Immortal Star

Dupla contra Casal


Não havia como os adversários da Immortal Star imaginarem a tamanha surpresa que eles tiveram em cima do ringue. Mana, uma assassina conhecida mundialmente, podia usar magias arcanas elementares.

Ah, agora eu posso perceber que você está ficando mais curioso sobre o que esta acontecendo, não é? Talvez, tenha se lembrado do começo desse conto. Se lembrou de informações importantes que eu já lhe dei. Ótimo. Mantenha esses pensamentos em mente.

A situação ainda vai "piorar". Ou seria certo dizer que vai "melhorar"? Muitas coisas irão acontecer daqui pra frente, então cabe a você mesmo tirar sua conclusão. Mas se prepare: a luta que virá agora mexeu com as escolhas de torcida de todos no Coliseu.

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Como já era de costume, o público ficava agitado demais no fim de cada luta. Os torcedores se dividiam. Aqueles que torciam para a pessoa que acabou perdendo a luta, meio que se cala. Ou decide desistir de uma vez e começa a torcer para o time adversário. Isso era normal e acontecia em todas as lutas. Afinal, eles eram livres para torcerem para quem quisessem.

Nessa luta em específico, centenas de pessoas decidiram passar para o lado oposto da torcida, fazendo o nome da Immortal Star ser ecoado ainda mais pelo Coliseu. Todos os pôsteres que tinham os rostos ou os nomes de Kiirara e de Reita foram abaixados e escondidos. Só os fãs mais fervorosos continuavam acreditando na força da Guilda que era conhecida mundialmente e que era uma das favoritas desse torneio. Elas continuavam com o pensamento de que a "luta ainda não terminou".

E bem... Elas estavam certas. Elas tinham um desejo compartilhado. A próxima luta iria vingar.

Essa não era a preocupação de Bart, o comentarista escolhido para esse evento. Bart estava tremendo e não conseguia tirar os olhos de um certo ângulo, lá em baixo perto do ringue. Sua boca estava seca e a respiração pesada. O coração batia a mil por hora. Quando foi a última vez que ele se sentiu assim? Pensou. Olhou para as mãos rapidamente. Suor e tremedeira. Ele estava doente? Não, não. Pensou outra vez. Não obteve resposta. Continuou olhando. Vidrado.

— Senhor Bart, tem alguma coisa errada? — perguntou Pablo, apertando um botão no grande painel que controlava o envio das duas vozes para todo o Coliseu. O botão fazia com que os dois microfones ficassem mudos, dando liberdade para qualquer um que estivesse lá na cabine conversar livremente sem ser ouvido por ninguém. O público não sentiria falta de sua voz por um minutinho. E algumas pessoas não sentiriam falta nem por muitas horas.

— Ahm? Ah sim, sim. — respondeu Bart, como se tivesse acabado de sair de um transe. Ele piscou várias vezes e respirou fundo.

— Você está suando. Tem certeza que você está bem?

— Suando? — Bart olhou para os dois braços e confirmou que realmente estava parecendo uma garrafa de água que foi tirada do gelo. Não eram só suas mãos. Ele realmente estava sentindo calor, mas não era por isso que estava suando. — Ah claro! Não se preocupe, isso acontece às vezes. Quando eu vejo uma luta desse nível eu acabo ficando um pouco excitado.

Pablo deu de ombros e se virou para o painel de novo. Ele não se deu conta que o cara do lado mentia claramente para ele. Para Pablo, isso não importava. Para ele, o público precisava estar entretido. Era isso que colocava o pão de cada dia em sua mesa. Apertou o botão novamente, ligando os dois microfones. Instigou o pessoal dizendo que essa próxima luta seria ainda mais intensa que a última. Houveram mais gritos.

Bart tentou se acalmar. Passou as costas da mão direita na testa, limpando o suor concentrado ali. "Excitado? Ah! Era mais que isso!", pensou ele. Ele estava explosivo. E ele sabia BEM o porque. "Mana". Aquela mulher chamou a atenção de Bart. Em sua primeira luta ela já tinha demonstrado uma incrível força e habilidade. Mas nessa...

Ah! Magias de gelo! Uma nobre manipuladora de água! Como isso não poderia ser magnífico? Bart foi um dos primeiros e únicos a fazer uma certa "matemática" em sua mente. Ele somou as habilidades de assassina de Mana ao fato de ter uma grandiosa quantidade de energia mágica, dando-lhe uma Classe Secundária como Maga Elemental. E depois somou ao fato que ela conseguia usar uma das armas mais lendárias do mundo. Essa combinação...

Mana era poderosa! Bart lambeu os lábios. Ele amava aquilo. O prazer da conclusão. Forçou o braço na cadeira onde estava sentado, na tentativa de diminuir a tremedeira. Deu certo. Voltou a encarar Mana, que estava sendo tratada em cima de uma maca por dois médicos. "Como ela é graciosa!", pensou Bart, quase dizendo em vez de somente pensar.

Com as habilidades dela somadas, Mana conseguiria chegar muito perto do nível de um guerreiro do Planetarium. Não. Não, não. Talvez se ela lutasse com tudo, usando todos os seus artifícios e todas as suas habilidades... Lutar com o seu "cem por cento". Talvez ela conseguisse fazer um duelo de igual para igual com um dos membros mais fracos do Planetarium. E isso já significava muito!

Se ela fosse treinada em uma das bases secretas deles. Se ela fosse "moldada" nas artes de batalha deles... Ela com certeza alcançaria o Top Cinco do Planetarium. Ela precisava entrar! O time dela precisava ganhar! Seu coração acelerou. Voltou a suar.

Bart não poderia torcer para ninguém naquele torneio. Ele era só um comentarista e um observador. Mas que se dane! Ele iria torcer por Mana. O resto do time dela que se virem.

Ele tentou se acalmar novamente. Mesmo que o time dela perdesse e fosse eliminado do torneio, ele ainda poderia ir até ela e fazer um convite formal. É! Ele gostou dessa ideia! Ficar a sós com ela... Falar diretamente com ela... Sim. SIM! O resultado não importava! Ele iria atrás dela quando esse torneio acabasse, quer queira ela ou não.

Iria fazer dois convites. Depois de perguntar sobre o Planetarium, iria perguntar se ela estivesse afim de ir em algum lugar mais... Privado. Talvez jantar. Ou ele poderia mostrar a mansão dele que ficava perto do Castelo. Ninguém poderia resistir a um convite desses.

Bart limpou a boca, pois havia saliva caindo pelo seu queixo. Ele precisava ficar concentrado. Mana poderia esperar por ele. Ele estava ali para completar seus dois trabalhos. Hora de comentar.

— Oi Kula. Há quanto tempo, não é?

Kuchiki parou e congelou. Ela estava no ringue agora, ao lado de Mulkior. Estavam indo encarar seus adversários. Foi quando o homem, vestindo uma bela armadura completa da mais brilhosa cor negra, lhe dirigiu a palavra. Tinha uma voz um pouco grossa, mas não era rude. Ele retirou o escuro capacete que usava, colocando-o debaixo do braço. Exibiu um rosto que a maga de fogo não via há mais de um ano.

Mas ainda sim, David não tinha mudado absolutamente nada. Continuava com o cabelo curto encaracolado, na cor preta. Ele tinha a pele um pouco escura, o que fazia sua armadura ser menos reluzente do que deveria.

Em falar nessa armadura, ela deu calafrios em Mumu. Não pela cor, claro. Mas pela quantidade de espinhos que a armadura tinha. Aquilo impediria qualquer ataque feito com as mãos nuas e até mesmo com armas curtas. Foi sorte Mana e San não terem lutado contra ele.

— Mais de um ano, eu acho. Como você tem estado?

Dessa vez, foi a mulher ao lado do cara com a armadura negra que falou. Sayuri era como um outro lado da moeda se comparado à David. Ela vestia uma comprida vestimenta branca. Era um conjunto único, na verdade. Em cima, uma camisa de manga comprida, com os ombros espumados e babados na ponta das mangas e no colarinho. Não parecia uma roupa apertada. E em baixo, ela usava um tipo de vestido semi aberto em três lados, começando acima do joelho para baixo.

Ah sim, e o que lhe destacava quando comparada à sua dupla, era que sua roupa inteira era branca. Por mais única que parecesse, aquela não era uma vestimenta muito difícil de se encontrar. Mas ela parecia mais detalhada.

Mulkior sabia que já tinha visto aquele tipo de vestimenta. Na Igreja? Sim, foi lá mesmo. Na Catedral que sua família geralmente visitava, tinha umas pessoas usando uma roupa parecida com aquela.

— Sim, já faz um tempinho mesmo. — respondeu Kula, tentando disfarçar a ansiedade. Estava difícil. Ela conhecia aqueles dois muito bem e automaticamente sabia que a luta seria complicada. — Como vocês tem passado?

— Muito bem. — respondeu Sayuri, sem esperar. — Escute Kula, pode nos fazer um favor?

— Que favor?

— Você e seu amigo poderiam desistir dessa luta, por favor?

— COMO? — esse foi Mumu. Ele realmente não tinha acreditado no que tinha acabado de ouvir. Talvez o público e sua gritaria desenfreada estivesse atrapalhando a audição do mago.

— Exatamente o que ela disse. — respondeu David, dando um pequeno passo à frente. — Kula nos ajudou bastante no passado e não gostaríamos de enfrenta-la em uma batalha inútil como essa.

— Essa batalha não é inútil! — se alterou Mulkior. Kuchi estava preste a dizer alguma coisa, mas o próprio parceiro lhe interrompeu. — Eu agradeço pela vontade de não querer machucá-la, mas deixe-me lembra-los que aqui ainda é um campo de batalha. Não existem inutilidades em uma luta! Sempre há um sentido! E o nosso sentido aqui é provar para todos que nossos dois companheiros que saíram vitoriosos desse ringue podem estufar o peito orgulhosos! Não vamos desistir.

As palavras de Mumu foram jogadas na cara dos dois oponentes como se fosse um chicote. Foram rápidas e rígidas. Kula, que estava com um pé atrás, conseguiu se encher de coragem depois de ouvir o pequeno discurso do parceiro e lembrar que ela não estava ali para lutar por si mesma. Realmente existia um sentido maior.

Sayuri prestou atenção na mudança brusca de expressão da maga adversária. Não adiantou. Os dois combinaram de tentar fazer ela desistir pacificamente para poderem pagar o favor de antes... Mas os olhos de Kula diziam claramente que ela estava pronta para a batalha. Sayuri olhou para o lado e encarou o rosto longo do parceiro. David balançou a cabeça negativamente, meio que lendo o que ela pensava.

Ao mesmo tempo, eles se viraram e se afastaram. David colocou o capacete de volta, o ajeitando na cabeça. Logo depois disso, levou a mão direita até o cabo da espada que trazia em sua cintura, a desembainhando.

Era uma espada e tanto. De formato bem simples e medieval, mas com uma coloração de dar medo e um comprimento maior do que de costume. Sua espada era de um roxo bem escuro com uma mistura de preto. Logo quando foi retirada da bainha, a espada dele começou a pulsar, como se fosse um coração.

Sayuri se manteve ao lado do parceiro e retirou a maça que escondia nas costas. Essa arma era mais normal. Não pulsava e não tinha cor diferente. Era no clássico cinza de ferro, com espinhos pontiagudos na esfera em cima.

Ao mesmo tempo, o ar mudou ali. Ficou mais pesado. Era difícil ver o olhar de David debaixo do capacete, mas agora ele parecia estar mirando um ataque fatal. Ninguém podia reclamar depois. Eles tentaram ser pacíficos.

— Mumu, me escute, por favor! — disse Kuchiki, puxando o braço do parceiro. — Esses dois são poderosos demais! Eles são os líderes da Guilda e são as únicas pessoas que receberam um Título Único como dupla!

— É, eu já ouvi boatos. — respondeu o tal parceiro. Mulkior colocou a mão na sua bolsa de esferas e retirou uma. — Diz a lenda que quando eles estão juntos, são invencíveis.

— Eu lutei ao lado deles e comprovei isso! Não é uma lenda! Eles realmente são uma dupla perfeita! David é um Cavaleiro Negro, uma Classe Guerreira contrária ao Paladino e ela é uma Clériga, considerada uma das Dez Madres Santificadas!

— Clériga... Isso vai ser complicado. — disse o mago, olhando fixadamente para Sayuri. — Vamos precisar tirar ela de jogada primeiro.

Combatentes prontos? — gritou Pablo, não deixando a conversa dos dois continuar. — COMECEM!

Existem muitos momentos na sua vida que você é pego desprevenido das coisas. Pessoas aparecem de repente e te assustam. Familiares de longe aparecem na sua casa te fazendo uma surpresa. Sua filha aparece grávida dizendo que terá gêmeos. E o mais importante de tudo, você é jogado por uns dois metros para trás porque alguém ativou a sua aura de combate.

Foi isso que aconteceu com Mumu e Kuchiki. Eles foram empurrados por uma só aura, o que lhes deixou com o queixo caído. Se viraram para os oponentes e viram aquela coisa aterrorizadora. David e Sayuri estavam envolvidos por uma só aura. Como se os dois fossem um só corpo.

Isso não era algo "lendário" nem nada. Era possível se fazer aquilo. Unir duas auras requeria uma grande quantidade de tempo e habilidade de manipulação para que você pudesse ajustar perfeitamente sua energia com a da outra pessoa. E tinha certas ocasiões que isso era impossível. Bom, não era algo único, mas ainda sim, era raro. E poderoso.

David abaixou a espada e correu na direção de Mulkior. Ele seria o primeiro a avançar.

TRANSFORMAÇÃO DE METAL - ESPADA!

Mumu fez a esfera que estava na mão se transformar na sua clássica espada. Viu aquele homem que parecia ser maior do que realmente era se aproximar. David aplicou um corte diagonal contra o mago, que afastou as pernas e se preparou para defender. Se ele queria um combate corpo a corpo, então era isso que teria. Kula deu um pequeno salto para o lado, dando espaço para seu parceiro se movimentar sem a atingir sem querer.

E então veio o impacto. O barulho de metal contra metal foi ensurdecedor para o mago de ferro, mas o real problema era a força que David tinha aplicado no golpe. A defesa foi precisa, mas o braço de Mumu voou para trás, não aguentando o impacto do ataque. Seu adversário era forte. Seu físico era escondido pela armadura negra, mas só com esse encontro de espadas, Mulkior percebeu que David tinha mais força física do que ele.

O cavaleiro negro girou a espada no ar e atacou mais uma vez, dando um golpe vertical vindo de cima. Mulkior foi inteligente em não tentar defender esse golpe. Ele girou o corpo, deixando a espada passar ao lado dele, batendo no chão logo em seguida. Outro barulho vibrou pelo Coliseu.

O mago deu um passo para frente e aplicou um golpe de ponta mirado na abertura da armadura do oponente entre o ombro e o peito. David se virou muito pouco e a espada bateu com a ponta na grossa armadura negra. Depois, o cavaleiro negro colocou força no braço direito e levantou a espada do chão, criando outro golpe vertical, dessa vez vindo debaixo. Mumu se esquivou por muito pouco, dando um passo para trás. Seria uma luta complicada.

Enquanto isso, Kuchiki quis aplicar toda a sua concentração na oponente feminina. Ela sabia que Sayuri era o grande problema daquela luta, pois ela era especializada em Suporte. Kula concluiu que seu primeiro objetivo seria afastar os oponentes um do outro, para dificultar a ajuda em dupla. A maga então começou a correr na direção de Sayuri, carregando uma magia na mão direita. Iria começar como sempre.

ESFERA DE FOGO!

A bola de fogo incandescente foi criada em sua mão direita, que foi imediatamente jogada contra o peito da clériga. A esfera viajou em uma velocidade média, e a única coisa que Sayuri fez foi virar o corpo um pouco. Levantou a maça até a altura do ombro e esperou a esfera de fogo se aproximar. Depois, ela bateu com a maça na bola flamejante, como se estivesse rebatendo uma bola de beisebol, um esporte criado a nem tanto tempo assim nas terras do sul, que envolve tacos, bolas pequenas e corridas em um campo pré-determinado.

A esfera explodiu contra a maça, criando uma pequena fumaça negra em volta de Sayuri. Mas ela estava intacta. Kula parou a corrida e analisou novamente a situação. Qualquer mago ficaria abalado ao ver sua magia sendo destruída na sua frente por um simples ataque físico.

— Você não achou que eu seria atingida por uma magia de nível tão baixo, não é Kula? — perguntou Sayuri.

E então partiu para o ataque. Sayuri não era rápida para correr e mesmo quando se aproximou de Kuchi e a atacando com a maça, era possível perceber que nem mesmo seus ataques eram rápidos. Isso fez com que a maga se esquivasse do primeiro golpe se abaixando.

Mas Sayuri emendou um ataque rápido, deixando a maça cair em cima das costas de Kuchiki. A maga, por sua vez, cruzou os braços em cima da cabeça, defendendo o golpe aparando a maça pelo grosso e pesado cabo. Sayuri puxou a maça de volta para si, fazendo os espinhos da arma rasparem um pouco o braço da maga adversária.

Kula nem sentiu a dor nos braços por causa da adrenalina. Ao invés disso, ela colocou o braço direito para trás e concentrou um pouco de energia mágica. As duas estavam muito próximas uma da outra, então esse golpe seria mais efetivo. Se atingisse.

MÍSSIL DE FOGO!

BARREIRA DE MAYA!

Não houve falha na ideia da Maga Elemental de Fogo. Ela levou o braço direito para frente, criando seu já conhecido retângulo pontiagudo que entrava em chamas logo depois que disparado. Como já dito antes, as duas estavam muito próximas uma da outra. Sayuri não iria conseguir se esquivar daquilo naquela distância. E ela sabia bem desse detalhe.

Mas isso não impediu que ela juntasse uma pequena quantidade de energia mágica no dedo indicador e logo no segundo seguinte, desenhar um círculo no ar, criando uma barreira de energia quase invisível. Bom, na verdade ERA realmente invisível... Até que alguma magia batesse contra ela.

O míssil de fogo da maga nem teve tempo de acelerar no ar, pois bateu naquela parede mágica e explodiu ali mesmo. Era a segunda magia de Kuchi que explodia contra o nada. Sayuri continuava sem levar danos.

O Líder da Immortal Star estava tendo problemas. David era excelente em atacar e avançar ao mesmo tempo, e isso estava fazendo com que o mago de ferro não conseguisse encontrar uma abertura para atacar. Se ele atacasse sem o mínimo cuidado, seria cortado em dois pela espada brutal do oponente.

No momento, Mumu estava dando dois passos para trás para se defender de mais um corte horizontal de David. A defesa mais uma vez foi precisa, e mais uma vez, o braço do pobre mago era jogado para trás violentamente. Outro golpe vindo de cima. Outra defesa lateral, defletindo o golpe para a esquerda.

David girou o corpo pegando mais impulso e aplicou um poderoso golpe vertical, cortando o vento como se fosse uma fatia de mussarela. Mulkior deu um forte salto para trás, o que fez a espada bater com tudo no chão, criando outro barulho sem igual. Se ele tivesse tentando defender aquele golpe, seu braço não resistiria à força e os ossos iriam quebrar.

Sayuri girou a maça para atingir a cabeça de Kula, mas a maga deu um passo para trás e se esquivou do golpe. A clériga estava fazendo o mesmo que seu parceiro: atacar e avançar. Kuchi não estava conseguindo espaço para concentrar uma magia mais forte pois sua oponente não queria largar do seu pé.

A estratégia básica dos magos é manter uma certa distância do oponente para não ter o risco de ser acertado pela sua própria magia e para ter tempo de calcular uma concentração perfeita de energia mágica. E a clériga já conhecia as táticas da Anjo de Fogo para derrotar seus inimigos.

Sayuri não iria dar espaço para a oponente. Atacou de novo, mirando a perna esquerda. Kuchi juntou forças e deu um pulo para trás. Sayuri partiu para cima como um leão faminto, atacando com um longo e pesado golpe vertical vindo de cima. A ideia era esmagar o crânio do oponente. A maga de fogo rolou para o lado, escapando mais uma vez do golpe. E foi aí que ela bateu com as costas em algo.

Mulkior olhou para trás, pois havia batido com as costas em alguma coisa enquanto se esquivava e defendia dos pesados golpes de David. Ele tinha batido em Kuchiki. E ela tinha batido em Mumu. Na tentativa de escapar dos golpes, os dois foram recuando até se encontrarem.

Mas Mumu foi o primeiro a perceber. Aquilo não tinha uma mera coincidência! Sayuri estava com aquele sorriso clássico de que algo tinha dado certo. Aquilo tinha sido proporcional!

David, pela primeira vez na luta, estava concentrando sua energia. Mas não era só isso. O cavaleiro negro levou seu pulso do braço esquerdo até a lâmina da própria espada e o cortou, fazendo o líquido vermelho da vida escorrer pela espada. Aquilo era mal sinal. Mumu não sabia o que significava, mas já não estava gostando.

TRANSFORMAÇÃO DE METAL - ESCUDO!

O mago de ferro colocou a mão esquerda na bolsa atrás de sua cintura e retirou outra pequena esfera de ferro. Concentrou energia mágica nela e a transmutou para um escudo de ferro.

Kuchiki deu uma rápida olhadela para trás e já viu que o parceiro se preparava para defender algo. Para ele ficar com o escudo na mão, deveria ser algo grande ou perigoso. Ou os dois. Mas o mais estranho para a maga era o fato de que Sayuri tinha parado de avançar. Por quê? Ela decidiu manter posição defensiva? Não. Ela estava sem fôlego? Difícil dizer. E o mais importante: por que ela estava sorrindo?

TRANSPASSAR!

David, segurando a espada com as duas mãos, levantou ela para a frente e passou sua energia concentrada para a lâmina. Foi estranho ver aquela aura de energia se misturando com o sangue do próprio manipulador. Mas foi exatamente isso que aconteceu. A lâmina brilhou num vermelho vivo, e logo depois, David avançou mais uma vez. Deu um golpe de ponta. Foi perigoso e tinha uma força absurda.

Mas não importava a força do oponente quando Mumu estava empunhando seu valioso escudo. O mago calculou o ângulo e seu próprio próximo passo. Iria defletir o ataque para o lado e depois avançar utilizando a espada em um golpe certeiro na região do pescoço do oponente. Como David estava com as duas mãos na espada, ele não teria tempo para levantar o braço e defender o golpe. Era uma boa conclusão, se o ataque de David não tivesse estragado praticamente a estratégia inteira.

O golpe do cavaleiro negro não era um simples avanço. Aquele golpe servia para empalar os inimigos, acabando com a batalha em um só golpe. Como a espada dele era grossa e comprida, David conseguiria atravessar duas pessoas ao mesmo tempo, se elas estivessem juntas uma a outra. Engraçado, não é? Kula e Mulkior ESTAVAM um junto ao outro, de costas.

Só Mumu tinha entendido que aquilo fazia parte de uma simples estratégia dos dois oponentes. Eles fizeram os dois parceiros se encontrarem para que David pudesse acabar com a luta em um golpe só.

Mas o mago manipulador de ferro não iria deixar que sua parceira se machucasse. Nunca! Ele seria o escudo dela! Foi isso que o fez dar um passo a frente e firmar o braço esquerdo, o que estava com o escudo, para se preparar para o golpe. E então aconteceu.

A espada de David fez o que deveria fazer. Bateu com a ponta no escudo de Mulkior e o atravessou como se fosse uma agulha furando um tecido fino. Mulkior não teve tempo de reagir. A espada continuou avançando, batendo contra a armadura do seu corpo, na altura do abdômen. Não adiantou. A espada perfurou a armadura, chegando na carne de Mumu.

Ao sentir o golpe, o mago jogou o corpo para trás, sendo que foi algo automático para seu corpo fazer. E então veio a dor. Mumu caiu de joelhos, enquanto seu escudo se desfazia em seu braço e voltava a ser uma pequena esfera de metal.

— MUMU!!! — gritou Kuchiki, ao ver o parceiro sangrando.

— Ohooo... Uma armadura escondida por debaixo das roupas? — perguntou David. A pergunta não tinha sido referida para ninguém, sendo que ele mesmo tinha ficado impressionado com o fato de não conseguir atravessar o mago de uma só vez. — E uma boa armadura, ainda por cima. Conseguiu deter meu avanço e lhe salvar a vida.

LANÇA-CHAMAS INCANDESCENTE!

Essa foi a resposta de Kula. Ela não tinha ouvido nada do que David dizia. Só conseguia ver um alvo. Concentrou energia mágica na palma da mão direita e depois a mirou contra o peito negro de David. De sua palma, saiu um potente lança-chamas com um vermelho forte, soprado intensamente contra o oponente.

David foi pego no susto, mas ainda conseguiu cruzar os braços na frente do corpo. As chamas atingiram seu braço, fazendo a armadura alocada naquele local virasse uma chapa fervente. O cavaleiro negro deu imprecisos passos para trás, balançando os braços desjeitosamente na esperança de diminuir a temperatura nos braços. Não adiantou.

O cavaleiro negro enterrou a ponta da espada no piso branco do ringue e abriu a fivela que segurava as duas placas de metal do seu braço. Além de ter queimado todos os pelos do braço, David sentiu um ardume na região onde o ataque lhe acertou. Era queimadura de segundo grau.

Kula tinha feito um enorme erro. Claro, desequipar o oponente nos braços dava mais chances de acertá-lo em pontos vitais do mesmo. Mas o cavaleiro negro não estava lutando sozinho.

Houve um sonoro impacto. Kuchiki gritou para dentro quando sentiu a maça de espinhos de Sayuri lhe acertar o meio das costas. O impacto fez a maga voar ao chão, caindo de cara no piso branco da arena de combate. Ao ver o sangue rever das costas da companheira, Mumu ignorou a dor no abdômen, segurou a espada firmemente e atacou Sayuri com um golpe horizontal na altura das pernas. A clériga se jogou para trás, se esquivando do golpe.

David fez ao contrário. Ele se jogou para frente, atacando Mulkior com um golpe vertical rápido. O mago pressentiu perigo e se virou, defendendo o golpe colocando a espada para cima.

Agora era a vez de Sayuri aproveitar a chance. Ela correu pelas costas do mago de ferro e lhe aplicou um outro golpe com a maça. Mumu empurrou David para trás, se virou e defendeu o golpe da clériga por um triz. O Líder da Key of Gold desceu a espada, aplicando um golpe baixo. Dessa vez, Mumu não teve tanta sorte e levou um leve corte na perna direita.

Kuchiki ainda estava tentando ganhar fôlego e forças para se levantar, então ele, o seu Protetor, não poderia sair dali. O mago teria que lutar com os dois ao mesmo tempo. Levou mais uma vez a mão para trás, pegando mais uma esfera. Concentrou energia. Precisava de duas armas mais leves e mais rápidas. Não tentaria bloquear os ataque com força e sim, com destreza.

TRANSFORMAÇÃO DE METAL - NÍVEL DOIS - NINJA-TO DUPLA!

A esfera da mão esquerda e a espada da mão direita brilharam ao receber a energia do mago e logo em seguida, começaram a tomar outra forma. Elas viraram duas ninja-to, a espada reta usada pelos ninjas. Mumu tinha escolhido elas pois eram leves e especializadas em defletir ataques.

O Casal de Ouro não esperou nem outro segundo. David atacou com outro golpe diagonal vindo de cima e Sayuri tentou acertar o peito do oponente com um golpe horizontal aberto. Mulkior levantou a ninja-to da mão direita em uma escala diagonal, impedindo que a espada de David completasse o golpe, ao mesmo tempo que sua mão esquerda fez a ninja-to dessa mesma mão ser jogada contra a maça de Sayuri, defendendo o golpe.

Tinha sido uma cena tão bonita que até mesmo Bart aplaudiu. Pablo foi obrigado a fazer o público enlouquecer, dizendo que a luta só tinha começado. E sim, o público realmente enlouqueceu.

Mas ninguém em cima daquele ringue estava sequer ouvindo os berros vindos de fora. David não iria parar. Puxou o braço e depois aplicou um golpe de ponta mirando no mesmo lugar que já tinha sido machucado. O golpe não tinha energia dessa vez, mas ainda tinha perigo. Sayuri levantou a maça e tentou um golpe vertical vindo de cima. O mesmo que tentou usar para esmagar o crânio da maga de fogo há uns segundos atrás.

Mais uma vez, Mulkior Musubi demonstrou suas habilidades defensivas. Girou a ninja-to direita, defletindo o golpe de ponta do cavaleiro negro, e com a arma da mão esquerda, ele criou um ataque rápido mirado nos braços da clériga, que ao sentir a pele cortada, parou seu golpe no meio do caminho.

O casal se irritou. Se olharam rapidamente e decidiram fazer um ataque conjunto. Os dois, ao mesmo tempo, levantaram suas armas e aplicaram um golpe marreta, com a intenção de esmagar Mumu por inteiro. Daria pra defender? O mago não tinha escolha. Precisou tentar. Fez um "x" com as duas ninja-to em cima da cabeça, sentindo o impacto dos dois golpes ao mesmo tempo. Seus braços afundaram, fazendo as costas das lâminas baterem em sua cabeça. Mas o ataque tinha sido impedido.

Temporariamente... Pois os dois continuaram fazendo força, para tentar quebrar a defesa do mago e esmagá-lo de uma vez. E eles iriam conseguir. Mumu estava perdendo as forças nos braços e já não aguentava mais segurar a respiração. Era a vez dele ser protegido. Era a vez do "anjo da guarda" dele aparecer para salvar o dia.

ONDA DE FOGO EXPLOSIVA!

Mulkior foi o único que não viu sua parceira se levantar com o corpo repleto de energia mágica concentrada. Kula estava de pé, atrás dele, com os braços cruzados junto ao peito. Depois ela separou os dois braços violentamente, jogando um braço para cada lado. Isso fez com que um círculo mágico fosse criado em volta dela e de seu parceiro. Exatamente na linha exterior desse círculo, houve uma grande explosão, de todos os lados, ao mesmo tempo.

David e sua mulher não conseguiram nem ver o que tinha acontecido. Os dois foram pegos pela explosão de fogo, fazendo cada um voar para um lado diferente. David não voou muito por causa da sua pesada armadura negra, mas ainda sim, ele caiu de costas, tonto. Sayuri foi jogada mais longe, e caiu no chão pesadamente, rolando logo em seguida. Tinha sido um acerto e tanto.

O mago de ferro olhou para trás e viu a figura graciosa de sua parceira. Calmante. Ele sentiu uma leve calmaria em seu coração. Vê-la bem sempre o deixava assim. Ele estranhava aquilo. "É claro que ela estaria bem!", pensou ele. Mas ele não conseguia mais NÃO ficar contente ao vê-la sã e salvo. Mumu se levantou, ficando de costas para sua parceira e mirando David, que se remexia no chão.

— Está tudo bem com você, parceira? — perguntou o mago de ferro, sem tirar os olhos do oponente.

— Sim, eu estou bem. — respondeu Kuchiki, se sentindo aliviada por ouvir a voz do seu protetor novamente. Mulkior parecia sem fôlego e respirava rapidamente. — Sayuri me atingiu em cheio, mas ela não tem tanta força física assim. Seria pior se eu tivesse sido acertada pelo David. Bem pior.

— Não se preocupe com ele. Aquele cara não vai encostar um dedo em você.

— Eu confio em você. Mantenha ele afastado da Sayuri, que eu vou atacá-la pra valer agora!

Eles nem tinham terminado de conversar, e David já estava ficando em pé mais uma vez. Aquela explosão... Ele nunca tinha visto Kula usar aquela magia. Era potente, mas sua armadura tinha lhe protegido. As únicas coisas que lhe doíam eram os braços. A queimadura fazia a pele ficar sensível à qualquer coisa, até mesmo ao vento.

David estava precisando ignorar a dor toda vez que atacava com sua espada. Ataques normais não iriam deter aqueles dois. Ele precisaria usar algo mais poderoso. Mais uma vez, ele colocou sangue de seu pulso na lâmina da espada, criando aquela estranha mistura de aura com sangue.

Mulkior começou a correr em direção ao oponente assim que viu ele concentrando mais energia. Mas ele não conseguiu nem dar mais do que quatro passos. David levantou a espada para o alto e depois a desceu em um golpe vertical contra o vento, criando uma linha vermelha que ficou flutuando no nada. E então veio o golpe.

PÁSSARO DE SANGUE!

Era um golpe de longa distância. Daquela linha vermelha que ficou flutuando no ar, saiu uma pequena onda de energia avermelhada. O formato era estranho, mas lembrava vagamente um pássaro comum, batendo asas e voando livremente pelos céus azuis. Mas troque o azul do céu pelo vermelho vivo, e também troque o "voando livremente" por voando perigosamente na direção de Mumu.

O mago, parando sua investida, cruzou as duas armas na frente do corpo, preparando para se defender do golpe. O pássaro de sangue bateu com força nas armas, empurrando Mulkior com a força do impacto. O golpe era potente. Fez as duas ninja-to racharem no meio e quebrarem nas mãos do seu manipulador.

Mumu não foi atingido, mas estava mais uma vez desarmado. Não que isso não acontecesse várias vezes em suas batalhas. Era por isso que ele trazia uma bolsa cheia de esferas. Sem se mexer, ele levou a mão para a bolsa e alcançou mais uma de suas bolotinhas de metal. Concentrou-se e mirou.

— Você não é o único que pode usar uma magia de longe! — gritou o mago na direção de seu oponente. — TIRO DE METAL - TRIDENTE!

Mulkior jogou a esfera cheia de energia mágica contra David. No caminho, a esfera tomou forma e se transformou em um tridente dourado e muito bem afiado. Sem se amedrontar, David colocou sua espada para frente, defendendo a arma voadora. Se impressionou com o fato do impacto da arma voadora fazer seu pesado corpo ser arrastado uns dois metros para trás antes de cair no chão e virar uma pequena esfera de metal novamente. O cavaleiro negro precisou admitir que não esperava esse tipo de ataque, e decidiu que seria melhor mudar a estratégia de batalha.

Ao mesmo tempo, Kula tinha começado a correr na direção de Sayuri. A clériga, diferentemente de seu parceiro, não tinha uma armadura de metal para lhe proteger, o que fez o dano anterior nela ser bem maior. Sem contar que ela tinha voado para muito mais longe e sofrido com o dano da queda. Ela ficou de joelhos, lutando contra o próprio corpo para obedecê-la. Ela estava queimada e ardendo.

Olhou para frente. Kula vinha correndo em sua direção, preparando-se para atacar novamente. Ela não poderia ter essa vantagem. Forçou o corpo ao limite. Aumentou a liberação de energia mágica. Isso fez Kuchiki ficar mais atenta, mas ela não tinha parado de correr.

CRUZ PURIFICADORA!

Sayuri apertou o punho na frente do corpo e mandou toda a energia concentrada para lá. Depois, abriu a mão em forma de reza, e desenhou uma cruz no ar. Essa cruz ganhou forma, feita totalmente de energia mágica. No momento seguinte, ela brilhou e então voou na direção de Kuchiki, rodando como se fosse um bumerangue. Não parecia ser potente, mas ainda sim, era uma magia rápida de longo alcance. Kuchi colocou a mão para frente e mirou na própria cruz.

ESFERA DE FOGO!

A esfera de chamas foi criada e logo em seguida jogada contra a cruz branca brilhosa. As duas magias se encontraram no caminho e explodiram, criando uma nuvem de fumaça mágica branca e preta, impedindo que uma oponente visse a outra por um momento.

E foi isso que a maga de fogo aproveitou como vantagem. Ela já estava correndo e não parou nem um segundo. Entrou com tudo dentro da fumaça e continuou avançando. Sayuri ainda estava machucada e com o corpo dolorido, por isso demorou para perceber a investida total da oponente.

Kula saiu da fumaça pulando, com a mão direita cheia de energia mágica. A clériga cruzou os braços para frente, sabendo que não teria tempo o suficiente para contra atacar ou para se esquivar.

TORPEDO DA DESTRUIÇÃO!

Kula Chikigane não estava brincando quando disse para seu parceiro que iria atacar Sayuri com tudo. Ela já planejava usar essa magia antes, mas teve que usar uma esfera de fogo para poder se defender, o que consumiu um pouco de sua energia mágica concentrada. Mas não importava. O encontro das duas magias anteriores acabou criando um cenário perfeito para um ataque surpresa.

Antes mesmo de cair no chão, Kuchiki apontou a mão para frente e disparou o retângulo de fogo, que voou como um míssil disparado de uma daquelas armas mágicas gigantes usadas em guerras. A magia bateu nos braços cruzados de Sayuri e explodiu, levando mais uma vez a clériga para longe.

A dor foi impressionante. Antes mesmo de cair e rolar no chão, Sayuri sentiu seus braços quase virarem pó. Ela ouviu o grito de David vindo de bem longe, mas não tinha tempo para respondê-lo. Agora era ela que estava tonta e vendo todo o seu tato desaparecer. Tentou se erguer, mas os braços doeram e ela voltou ao chão.

David viu sua parceira... Sua esposa, mais especificamente falando, cair no chão machucada. Era óbvio que sua próxima ação seria correr em direção à ela desesperadamente. Mas ele não era o único que pensou isso.

Mumu viu a cena e imediatamente imaginou que o cavaleiro negro iria socorrer a moça. Tiro e queda. Assim que David deu as costas para ele, Mulkior puxou outras duas esferas de metal de sua bolsa e concentrou energia nelas, já começando a correr atrás de David. O mago era claramente mais rápido, então não precisou forçar muito o corpo para alcançar o oponente.

TRANSFORMAÇÃO DE METAL - NÍVEL DOIS - MARRETA!

A ideia de Mumu não precisava ser mais clara. O mago já tinha passado por muitos combates contra pessoas vestidas da cabeça aos pés com armaduras pesadas e grossas. Contra esse tipo de oponente, as lâminas geralmente eram inúteis, a não ser que você atingisse os pontos certos, que eram as folgas entre as partes da armadura, como o sovaco ou a dobradura da perna, contrária do joelho. Mas era necessário muita concentração e uma mira perfeita para desmembrar um oponente por esses locais.

Foi por isso que as marretas de guerra foram criadas. Elas eram como martelos gigantes, sem nenhuma lâmina ou corte. Elas serviam para amassar o ferro das armaduras. Agora você pode pensar: o que acontece quando você tem que vestir uma coisa de ferro que está amassada para DENTRO? Agora pense outra coisa. Pense: o que acontece quando a armadura é amassada com a pessoa dentro? Resposta: a carne do corpo não suporta, fazendo os ossos quebrarem ou, se a pessoa tiver muita sorte, as fivelas da armadura não aguentam e rasgam, fazendo a pessoa em si ficar sem a proteção de ferro. De um jeito ou de outro, a vantagem seria de quem tem a marreta.

Essa arma tinha um pequeno ponto fraco: era pesada demais para ser manuseada livremente. O que fazia com que o usuário ficasse ligeiramente sem defesa. Mas o que importava, se você conseguisse acertar o oponente com ela? Um golpe na cabeça, por exemplo, racharia o crânio da pessoa em dois em um só movimento.

Essa era a ideia de Mulkior. Ele não tinha nada contra David ou Sayuri, mas eles entraram no Coliseu sabendo que suas vidas estariam em risco. O mago avançou e jogou o braço com a marreta para trás, a segurando com as duas mãos. Pegou impulso com o corpo e aplicou um golpe vertical vindo de cima. Mirou na cabeça do cavaleiro. Um golpe era tudo que precisava. Então veio o contra ataque.

— Caiu na minha armadilha!

David fez um movimento muito desconcertante para alguém usando uma armadura pesada daquelas. Ele freou a sua corrida colocando o peso do corpo sobre a perna esquerda e depois, com todo o peso ali, forçou a mesma perna para avançar para trás, dando um salto relativamente longo.

A marreta passou longe de seu corpo, entrando em contato direto contra o chão. O golpe tinha se provado poderoso, pois destruiu boa parte dos pisos do ringue, que eram feitos especificamente para aguentar os mais poderosos ataques.

Mulkior se viu sem saídas. O tempo tinha começado a ficar lento. Ele viu David girando a espada cheia daquela energia vermelha enegrecida, e depois deu um passo para a direção do mago. Posição perfeita. Ângulo perfeito. Sem defesa. Golpe.

CORTE DO DESESPERO!

A espada fez um movimento horizontal e atingiu o peito de Mumu em um ângulo tão perfeito que a lâmina inteira conseguiu ter o gostinho de sua carne. Sim, esse golpe tinha sido mais poderoso que o último. A espada ultrapassou a cota de malha que o membro da Immortal Star vestia por baixo da roupa, chegando ao seu peito forte.

O golpe não foi excepcionalmente rápido, mas o problema era que Mumu não estava em posição de fazer qualquer coisa por causa do seu próprio golpe que tinha lhe consumido forças e tempo. Ele foi jogado para trás, mas não foi para longe. Rolou pelo chão, sangrando muito.

Seu corpo tinha ficado com o peito para cima, e agora Mumu via o céu azul sem nuvens. Ele não ouvia nada. Nem mesmo Mana, que tinha finalmente saído de cima da maca e corrido até a borda para gritar pelo nome do companheiro de time, mesmo com os médicos tentando segurá-la.

Mas ele não ouviu. Sua mente estava embaralhada. Ele tentou ouvir o barulho que o público fazia, mas não conseguiu. Era impossível os espectadores se calarem depois de verem um golpe efetivo daqueles, então Mumu concluiu que ele que estava perdendo os sentidos.

Mas uma coisa ele conseguiu ouvir. Os passos de David. O cavaleiro negro estava se aproximando devagar. O mago da Immortal Star forçou a cabeça para se virar e viu seu oponente parado ao seu lado, levantando a espada para dar o golpe final. Iria ser um golpe de ponta, mirado no coração. Nenhum ser humano sobreviveria para contar história depois de ser acertado ali.

Os braços de Mumu estavam dormentes. Ele não conseguiu abrir a boca para falar e suas pernas pareciam congeladas. Não havia dor, por mais engraçado que pudesse parecer. Dizem que quando o corpo está em um estado de quase morte, a pessoa deixa de sentir dores. Talvez aquilo era verdade.

— Você achou mesmo que eu iria virar as costas para um inimigo daquele jeito? — começou a dizer David, ainda segurando a espada no alto. — Você viu que, no começo da luta, minha aura e a de minha parceira estavam ligadas, mas não percebeu que nós a escondemos assim que eu parti para cima de você. Mas eu ainda estou conectado a ela. Sei exatamente como ela está, o que está fazendo e o que planeja fazer futuramente. Temos um laço diferente de vocês dois. Estamos mais acostumados a lutar um ajudando o outro, e vocês tiveram o maior dos azares por nos encontrar em ringue. Não me odeie por isso. Adeus.

David desceu a espada violentamente e fortemente contra o coração de Mulkior. Houve um impacto e um acerto. Sangue foi derramado e gritos foram ouvidos. Nenhum deles eram tão altos quanto o de Mana.

Kuchiki não ouviu os gritos ou sequer o que David tinha falado antes. Assim que cavaleiro negro começou a correr na direção de Sayuri, Kuchi também correu. E ela estava muito mais próxima. Ela iria dar um outro golpe potente na clériga e iria tirar ela do ringue, para que não pudesse mais lutar.

A maga de fogo não queria matar a oponente, pois mesmo ali, ela a considerava uma amiga. Apenas derrotá-la seria o suficiente. E foi dessa vez que a maga não percebeu o que sua oponente fazia.

Sayuri ainda estava no chão, mas estava conseguindo mexer o braço. Ela juntou energia mágica por ele e o mandou para todo o seu corpo. O que ela faria não poderia ser mais óbvio.

BENÇÃO DIVINA!

A energia ao redor de seu corpo brilhou intensamente, fazendo a maga de fogo colocar os braços para frente para não se cegar. "Essa não", foi o que Kuchi pensou. Ela sabia muito bem o que essa magia fazia. Era a especialidade de Sayuri.

O brilho foi ficando menos intenso, e o corpo da clériga foi ficando cada vez mais leve. Suas dores estavam sumindo e as queimaduras não a incomodavam mais. Sua pele foi voltando ao normal, fazendo todo o sangramento parar imediatamente. As forças de Sayuri voltaram e ela conseguiu se levantar. Sorriu quando encarou a oponente e sua expressão de pavor.

Magia de Cura. Essa era a especialidade de todos os clérigos, mas Sayuri tinha conseguido chegar em um nível muito mais elevado desse quesito. Sua magia de cura ficou conhecida mundialmente depois que ela foi convidada pelo próprio Arcebispo da Catedral da Nossa Senhora da Redenção, a maior e mais influente igreja do globo terrestre, para que ela se tornasse uma das Madres do local e levar a benção e o conhecimento religioso para todos os cantos do mundo. Para Sayuri, aquilo tinha sido mais que uma honra.

Então ela viajou o mundo junto de David, curando pessoas e ao mesmo tempo, fazendo o trabalho de sua Guilda que envolvia pesquisa de campo em lugares afastados e desconhecidos. O trabalho pesado fez suas habilidades aumentarem gradativamente e hoje, sua magia de cura principal — que era essa que ela acabou de usar —, já conseguia curar um corpo em um estado de quase morte.

Que era o exato estado de Mumu antes de David descer a espada em seu coração.

— Não foi muito sábio entrar em uma luta contra nós, Kula. — disse Sayuri, arrumando o cabelo. — Você é poderosa sim, mas devia ter lembrado que eu e o David somos as únicas pessoas que têm um Título Único como dupla.

— Eu não me esqueci desse detalhe. — respondeu a maga, prontamente. Ela se via com um certo problema. Viu que o corpo de Sayuri estava intacto, como se não tivesse levado nenhum dano. Com a magia de cura, ela sempre estaria um passo a frente nas lutas, mas isso não significava que ela conseguiria se curar para sempre.

— Você entrou no ringue mesmo depois de ter lembrado disso? Vou aplaudir sua coragem, amiga. Mas olhe no que deu. Seu parceiro está preste a morrer por causa dessa luta boba.

Quando o assunto era Mulkior, Kula conseguia ficar sem nenhum pensamento lógico. Assim que ela ouviu Sayuri, seu corpo se virou automaticamente, sem precisar de nenhuma ordem. Foi nesse exato momento que David abaixou a espada no coração do mago de ferro. Seu parceiro. Seu amigo. Mumu!

Kula se desesperou. Gritou algo que não era exatamente uma palavra e começou a correr na direção dos dois homens. Mas ela foi parada. Alguém lhe segurou pelo braço, fazendo ela dar um tranco bem feio, quase deslocando o próprio braço. A maga se virou e viu Sayuri lhe segurando com a mão esquerda, e com a direita, ela concentrava energia mágica na sua já conhecida maça de espinhos.

PUNIÇÃO DOS INFIÉIS!

A maça da clériga estava brilhando intensamente, forrada por uma forte energia mágica. Sayuri puxou o braço de Kuchiki para si, fazendo a maga perder o equilíbrio e a deixando sem nenhuma defesa. Depois, veio o golpe. A maça voou horizontalmente e acertou a barriga de Kla, tirando o ar da maga em um só golpe. Ar, pele e carne, na verdade.

O golpe fez a maga cair rolando pelo chão. Quando parou, Kuchi não sabia se estava deitada no chão de barriga para cima ou para baixo. Doía tudo. Até onde ela não tinha sido atingida estava doendo. Lágrimas se misturaram com sangue enquanto ela lutava para ganhar o ar de volta nos pulmões. Mumu. Era só o que ela pensava naquele instante.

Ela viu o golpe direto. Não viu onde iria pegar porque estava muito longe, mas viu que David tinha realmente acertado seu parceiro numa tentativa de empalá-lo. Não dava pra saber se as lágrimas que caiam de seus olhos eram por causa da dor intensa ou por tristeza de ter visto seu companheiro ser atingido em cheio.

Essa luta estava muito mais perigosa do que ela havia sequer imaginado. Não... Ela sabia! Pegar David e Sayuri como dupla era loucura! Caramba, eles tinham uma droga de um Título Único como dupla! O que ela tinha na cabeça? Mas o que dava pra fazer agora?

Os olhos de Mulkior, antes da luta começar, demonstravam uma tamanha confiança que até mesmo Kula tinha se sentido atraída pela vontade de lutar do garoto. Não era mais segredo pra ela. Aquilo nunca tinha acontecido em sua vida. Atração. Vontade de permanecer ao lado sempre. Era um sentimento estranho, mas ela já tinha ideia do que era. Só existia uma coisa que ela nunca havia sentido com tanta intensidade assim. Algo queimando dentro de si. Seu coração acelerado querendo sair pela boca.

Como não ser mais óbvio? Ela deveria ter falado isso para ele antes. Queria ter tido o tempo para dizer para ele. Antes dessas lutas. Antes de qualquer outro perigo que eles fossem enfrentar. Queria ficar com ele sozinho, olhar nos olhos dele. Só esse pensamento fez a maga morder os lábios. Um momento para confissão. Era o que ela mais queria agora. Queria ter dito "eu te amo".

Mana parou de gritar quando forçou a vista e viu algo que a deixou muito mais aliviada. Claro que logo depois, Kuchiki levou um golpe direto no corpo e isso fez a assassina começar a se preocupar novamente.

Mas o que ela viu antes tinha haver com o golpe de ponta de David contra o coração de Mumu. Em primeiro lugar, era bom esclarecer que o golpe não tinha acertado o coração do mago de ferro. Antes de atingir seu peito, Mulkior agarrou a lâmina da espada com as mãos nuas. Isso criou um grande corte em sua mão, enchendo seu peito de sangue que logo se misturou com o machucado anterior, mas é necessário admitir que aquilo era bem melhor do que ter o coração atravessado por quase dez centímetros de ferro enegrecido.

David foi mais uma vez pego de surpresa pela força do oponente, que não parecia querer largar a ponta de sua lâmina de jeito nenhum. O cavaleiro negro forçou a espada para atravessar o corpo do mago, e se ele continuasse naquele ritmo, iria conseguir tal fato. Mas Mumu começou a concentrar um pouco de energia mágica na mão. Ele precisava fazer aquilo a tempo, ou iria realmente morrer.

TRANSFORMAÇÃO REVERSA!

Era hora de virar o jogo. Mulkior mandou sua energia para a espada negra de David, pensando em transformá-la em uma reles esfera de metal inofensiva. A espada brilhou fazendo o cavaleiro negro soltar uma das mãos da espada para proteger os olhos.

Mumu riu e já pensou em se preparar para atacar. Assim que tivesse a esfera de metal da espada do oponente, ele a transformaria de volta em uma arma pontiaguda e depois lhe atacaria em uma dobra da armadura localizada na virilha do cavaleiro.

O brilho sumiu. Mas o mago de ferro não estava com nenhuma esfera de metal nas mãos. Algo tinha dado errado. A espada estava lá, intacta. Por mais assustador que pudesse parecer, essa não era a primeira vez que isso acontecia. Existiam duas possibilidades que impediam com que Mumu não consegue fazer a transformação reversa: ou a aura do oponente era grande demais e envolvia todos os seus equipamentos, os protegendo, ou:

— Sua espada é mágica! — gritou Mulkior, sem se mexer do lugar.

— E esse é o último erro que você comete nesse combate!

David disse aquilo e levantou a espada mais uma vez. Dessa vez ele iria aplicar mais força, para que o mago não conseguisse segurar a lâmina como fez da primeira vez. Desceu com mais um golpe de ponta, mirando o mesmo local. Mulkior se empurrou no chão usando os braços, rolando para o lado e fugindo do golpe. Dor no peito fez ele quase perder a consciência naquele momento.

Mas não tinha sido uma esquiva totalmente perfeita. O golpe fez a espada cortar a cinta que Mumu usava, fazendo ele ficar sem sua mais querida bolsa de esferas que ficava acoplada ali. O mago se levantou em um pulo e viu que tinha perdido a cinta de couro.

David, que não era burro nem nada, retirou a cinta que estava enrolada na espada, sorriu para seu oponente e depois jogou a cinta com a bolsa para longe, mais especificamente para fora do ringue. Agora Mumu estava desarmado de verdade.

— Retiro o que eu disse antes. — disse David, apontando a espada para o oponente. — ESSE foi o seu último erro.

Do outro lado do ringue, Kula tinha começado a secar as poucas lágrimas que escorriam de seus olhos. Ela tinha ouvido a voz dele. Ele estava vivo! As forças voltaram. Seu corpo começou a obedecê-la de volta. Não era o fim! Se "ele" ainda estivesse lutando, então ela precisava se levantar e continuar lutando também!

Dor. O ar havia voltado, mas a dor não havia sumido. Sua barriga estava sangrando. Mas não era hora de se preocupar com aquilo. Kuchi girou a cabeça, vendo que Mumu estava lutando novamente contra David. O cavaleiro negro estava dando uma série de golpes com sua afiada espada enquanto o mago se esquivava por muito pouco, jogando o corpo para os lados ou para trás.

"Porque ele não está contra atacando?", pensou Kula. Ele estava desarmado. Será que ele não estava conseguindo tempo para retirar uma esfera e transformá-la? Era possível, já que David estava avançando rapidamente. Claro, a parceira dele não tinha visto ele perder a bolsa de esferas há um minuto atrás. Além disso, o corte no peito dele parecia grave e continuava pingando sangue para lá e para cá cada vez que ele se esquivava.

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E agora ela também precisava se preocupar com Sayuri, que havia percebido que sua oponente ainda não havia sido vencida. Kuchi não tinha tempo para nada! Havia algo a mais doendo em seu estômago e não era por causa do golpe. Quando a maga acabou de rolar, ela caiu em cima de uma coisa que ficou lhe incomodando. Era como se deitar no chão e ver que tinha uma pedra nas suas costas. Mas o ringue era limpo e reto! Então o que era aquilo?

Kuchiki levou a mão para baixo do corpo, alcançando o objeto de seu incômodo. Era uma das esferas de Mumu. Como aquilo havia chegado até ali era um mistério. Aquelas coisas rolavam para todos os lados mesmo. Não era uma surpresa tão grande ter uma bem ali.

Sayuri acelerou o passo quando viu a maga de fogo se mexer. Ela estava acordada! Mas não por muito mais tempo. Era hora de finalizar aquela briga. Kuchi levantou o braço para a clériga, que parou imediatamente ficando em uma posição defensiva. "Ela vai atacar estando no chão daquele jeito?", pensou Sayuri. E ela obteve a resposta um segundo depois.

CÍRCULO DE FOGO!

Parar de correr não tinha sido a melhor coisa que Sayuri pudesse ter feito. Kula concentrou energia e desenhou um círculo no ar, criando uma parede de fogo em volta da oponente. Aquela magia era um problema.

Sayuri tentou ultrapassar as chamas com a mão nua e acabou queimada. As chamas eram mais intensas do que ela esperava. E só agora que a maga de fogo tinha conseguido o tal "tempo" que queria.

Ela se levantou lentamente, conseguindo ficar ereta. Sayuri se preparou. Era óbvio que sua oponente iria tentar usar alguma outra magia para atacá-la, pois ali dentro do círculo de fogo, ela não poderia se esquivar. Além disso, Sayuri conhecia bem essa magia e sabia que em alguns segundos, ela se apagaria automaticamente. Ela já tinha seu próximo passo planejado. Iria erguer uma barreira para se proteger da magia mais uma vez, inutilizando totalmente o esforço da maga de fogo.

Por mais incrível que possa parecer, Kuchiki não estava nem um pouco interessada em atacar Sayuri naquele momento. Ela estava com a esfera de seu parceiro na mão, passando de dedo em dedo, pensando em outra coisa. Era a segunda vez que ela tinha tocado nas esferas de Mumu. A primeira vez, foi quando eles pegaram uma carruagem para irem para aquela cidade ali mesmo.

Na viagem, seu parceiro explicou um pouco mais sobre seu próprio poder. Ele disse que a classe de combate dele era especializada em economizar energia mágica, fazendo com que ele pudesse lutar por muito mais tempo. Para isso, todas as suas esferas de metal eram "banhadas" em energia mágica muito antes dele as usar. Isso dava uma vantagem extremamente grande para o usuário, pois ele precisaria usar somente metade da energia que usaria normalmente para transformar algo. Claro, depois que ele usava uma esfera, aquela mesma bolinha perdia a energia concentrada, mas ela poderia ser "enchida" novamente concentrando energia mágica nela.

Aliás, Mumu também explicou que suas esferas não eram simples bolas de ferro. Elas foram feitas especificamente para conter energia e valiam muito dinheiro. Teoricamente, as esferas eram como as Gemas de Energia, os maiores e mais usados artefatos dos Magos. Foi aí que Kuchi teve uma ideia mais do que brilhante.

Ela deveria ter perguntado isso durante a viagem, mas só agora que ela tinha tido tamanha ideia. A maga apertou a esfera na mão e olhou para frente. Mulkior estava correndo desengonçado pela borda do ringue enquanto David continuava avançando sem descanso, dando vários golpes rápidos em baixo e em cima.

Ela deu uma rápida olhada para o lado e viu que Sayuri estava quietinha dentro do círculo de fogo, acumulando energia mágica. Kuchi olhou para a esfera. "O que custa tentar?", pensou ela. Fechou a palma da mão mais uma vez e, apertando a bolinha, começou a concentrar energia.

"Aí vem!" foi o que Sayuri pensou. Ela afastou as pernas e se preparou para defender. Não importa o que Kula fosse atirar contra ela. Sua magia de defesa era impenetrável.

Kuchiki esticou o braço para trás, como se estivesse preparando para atirar algo. Deu um passo para frente e realmente atirou algo das mãos. A clériga estava preste a usar sua magia, mas aí viu que nada vinha em sua direção. Para falar a verdade, a maga tinha atirado algo para o outro lado. Foi na direção dos dois homens que não paravam quietos no ringue. David!

Sayuri se virou e gritou o nome do amado. Tinha sido uma reação muito rápida. A aura que conectava os dois alertou David de um perigo, fazendo o cavaleiro negro dar um pulo para trás, para se esquivar de qualquer coisa que tivesse vindo na direção dele. Não veio nada.

— MUMU! EM CIMA! — gritou Kula, o mais alto que pôde.

O mago de ferro, que já não aguentava mais ficar sem fôlego depois de tanto se esquivar, demorou para olhar para cima. Ele estava meio agachado, com a mão esquerda sob o ferimento no peito. Era sério. O corte tinha ultrapassado sua cota de malha e o sangue não parava de cair. Ele iria sofrer uma hemorragia logo se não estancasse o vazamento.

Mas enfim, ele agora olhava para cima. Sua respiração estava rápida. Seus olhos não estavam mais tão bons quanto estavam no começo da luta. O que era aquilo? Mulkior viu um ponto vermelho bem pequeno caindo na direção dele. Levantou o braço e deixou o ponto vermelho cair em suas mãos.

Calor. Foi a primeira coisa que ele sentiu antes mesmo de ver o que era aquilo. Era estranho ele ter sentido aquilo pois seu tato estava quase nulo por causa da falta de sangue. Mumu abaixou a mão e viu que estava segurando uma das suas esferas de metal. Mas por que estava vermelha? E aquela energia mágica... Não era dele.

Mulkior olhou para o lado e encarou a figura cansada de Kula. Cansada sim, mas ela parecia estar sorrindo. Não, não parecia. Ela ESTAVA sorrindo! O mago olhou para a esfera de novo. "AH! Entendi!". Tinha caído a ficha.

Não para os dois oponentes, claro. O círculo de fogo envolvendo Sayuri foi apagado e David estava pronto para tomar o avanço novamente. O cavaleiro agiu primeiro. Empunhou a espada para o alto e correu na direção de Mumu pela centésima vez.

— Bom, vamos ver no que isso vai dar. — disse o mago de ferro, apertando a mão com a esfera e concentrando um pouco de energia nela. Ele conseguiu sentir. A preocupação que vinha daquela energia quente. Os sentimentos de Kula ficaram travados na esfera junto com sua energia. Mumu conseguiu dar um rápido sorriso. Ele estava se sentindo como se estivesse sendo curado. Novamente aquela calmaria lhe passou pela mente, amolecendo seu corpo e retirando suas dores temporariamente. Aquilo precisava ser especial. Ele já sabia o que iria fazer. — TRANSFORMAÇÃO ESPECIAL - FLAMBERGE!

Essa foi uma das coisas que o público mais aplaudiu durante todas as lutas do Torneio. Eles não tinham entendido toda a moral da magia de Mulkior Musubi, mas isso não foi necessário.

O mago começou a transformar a pequena esfera que cresceu em sua mão até ficar do tamanho de uma cimitarra. Mas ela era claramente diferente de tudo que o mago já havia mostrado para o público até então. Pra início de conversa, a lâmina era totalmente vermelha. Tinha uma beleza exótica sobrenatural. Era uma coisa rara de se ver, pois para uma lâmina ficar daquela cor ela precisaria ser feita com o metal chamado "martirium", encontrado somente nas cavernas arenosas do Deserto de Jaam-Sin. Pintar a espada era algo que somente completos novatos faziam, pois a tinta corroia o ferro, deixando a espada enferrujada e sem corte em pouco tempo.

Poucos eram aqueles ali no Coliseu que já tinham vista uma espada daquelas. E menos ainda quando a mesma espada pegou fogo. Foi novidade para quase todo mundo.

David desceu sua espada negra com força, na ideia de partir Mumu em dois. O golpe foi parado no ar. O mago levantou sua espada flamejante em cima da cabeça e aparou o golpe poderoso do oponente.

A chama intensa que liberava da espada fez David recuar um passo, pois o calor já estava lhe incomodando a mão. Da onde ele tinha tirado uma espada de fogo? David analisou muito bem a batalha dele no primeiro dia de torneio e ele tinha certeza que nenhuma das suas transformações se misturavam com algum elemento mágico a não ser o Ferro.

Logo... Fogo? Aquilo era claramente uma Magia Conjunta. Kula era a maga de fogo da parada. Então... Como? Ele não a tinha visto usar uma magia antes e nem envolver seu parceiro com sua aura. Havia algo de errado...

E olha que ele tinha falado aquilo antes de ver o que Mumu fez naquele EXATO momento. Houve um grito de dor vindo do mago. David abriu a boca e arregalou os olhos, criando pela primeira vez durante todo o torneio, uma expressão de clara surpresa.

O pobre homem não poderia ser culpado. Qualquer um que estivesse em seu lugar faria a mesma expressão ao ver Mulkior colocando a lâmina flamejante da espada em seu próprio peito. Sim, era exatamente isso que ele estava fazendo. O fogo encostou em seu ferimento sangrento de seu peito, causando uma dor semi igual em seu corpo. Foi isso que fez o mago gritar.

E não foi só uma passada de leve. Mumu realmente estava encostando a arma em seu peito e a segurando ali com força. Pensar que ele tinha enlouquecido era algo normal. Todo o público pensou assim. Menos Bart. E nem David, que se tocou quase que imediatamente o que o oponente planejava. Não era loucura! Aquilo era uma genialidade!

— Você está usando o fogo da espada para cicatrizar o ferimento no peito! — disse David, ainda não tirando aquela forçada expressão do rosto.

— Hehehe... Se isso continuasse... Assim... Eu iria morrer... Antes da luta... Acabar.

A voz de Mulkior tinha se enfraquecido bastante. Ele respirava rápido e até mesmo para falar ele precisou juntar forças do além. Agora ele se encontrava ajoelhado, segurando a espada em sua frente. Seu corpo estava querendo adormecer, e seus olhos piscavam ritmicamente. Ele não iria durar muito mais tempo, e infelizmente, ninguém sabia disso mais do que seu oponente.

Enquanto isso, Sayuri avançou contra Kula mais uma vez. Ela não tinha entendido o porque a maga não a atacou naquela hora, mas pra ela, tinha sido um erro fatal. A clériga tomou força colocando a perna esquerda para frente e depois tentou acertar a oponente em um golpe horizontal usando a sua já conhecida maça de espinhos. A maga se abaixou, deixando a arma passar zunindo por cima de sua cabeça.

Kuchi poderia ser uma maga exemplar, mas suas habilidades de combate corpo a corpo eram incrivelmente... Inúteis. Para ela, suas magias bastavam. E geralmente bastavam sim! Mas quando se enfrenta um oponente desse nível, você precisa ter uma espécie de "plano alternativo" caso o padrão falhar. Era o que Mana e San tinham feito em suas lutas.

Mas não era hora de glorificar seus colegas. Era hora de lutar. Sayuri girou e tentou um golpe vertical dessa vez. Kuchiki deu um salto de gato para trás, ficando um pouco mais afastada da oponente. Era hora de um contra ataque mais poderoso. Kuchi começou a juntar energia mágica no braço direito, batendo com a palma no chão no segundo seguinte.

PILAR DE FOGO!

Essa magia, por mais que Kula não a usasse muito, era uma de suas mais básicas junto com a esfera e o míssil. A garota não a usava muito porque seu alcance era bem curto, fazendo com que ela fosse obrigada a se aproximar do oponente para poder usar. E isso era algo que ela não gostava de fazer.

A magia funcionava da seguinte forma: primeiramente o mago usuário concentrava energia no braço inteiro e depois colocava a mão do braço com a energia no chão. Depois, o mago passava toda aquela energia de uma só vez para o próprio chão, criando um simples Campo de Efeito em menor escada. Por fim, o mago mirava onde queria que esse campo fosse, e no segundo seguinte, um pilar de chamas vermelhas aparecia do chão, torrando o inimigo de baixo para cima. Foi a ideia de Kuchi e foi o que Sayuri lutou para evitar.

A clériga sentiu a concentração de energia mágica se acumulando bem aos seus pés e pressentiu o perigo. Ela pulou para o lado, acreditando que teria tempo o suficiente para se esquivar. E foi aí que ela foi pega de surpresa. Kuchiki sabia que seria uma magia difícil de acertar a oponente, então ela fez uma Alteração Arcana na própria magia. A maga de fogo retirou o poder destrutivo da magia para aumentar sua velocidade de ataque.

Resultado? O pilar de fogo não tinha tanta força ou poder, mas apareceu muito mais rápido. Sayuri foi salva pelo seu próprio instinto. Ela pulou para o lado antes do pilar aparecer, mas ainda sim, seu braço direito foi acertado pelas chamas. A clériga não gritou com a dor, mas foi obrigada a largar a maça que carregava. Seu braço estava enegrecido, mas não ardia tanto quanto os braços de David. A propósito, foi no mesmo momento que a garota deixou cair a maça que Mumu tinha começado sua "medicina de fogo", bem longe dos dois.

Kula não ouviu o grito do parceiro, pois estava totalmente focada em sua oponente. Era melhor assim. Se ela se virasse novamente para Mulkior, iria acabar levando outra magia na cara. E foi por isso que ela atacou ferozmente. Partiu para o combate corpo a corpo. Sim, mesmo não tendo habilidades nenhuma nisso, ela foi.

Mas Kula não era nada burra. Ela não tinha passado e vencido centenas de batalhas à toa. Ela tinha uma estratégia em mente e estava preste a usar.

CORPO DE CHAMAS!

A maga de fogo concentrou energia mágica em volta do corpo inteiro, fazendo-o entrar em combustão. Essa magia tinha muitas utilidades, na maioria das vezes, defensivas. Mas dessa vez, ela estava usando na ofensiva.

Kuchi se aproximou de Sayuri e tentou dar um soco no rosto liso da garota. A clériga levantou o braço esquerdo para defender o golpe, e viu que aquilo tinha sido uma péssima ideia. Quando o punho de Kuchi encontrou o braço de Sayuri, uma nova queimadura foi feita. Sayuri puxou o braço para si imediatamente depois, sentindo a dor e o calor ao mesmo tempo. Ela não podia se defender.

A maga atacou com um chute baixo dessa vez. Ele foi esquivado com um passo para trás de Sayuri, que já se abaixou para se esquivar de outro soco alto. Por sorte da clériga, Kuchi não sabia aplicar golpes rápidos ou fintas, mas mesmo assim, continuou atacando. Um outro chute mirado no estômago, que foi esquivado com um salto curto para trás. Um soco no ombro, esquivado facilmente com o girar de corpo. Uma rasteira que quase lhe atingiu se não fosse um pequeno salto para cima.

E então o que ela menos esperava: um ataque seguido. Kuchi aplicou um soco alto que foi esquivado com uma certa facilidade, mas ela ainda deu um passo para frente usando só a perna esquerda para ganhar impulso e conseguiu acertar Sayuri com uma joelhada no estômago.

Dor e calor. Queimadura. Dor de novo. Sayuri deu quatro passos para trás quase caindo no chão de costas, tentando recuperar o ar previamente perdido. Sem arma, ela estava com um problema. Ela precisava mudar um pouco a estratégia. Estava na hora de lutar em conjunto. Hora de mostrar para esses dois como uma dupla realmente deveria lutar.

Sayuri deu as costas para Kuchiki e começou a correr rapidamente na direção de seu parceiro, que nesse momento se defendia dos golpes altos de Mumu. A maga não acreditou em uma coisa tão absurda quanto aquela. Dar as costas assim, do nada? Ah não! Ela não iria deixar barato.

ESFERA DE FOGO!

Primeiramente, Kuchi cancelou a sua magia de corpo de chamas para que parasse de perder energia mágica com ela. Essa sua magia era útil, mas tinha esse porém. Não demorou nem um segundo para que a maga voltasse a concentrar energia mágica na mão direita e mirar na oponente.

Ela atirou a bola de fogo mirando mais embaixo, tentando acertar Sayuri nas pernas. A esfera flamejante voou rapidamente e retamente na direção da clériga, que quando sentiu a magia vindo, virou cento e oitenta graus e, mostrando que já estava com uma certa quantidade de energia mágica concentrada, desenhou um círculo no ar à sua frente.

BARREIRA DE MAYA!

Mais uma vez, aquela barreira invisível foi criada bem na frente da garota, fazendo a esfera de fogo bater no nada e desaparecer em uma pequena e inofensiva explosão. Sayuri não perdeu tempo. Se virou de novo e voltou a correr. Kuchi quis xingar a oponente, mas ao invés disso, se levantou e impulsionou o corpo para frente, correndo na atrás de Sayuri.

Enquanto isso, Mulkior avançava com tudo para cima de David. Nenhum dos dois estava usando energia mágica para atacar um ao outro. Mumu não queria perder energia porque sabia que teria que usar muita magia pra acabar com um oponente como David. Já o cavaleiro negro não queria usar porque suas magias necessitavam de seu sangue para serem criadas. Então os dois continuavam uma troca de golpes intensa, onde o barulho dos dois metais reverberavam por todo o ringue, criando uma orquestra de ferro única.

O mago continuou atacando com golpes altos, pois mirava o capacete de David na tentativa de retirar o equipamento na base da força. Tomou impulso com o corpo e jogou a espada em um golpe horizontal aberto, com muita força. David levantou a espada com as duas mãos e defendeu o golpe, tendo que forçar o braço para que não perdesse no quesito de força. Se afastou das chamas que a espada do mago produzia, e logo em seguida partiu para o ataque, dando um curto golpe vertical vindo de cima. Mumu girou o corpo para o lado, fazendo a lâmina passar centímetros de distância dele. Com uma só mão, Mulkior aplicou um golpe rápido de ponta mirado no pescoço de David. Esse, por sua vez, só jogou a cabeça para o lado, fazendo a lâmina flamejante cortar o lado de seu pescoço.

Não tinha sido um corte profundo, mas a dor que vinha com a queimadura era estressante. Na irritação, David acertou um chute quase no meio do peito do mago, que teve que recuar alguns três passos para trás. Seu peito voltou a doer, mas não era hora de se preocupar com aquilo.

David estava sem fôlego, e a falta de força nesse último chute tinha sido evidente demais. Era hora de avançar novamente. Mulkior tomou fôlego e pulou para cima do oponente. Iria dar um golpe e tanto, vindo de cima. O cavaleiro negro não se mexeu. Ficou parado, olhando a espada vindo em sua direção para um golpe mortal. Ele não tinha desistido da luta. Muito pelo contrário. Era porque ele sabia que estava protegido pela graça divina de ter uma parceira que ele poderia confiar até mesmo em seu leito de morte.

BARREIRA DE AEGIS!

Mumu sentiu que seu golpe atingiu algo duro. E invisível. O golpe tinha sido tão forte, que o barulho causado pelo impacto quase rachou os vidros dos óculos dos espectadores que se encontravam mais próximos ao ringue.

O impacto fez a espada de fogo do mago da Immortal Star quebrar no meio, deixando o mago completamente surpreso. Ele olhou para trás de David, e viu que Sayuri estava a poucos metros dos dois. E David estava sorrindo. E levantando a espada. Iria dar um golpe forte para acabar de vez com o oponente, aproveitando que ele estava com uma cara de perdido que era quase hilária.

O Líder da Immortal Star estava desarmado e com o corpo ferido demais para fazer qualquer movimento brusco. Então se esquivar seria difícil. Ele se preparou para pular para trás, mas suas pernas não estavam reagindo como deveriam. Houve uma rápida tontura, e seu olhar perdeu o foco. Anemia? Logo agora? Não! Não, não! Seu corpo não reagiu a tempo e David desceu a espada violentamente contra o corpo paralisado do pobre mago.

Mas algo estranho aconteceu. Antes de sentir a lâmina fria da espada negra de David, Mumu sentiu um baque em seu corpo. Algo que veio do seu lado direito. Algo grande e ligeiramente pesado. Mulkior não sentiu a lâmina em seu corpo, mas sentiu que tinha sido derrubado no chão com tudo.

A tonteira piorou. O garoto tentou se levantar totalmente torto, olhando para o chão e tentando entender o que tinha acontecido. Kuchiki estava no seu lado, também no chão. Mumu piscou várias vezes, clamando para que seus olhos parassem de rodar como se estivesse dentro de um globo de bingo. Quando ele finalmente conseguiu enxergar direito, viu que sua parceira também tentava se levantar, mas não conseguia. E por quê... Corte! Sangue! Muito sangue!!

— KUCHI!! — gritou Mumu, indo até a parceira e tentando a ajudar a se levantar.

— Ai... Que bom que... Eu cheguei a tempo... — a voz da maga estava fraca e falhava.

Mulkior não precisou de mais nenhuma explicação. Quando Kuchi percebeu que seu parceiro não se mexia mais, ela apertou a corrida, se jogando no parceiro para tentar tirá-lo da área do golpe de David. Mas ela não contava que ELA MESMA levaria o golpe.

David acertou o braço direito de Kuchiki, e pelo jeito, o corte tinha sido profundo. A maga estava com a mão esquerda em cima do machucado, e ela sabia bem o dano que tinha acabado de sofrer. Pra começo de conversa, ela não estava mais sentindo o braço direito, o que já era um mal sinal. Aquela luta já tinha passado do limite. Estava perigoso demais continuar. E ainda tudo piorou depois disso:

BENÇÃO DIVINA!

David foi rodeado por uma luz branca e potente, e todos os seus cortes e feridas foram sendo curados pouco a pouco. Agora Sayuri estava no lado de seu parceiro, olhando com pena para os dois oponentes. Eles nunca tiveram chances, desde o começo. Como dupla, não havia ninguém melhor do que esses dois.

As magias de David eram potentes, mas precisavam do sangue do usuário para terem efeito. Isso fazia com que a pessoa acabasse tendo que fazer lutas curtas, pois ela mesma poderia se matar. Mas não se você tivesse alguém que pudesse te curar. E era esse o atual caso. Sayuri simplesmente destruía a única fraqueza da classe de Cavaleiro Negro. Era um problema e tanto ter que enfrentar esses dois juntos, pois não haviam saídas. Mumu e Kuchiki estavam sentindo na pele esse fato. Literalmente falando.

— Eles são fortes demais! — disse o mago, olhando para os dois oponentes. David não parecia que atacaria logo em seguida pois ainda recuperava o próprio fôlego. — Eles não ganharam esse Título Único por brincadeira!

— Mumu... — Kuchi estava desmaiando. O sangue de seu braço não parava de cair, e ela não estava mais sentindo o tato e sua respiração estava quase nula. — Eu vou... Tentar "aquilo".

— Mas o quê? — por um mero segundo, o mago deixou de encarar os dois oponentes e virou novamente para a colega. Ele demorou um segundo para calcular o que sua parceira tinha acabado de falar, mas chegou na conclusão óbvia. — Aquilo? Mas você mesma disse que ainda estava treinando!

— Eu sei. — responde a maga de fogo, começando a usar todas as forças restantes para juntar energia no corpo. — Mas eu... Não tenho escolha. Eu sei que... — Kuchi fez uma pausa aqui para tomar fôlego. Falar estava ficando impossível. — Eu sei que você não vai desistir. E depois de ver o que você fez com a espada de fogo... Não tem como eu não querer ficar... Do seu lado e lutar do mesmo jeito. Então eu vou... Arriscar.

Mulkior se calou. Ele olhou no fundo dos olhos da parceira. Realmente no fundo. Kula não era uma reles maga que controlava fogo. Pois o fogo estava em seus olhos. Ardiam como duas brasas recém acessas. O mago engoliu saliva quando entendeu que a força de vontade da parceira era tamanha que ele mesmo estava se sentindo na obrigação de continuar a luta.

Ele colocou a mão no ombro da parceira e só fez um "sim" mexendo a cabeça. Era o sinal. Ela estava livre para continuar. Kuchiki sentiu o apoio do parceiro que amava, e tentou se levantar. Foi difícil, mas com a ajuda dele mesmo, ela conseguiu.

Agora os dois times se encaravam em uma distância segura. Mas era claramente perceptível ver que o time da Immortal Star estava em uma grande desvantagem. Machucados e sem forças para continuar. Os gritos da plateia começaram a se encher de vivas para o lado de David e Sayuri. Eles já esperavam que esse seria o final da luta. E Pablo deu apoio a sua plateia, afirmando que os oponentes não tinham mais o que fazer.

— Ouça o apresentador, Kula e Mulkior. — era a voz de David. — Vocês não tem mais como continuarem essa luta. Desistam enquanto ainda estão respirando e vão se tratar! Não temos nada contra vocês para ter que partir para um ataque mortal!

— Agradeço a preocupação, David. — e essa era a voz de Kula. Por mais incrível que pareça, ela tinha conseguido um pouco de força para conseguir falar sem pausar a cada segundo. Ela sabia bem o que lhe dava forças. — Mas não vamos desistir. A luta não acabou ainda.

— Kula! Por favor! — era a voz clemente de Sayuri. — Não nos faça continuar essa luta! Por favor, desista! Ninguém vai achar errado! Seu time não vai ficar contra a decisão de vocês! Vocês dois aguentaram bem! Mas já usaram tudo o que tinham e já está na hora de acabar com seu sofrimento sem sentido! Por favor!

— Desculpe Sayu, mas você se enganou em uma parte. — era a maga que tinha falado de novo. Sayuri mudou a expressão no mesmo segundo que a palavra foi dirigida à ela. — Nós não usamos tudo o que temos ainda.

A energia da maga ferida cresceu. MUITO. David e Sayuri foram empurrados para trás com uma lufada de vento sobrenatural que surgiu do nada. O vento trazia uma grande quantidade de energia mágica e, principalmente, um calor infernal. Os dois, ao mesmo tempo, deram um passo para trás. Era padrão, isso. Quando você era pego de surpresa por algo poderoso, você precisava criar um espaço seguro para ou fugir, ou contra atacar. No caso do Casal de Ouro, nenhuma dessas duas opções eram válidas.

Kula estava liberando sua energia de uma vez só. Sua aura era vermelha como se quisesse queimar tudo ao redor. Mas algo foi mudando. A cor da aura foi... Ficando diferente. Se transformou em um roxo claro. Mas só inicialmente. Dois segundos depois, ficou negro. E depois branco. E depois azul! E depois amarelo!

O Coliseu estava vendo mais uma raridade. Uma aura que mudava de coloração quando concentrada. Isso era mais ou menos raro. Existia algumas classes guerreiras que conseguiam ter mais de uma aura, pois controlavam mais de um elemento. Mas a aura de Kula era bem diferente. Pois ela estava mostrando vermelho, preto, branco, azul escuro, amarelo, roxo e até mesmo um verde musgo tudo de uma vez só! A aura dela tinha virado um arco-íris e a vista estava sendo magnífica.

Mana não conseguiu manter a boca fechada quando viu aquela obra de arte se criando na sua frente. Sua expressão mostrava que nem mesmo ela nunca tinha visto algo desse gênero. E isso também poderia ser dito para os oponentes que estavam no ringue.

Mumu era o único que mantinha o foco nos inimigos. Ele já sabia o que era aquilo e também sabia que sua parceira iria conseguir fazer o que queria. Ele não poderia perder até mesmo em confiança para o casal oponente.

— Vocês já me viram combater antes, mas nunca viram eu usar um certo poder que eu venho treinando todos os dias. — disse Kuchi. Sua voz estava cheia de esperança e determinação. — Vou mostrar para vocês do que eu sou realmente capaz! — a maga levantou a mão esquerda, soltando o braço dormente e começou a mandar sua energia mágica para lá. A aura começou a mudar de cor, se transformando em um branco brilhoso. — MANIPULAÇÃO DAS CHAMAS - BRANCO CICATRIZANTE!

Kuchiki retirou um sonoro "WOW" de todos os espectadores naquele momento. Sua mão esquerda entrou em chamas... Mas não as clássicas chamas vermelhas que estamos acostumados a ver. As chamas eram brancas, da mesma cor do piso do ringue. No segundo seguinte, a maga levou a mão esquerda novamente para o machucado no braço direito, alisando o corte como se estivesse passando um tipo de pomada no local. E então veio a surpresa. Ao tirar a mão de cima do braço, Kuchi mostrou que o ferimento recém adquirido havia sumido. Essa era a hora de outro "WOW".

— Você conseguiu! — disse Mumu, bem baixinho para ser ouvido só pela parceira. — Eu sabia que iria conseguir!

— Eheheh... — Kuchiki ficou vermelha e totalmente sem graça. Mas logo voltou a se focar com o problema em mãos. — Essa magia é útil, mas ela é só temporária. Assim que minha energia mágica acabar, o ferimento vai se abrir novamente. Precisamos acabar com essa luta o mais rápido possível.

— Não se preocupe, eu tenho um plano. Mas preciso que você ataque a Sayuri e a mantenha perto de David. Eu sei que isso é totalmente contrário do que estávamos fazendo até agora, mas eu preciso que você co-

— Eu confio. — Kuchi disse antes mesmo de Mumu terminar a frase. O mago olhou para ela e sorriu. — Vamos terminar isso juntos!

A maga de aura colorida correu na direção de Sayuri, seguida pelo seu parceiro machucado e queimado, que já sabia o que iria fazer em seguida. Ele ainda tinha um problema que era estar sem sua bolsa de esferas de metal. Não que isso o impediria naquele momento. Enquanto corria, o mago se abaixou e passou a mão no chão, encontrando uma de suas esferas perdidas. Essa era, pelo o que ele lembra bem, a esfera que ele tinha atirando contra David há uns minutos atrás. Ela apareceu em uma hora perfeita.

TRANSFORMAÇÃO DE METAL - ESCUDO!

Em um só movimento, Mulkior transforma a pequena esfera em um escudo comprido e duro. David estranhou na hora. Se ele tinha conseguido uma das esferas, então porque não transformar em uma arma? O que tinha dado na cabeça de Mumu?

Ele não se importou. Segurou a espada negra com as duas mãos e correu contra o mago mais uma vez. Acabou a piedade. Ele tinha dado chances demais para esses dois desistirem da luta. Mas eles não iriam. Eles precisavam ser totalmente derrotados. E isso poderia incluir a possível morte de um deles. Mas já era tarde demais para se lamentar de qualquer coisa.

Kula ignorou totalmente o oponente de armadura negra e correu na direção de Sayuri, que já estava preparada para mais um embate. A clériga se sentia exatamente do mesmo jeito que David. Bom, eles ESTAVAM mesmo ligados um ao outro. Era uma ligação tão poderosa que eles podiam sentir o que o outro sentia. Não precisava só de "tempo" para se conseguir tal coisa. Eles precisavam de algo muito maior e mais poderoso. Uma ligação muito mais forte que a própria confiança padrão nos proporcionava. Uma ligação de corpo e alma. E aura.

Sayuri concentrou uma grande quantidade de energia mágica na mão. Ela iria usar uma estratégica básica de combate. Ela iria usar uma mesma magia que usou antes no mesmo combate, fazendo o oponente acreditar que seria fácil de se esquivar ou de se defender. Mas dessa vez, a magia viria com o dobro de energia, fazendo-a ser muito mais poderosa e/ou rápida. Esticou o braço para trás e depois jogou a energia toda de uma vez.

CRUZ PURIFICADORA!

MANIPULAÇÃO DAS CHAMAS - VERDE FAMINTO!

A ideia de Sayuri era realmente boa. Muitos combates importantes tinham acabado exatamente dessa maneira. Com um tanto de energia concentrada, era possível fazer coisas milagrosas. A cruz de luz que a clériga atirou era exatamente do mesmo tamanho que a atirada anteriormente. Mas ela continha muito mais poder destrutivo. Se Kuchi tentasse atirar uma de suas clássicas bolas de fogo novamente, iria se dar mal, pois a cruz destruiria a esfera e continuaria voando até atingir o corpo já cansado da maga.

Mas isso não aconteceu. E foi por um motivo bem simples: Sayuri esqueceu que Kula, sua oponente, era uma Maga e tinha uma percepção mágica de nível "mestre".

Assim que a cruz foi criada, Kuchi já sabia que ela continha muito mais energia mágica que a anterior, e não seria pega nessa tática ultrapassada. Foi isso que fez a maga fechar a mão direita e criar uma chama verde nela. Ela não tinha parado de correr para isso. A cruz voou em sua direção perigosamente, mas Kula não teve medo nenhum dela. Ela a agarrou em pleno voo, e foi então que a maga fez mais uma cena digna de outro "WOW".

Ao segurar a cruz com a mão com as chamas verdes, toda a energia concentrada na magia da clériga simplesmente... Sumiu! "Puff". Num segundo a cruz estava lá, e no outro não estava mais.

É claro que Sayuri não tinha entendido nada do que tinha acontecido. Ela tinha gastado uma boa quantidade de energia mágica naquela magia, e de repente, ela desaparece! Como assim? E não era tudo! Kuchiki não parou de correr em sua direção, mas dessa vez, ela não foi perto o bastante para atingi-la com um golpe físico. E ela nem pensava em fazer isso mesmo.

RITUAL DAS CHAMAS CELESTES!

Kuchi parou a mais ou menos quatro metros de distância da oponente, se abaixou e bateu com as duas palmas das mãos, cheias de energia mágica, no chão branco e liso do ringue. Um segundo depois, uma linha vermelha correu até o redor de Sayuri, e dali surgiu uma intensa barreira de fogo, que subiu por uns dez metros liberando energia e calor para todos os lados.

Essa magia era bem mais poderosa do que seu círculo de fogo, não só pela altura que as chamas chegavam, e sim, pela intensidade de calor que o ser que estava DENTRO do círculo sentia.

Sayuri viu que as chamas eram tão intensas que ela não conseguia enxergar mais a oponente. Mas ela sabia que essa magia tinha que seguir a mesma fórmula da outra. Ela se acabaria em alguns segundos, e se Kula fosse atirar outra magia contra ela, a clériga só precisava levantar sua barreira invisível novamente. A clériga estava redondamente enganada.

No lado da luta dos dois homens, houve uma reviravolta estranha. David, que tinha partido para o ataque, balançou sua afiada espada horizontalmente, mirando o pescoço branco de Mumu. Iria lhe decapitar de uma só vez e acabar com qualquer dor que o mago estivesse sentindo.

Mas esse mesmo homem preste a perder a cabeça não deixou isso acontecer. Ele não estava pronto para morrer ainda. Se abaixou bem pouco, deixando a lâmina da espada do oponente passar por seu cabelo. Alguns fios foram cortados, mas era melhor do que perder a cabeça. E agora era a vez do mago atacar. Como ele faria isso? Simples. Atirando o escudo na direção da cabeça do cavaleiro negro.

Mulkior quase não precisou mirar, pois estava muito próximo à ele. O escudo foi rodando rapidamente na direção de David e acabou se encontrando com o capacete do mesmo. Houve um barulho sonoro de ferro se encontrando. O impacto fez a cabeça de David ir para trás, removendo seu capacete. Não havia dano algum, mas agora ele estava com a cabeça desprotegida.

Era hora de atacar de novo. Mulkior pulou para cima e mirou um soco na cabeça do oponente. Isso tiraria ele de jogada por alguns segundos. Mas David não era um amador. Quando percebeu que o oponente mirava sua cabeça, o cavaleiro levantou os dois braços, protegendo totalmente sua cabeça.

E era exatamente isso que Mumu queria. Pois não houve ataque. O mago tinha feito uma finta, e só pulou para poder se aproximar mais do oponente. Agora ele estava a um centímetro de distância. David percebeu o próprio erro tarde demais.

— Sua espada pode ser mágica, mas sua armadura não é! TRANSFORMAÇÃO REVERSA!

Mulkior bateu com a palma da mão direita aberta no peitoral da armadura de David com tanta força, que fez o cavaleiro dar um passo para trás. Claro que essa não era bem a intenção. O mago de ferro passou sua energia para a armadura negra do oponente, e depois de um ofuscante brilho, toda aquela bela e reluzente armadura sumiu.

David sentiu o corpo ficar mais leve no mesmo instante. Mumu estava na sua frente, segurando uma grossa esfera de ferro negra na mão direita. O maldito tinha conseguido! O mago se virou e aplicou um chute no estômago de David, que agora estava desprotegido. Ele sentiu o ar sumindo dos pulmões e cambaleou para trás, mas não chegou a cair.

Em vez de sentir dor, ele sentiu raiva. Tentou se manter em pé, respirando rapidamente como uma fera sanguinária. Aquela armadura era o orgulho dele. Nenhum ataque tinha conseguido superar sua defesa até então. Mas esse mago fez a mesma coisa que tinha feito contra o Paladino na luta de abertura do Torneio! Como ele se atreve?

— Bela armadura você tinha. — diz Mumu, analisando a esfera negra em mãos. — A esfera é maior do que a da armadura do White. Ela vai dar uma bela arma pra mim, você não concorda?

David pirou. Ele gritou como um troglodita e apertou o punhal da espada tão forte que ela chegou a fazer barulho. Para um Caçador de Tesouros, todos os seus bens físicos são inestimáveis. A armadura negra de David tinha sido feita por um dos melhores ferreiros do sul, e era a obra mais perfeita que ele já tinha visto na vida. O homem abaixou a cabeça, apertando os dentes com mais raiva ainda.

Foi exatamente nessa hora que Kuchi tinha trancado Sayuri no Ritual de Fogo, deixando a clériga totalmente imóvel. Essa foi a única coisa que a ligação de aura do casal não avisou para David. E olha que eles estavam muito próximos um do outro. Se o cavaleiro negro não tivesse perdido a noção, ele teria sentido o calor das chamas que rodeavam sua amada. Mas não.

Ele tinha enlouquecido pela primeira vez em sua vida. Agora era morte! Ele iria usar seu melhor golpe em Mumu e tirar a vida do maldito mago controlador de metais. David segurou a lâmina da espada, passando uma larga quantidade de sangue quente para ela.

Mas nesse ponto, Mulkior já estava um passo à frente dele. Ele já tinha concentrado energia naquela esfera negra e já estava mirando. Ele ficou em uma posição igual aqueles atletas que competem para saber quem atirava a pedra mais longe. Alvo adquirido. Mira criada. Energia concentrada. FOGO!

TIRO DE METAL - ESPADA BASTARDA!

E foi um tiro e tanto. A grande esfera negra se transformou em uma também negra espada gigante que voou com a ponta perigosamente contra o peito de David. Aquilo não teria defesa. O homem alvo pensou em rebatê-la, mas pelo tamanho daquilo, ele acabaria falhando do pior jeito possível. Não dava! Ele precisava sair da direção daquilo! Perigo demais! Era o que sua percepção estava gritando para ele.

David "acordou" da sua pira de raiva e depois se jogou com tudo para o lado, caindo desjeitosamente no chão. Ele tinha se machucado um pouco com a queda, mas não era nem um pouco perto da ferida que ele teria com o dano daquela maldita arma gigante. E então Sayuri gritou. Alto e curtamente.

A mira tinha sido perfeita. Porque desde o começo, Mulkior não tinha mirado em David. O alvo era Sayuri. Ele tinha usado exatamente a mesma estratégia de Reita e Kiirara na luta anterior a essa. Ele fez o casal ficar em uma só linha, para poder pegar ou um, ou outro. E sem nem precisar falar nada, a ideia de Kuchi em trancá-la no círculo de fogo veio bem a calhar. Era como se a maga de fogo tivesse lido a mente do parceiro.

David, ainda no chão, se virou de imediato e viu que a aura que ligava ele à sua parceira havia desaparecido. A visão de David não encontrou Sayuri no ringue. Havia só um pequeno e fino rastro de sangue de um certo local — que era onde a clériga tinha ficado presa por causa das chamas —, que corria até fora do ringue. O cavaleiro negro seguiu o rastro e no fim, viu a cena que fez seu coração parar de bater por um segundo e meio.

Sayuri estava empalada em uma das torres de contenção, com a espada gigante presa em seu peito. Foi no momento que ele a viu, que a espada brilhou e começou a voltar a ser uma esfera gigante de ferro enegrecido. Isso, claro, fez com que o corpo imóvel de Sayuri fosse ao chão, criando mais um pouco de dano por causa da queda. Não demorou nem um milésimo para que o Telão Informativo começasse a contagem regressiva para a garota.

— NÃAAAAAAAAAAAAAAAAO!!!

David se levantou ignorando qualquer dor que poderia ter e começou a correr desesperadamente para a direção de sua amada. Sua mente gritava para que ele se mantivesse são, mas a raiva e o desespero fizeram seus olhos se enegrecerem e sua visão só via a invocação do mais puro ódio.

Logo quando ele começou a correr, Kula percebeu que ele tinha virado as costas perigosamente para seus oponentes. Ela olhou rapidamente para Mumu, mas parece que ele estaria uns segundos fora de combate, pois ele tinha colocado uma boa quantidade de energia mágica naquela esfera negra.

Não tinha jeito. Ela precisava dar um golpe forte o suficiente para derrubar o cavaleiro negro de uma vez por todas. Kula, em pé, levantou os dois braços e começou a concentrar energia mágica neles. Olhou para frente e mirou as costas desprotegidas de David. Ele estava sem a armadura, então tomaria o golpe em cheio. Ela poderia se desculpar depois, mas aquilo ainda era um combate. Dar as costas para um inimigo era um erro fatal. E os mais habilidosos sempre se aproveitaram desse erro.

MANIPULAÇÃO DAS CHAMAS - LARANJA EXPLOSIVO!

Em cima das duas mãos levantadas da maga, uma grande e concentrada esfera de energia começou a se formar. Por mais estranho que possa parecer, ela não se incendiou, como era de costume das magias dela. Sendo mais exato, ela não pegou fogo por "fora", e sim, por "dentro". A esfera parecia um globo de vidro com um fogo dentro dela.

Aquilo ali continha quase toda a energia de sobra de Kuchi, e seria seu golpe final. A maga colocou a perna esquerda para frente, tomou impulso e jogou a grande esfera de energia contra as costas de David.

Em uma luta, é necessário que você sempre mantenha a calma para não ser atingido por golpes secretos ou para que sua própria visão do combate não se escureça e faça você acabar morrendo por cometer erros. O caso de David era especial. Ele ESTAVA maluco e ESTAVA preste a levar uma magia e tanto nas costas.

Mas havia uma coisa que ninguém, e talvez nem ele mesmo contava: sua percepção extrassensorial. O corpo do cavaleiro negro já tinha passado por tantos combates que quando a esfera de energia de Kuchi foi atirada, todos os pelos do corpo de David se enrijeceram, o avisando de um perigo bem maior. Isso fez com que o homem parasse de correr e virasse cento e oitenta graus, encarando aquela enorme bola de energia com uma chama ardente dentro.

E agora um fato que Kula não contava: David NÃO tinha parado de concentrar energia na sua própria espada. A lâmina negra estava pulsando, querendo quase explodir de tanta energia guardada. David tinha passado do limite em sua concentração por causa da raiva, mas talvez, e só talvez, foi exatamente isso que o salvou.

ONDA APOCALÍPTICA!

O homem raivoso levantou a espada com as duas mãos e fez a energia concentrada na lâmina brilhar com uma luz negra. Era uma energia tão sinistra que era facilmente confundida com as ondas de energia do Inferno. A concentração estava tão absurda que todo o chão envolta dele estava tremendo, como se quisessem criar vida e fugir dali.

O próximo movimento do cavaleiro negro foi descer a espada em um corte vertical, lançando uma onda de energia negra avassaladora. Visualmente, ela era bem parecida com o golpe supremo de Shiro, mas ninguém estava com a cabeça para lembrar disso naquela hora.

Ah sim, uma coisa importante de se ressaltar era que a onda era umas... Vejamos... Duas vezes MAIOR que a esfera de energia de Kuchi. Então foi óbvio que quando as duas magias se encontraram, a onda de trevas "engoliu" a esfera por completo, causando uma explosão sem precedentes.

Milhares de faíscas mágicas voaram para todos os lados e alturas diferenciadas, criando uma bonita, mas sinistra cena. O impulso de ar criado no momento da explosão foi a pior coisa que poderia ter acontecido com a pobre maga. Porque isso fez ela perder a visão por importantes três segundos, além de ser empurrada para trás. Por ter perdido a visão, ela não conseguiu ver que a magia de David tinha superado a sua, e a onda negra continuou correndo pelo chão até encontrar o corpo desprotegido da maga.

Kuchi não gritou de dor. Não porque não tinha doído, claro. Era porque a energia era tão grande que a fez desmaiar no mesmo momento do impacto. A onda continuou carregando o corpo da pobre maga até a borda do ringue, fazendo ela cair no chão muito próximo onde Mana assistia a luta.

A assassina correu para ajudar a garota, mas parou quando chegou bem ao lado dela. Ela não poderia tocá-la. Olhou para cima. O Telão Informativo estava zerando a contagem de Sayuri e começando a de Kuchiki.

— KUCHIIIIIIIIIIIIIIIIIIII!!! — gritou Mumu, aparecendo bem na borda do ringue. Ele só tinha visto que sua parceira tinha recebido o golpe depois de já ter caído no chão.

— Calma Mumu! — gritou Mana para ele. Não no intuito de brigar, mas sim, de fazer ele não se desesperar. — Ela está respirando. Eu vi ela cruzando os braços na frente do corpo antes de receber o impacto, então ela não sofreu tantos danos assim. Mas está desmaiada e não vai conseguir voltar para o combate.

— Você tem certeza que ela está bem? — perguntou o mago. Mana olhou para ele e deu um leve sorriso, mas ele não tinha percebido. Ela tinha gostado de saber que ele se preocupava muito mais com o bem estar da garota do que o fato de que agora a luta estaria por sua conta. — O que foi? Por que você está me olhando?

— Nada, nada. Ela está bem sim, mas precisa de cuidados médicos. Eu vou trazer a maca que trouxeram pra mim, e assim que a contagem acabar eu vou colocar ela em cima para agilizar a ida dela para a enfermaria. Agora termine sua luta.

— Tudo bem! — ele parecia meio em dúvida, já que sua voz tinha saído tremida. Mas mesmo assim ele se virou de costas e encarou o último adversário em campo. Aquilo precisava acabar!

— ESPERA! — Mana gritou assim que Mulkior começou a andar novamente para frente. O mago parou e se virou mais uma vez. — Lá!

Mana apontou com o braço para algo fora do ringue. Na frente de um dos pilares de contenção, havia algo caído envolvido por poeira. O mago arregalou os olhos ao ver que se tratava de sua cinta de couro com a sua bendita bolsa com as esferas de metal.

Mulkior olhou para trás e viu que David ainda estava concentrado em sua parceira, que nesse momento, estava sendo deitada encima de uma maca branca, já recebendo o devido tratamento por causa do ferimento mortal no peito.

O mago correu pela borda do ringue e depois deu um salto para o chão, ignorando totalmente o contador do Telão. Correu até sua bolsa e, vendo que não poderia usar sua cinta agora, se abaixou e recolheu cinco esferas de metal que estavam espalhadas pelo chão. Aquilo deveria servir. Se levantou e correu de volta para o ringue, ainda com o contador no "6".

Era hora da última análise. O mago começou a caminhar lentamente para o meio do ringue, recuperando um pouco do fôlego perdido na corrida. "Agora vejamos...", pensou ele. Olhou para o próprio corpo, vendo que seu ferimento no peito estava começando a sangrar novamente. A cicatrização com o fogo era algo temporário mesmo, assim como era o de Kuchi. A dor que ele sentia era bem pior, mas por alguma graça divina, ele não estava mais sentindo a sua consciência querer se apagar.

E como estaria? Ele não demonstrou isso na frente de Mana, mas estava sentindo uma raiva fenomenal naquele momento. Ninguém machucava sua parceira daquele jeito! NINGUÉM!

Ele viu David se virar e caminhar para o meio do ringue assim como ele. O cavaleiro negro estava com a cabeça baixa, mas tinha energia exalando de seu corpo. A coisa era séria.

Mas Mumu não se amedrontou. Nem de longe. Ele também começou a concentrar energia em seu corpo, querendo bater de frente com seu oponente. Agora ele só via David. Não conseguiu ver que a contagem regressiva de Kuchi havia zerado e que Mana estava ajudando dois médicos a colocá-la em cima da maca para levá-la para a enfermaria.

— Você quase matou a minha mulher... — começou o Líder da Key of Gold, com a voz bem mais grossa que o normal. — Não espere qualquer tipo de piedade!

— E você quase matou minha parceira! — rebateu Mumu. — Não ache que vai sair daqui ileso!

— Vamos acabar com isso no próximo golpe. Nem eu e nem você temos muito mais energia sobrando, então vamos usar tudo de uma vez em uma só magia para acabar com isso!

— Um Duelo de Morte? Por mim está bem!

Foi ao mesmo tempo. Os dois começaram a dar passos para trás, até ficarem a uma certa distância. Pela primeira vez no Torneio, alguém estava disposto a terminar uma luta honradamente, para não deixar ódio fluindo em nenhuma das partes.

Mulkior sempre foi muito honrado, pois carregava o peso de ser um nobre de uma família conhecida mundialmente. Ele não poderia se dar o luxo de recusar um pedido tão direto assim, pois acabaria sujando sua própria honra e a de seus familiares.

Para David, aquilo era só uma desculpa. Os Cavaleiros Negros não tinham honra nenhuma, pois para que simplesmente pudessem SER dessa classe, era necessário fazer muitos juramentos de sangue contra a imposição dos Reis e Rainhas ao redor do globo terrestre. Então para ele, o Duelo de Morte serviria para que seu oponente não fugisse e tentasse algo novo ou diferente, deixando o cavaleiro negro em desvantagem, já que ele não poderia mais se curar com as magias de Sayuri.

Foi sorte dele o seu oponente não ser San, pois ele mentiria que faria tal Duelo e o atacaria logo em seguida, quando o oponente menos esperasse.

Enfim, os dois começaram a juntar energia mágica. Seria o golpe final dos dois, então eles estavam trazendo todas as forças que ainda lhe restavam. E estava sendo uma cena interessante de se ver.

A energia que David exalava era puramente negra e estava corroendo todo o ar envolta dele, transformando o ringue em uma nuvem de fumaça escurecida e malévola. Já a de Mulkior era na cor cinza, e sua energia estava criando pequenos estalos ao seu redor.

Aquilo acontecia muito, na verdade. A energia mágica encontrava as ondas mágicas que fluem da terra e acabam explodindo com o impacto. Houve outro motivo para se dizer que aquela cena estava interessante: o público se calou quando Pablo, o Apresentador, disse que eles estavam se concentrando para usarem seus melhores golpes um no outro e que aquilo seria o que determinaria o vencedor. Realmente o silêncio não combinava com o Coliseu, pois criava ainda mais expectativa para o futuro.

O primeiro a agir tinha sido Mulkior. Ele sabia que agir rápido seria uma vantagem ali, pois o que ele estava querendo usar necessitava de uma grande velocidade e precisão. O mago sabia que suas magias não eram tão "destrutivas" quanto as de sua parceira, mas ele tinha algo guardado na manga que não tinha usado ainda.

Diferente de Kuchi que não usou sua técnica por falta de treino, Mumu não tinha usado essa habilidade ainda porque lhe consumia energia mágica E vital. Era uma faca de dois gumes e só com essas magias era que o mago conseguia entender como San precisava aguentar toda vez que usava uma magia. Mas ele não tinha escolha. Era tudo ou nada.

Ele segurou as cinco esferas na mão direita, passando a energia para todas elas ao mesmo tempo. Com cinco daria pra fazer o que ele queria. Até dava pra fazer com menos esferas, mas daí seu consumo de energia seria muito maior.

Era agora. O mago de ferro apertou a mão e olhou para o oponente com sua sinistra aura negra envolvendo seu corpo. Ele não estava mais aí para a vitória da batalha. Ele só queria se vingar de Kuchiki.

TRANSFORMAÇÃO DE METAL - NÍVEL TRÊS - GUNGNIR !

O céu escureceu. Nuvens começaram a fazer um redemoinho e se encherem de cargas elétricas, dando a impressão de uma tempestade. Não era isso. O céu simplesmente estava reagindo a toda energia liberada de uma vez só pelo mago. Houve um brilho saindo de sua mão, que foi tão forte que até Bart e Pablo, que estavam a uma distância segura, ficaram ligeiramente cegos.

As esferas começaram a se juntar e tomar uma forma, criando algo razoavelmente longo. E então veio o raio. Daquele céu negro, um relâmpago caiu na mão de Mumu, como se fosse parte do processo da criação de sua arma. A luz diminuiu, fazendo com que todos os espectadores pudessem colocar seus olhos na beleza exorbitante da nova arma do garoto.

Era uma lança. Era dourada e brilhosa. Ouro de verdade. Tirando a cor, ela não parecia ter nada demais. O cabo não era tão longo como as lanças padrões, e a ponta tinha um formato bem claro de ser uma arma especial para perfuração.

A lâmina não exatamente era reta. Era grossa perto do cabo, depois ondulava até a ponta, deixando o meio um pouco mais fino. O que existia de mais belo nela era que a lâmina tinha inscrições em uma língua desconhecida. Aquilo era um charme para uma arma e muitas vezes essas palavras significavam algo extremamente importante.

Pelo jeito, David não se impressionou tanto quando o público. Ele estava mais tenso do que o oponente e não estava aguentando passar tanto sangue para a espada de uma só vez enquanto concentrava energia mágica. Mas ver a criação daquela arma em sua frente deixou ele aliviado e entristecido ao mesmo tempo. Uma lança? Esse era o golpe especial dele?

Dane-se que era uma lança bonita e de ouro! Se ele tivesse encontrado tal arma em uma de suas pesquisas de campo, seria outra história. Mas ali era um combate de vida ou morte! Se aquilo era tudo o que Mumu iria mostrar, então David não precisava temer mais nada.

Ele forçou a concentração. Aquele seria realmente seu último golpe, pois se não o atingisse, ele não aguentaria mais continuar a luta. Ele levantou a espada só até a altura do peito e deixou a ponta virada na direção de Mumu.

CRUZ NEGRA DA REDENÇÃO!

David fez dois movimentos com sua espada negra encharcada de energia e sangue. Primeiramente, ele abaixou a espada em um movimento vertical. Depois ele a levantou de novo, fazendo um movimento horizontal. No fim desse movimento, toda aquela energia criou uma cruz negra de energia em sua frente que depois de pulsar horrorosamente, voou em direção ao oponente.

Esse poderia ser chamado de golpe mais poderoso de David, mas a sua Onda Apocalíptica não ficava muito atrás. A diferença era que essa magia se tornava "Suprema" quando ele usava em conjunto com uma outra magia de Sayuri. Mas mesmo sozinha, essa magia continha um grau de destruição incalculável.

Mulkior não precisava saber disso para fazer o que estava preste a fazer. Ele levantou a lança só com a mão direita, e com o braço esquerdo, ele apontou para David como se estivesse usando-o como um tipo de mira. E estava mesmo. A ideia era arremessar sua arma. A cruz estava tapando sua visão, mas o mago não queria perder a compostura. Ele não se moveria dali. Iria provar que nenhuma magia era páreo para ele e suas armas especiais.

Seu "Nível Três" era uma manipulação diferente de metal. Por elas consumirem um tanto de sua energia vital, Mumu decidiu dar nomes as armas criadas por essa magia. Assim elas ganhavam "vida". E como dito anteriormente, havia um sentido importante na escritura em língua estranha na lâmina da lança. E significava "Acerto".

O mago puxou o braço direito para trás e arremessou a lança com força, contra a magia negra atirada por seu oponente. Haveria o encontro das duas magias e todos esperavam que houvesse a maior explosão que o Coliseu já tinha visto. Mas não aconteceu.

As magias realmente se encontraram, mas não houve nenhuma explosão. O que aconteceu foi o seguinte: a lança dourada de Mumu voou firme contra a cruz de energia e quando ela a encontrou, a lança simplesmente "atravessou-a", como se não existisse. Sem perder força de voo, a lança atingiu o estômago de David, o fazendo sair do chão e o carregando para muito longe.

Longe, nesse nosso caso, significava fora do ringue. O cavaleiro negro caiu no chão com a lança atravessada em seu corpo, causando uma paralisia total de seus nervos. A única vantagem disso era que David não estava sentindo dor. Mas ele estava tonto e não sabia onde estava. Não viu o que tinha acontecido. Em um momento sua magia estava indo e no outro... Ele estava no chão.

David se virou e vomitou sangue e metade do que comeu na hora do almoço. Levou a mão até o machucado no estômago, e segurou a lança de ouro, tentando retirá-la. Não adiantou. Não havia forças em seu braço. Não havia mais forças em suas pernas. Nem em sua cabeça. Seu corpo ficou dormente e seus olhos começaram a fechar. Tudo o que estava em sua cabeça agora era Sayuri.

Falando desse jeito, pareceu que Mumu tinha sido campeão e saído ileso do embate. Infelizmente essa não era a atual conclusão. A lança atravessou a magia de David, mas isso não fez a magia ser destruída. Ou seja, ela continuou indo na direção do mago até o acertar em cheio no peito, que já tinha sido previamente ferido.

O impacto também não tinha sido nada bonito de se ver. A cruz levou o Líder da Immortal Star até a borda do ringue, fazendo ele cair rolando no piso branco para só depois cair no chão de terra, fora do ringue.

Mulkior caiu sem ar e com os dois braços dormentes. Ao contrário de seu oponente, ele estava sentindo dores universais em todas as partes do corpo. Ele rolou ainda no chão de terra, tossindo sem parar e gritando de dor. Assim como seu oponente, ele não fazia a mínima ideia de onde estava agora.

O Telão Informativo começou as duas contagens ao mesmo tempo. Quando chegou no "5", David já estava desmaiado. Sua falta se sangue fez ele ficar anêmico e a nova ferida tinha tirado ele de combate totalmente. E quando chegou no "3", Mulkior finalmente conseguiu abrir o olho, vendo Mana correndo em sua direção com cara de preocupada. Foi a última coisa que ele viu. Depois disso, só existiu o incrível sono eterno que seu corpo estava clamando tanto.

O contador zerou! — gritou Pablo, finalmente fazendo algum barulho pelo Coliseu. O público estava quieto ainda, torcendo mentalmente para que um ou outro combatente se levantasse e voltasse ao ringue. Era tarde demais. — Os combatentes Mulkior e David estão fora da luta, não deixando mais ninguém para voltar ao ringue! Essa luta terminou em um EMPATE!!

Pela primeira vez, o público parecia não ter gostado do resultado de uma luta. Eles não gritaram desesperadamente por uma certa pessoa ou time. Pareciam confusos. Eles se olhavam e comentavam entre si. Tinham perdido momentaneamente o interesse. Tinha sido algo bem estranho mesmo.

E então se ouviu. Palmas. Alguém estava batendo palmas e todas as pessoas do Coliseu conseguiam escutar. Isso só era possível se feito da sala do Apresentador. Era Bart.

Senhoras e senhores, Bart, nosso convidado especial, está aplaudindo de pé! — disse Pablo, com uma ideia perfeita em mente. — Como não podemos aplaudir uma luta tão magnífica como essa? Vamos seguir a boa vontade de nosso Comentarista!

E então finalmente o barulho foi criado novamente. Todo mundo se levantou e começou a aplaudir. Aquilo sim tinha sido legal de se ver. Mana, que estava ao lado do corpo sangrento de seu companheiro de time, gostaria que os dois membros que deram tão duro nessa luta pudessem ouvir essas palmas. Eles realmente mereceram. Empataram com uma das melhores duplas de combate do mundo.

Mana se levantou quando os médicos chegaram, se sentindo mais aliviada, mas logo mudou de expressão quando ouviu um médico dizendo algo como "isso é sério" ao analisar Mumu.

O corpo ferido do mago foi retirado às presas da arena, deixando para trás todo aquele alvoroço de palmas com gritos. Do outro lado do ringue, já não havia mais ninguém. O corpo sangrento de David já havia sido removido em outra maca, e tudo que tinha daquele lado era as esferas de metal que Mumu usou em seu último golpe.

Que por falar nelas... Mana andou até o pilar onde a cinta e a bolsa de esferas do mago de ferro estavam. Ele não conseguiu usar na batalha pois ela estava partida em dois, mas aquilo era extremamente fácil de se concertar. A assassina juntou os acessórios, junto com algumas esferas de ferro que estavam jogadas por ali perto. Foi nesse exato momento em que Pablo voltou a dizer:

E com isso, o nosso placar geral ficou: Immortal Star com uma vitória e um empate, enquanto a Key of Gold ficou com um empate e uma derrota. Isso faz com que nosso primeiro semifinalista seja o Time Immortal Star!

E daí, a velha e barulhenta gritaria voltou a ser ouvida por todo o Coliseu. Os torcedores do time de David e companhia pareciam mais quietos e uns até raivosos com a derrota do time. Muita gente estava se levantando da arquibancada e tomando o seu rumo para ir embora.

Mana era a única pessoa do time que restava, e ela não era alguém que se glorificava com as vitórias. Principalmente ali, onde ela não tinha chegado nesse ponto sozinha. Entre os berros e alvoroços da plateia e os comentários técnicos de Bart, Mana virou as costas e desapareceu da arena.

Duas horas depois da batalha, foi dado alta para San. Mana o encontrou na saída da Enfermaria, onde ela mandou que ele voltasse para o quarto e se deitasse para descansar. San respondeu a ordem da companheira de time se sentando no banco bem ao lado dela. Isso deixou Mana ainda mais nervosa do que já estava, pois não parou de se preocupar nem um segundo com Mumu e Kuchi. Ela voltou a reclamar para San voltar para o quarto de uma vez, e tudo o que ela conseguiu foi algo parecido com isso:

— Você também está ferida e cansada, mas está aqui esperando com que um deles saia da enfermaria. Você não é a única preocupada com eles. Não se esqueça que eu também faço parte desse time. Além disso, eu gostaria de saber como foi a luta deles, e ninguém melhor pra me dizer do que você.

— Como sabe que eu fiquei assistindo a luta? — Mana fez a pergunta o olhando de lado. Ele estava desmaiado quando foi para a enfermaria e não viu que ela tinha ficado para trás.

— Porque você é tão teimosa quanto eu e faria de tudo para ver aqueles dois sãos e salvos. Agora me conte como foi.

Mesmo ficando com uma cara vermelha e bufando sem parar, Mana desistiu de tentar discutir com o garoto e começou a contar em detalhes como foi a luta. Ela contou o quão impressionada tinha ficado com o estilo de luta dos oponentes, já que eles já estavam acostumados à lutar em dupla. Também disse que ver Kula usar aquelas habilidades de manipulação tinha sido um feito inacreditável. Sem contar que a última magia de Mulkior tinha uma grande intensidade mágica e ela estava louca para perguntar para ele como funcionava aquilo.

Mana não viu, mas San apertou a expressão quando ouviu em detalhes sobre o poder especial da maga de fogo. Havia algo que ele tinha sacado e que não estava gostando.

Os dois ficaram trocando ideias até passar mais duas horas, que foi quando Kula saiu da enfermaria. Mana correu até ela e a abraçou, perguntando se estava tudo bem. A maga, depois de retribuir carinhosamente o abraço, disse que estava se sentindo muito bem e que nenhum dano que ela sofreu tinha sido grave. Isso fez a assassina relaxar, pelo menos por enquanto.

Kula se assustou ao ver San, do lado de Mana, com as mãos nos bolsos e com cara de que não havia acabado de apanhar como um cachorro do mato. Ela perguntou como ele estava se sentindo, e em vez de receber uma resposta normal como "Eu estou bem", ele disse:

— Não se preocupe com meu estado. Eu preciso te perguntar algo.

— Ahm, claro. Diga. — a maga estava claramente melindrada. Não era pra menos. Mana também achou estranho a investida de seu parceiro.

— Kula, você é uma Elementarista?

— O QUÊ? San, como você sabe disso? — Kula deu um passo para trás, totalmente surpresa. Era a primeira vez que alguém lhe dizia aquele nome.

— Então é isso. — disse San, fechando os olhos e se sentando no banco mais uma vez. — A descrição que Mana me deu sobre seu controle das chamas me fizeram ter essa dúvida.

— San, do que você está falando? — dessa vez, quem perguntou foi Mana.

— Elementarista é uma Classe Mágica Perdida. Existiu há muitos anos atrás, e tinha até uma Academia Arcana especializada só nisso. Mas algum reino que também treinava magos se sentiu ameaçado pelo poder deles e fizeram um ataque em massa nessa academia, a destruindo completamente. Eu não sei de muitos detalhes, mas houve realmente uma chacina bem feia. Poucos alunos e professores conseguiram escapar daquela guerra, mas nenhum deles chegou a criar outra escola, pois temiam o mesmo destino. Então para existir alguém hoje em dia com esse tipo de habilidade significa que o conhecimento não "morreu" de vez.

— Isso é incrível Kuchi! — disse Mana, se virando para a garota que parecia vermelha de vergonha. Vergonha sim, mas confusa também. Ninguém no mundo todo jamais havia descoberto a existência dessa classe. Então como San sabia? A maga estava preste a perguntar isso, mas Mana continuou. — Como essa classe funciona?

— Ah, é mais ou menos simples. — começou a garota envergonhada. — Os Elementaristas conseguem chegar ao mais profundo núcleo da modificação da magia arcana. Estando lá, eles conseguem alterar as fórmulas mágicas que compõem o elemento em si, a tornando uma coisa única e mais poderosa. No meu caso, eu me especializei em alteração de magias de fogo, por ser óbvio. Eu ainda estava treinando isso, pois por mais que a teoria seja fácil de se entender, o treino é algo difícil de se fazer e me consome muito tempo de concentração. — enquanto Kuchi explicava, Mana parecia realmente encantada. Isso fez a maga se sentir mais livre para poder contar mais sobre ela mesma. Sem perceber, a garota já estava gostando demais da companheira de time.

— Kula, me desculpe, mas... — e daí vem o San e estraga todo o clima. — Pode me dizer onde aprendeu isso?

— Ah, foi em um livro de magia bem antigo que estava no porão da minha casa. Meu pai disse que os livros eram do meu bisavô, que era um Mago também.

— Seu bisavô? — San abaixou a cabeça e colocou a mão no queixo, fazendo uma típica pose de pensador. — Kula, qual é o seu nome completo?

— Mas eim? Kula Chikigane. Por que está perguntando isso?

— Vocês são do time da Immortal Star, correto?

Todos foram interrompidos. Um médico saiu de uma porta bem próxima a eles e, no mesmo momento que os viu, se aproximou e fez a pergunta. As duas mulheres se viraram para o médico e responderam afirmativamente.

San ignorou totalmente a pergunta e o médico. Ele tinha voltado a ficar naquela posição de pensador, e parecia não querer ser interrompido. "Chikigane", pensava ele. "Onde eu já ouvi esse nome antes?".

— Eu sou o médico responsável por esse setor, e estava cuidando pessoalmente do seu companheiro de time chamado Mulkior. — disse o médico, analisando um fichário que levava em mãos. — Vocês já podem vê-lo, se me acompanharem.

Não foi necessário nenhuma resposta por parte dos três. As duas mulheres já começaram a seguir o médico assim que ele se virou, e San se levantou, colocou as mãos nos bolsos e seguiu as três pessoas. Entraram pela porta que ele mesmo havia saído e descobriram que se tratava de uma sala médica um tanto comum. Era feita para alojar um só paciente, e essa pessoa se tratava de Mumu.

O mago de ferro estava deitado na cama hospitalar bem no canto do quarto, enfaixado e recebendo sangue pela veia. Ele não parecia sofrer, o que era um bom sinal.

— Seu amigo está em um sono profundo e eu os aconselho a deixá-lo descansar. — começou o médico. — Ele sofreu danos sérios na parte frontal do peito, e a cota de malha que ele usava se tornou algo tanto vantajoso quando desvantajoso. Vantajoso porque sem ela, ele estaria morto nesse momento. — todos os três engoliram saliva. — Desvantajoso porque devido ao último golpe que ele levou, a cota de malha foi feita em migalhas, e essas mesmas migalhas acabaram entrando pela sua ferida no peito e ficaram alojadas dentro de sua carne. Nós já tiramos todos os fragmentos de ferro que ele tinha no corpo e ele não corre nenhum risco de vida, mas ele não poderá sair daqui até amanhã de manhã, além de que vai ser ruim pra ele ter que lutar imediatamente, pois sua pele estará sensível e frágil. Mas isso é com ele e com vocês.

Não precisando dizer mais nada, o médico se despediu e saiu pela mesma porta que entrou, recebendo os agradecimentos do time. Por um lado, eles estavam mais felizes de que o companheiro estava melhor e não corria nenhum risco de vida. Mas seus danos eram sérios o suficiente para que ele não pudesse sair dali até o dia seguinte, o que significava que ele não conseguiria descansar bem o bastante para a luta de amanhã.

Os três se olharam, pensando a mesma coisa, mas nada foi dito. Eles se aproximaram da cama do líder do time, vendo que ele respirava levemente e se mantinha em um sono profundo.

Foi San que disse que ficar preocupados ali não iria mudar nada. Eles deveriam voltar para o quarto e descansar o máximo possível, para que eles pudessem suprimir o cansaço do companheiro no dia seguinte. As duas mulheres concordaram.

Antes de sair, Kuchiki sentiu algo no coração. Ver o companheiro tão machucado assim estava a deixando para baixo e sem vontade. Ela se virou para os dois outros companheiros e disse que iria ficar ali mais um pouquinho. Sem pestanejar, San e Mana falaram que estava tudo bem e voltaram para o quarto. No caminho San não parou de falar no quanto estava faminto até Mana dar um tapa nele.

A maga puxou um banco que ali tinha e se sentou ao lado de seu parceiro. Olhou para o rosto do garoto. Ele mantinha os olhos fechados e respirava calmamente. Será que ele estava cansado? Com certeza. Kuchi não viu o último golpe que o acertou, mas parecia ter sido algo grande e poderoso.

Era a primeira vez que ela via o parceiro dormir assim, tão de perto. Ela levou sua mão e a passou gentilmente na testa do mago. Ele estava quente, mas não era febre. Depois colocou sua mão junta a dele. Mulkior tinha mãos grandes e grossas devido ao treinamento intenso com ferro.

A maga tentou juntar os seus dedos com os dele. O que ela estava fazendo? Era pra deixá-lo descansar quietamente. Mas a Elementarista não estava conseguindo se segurar. Passou a mão no rosto dele. Era a primeira vez que ela fazia tal coisa. "Ele está dormindo, não vai se incomodar com isso.", pensava ela. Mas ao mesmo tempo, ela sabia que não deveria estar nem ali.

Retirou a mão rapidamente, com medo dele acordar. Não acordou. Kuchi ficou ali sentada, o olhando. Será que ele ouvia? Se ela falasse algo, será que ele, em seus sonhos, conseguiria ouvir? Não. Não temos esse poder. Você pode levar as coisas que você viu antes de dormir, mas não enquanto dorme. E daí? Por que não falar ali?

— Mumu... — começou ela, falando bem baixinho. — Eu queria... Eu queria te dizer que... — ela não falou nada por mais um minuto. Estava vermelha que nem um camarão assado. — Eu não sei como vou dizer isso. Quando chegamos aqui na cidade, muita coisa aconteceu. Eu... Eu senti algo que nunca senti antes quando vi você rodeado por todas aquelas mulheres, antes da primeira batalha. Eu fiquei confusa. Mas não demorou pra eu entender o que sentia. — ela fez outra pausa, dessa vez maior. — Eu estava... Com ciúmes. Ai... — ela tentou esconder o rosto, acreditando que o mago lhe observava enquanto falava. Olhou para Mumu e viu que ele continuava em seu sono profundo. Cruzou os dedos junto com os dele novamente. — Era isso mesmo. Ciúmes puro. Foi durante esse torneio que eu fui ficando mais... Preocupada com você. Ver você lutando e se machucando. E depois se preocupando comigo. Isso tudo foi fazendo uma coisa crescer dentro de mim. Eu acho que isso já nasceu desde quando fizemos nossa primeira missão. — ela apertou, levemente, a mão do companheiro. Mulkior não demonstrou qualquer sinal de mudança. — Eu achei que aquilo era só o nascimento de uma confiança, sabe? E fiquei com isso em mente até hoje. Porque foi hoje, durante a nossa luta, que eu descobri que não era só isso. Eu sinto algo muito mais forte. E mais verdadeiro também. Eu não sei se vou ter coragem o suficiente para te dizer isso cara a cara, mas eu quero que saiba que eu já não consigo mais pensar em não ter você do meu lado. Agora descanse. — Kuchiki soltou a mão do mago, e alisou o seu rosto mais uma vez. Nenhuma reação. — Eu vou ficar esperando ansiosa pra te ver amanhã. Boa noite.

A garota vermelha se arrumou e saiu do banquinho onde estava sentada. Antes mesmo de pensar em sair da ala médica, ela foi detida. Não por alguém que tinha acabado de entrar. Alguém segurou em seu braço. Uma mão firme, mas não apertava para machucar. Era grande e grossa... Era a mão de Mumu.

Kula se virou muito lentamente, esperando encarar um fantasma. Felizmente, não havia nenhum espectro na sala. Era mesmo o mago que tinha a segurado. Ele estava com os olhos abertos e uma expressão serena. A maga paralisou. A primeira coisa que ela pensou era "Ele ouviu o que eu disse???".

Foi quando ele abriu a boca pra falar. A voz dele saiu muito fraca. Ele mesmo não estava se aguentando acordado. Mas precisava dizer. Tentou de novo. Nada. A maga disse que não estava ouvindo nada e ainda parecia aterrorizada. Ela deveria estar feliz com ele acordado... E na verdade ESTAVA. Mas a dúvida ainda lhe consumia.

Mulkior fechou os olhos e se concentrou. Não para reunir energia mágica. Mas para conseguir forças para dizer o que estava preso em sua garganta há muito tempo atrás. Abriu os olhos de novo e a encarou. Olho no olho. Veio energia.

— Chega... Mais... Perto.

Kuchiki finalmente conseguiu ouvir o que ele estava tentando dizer. A voz do garoto saiu rouca e totalmente diferente, mas pelo menos, deu pra ser entendida. Kula logo percebeu o quanto ele estava fraco só vendo o tom da sua voz. Ela ignorou um pouco o susto que tinha levado e decidiu fazer o desejo do parceiro. Ela se sentou novamente no banco e aproximou a cabeça levemente dele.

— Mais... Perto.

A vermelhidão voltou ao rosto de Kula, mas mesmo assim, ela se arrumou na cadeira e se aproximou mais ainda dele. Ela entendeu que ele não tinha forças para falar, e talvez conseguisse sussurrar em seu ouvido. Ela também queria dizer que ele deveria guardar as suas forças e descansar, mas a sua felicidade de ver o companheiro acordado era tanta que ela não se lembrou de falar tal coisa.

Se aproximou. Colocou seu ouvido bem próximo a boca de Mumu. Foi então que aconteceu. O calor. A ação. A força. O desejo. O sonho. A lágrima. Tudo. Mulkior Musubi, com uma força que ele tirou do Limbo, segurou o rosto de Kuchi e a puxou para si, levando sua boca na dela.

O beijo quente. O primeiro beijo dela. Todo o sentimento explodiu naquela hora. Kula não pensou em absolutamente mais nada. Sua mente estava branca. Seu corpo estava mole. E a única coisa que ela sentia eram seus lábios serem molhados pelos dele. Não foi um beijo demorado, mas para ela, pareceu que eles passaram uma eternidade ali, parados. Só com os sentimentos em jogo.

Quando ele finalmente parou de beijá-la, ele olhou nos olhos dela mais uma vez. Agora eles estavam REALMENTE cara a cara. Ele não precisava mais sussurrar. Não precisava mais guardar os sentimentos. Não precisava mais se conter. Ele tinha ouvido tudo. E ele estava preparado para dizer o que tinha pra dizer.

— Kuchi, eu te amo.