais um pouquinho. Ela já estava perto dele. Daquele teimoso que tinha feito as mais absurdas loucuras naquela luta. Ele parecia estar respirando, o que era um bom sinal. Quando ela se ajoelhou do lado dele, ela levou um susto que a fez cair para trás.

— Eu estou... Com frio. — disse San, com a cara virada para o chão e com os olhos fechados. Isso realmente assustaria qualquer um.

— Você está acordado! — gritou Mana, furiosa. — Eu pensava que já tinha atravessado para o outro lado!

— E deixar você... Sozinha aqui? — San cuspiu sangue. Sua garganta estava queimando e era a única coisa que ele sentia naquele momento. Mas depois de ter dito aquilo, ele conseguiu sentir outra coisa. Era quente também. Mas era um tipo diferente de calor. Ele sentiu seu corpo ser erguido do chão que parecia neve pura. Alguém estava lhe fazendo ficar de pé. Ou pelo menos tentando.

— Vamos sair daqui. — disse Mana, carregando o parceiro nos ombros. — Você precisa de cuidados médicos.

— Você também. — San disse isso sem olhar para a garota. Ele não tinha forças para mexer a cabeça para os lados. Até respirar era uma ação que necessitava de um devido esforço. E por causa de sua total falta de percepção, ele não viu Mana o olhando com cara de espanto. — Você está com a voz... Fraca. — San tossiu de novo. Sua visão estava ficando turva. — E eu sinto cheiro de sangue vindo de você.

— Cale a boca por um segundo, San! — não havia malícia naquela frase. Mana continuou carregando o garoto enquanto falava. — Pare de ser teimoso! Conserve sua energia o máximo possível. E... — Mana hesitou por um segundo. Era a primeira vez que ela iria falar isso para ele. Era mesmo? Ela pensou por mais outro segundo. Concluiu que não tinha certeza se seria a primeira vez, mas com certeza, seria diferente. — E obrigado.

Dessa fez foi Mana que não conseguiu ver a mudança de expressão do parceiro. San estava sorrindo. E desmaiado, ao mesmo tempo. Ele não aguentava mais ficar acordado. Seu corpo gritava por descanso completo. San obedeceu. Não sentiu ele ser retirado do ringue e depois ser colocado suavemente em uma maca, para ser transportado urgentemente para a enfermaria. Tudo o que ele fazia agora era sonhar.

Já Mana foi ajudada por seus dois colegas de time, que pareciam bem preocupados com o estado dela. Mana falou várias vezes que estava bem, mas isso não fez a maga de fogo parar de gritar por outra maca imediatamente para a amiga. Kuchiki chegou a reclamar com os médicos, dizendo que eles estavam atrasados. Quando a maca chegou, Mana falou algo que deixou os dois companheiros ainda mais preocupados.

— Eu não vou para a enfermaria. — disse a assassina, se aproximando dos médicos. — Eu quero que vocês me façam os primeiros socorros aqui mesmo.

— Mas Mana! Você está muito machucada! Precisa ir para a enfermaria junto com o San! — disse Kula. Seus olhos se encheram de lágrimas, mas a maga fez força para não chorar.

— Eu estou bem, querida. Obrigado por se preocupar tanto comigo. Mas eu não vou a lugar nenhum. — respondeu Mana, se sentando na maca para que os médicos iniciassem o tratamento. Os dois médicos não tinham o poder de contradizer um pedido de um combatente, a não ser que eles achassem que a situação da pessoa fosse extremamente séria.

— Você chama o San de "teimoso", mas você segue o mesmo conceito dele, sabia? —disse Mulkior.

— Isso não é teimosia! — Mana alterou a voz um pouquinho, mas isso fez todo o seu corpo doer. — Eu preciso ver a luta de vocês. Tenho que fazer isso por aquele teimoso que já entrou no ringue machucado e cansado. Não posso me fazer de fraca ao ser comparada com ele.

Os dois magos decidiram não falar mais nada. No fundo, os dois sabiam que aquilo tinha sido mais engraçado do que emocional. Mana estava claramente diferente de dois dias atrás, quando fez a sua luta de estreia. Ela parecia mais fechada antes. Talvez ela finalmente estava sentindo o companheirismo do time, e já lutava com uma vontade a mais.

Isso acalmava o coração de Mulkior. Ele já tinha pensado em uma coisa antes, mas agora tinha certeza. Ele iria convidá-la para a Guilda. Para a sua Guilda. Ele sabia que seria algo que Kula aceitaria imediatamente. Mas não faria aquilo ali. Iria esperar a luta terminar e quando todos estivessem no quarto, ele contaria. Não era mais necessário guardar segredos dos dois.

Reita já tinha se levantado e caminhado até a maca que tinha sido preparada para ele. Ele estava zonzo e com a mente embaralhada. Não tinha entendido como a luta tinha acabado e parecia nem saber contra quem tinha lutado. Mas acima de tudo, estava com um frio gigantesco, como se estivesse dormido pelado no meio do inverno. Ele viu que alguém tinha lhe ajudado a chegar até a maca, mas não reconheceu. Médico? Acho que era. Ele não sabia.

E também não viu Kiirara sendo retirada do ringue por seus dois outros companheiros de equipe. Eles a deitaram em uma outra maca, que foi imediatamente levada para a enfermaria. Kiirara pediu desculpas para os colegas, e eles responderam que ela não precisava se preocupar, pois venceriam a próxima batalha.

Os dois permaneceram no ringue, pois já estavam prontos para se vingar dos dois companheiros derrotados. Mumu bateu no ombro de Kuchiki, que ainda estava virada para Mana, pensando em uma maneira de fazê-la ir para a enfermaria cuidar de seus ferimentos. A maga se virou para o parceiro, que apontou para o ringue. Era a hora deles.

Kula deixou Mana sendo tratada pelos dois médicos concentrados e se virou para o local de luta que parecia lhe chamar. Pensou em andar até a borda, mas não o fez. Olhou para os oponentes. Entrou em um tipo de colapso mental. Abriu a boca e arregalou os olhos. Tremeu. Não conseguiu andar mais. E, óbvio, fez seu parceiro ter um ataque de preocupação.

— KUCHI! O que aconteceu? — Mulkior disse isso segurando a garota pelo braço, percebendo a tremedeira dela.

— Eles... Os dois... Eu os conheço! — respondeu a garota, pausadamente. — Estão no topo dos mais fortes membros da Key of Gold! O "Casal de Ouro"!

A próxima luta será imediatamente agora, senhoras e senhores! — disse Pablo, cortando a fala de Kuchi. A plateia não aguentava mais esperar. — Kula e Mulkior da Immortal Star contra Sayuri e David da Key of Gold! Combatentes, em suas posições!